Acordei no dia seguinte com a minha mãe batendo na porta.
- Filho, o Mark chegou.
- Espera um pouco - disse, ainda dormindo. Fui até a gaveta e vesti um calção qualquer, escovei os dentes e abri a porta pra ele entrar. Ele encarava todo o meu corpo enquanto eu abria as janelas. Apesar de eu estar gostando daquilo, eu estava envergonhado, e acima de tudo eu não queria dar pinta.
- Tá olhando o que aí - falei.
- Ah... bom... queria ver se conseguia ver a marca do seu calção - ele disse timidamente. "Porra, não tinha uma desculpa melhor não?" - pensei.
Após isso ficamos jogando conversa fora até minha mãe ir nos chamar. A chácara ficava a mais ou menos 40 minutos da cidade, então deu tempo de ouvir todo o CD do Jorge & Mateus no caminho. Ao chegarmos, meu "padrasto" já nos esperava.
- Caramba, Marcelo, como tu esticou - ele sempre falava a mesma coisa sempre que me via. Podia passar um dia sem me ver, mas ele falava isso, sempre.
Meu padrasto era o Kleber, ele era um fazendeiro bem sucedido da região, típico machão - todo peludão, voz grossa e sotaque de gente do interior - mas fora isso ele era MUITO gente boa. Ele namorava com a minha mãe ha quase 2 anos e já falavam até em casamento e em morar juntos quando eu terminasse o Ensino Médio. Ele brincava dizendo que quando eu completasse 18 ele iria me dar um apartamento e eu iria ter que morar sozinho com o Caleb.
- E aí, faxa - falei, fazendo nosso aperto de mão secreto. - Esse aqui é o meu amigo, Mark - apresentei-os. O Kleber pareceu gostar muito do Mark e logo estavam fazendo piadas e falando de futebol, carros, cavalos e etc. Como eu não me interessava por nenhum daqueles assuntos, peguei meu óculos de sol, minha cadeira de praia e uma long neck de Heineken e fui me sentar a beira do córrego que passava aos redores da chácara.
- Trouxe o Mark pra não ficar sozinho e ele me troca pelo meu padrasto, ótimo - pensei alto.
- Deixa de ser ciumento - ele vinha por trás de mim. Eu fiquei vermelho, não sabia onde enfiar a minha cara.
- Não é ciúmes, é só... que eu não queria ficar sozinho - inventei uma desculpa qualquer.
- Sei. - ele disse, me olhando.
- Sério... só tava aqui pensando na vida. - falei.
- O que você pretende fazer depois daqui? Digo, depois que a escola terminar - ele jogava uma pedra no córrego.
- Eu pretendo fazer algo relacionado a arquitetura... desenhar sempre foi o meu refujo - falei. E você? - perguntei.
- Não sei, eu queria ser psicólogo, entender o que se passa na mente das pessoas... - ele respondeu.
- Essa conversa tá tão deprimente, vocês tem muito tempo pra decidirem o que querem fazer da vida - Caleb chegou por trás de nós, se entrosando na conversa.
- Puta que pariu, saudades privacidade - brinquei.
- Vamos ou bora? - Caleb falou com Mark algo que eles pareciam ter planejado a tempos.
- Só se for agora - Mark responde.
Antes que eu pudesse pensar em algo, os dois pegam na cadeira de praia e a levantaram. Em seguida, caminharam até a beira da ponte de madeira que tinha sido feita em cima do córrego e me jogaram rio a baixo. Confesso que fiquei com raiva no começo, mas decidi que ia dar o troco. Enquanto eles riam, eu acumulei uma grande quantidade de ar e fiquei embaixo d'água por um bom tempo.
- Eles devem ter se esquecido que sou do time de natação desde que nasci - pensei, ainda debaixo d'água.
Em poucos segundos percebo uma movimentação na água e percebi que eram os dois vindo em minha direção o mais rápido que conseguiam. Eles me levaram pra superfície e eu queria muito rir, mas não ia deixar aquilo barato.
- Faz respiração boca a boca nele caralho... puta merda, Caleb, tua mãe vai matar a gente - Mark estava apavorado.
Quando o Caleb veio em minha direção, abri os olhos e ele se assustou tanto que caiu de novo no córrego.
- Não sabem brincar não desçam pro play - eu disse, levantando e observando a expressão de raiva no rosto do Caleb.
- Idiota - ele disse, saindo do córrego e indo em direção a casa.
Eu e o Mark rimos e depois disso entramos novamente no córrego. Ficamos brincando até cansar, então ficamos recuperando o ar na mesma ponte de onde ele e meu irmão haviam me empurrado, um de frente pro outro.
Ele ficava me encarando e olhando fixamente em meus olhos. Eu estava nervoso e um pouco bebido, então acho que fiz uma das melhores loucuras da vida: o beijei.
Na verdade aquele foi o pior primeiro beijo do mundo. Eu não sabia muito o que fazer e eu estava nervoso. Meu coração batia forte e minhas mãos tremiam, já ele estava calmo, como se nada estivesse acontecendo. No meio do beijo, bato meus dentes nos dele (eu não iria contar essa parte, mas acabei contando aahhah) e então nosso beijo cessou. No mínimo broxante.
- Eu não sou gay - foi a primeira coisa que eu consegui falar naquela hora. É claro que eu era gay, só não queria assumir aquilo pra mim mesmo.
- É, eu sei que não... - ele disse, dando um sorriso no canto da boca. - Aliás, se você quiser eu posso te ensinar a beijar, você precisa, sendo gay ou não - ele continuou, se levantando e indo em direção a casa.
Eu fiquei sozinho no lago pensando nas merdas que a vida havia me aprontado. Meu primeiro beijo tinha sido com um cara e eu estava apaixonado pra ele, mas ele ainda me disse que eu precisava de aulas de beijo. Poderia ficar pior? Poderia.
Amanhã tem mais, galera! Espero que estejam gostando. Caso queiram deixar críticas ou sugestões, estou totalmente aberto. Abraços.