_Você? O que quer?
_Eu queria conversar com você.
_Você é a última pessoa com quem eu quero conversar. Agora se não importar...
_Eu também não queria conversar com você. Mas é preciso.
_Espere aqui, já venho.
_Tem alguém aí?
_Sim.
Fui até o Luiz e pedi licença.
Quando descemos até o térreo, nos sentamos em um lugar afastado, no qual ninguém iria interferir.
_Blz Manoel, eu não tenho o dia todo.
_Olha, não vim aqui pedir perdão. Mas reconheço que fiz uma coisa horrível contra você. Eu estive conversando com a Thaís, que me contou sobre você e o Murilo. Fiquei com um pouco de remorso por causa de tudo, então perguntei várias coisas pra ela. Descobri que você está tentando ficar perto dele, mas que nem pensa em dar uma outra chance. Por um momento eu fiquei pensando nos seus motivos e cheguei a conclusão de que você está bancando o idiota. Eu provoquei a traição, não foi ele quem me procurou. E tem mais, na primeira vez ele estava bêbado feito um louco, eu acabei tomando vantagem disso. E depois que você descobriu.... bom, eu fiquei até feliz, porque pensei que ele iria ficar comigo. Mas depois disso ele só me ignora, e pior, ficou frio e agressivo. Mas eu já me acostumei com isso. Porém, cada vez que vejo ele te olhando, eu percebo que o que eu fiz foi errado. Nós éramos amigos, eu passei por cima disso. Talvez eu tivesse inveja de você, ou então eu simplesmente queria que você tivesse ficado comigo desde o início. Quando eu fiquei com o Murilo pela primeira vez eu não conseguia admitir que eu curtia o lance. Dispensei ele de um jeito bem escroto, eu fiz ele sofrer muito. Depois eu estraguei o namoro de vocês, e agora ele não me olha mais demostrando raiva, e sim pena. Eu estou com aquela galera que te bateu aquele dia, e não consigo sair. Mas se ele me encarasse com raiva eu não sofreria nada, mas a pena.... é pior. A Thaís me disse também que agora você está com outro, e que o Murilo está sofrendo ainda mais por isso.
_E você veio até aqui pra que exatamente?
_Nada em específico. Mas mesmo assim, só queria dizer que vocês formavam um belo casal.
Dito isso ele se levantou e não olhou mais para trás. Era só essa que me faltava, mais um advogado inesperado para o Murilo.
Quando subi, o Luiz estava assistindo um filme, então desligou a TV e se aproximou com um olhar preocupado.
_Quem era? O que houve?
_Manoel.
_O que....
_Ele mesmo. Veio aqui me contar algumas coisas sobre como ele está se sentindo a respeito de tudo. Nada que me interesse.
Ainda tive que comentar mais algumas coisas com ele sobre a visita mais inesperada de todas até então. Depois ficamos curtindo nosso tempo juntos até o horário de mim voltar para a universidade.
_Você vai ficar até amanhã, né?
_Eu quero. Posso?
_Claro. Vou curtir pakas.
Na aula fiquei trocando mensagem com o Luiz. O Murilo não foi pra aula naquele período, o que achei estranho. Perguntei pro Victor, que disse não saber de nada. Não acreditei muito.
Na saída encontrei com o a Patrícia namorando no estacionamento. Tentei passar por despercebido, mas foi inútil.
_Ei, rafa! Preciso falar contigo!
_Oi pessoal. Do que se trata?
_Jeferson, será que eu posso conversar com ele a sós?
_Claro amor. Rafael, só um conselho: pense bem no que você está fazendo.
Vish! Esse papo de novo. Só analisando o breve comentário dele, o assunto seria Murilo. Quando ficamos a sós, ela logo iniciou a conversa.
_Eu tô preocupada com o Murilo.
_Por que?
_Por que ele está muito mal. Ele já estava acabado, mas depois que você apareceu com o Luiz..... eu nem sei o que ele está pensando.
_Olha Paty, eu sei que ele não está levando isso muito bem, mas...
_Rafa, por favor, reconsidere! Olha, eu sei que você tratou de colocar sua vida pra andar, mas o Murilo não está conseguindo fazer o mesmo. Eu não estou dizendo pra você voltar com ele, que é o que eu quero, mas só te peço pra impedir que ele faça algo que possa se arrepender depois.
_E onde ele está, que nem veio pra aula?
_Ele disse que iria pra casa dos pais, ficará lá até o final de semana. O ônibus sai daqui uma hora. Rafa, faça de tudo pra que vocês dois não sofram mais. Ele errou, mas você está errando também ao ser tão rancoroso.
_Olha, eu não posso fazer muita coisa...
_Mas faça o que puder.
_Não estamos nessa situação por minha causa.
_E o que exatamente te faz melhor do que ele? Pense nisso.
Assim ela me deixou ali sozinho, sem saber o que fazer. Por quê todos tinham tirado o dia para defender o Murilo? Liguei o carro e parti, rumo a minha casa.
Quando cheguei lá o Luiz não estava, mas tinha deixado um bilhete afirmando que tinha ido ao supermercado comprar bobagens pra nós. Foi quando eu tive a ideia mais impulsiva de todas.
Desci, peguei o carro e fui até o terminal rodoviário.
De longe, o avistei sentado, aparentando abatimento. Estava com uma mochila do lado, fones de ouvido e um óculos escuro. Como ele estava lindo!
Fiquei observando ele por um tempo, de onde eu estava mesmo. Por um momento tive vontade de ir até ele. Ainda faltavam uns 20 minutos para que o ônibus partisse. Porém desisti. Fiquei mais alguns minutos observando seu comportamento. O Murilo era por natureza uma pessoa muito alegre, que sempre mostrava um sorriso. Nem de longe ele demonstrava ser a mesma pessoa.
Quando anunciaram o seu ônibus ele pegou a mochila e foi se dirigindo até as plataformas. Antes de sair do meu alcance visual, ele olhou para os lados, e por último focou em mim. Pareceu surpreso por alguns instantes, mas logo o olhar de dor e tristeza voltaram. Não tinha mais o que fazer ali, então me virei e fui embora. Mas eu estava me sentindo mal, um verdadeiro lixo.
Quando iria ligar o carro, recebi uma mensagem dele.
“Pensei que você iria falar comigo. Sei que seu sofrimento é imenso, mas eu já sofri demais também. Vou pra casa da minha família, respirar e decidir os próximos passos. Fica com Deus rafa!”
Fiquei com um aperto no coração, mas mesmo assim nem o respondi.
Quando cheguei em casa o Luiz já tinha retornado, e estava preparando alguma coisa pra nós. Ficamos a noite toda no sofá, trocando algumas carícias, mas ficou nisso. Dormimos juntos porém nem rolou sexo. Talvez ele tenha percebido que eu não estava em um dia bom e tenha compreendido.
No outro dia ele foi embora, prometendo que iria me ligar sempre, e que tinha gostado muito de ficar comigo no último dia. Falou também que iria mesmo para o Rio Grande do Sul no final de semana.
Quando cheguei na facul, meu humor estava péssimo. Nem o Victor com suas brincadeiras conseguiu me distrair. Usei isso para me concentrar nos estudos. Época difícil.
No horário do almoço nem fui pra casa, fiquei com a galera, que já tinha desistido de puxar assunto comigo.
Antes de ir pra sala, o Victor tentou mais uma vez, porém de forma mais objetiva.
_Cara, você está assim por causa dele.
_Sim. Mas não misture as coisas. Só estou preocupado com ele, nada mais.
_Eu sei... mas não me convenço. Sabe o que ele me disse ontem, antes de ir embora, logo após você ir almoçar em casa? Que as alternativas dele estavam se esgotando, e que talvez ele tivesse que dar um tempo para ele mesmo.
_Talvez ele aproveite esse tempo para conseguir coragem pra ir adiante.
_E você tem a coragem necessária?
_Sim. Eu estou tentando...
_E mesmo assim está preocupado com ele. Você não está me fazendo acreditar nisso.
_Victor, onde você quer chegar?
_Me diga você. Será que o Luiz vai conseguir superar o Murilo? Todo mundo quer o que tem de melhor, lembre-se disso.
_Ihhh, chega de lição de moral.
_Beleza. Só mais uma coisa. O Manoel me disse que conversou com você, o que ele disse?
_Nada de importante. Só que estava com peso na consciência, mas nem pediu perdão.
_Ele não está tendo uma vida fácil. Já reprovou na maioria das matérias...
_Esse é o caminho dele.
Voltamos pra aula, na qual fiquei o tempo todo pensando em tudo o que estava acontecendo comigo. Múltiplos pensamentos em conflito em minha mente, mas um era predominante: O Murilo ainda era especial demais.
Talvez eu precisasse cortar de vez este laço, Mas como?
Ao término da aula, aceitei o convite do Victor de ir malhar. Talvez voltar para a academia contribuísse de alguma forma. Depois de lá cada um foi pra sua casa, com planos de nos encontrarmos lá pelas 22 horas em uma festa local.
Não estava com muita vontade de ir, mas o Victor insistiu tanto que não consegui dizer não. Mas estava legal, acabei me distraindo muito.
Após a festa, fui dormir na casa do Victor. Ficamos conversando até altas horas sobre tudo. Ele me contou que estava afim de uma nova garota e assim tivemos um assunto que não fosse Murilo.
No outro dia o Luiz disse que já estava preparando tudo para viajar, e que iria sentir saudades. Liguei para ele e ficamos conversando por muito tempo, o que fez com que nós dois perdêssemos aula, mais uma vez hahahaha.
Logo depois de desligar o celular, recebo uma mensagem do Murilo.
MU:“Pensei bastante e decidi que vou tentar do seu jeito. Mas não me peça para ficar longe.”
EU:“Murilo, eu não posso ficar longe de você. Ainda somos amigos cara, lembre-se disso”
MU: “Lembre-se você que eu ainda não desisti de nós.”
EU:“O nós ficou no passado, deixe isso pra lá. Vamos voltar ao que éramos antes de tudo isso.”
MU:“Eu não estou com pressa. Ainda acho que você vá entender.”
Não respondi mais nada. Alguns minutos depois, mais uma dele:
“Quando vi você lá na rodoviária pensei mil coisas. Mas quando você se virou e foi embora percebi que acima de tudo, você precisa acreditar em você mesmo. Você não estava lá atoa”Pessoal, gostaria mais uma vez de me desculpar com vocês pela falta de publicações. Agora acredito estar normalizando minha vida de novo, então vou voltar a escrever todos os dias. Comentem se possível, ou mandem um recado para rafael_hanchuka@outlook.com
PS: Obrigado mesmo pessoal por estarem acompanhando o conto.