"Não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará”.
NinaM
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Uma semana depois que a gente tinha voltado da praia eu resolvi ir até o mercado com o Igor e o William, colocamos o filhão no carrinho e saímos pelos corredores do mercado.
Apesar de o William ser magro, gostosinho daquele jeitinho, nem muito nem pouco, na medida rs.
Ele come muitas porcarias doces, balas e biscoitos, nossa ele é pior que criança, nessa época ele estava com seus 23 anos, a idade que eu tinha quando o conheci e eu credo, não gosto de lembrar idade rs.
Compramos algumas peças de carne também para o almoço de domingo, como sempre né, não podia faltar o churrasquinho, também compramos algumas bebidas, me lembro que ao passar nos laticínios eu peguei aqueles iogurtes que o Iago dizia que eram bons para os ossos das crianças e tals.
Na mesma hora eu congelei com o carrinho enquanto o William se agachava para pegar alguma coisa na prateleira de baixo.
Ele se levantou e ficou me olhando andar em direção a uma pessoa alta e muito magra.
De costas eu fiquei olhando para aquele rapaz alto com os cabelos escuros, mas com um corpo bem magro, olhando o rótulo de um produto.
Impossível ser ele.
O Igor chamava por mim, mas no momento eu nem dei atenção coitadinho.
Eu levantei a mão e encostei a ponta do dedo no ombro do rapaz que se vira.
Minha reação foi de tristeza quando eu olhei no rosto dele e constatei que era o Iago.
O rosto com aparência cansada, um cheiro de cigarro que exalava do seu corpo.
Iago?
Não pode ser!
Mas sim, era ele mesmo.
Me olhou fundo nos olhos e sorriu.
Fabiano?
Nossa quanto tempo heim?
Como você está?
“Como você está Iago”?
Cadê aquele cara todo preocupado com a saúde, que tomava conta até dos alimentos que a gente comia?
É Fabiano a vida deu algumas voltas e eu acabei aceitando essa nova posição.
Nossa! Iago você está péssimo, me perdoe pela franqueza.
Tudo bem amigo, meu amigos dizem isso mesmo.
Eu sentia o cheiro de fumaça misturada com tanta coisa que saia da boca dele, nossa era de dar pena, dó, aquele cara não estava mais ali, era só a carcaça.
O William veio até nós com o Igor no carrinho.
Cumprimentou o Iago com um aperto de mão e um abraço, enquanto eu tentava enxergar o Iago antigo naquele rapaz todo derrubado, magro e triste.
O Igor deu um grito chamando a nossa atenção para ele, e nisso o Iago e avista.
Olhou para meu filho e sorriu, oi meninão.
O Igor se agarrou no peito do magrelo e chorou assustado.
Eu fiquei sem graça, o Igor adorava aquele cara, mas não o reconheceu.
Iago o que seu pai fez com você, como sua mãe deixou isso acontecer?
A calça que ele usava estava toda desbotada, um par de tênis surrado nos pés, eu morri de dó, infelizmente não consegui não reparar no estado que ele estava.
Ele percebeu que fiquei aborrecido com o modo que o encontrei e se despediu.
Bom gente eu tenho que ir a Ana esta me esperando na fila do caixa.
Ana?
Quem é essa?
Ele esta com aquela menina ainda?
O William me segurou pelo braço e fez um sinal de não com a cabeça.
Não o caralho eu vou ver sim.
Segui o Iago até a fila do caixa deixando os dois para trás.
Lá estava à menina, magra, mas com uma barriga de pelo menos uns cindo ou seis meses.
Iago espera um pouco?
Oi Binho, precisa de algo?
Sim Iago preciso!
Quero entender, o que aconteceu com você?
Como você conseguiu chegar nesse ponto?
Por que você deixou isso acontecer?
Ele se irritou com as minhas perguntas e retrucou meio grosseiro, uma coisa que ele não era.
Eu não deixei isso acontecer comigo.
Fui obrigado a viver assim.
Cada vez que eu tentava sair de casa, eu levava porrada do meu pai.
Eu não tinha problema algum antes de te conhecer, e depois que você entrou na minha vida, tudo virou um inferno Fabiano.
Depois de tanto tempo eu acabei aceitando, já que eu não tinha pra onde correr.
Você estava no hospital e não podia me ajudar.
Minha mãe é omissa, aceita tudo que o meu pai impõe a ela.
E eu?
Eu não tinha para onde correr, ele sempre dava um jeito de me achar.
A Ana aceitou-me desse jeito, e eu acabei deixando de acreditar que um dia eu acordaria desse pesadelo.
Fabiano meu pai tirou meu celular, tirou telefone, me levou num lugar que nem energia elétrica tinha.
Iago seu pai fez tudo isso, por que sabia que você não revidaria você diz que sua mãe é omissa, mas e você? Você foi o que? Não foi e nem é diferente de sua mãe, é uma pena você ter se tornado isso.
Nesse momento ele dá dois passos pra cima de mim, putz ele tem dois metros de altura (socorro marido), mas a mulher dele chega (graças a Deus).
A gente meio que discutiu no meio do mercado, ao lado dos caixas, gente eu não sou assim, mas eu tinha que saber dele.
O que está acontecendo aqui é mais um de seus amigos Iago?
Amigos?
Como assim Iago?
Não garota, eu não sou amigo desse aí.
O Iago que eu conheci morreu.
Aquele cara bacana, estudioso e tímido, que adorava meu filho.
Aquele cara lá vai ficar sempre no meu pensamento, aquele sim era digno, já esse aqui é uma decepção.
Ele abaixou a cabeça e saiu em direção ao caixa, enquanto eu tentava entender tudo aquilo que tinha visto.
O William parou o carrinho, pegou o Igor no colo e me segurou pelo braço.
Você está bem baixinho?
Estou sim William, desde que você voltou a ocupar um espaço na minha vida, tudo esta melhor a cada dia.
Não se esqueça disso magrelo, eu amo você e não vou nunca deixar nada de ruim te acontecer.
Ele riu e me abraçou com o nosso filho no colo.
Não Binho quem vai cuidar sempre de você serei eu, e o nosso filho vai ser a criança mais orgulhosa do paizão aqui.
Terminamos de comprar todas as coisas e voltamos para casa, o William foi dirigindo enquanto eu pensava na desgraça que o pai teria feito na vida daquele rapaz.
Era estranho olhar no rosto de uma pessoa que você não via a mais ou menos um ano e ver que ela não existe mais.
Mas se tem uma coisa que eu já tinha aprendido é que todos nós temos nosso momento, sendo ele maravilhoso como o que eu estava passando, ou um momento turbulento e ruim como o que o Iago estava passando.
Ainda tínhamos coisas para acertar.
Continua.