A Cigarra e a Formiga - 12 (FINAL)

Um conto erótico de Kahzim (Ian)
Categoria: Homossexual
Contém 1744 palavras
Data: 30/04/2014 22:39:35
Última revisão: 30/04/2014 22:45:36
Assuntos: Gay, Homossexual, Romance

Meu estado de surpresa provavelmente foi tão grande quanto o dele. No momento que me encarou, mesmo com a máscara cirúrgica ele me reconheceu e parou imediatamente de reclamar das dores. Eu tinha tanta coisa a perguntar a ele, mas de súbito só me veio a cabeça que precisava salvá-lo imediatamente, eram 10 anos esperando respostas que podiam me ser dadas dali a algumas horas se eu salvasse a sua vida.

A bala estava alojada na coxa. Mandei cortarem imediatamente a bermuda que ele estava usando e lavar o ferimento. Verifiquei então que o projétil havia saído, atravessando a coxa de ponto a ponta e quase atingindo o osso. Ele teve realmente muita sorte. Verificando o exato estado do problema, mandei dar uma forte dose de analgésico para passar as dores e em cinco minutos ele dormia pesadamente.

Ele não podia ser policial, foi a primeira coisa que pensei, ele devia ter entrado no mundo do crime e usado aquela desculpa para ser atendido rápido. Fiquei com receios dos procedimentos que seriam tomados e procurei a Arlete.

- Dr. Matheus. Tudo certo com o paciente?

- Tudo Arlete. Nosso plantão nem é para essas coisas né. Ainda bem que era algo bem simples, a bala atravessou a coxa dele só feriu o músculo, sem atingir nervos e ossos.

- Ainda bem. Fiquei tão nervosa. Imagina como é a vida de quem trabalha nessas emergências onde vão os acidentados, queimados e vítimas de bala não é Doutor?

- Imagino mesmo. Mas Arlete, a entrada dele foi registrada?

- Não foi. Não achamos como registrar no sistema sem colocar que plano de saúde foi usado. Ele só disse que era policial e que era uma emergência e não podíamos recusar socorro, não passou mais nenhuma informação.

- Tudo bem. Quando ele acordar, me chama que eu mesmo falo com ele, ok?

- Tudo bem Doutor.

Voltei à minha sala e verifiquei os exames da senhora com dores. Não havia nada no raio X, então passei a injeção de relaxante muscular e ela foi para casa sorridente e sem dores. ainda bem que passaram horas sem aparecer paciente nenhum após isso, não consegui pensar em outra coisa além do Alisson dormindo na sala de cirurgia. 10 anos depois e o olhar, o corpo, a boca, tudo estava irreconhecível. Fiquei imaginando porque ele não falou meu nome. Apenas me reconheceu e ficou calado, como que sem palavras para expressar a surpresa.

Aquela ânsia por resposta e aquela dúvida se eu não estava sonhando me fizeram abandonar meu posto e seguir até a sala de cirurgia. Avisei a uma moça de equipe que qualquer coisa fossem me chamar lá. Entrei e ele estava sozinho, já passava de meia noite, era quase uma da manhã. Ele dormir um sono leve e o curativo estava levemente impregnado com sangue. Fiquei diante daquela maca de hospital contemplando o homem que eu amava, que nunca havia deixado de amar, ele estava com mais músculos, com ar mais sério. Mas os olhos, eu vi bem, ainda era aquele Alisson que eu conheci.

Não resisti, sem medo que alguém entrasse, passei meu dedo indicador por seus lábios, os músculos do seu peito, que agora estavam expostos pois ele estava sem roupa, apenas com a bata do hospital. Os músculos do braço agora bem mais fortes exibiam uma tatuagem, era uma cigarra com uma viola e cantando e uma formiga carregando folhas nas costas. A cigarra e a formiga, pensei, um conto infantil, porque ele tatuaria aquilo?

Meu pensamento foi interrompido pelos olhos abrindo. Me assustei e tirei meu dedo de seu corpo, me afastando dois passos dele.

- Theus, é você mesmo?

- Oi. – Respondi timidamente.

- Eu pensei que estava morrendo e tendo uma alucinação. – Falou ele.

- Eu também quase não achei que fosse real.

- Pois é. Eu sou. – Ele falou, ficando em silêncio.

- Como você levou esse tiro.

- Já contei para a moça lá na entrada. Pergunta a ela. – Era o mesmo Alisson respondão que eu lembrava.

- Você disse que era policial.

- Disse.

- É mentira não é?

- Porque eu ia mentir?

- Alisson, você era envolvido com tráfico.

- Quem te disse isso?

- Meu pai disse que sua mãe era. Depois minha mãe disse que você era também.

- Seu pai é um idiota. E você mais idiota ainda. Pega minha carteira, guardaram com minha roupa em algum lugar.

Procurei em gavetas usadas nas emergências para guardar pertences e lá estava.

- Abre. – Mandou ele impaciente.

Abri, logo em destaque havia um brasão da Polícia Federal e do outro lado uma identidade funcional. Reconheci a foto e o nome: ALISSON TRINDADE, DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL.

- Acredita em mim agora?

- Sim, Alisson. Desculpa.

- Então me diz, porque você desapareceu?

- Me levaram para Brasília. Disseram que você fugiu.

- Eu fugi mesmo, seu pai ia me matar. Mas eu só fugi quando sua mãe chegou e eu vi que ele não ia matar você.

- Eu senti muito tua falta. – Falei.

- E porque nunca me procurou? Nunca voltou lá?

- Minha mãe disse que meu pai me matava e que você e sua mãe tinham fugido para nunca mais aparecerem.

- E você acreditou? Eu voltei na cidade várias vezes, dei voltar tentando te ver. Falei com todo mundo que te conhecia. Seu pai não era onipresente, não controla quem entra e quem sai da cidade. Você podia ter dado umas voltas lá e procurado. Mas estava muito ocupado virando doutorzinho né?

- All, eu. Você falando assim parece que eu sou um idiota. – Falei com os olhos cheios de lágrimas. – Mas a verdade é que eu nunca fui atrás porque perdi todas as esperanças.

- Perdeu porque quis.

- Mas me diz, tua mãe era envolvida com tráfico de drogas?

- Não, porra. Minha mãe estava colaborando com uma investigação da polícia federal e teu pai otário achou que ela era traficante. Quando teu pai invadiu a minha casa a polícia federal foi até ele pra explicar e ele não meter o focinho onde não devia. Ai a minha mãe voltou a morar lá naquela casa, sem problema, 3 semanas depois.

- Tua mãe estava lá o tempo todo?

- Ainda está e a propósito, teu pai nem é mais delegado lá. Ele está em outra cidade pequena.

- Ninguém. Minha mãe nunca me falou isso. Se eu soubesse.

- Pois é. Você podia ter me achado facinho. Era só ter perguntado pra minha mãe.

Desabei em uma cadeira ao lado daquela maca. A frustração tomou totalmente conta de mim. Como eu havia sido um completo idiota. Podia ter vivido aquele amor. Podia ter ido atrás dele. A mãe dele era de uma família muito conhecida, era fácil saber onde ela estava. E ela ficou lá na mesma casa. Eu podia ter ido lá em qualquer um desses anos malditos que passei sozinho. As lágrimas não eram suficientes. Todas as lágrimas que eu soltariam na vida não bastariam para compensar aquele amor perdido.

- Então. Eu passei esse tempo todo acreditando em mentiras. – Falei.

- Pensei que você tinha me esquecido.

- Nunca um minuto sequer. – Falei. – Eu nunca te esqueci. Nunca tive namorado. Nunca vivi de verdade desde aquele dia que a gente se separou. E agora, não tenho nem o que falar. Não tenho nada que possa te dizer pra justificar meus erros, minha falta de atitude. E agora a vida te traz aqui dessa forma, como pra me dar um tapa na cara e mostrar o que perdi.

Diante do meu estado ele sentou na cama com dificuldade. Levantei para ajuda-lo.

- Não se esforça muito. Pode sangrar. – Adverti enxugando as lágrimas.

- Você é um otário.

- Eu sei que fui um otário.

- Não só foi, você é, falou ele segurando meu queixo e levantando para encará-lo. – Você foi por nunca ter me procurado e é por achar que é tarde.

Aquelas palavras dele encheram meu coração com uma pitada de esperança.

- E não é All? Não é tarde?

- Nem se você estivesse velho careca e barrigudo seria. Eu te deixei escapar uma vez, não vou te deixar escapar de novo. E se você for comprometido, pode terminar o namoro, casamento ou o escambal imediatamente, porque você é só meu. – Falou ele energético, me puxando para um beijo, o beijo mais esperado de toda a minha vida.

Me entregar novamente a um beijo dele era algo que eu esperava fazer apenas em outra vida. Se bem que, aquela era outra vida sim. O Matheus, jovem médico apático, sem vida social, que só pensa em trabalho, tinha acabado de ser assassinado. Assinado por um beijo a queima roupa. Agora, só havia espaço para o Theus viver, aquele garoto apaixonado pelo All. Ter ele ali, segurando meu queixo e me beijando, foi como voltar a ter 15 anos.

Tudo fugiu da minha mente naquele momento. Não importaria como eu viveria, como seria minha relação com a família, no trabalho e etc. Tudo o que importava era que o homem que eu amo estava comigo e quando você está com quem ama, qualquer caminho espinhoso vira um jardim florido.

FIM ...

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Nota: Esse conto foi a transcrição de um sonho que tive. Sonhei com um garoto se apaixonando pelo outro à beira de um riacho e depois sendo separados. Depois passam anos no sonho e eles se reencontram, um sendo médico e o outro um delegado que levou um tiro. E então eles resolvem tentar novamente. Então eu não decidi o destino dos personagens nem adiantei as coisas do conto, tudo aconteceu bem como está escrito mesmo, primeiro são jovens depois passam os 10 anos e o sonho termina.

Agradecimentos.

Mais uma vez faltam as palavras para agradecer a paciência de vocês. Eu tenho várias idéias de contos anotadas mas nunca podia começar nenhuma porque esse conto aqui estava na frente. Uma das regras que uso para nortear minha vida é nunca deixar assuntos inacabados. Então, resolvi vir aqui e encarar a tarefa de resgatar esse conto e finalizá-lo.

Tenho algumas idéias para contos curtos, mas estou mesmo escrever "A História de Caleb", um conto que pensei junto com A História de Caio e A História de Diego, três histórias de três jovens gays bem diferentes.

Estava até com vergonha de voltar aqui, mas o carinho e atenção de vocês nunca deixam de me surpreender. Carinho que já me fez encher centenas de páginas com histórias. Então fico aqui nas mãos de vocês. Deixo meus sinceros e especiais agradecimentos ao Romanov, Thiago Silva, Agatha1986 e Stylo e DW-SEX, que comentaram as novas partes até agora e me animaram para voltar a escrever.

Abraços apertados em todos.

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Comentários

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medo de morrer? isso separou eles? jura? eu estaria poco me lixando se um retardado armado e com um distintivo poderia fazer comigo ao me ver, eu procuraria a pessoa amada até nos quinto dos inferno.

fofo eles terem ficado juntos, mas queria ver ele esfregar na cara de todo mundo, que agora ele é feliz com um namoradoooo.

amei o conto, só esperava um final um pouco mais cruel com os outros e mais feliz ainda para eles.

bjs.

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Que final, um dos melhores que eu já li aqui. De mais Kah, espero pelos próximos contos.

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Já tinha perdido a esperança de você aparecer. Ainda bem que estava enganado. Linda história e mal posso esperar pelo seu próximo conto. Parabéns! Até a próxima!

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Amei o final,nunca deixarem d prestigiar uma pessoa como vc q descreve sentimento em cada linha escrita.Ansiosa pela sua nova história.

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Um bom conto não precisa de justificativas pra ser terminado, obrigado por voltar pra nos contar o resto. Sempre achei massa sua inspiração em um sonho, como disse Martin Luther King: " I have a dream...". Que venham mais contos õ/

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Não poderia ser melhor, e não deveria ter vergonha de nada, todo mundo tem seus momentos, o que importa é que voltou e espero que tenha voltado com tudo. ESPERANDO MAIS E MAIS. BEIJÃO E AMEI TUDO.

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Cara vc e demais msm..Parabens!!!Sou viciado mas suas historias

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Parabens pelo conto e esperando o proximo!

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AH CARA NEM PRECISA AGRADECER, NÓS QUE TEMOS QUE AGRADECER A TI, POR TER VOLTADO A POSTAR, POIS TEUS CONTOS SÃO SEMPRE DEMAIS. ABRAÇOS E VOLTA LOGO COM OUTRO CONTO.

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Não tem do que agradecer, na verdade eu que agradeço pelo retorno.... Muito bom o conto e espero que venham outros...

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