Capitulo vinte e um
Toquei a campainha de sua casa ainda achando aquela mensagem estranha. "Vem aqui agora que você tem que me explicar uma coisa!". O que eu teria de explicar para Daniel e por que o tom da mensagem tinha sido tão urgente?
Daniel abriu a porta e a primeira coisa que notei foi sua expressão de nojo ao me ver. Entrei em sua casa e ele fechou a porta.
— O que foi meu amor? — tentei beija-lo, mas ele se afastou rapidamente — O que aconteceu?
— Me diga você — Até sua voz demonstrava repulsa por mim — Tem algo que queira me contar?
Ele descobriu!
— Não meu amor! Não tenho segredos com você — Menti tentando parecer tranquilo, mas meu coração batia a mil por hora e minhas mãos tremiam um pouco.
Daniel nada respondeu. Foi até a televisão e a ligou. A imagem nela estava pausada, mas eu podia ver bem quem eram as duas pessoas fazendo amor ali. Daniel apertou o play e o video começou a rolar. Eu vi meu irmão de quatro comigo por trás dele o penetrando com força. Ouvia nossos gemidos enquanto Daniel começava a chorar.
— Quantas vezes isso aconteceu? — Dani perguntou sem olhar para mim.
Não tinha escapatória. Daniel já sabia de minha relação com meu irmão. Não havia mais sentido esconde-la dele.
— Muitas vezes — meu corpo tremia muito devido ao medo.
O rosto de Daniel se contorceu de dor embora ele já esperasse por aquela resposta.
— Por que? — indagou.
— Eu não sei — minha resposta foi sincera demais — Eu o amo e ele me ama. Sempre nos amamos e acho que sempre vamos nos amar. Não importa quanto tempo fiquemos separados, nosso amor nunca morre.
— De todas as pessoas que me magoaram em toda a minha vida, você foi a que mais me magoou — ele admitiu — Você me traiu com seu próprio irmão! Tem noção do quanto isso é insano? Ele é o seu irmão!
— Ele é mais do que meu irmão! — respondi — É minha alma gêmea e eu o amo e sempre vou amar!
— Você é doente! Vocês dois são! Incesto é a coisa mais nojenta e ridícula do mundo!
Ele começou a chorar mais ainda quando disse isso.
— Dani — tentei tocar em seu braço.
— Me solta seu monstro! — Ele me deu um soco forte no rosto.
Por um momento tudo girou em minha frente. Senti o sangue começar a escorrer por meu nariz extremamente dolorido.
Vi a dor nos olhos de Daniel e percebi que Miguel tinha razão "Vocês nunca vão ser aceitos". Ele me dissera uma vez anos antes.
— Vai embora daqui e nunca mais me procure! Não quero ver você e nem seu irmão aqui em casa nunca mais! Quero que os dois vão se foder no inferno e que sofram, sofram muito! Desejo tudo de ruim a vocês dois.
Agora era eu que chorava. Acabei de perder mais uma pessoa importante para mim. Conhecia Daniel o suficiente para saber que ele guardava rancor durante anos. Ele nunca me perdoaria por tê-lo traído e mesmo que o fizesse, nunca me perdoaria por traí-lo com meu próprio irmão. Podia ver isso em seus olhos. Eu nunca mais teria Daniel de volta a minha vida. Ele se foi assim como Gustavo.
— Espero que um dia me perdoe — disse me virando para ir embora.
— Que espere no inferno — essas foram as ultimas palavras que Daniel me disse.
Caminhei pela rua sem me importar que as pessoas olhassem para meu nariz quebrado e o sangue em mim. Tudo o que importava para mim era a dor que eu sentia em meu intimo. A dor que essa relação com meu irmão me causava. A dor que eu causei a ele ao rompe-la e a felicidade que nosso amor me causava. Cheguei a conclusão que não valia a pena perder todos que eu amava por ele. Ficaríamos sozinhos no mundo sem amigos e sem família. Seriamos rejeitados por todos a nossa volta. Nunca seríamos plenamente felizes por isso. Via em minha frente Natais, aniversários, feriados e finais de semana vazios sem ninguém ao nosso lado além de nós mesmos. Não queria isso para mim e acima de tudo não queria isso para Gabriel.
Claro que eu o amava. Claro que seus beijos e o jeito como ele emaranhavam seus dedos em meu cabelo me deixavam mais felizes do que nunca. Claro que ter seu corpo quente junto ao meu me fazia querer arriscar tudo só para ter mais cinco minutos junto dele. Claro que eu sabia que era completamente dependente dele assim como ele era de mim. Todos esses anos que eu estive longe dele, eu sofri em silencio a dor de não ter quem eu amava ao meu lado. Eu realmente me apaixonei por Gustavo, Anderson e Daniel, mas havia um enorme problema. Eu não amava-os como amava Gabriel. Gostava muito deles, mas eram apenas paixões criadas por mim em uma tentativa desesperada de esquecer quem eu realmente queria. Tentei não sofrer com a ausência de Gabriel, mas sofri muito. A cada telefonema de minha mãe, ela me contava o quanto ele tinha mudado. Tive medo de voltar para casa e ver um outro Gabriel e não o menino que eu amava. Tive tanto medo que não fui para casa durante um bom tempo e quando fui, fiquei grato dele não querer me ver e nem falar comigo. Mas mesmo assim pude ver que ele mudou por suas atitudes com meus pais. Doía tanto ver que eu estava perdendo meu irmãozinho que me afastei emocionalmente de minha própria família. Deixei que meus sentimentos fossem trancados dentro de meu coração e assim eu não sofreria. Mas ao vê-lo em minha casa sofrendo como ele estava, trouxe a tona esse sentimento esquecido. Um sentimento que me arrebatou de novo para seus braços. Que me faz sofrer e ao mesmo tempo ser feliz. Um sentimento que me faz completo e apesar de todos os nossos problemas, eu queria me sentir completo por toda a minha vida.
Realmente não valia a pena perder todos por conta de uma pessoa, mas se levar em consideração que eu perderia todos para me sentir completo com aquele que eu amava, as coisas se tornavam diferente. Poderíamos nos mudar para um lugar longe de todos onde ninguém saberia que somos irmãos. Poderíamos reconstruir nossas vidas e sermos felizes. Finalmente eu via uma saída para sermos felizes juntos. Iríamos para longe dali, faríamos novos amigos e começaríamos nossa própria família juntos. E acima de tudo, seriamos felizes.
Entrei no prédio e subi de elevador o achando incrivelmente lerdo. Iria pegar Gabriel e juntos iríamos embora para sempre. Meu pai me mandava seiscentos reais todos os meses para eu me manter, mas não gastava nem duzentos desse dinheiro e o resto colocava em uma poupança. Eu tinha dinheiro suficiente para nós dois nos mantermos durante uns sete meses até eu encontrar um emprego. Dane-se a faculdade. Do que adianta continuar ali se eu não seria feliz? Do que adiante ficar em um lugar apenas sofrendo?
Quando finalmente abri a porta do meu apartamento me deparei com a camisa preta de Gabriel jogada no chão. A mesma camisa que ele usava antes de eu sair de casa. E essa não foi a única peça de roupa que eu encontrei. Havia uma camisa branca de botão atirada por cima do sofá que reconheci como sendo de Miguel. Nesse momento meu coração doeu com a violência de ser apunhalado. Segui a trilha de roupas que levava a cozinha e bati a porta com raiva. Fui ao quarto de Gabriel e ele não estava lá.
— Cadê você Gabriel?! — Gritei tão alto e com tanto ódio que senti minhas cordas vocais sendo feridas com a potencia da minha voz.
— Estou aqui! — sua voz vinha exatamente de onde eu sabia que ele estaria, mas que tinha a esperança de que ele não estivesse ali.
Fui até o quarto de Miguel e o encontrei nú com Miguel que lutava para vestir uma bermuda das várias que ele deixava espalhadas pelo quarto.
Nunca senti uma dor tão grande quanto a que sentia naquele momento. Meu mundo desabou de vez. Meu melhor amigo e o amor da minha vida juntos. Agora tudo fazia sentido. Todas as vezes que Miguel tentou me convencer a largar Gabriel eram apenas para que ele pudesse ficar com meu irmão. Agora eu sei por que ele sempre me perguntava sobre meu irmão quando ele ia em minha casa. Agora entendo por que Miguel não deu parte de Gabriel quando ele tentou mata-lo. Ele o queria e me usou para se aproximar dele.
Mas por mais que eu odiasse Miguel naquele momento, não se comparava ao ódio que eu sentia por Gabriel. Ele acima de todos me traiu. Me ludibriou dizendo que me amava, acabou com meu relacionamento com Daniel enviando aquele DVD para ele. Destruiu minha sanidade e meu coração assim como eu...
Em um estalo tudo fez sentido. Aquilo era uma vingança de meu irmão por ter ido embora e o deixado. O antigo Gabriel nunca faria isso, mas eu fui tolo de acreditar que aquele ainda era o Gabriel que eu conheci. O Gabriel que eu amava morreu em minhas mãos no dia que o abandonei. Esse Gabriel era apenas raiva e tristeza.
— Eu vou te matar! — gritei sem saber a qual dos dois me referiaCobiça-me pois a tu e seu, serei nos mais remotos e indigentes passos do individualismo
Da minha vida pacata e serena.
Faça-me teu e puramente. destrincha-me nos teus braços,
Chama-me de alguém mas peço-lhe de fato, eis tu meu?
Alexandre Sousa (editor do conto
Conflitos, conflitos, conflitos... Eu os adoro e por isso meus contos são cheios de conflitos, mas esse em especial tem muito mais conflitos que meus outros dois contos se colocando na frente do meu primeiro conto (e extremamente curto) "Caminhos para o paraíso" que era o meu conto preferido, mas este tomou seu lugar. Me envolvido demais com os personagens e adoro escreve-lo. A principio o conto era para ter terminado com Enzo indo embora para a faculdade e deixando Gabriel, assim como aconteceu com "Caminhos para o paraíso" eu não consegui. A diferença é que neste conto eu segui com a história e o meu primeiro eu finalizei onde planejei a principio, mas vou continua-lo após este.
A cada capitulo eu fico surpreendido com seus comentários. Comecei receoso de ser humilhado aqui na casa dos contos com comentários ruins dizendo que não sei escrever e que minha história é ruim, mas surpreendido com criticas positivas sobre meu primeiro conto e isso me deu força para continuar escrevendo. Aqui na cdc eu descobri que tenho talento para algo que sempre gostei de fazer, escrever.
Obrigado a todos, pois vocês são a razão de eu ainda estar aqui escrevendo mais um capitulo de "My little brotther" e planejando meu próximo conto. Vocês são dez e espero que continuem comigo até o final e em outros contos também.