Eu queria que ele fosse mesmo feliz. Talvez a Paloma fosse o grande amor da vida do Felipe, e ele iria realizar o seu sonho de ser pai. Havia um mês que eu e o Arthur estávamos namorando. Às vezes ele tinha um comportamento meio estranho, mas nada que abalasse a nossa relação.
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- Eu já disse que eu não vou à festa alguma! Está decidido.
- Mas Fernando... É a sua tia Paula. Lembra? A pessoa que você tanto adora.
- Pai, eu não quero ir à festa. Depois eu mando o meu presente e dou um beijo na tia Paula.
- Meu filho, você não me disse que está namorando um rapaz? Então? Leve ele também. Apresente esse tal de Arthur à família. Eles não ficam dizendo que você é um pervertido, que sai com vários caras? Esta é uma oportunidade que você tem para mostrar ao contrário.
- Eu não tenho que mostrar nada. Eu estou de saco cheio da minha família, do mundo!
- Nando, eu sei que está sendo difícil pra você...
- Não pai. Ninguém sabe. Eu vou para o meu quarto. E vou te pedir mais uma vez, não toca mais neste assunto de festa. Eu já tomei a minha decisão.
- Tudo bem. Eu vou respeitar você. Mas eu quero conhecer o seu namorado. Ok?
- Qualquer dia desses, eu trago ele aqui.
Eu me retirei da sala. Por mais que eu quisesse, eu ainda não havia perdoado ninguém da minha família. A tia Paula era adorável. Mas eu não queria ter de conversar e tão pouco me explicar para os outros. Meu namoro com o Arthur ia muito bem. Eu não tinha do que reclamar; ele era muito carinho, alegre, fazia questão de me agradar o tempo todo. A única coisa que eu não tolerava, era o seu ciúme excessivo. Por falar nele, eu acabara de receber uma ligação.
- Oi meu amor. Pensei da gente se vê hoje. O que você acha? – disse ele todo animado do outro lado da linha.
- Hoje não Arthur. Eu não to com muita vontade de sair.
- Ahhh... Vamos! Eu queria ir numa balada com você. Se quiser, pode até chamar os seus amigos.
- Fica para outro dia. – por um momento eu refleti. A tia Paula era muito especial e sempre me adorou. De todos da minha família, ela era a única que me apoiou quando me revelei homossexual. Não seria justo, eu faltar na festa de seu aniversario, ainda mais se tratando dela que não deixava de comemorar um ano sequer. Pronto! Eu iria neste aniversario e levaria o Arthur comigo.
- Eu queria te fazer outro convite. – eu falei.
- Pode falar meu amor.
- A minha tia vai fazer uma festa num sitio, para comemorar o aniversario dela, então eu pensei... Você que ir comigo? Assim, todos iriam te conhecer.
- Sério? Ahh... Eu fico com receio de eles não gostarem de mim.
- Acho meio difícil isso acontecer. Você topa ou não?
- Claro Nando! Quando será?
- Amanhã? A partir das 16:00 HS. Eu passo no seu apartamento e de lá nós vamos.
- Combinado. Bom, como você não quer sair hoje, eu vou tomar um banho e assistir TV. Estou morrendo de saudades de você coração. Não vejo hora de beijar a sua boca.
- Nós dois nos vimos ontem. Esqueceu? – eu não conseguia entender esta possessão dele.
- Eu sei. Mas parece uma eternidade. Até amanha então. Eu te amo. Sonha comigo.
- Beijos Arthur.
- Porque nunca diz meu amor? Eu quero ouvir você dizer: Boa noite meu amor. Beijos!
Eu não ia conseguir dizer aquela frase. Apesar de gostar muito dele, eu ainda não o amava. Talvez eu adquirisse este sentimento com um tempo... Mas naquele momento, era somente um grande carinho e um gostar intenso.
- Estou esperando você dizer. – ele fez uma voz de ordem.
Eu me esforcei, até sair um sonoro e frio: Eu te amo.
- Agora eu preciso desligar. – eu me apressei em encerrar a ligação, antes que ele exigisse mais de mim. Eu não sabia o que eu iria esperar amanhã, mas eu ia levá-lo à festa. Antes de dormir, fiquei no computador olhando umas fotos antigas. Eu passava as fotos com o mouse, até me deparar com uma, onde eu, a Natasha, o Felipe e nossos outros primos, estávamos tomando banho de piscina na casa da nossa avó. Todos naquele dia estavam felizes... Eu fiquei observando ele. A vida era mesmo cruel... Fui dormir.
Acordei com o barulho do carro do meu pai, partindo para o sitio. Eles combinaram de chegar mais cedo, para ajudar se fosse necessário. Eu não avisei que iria. Queria chegar de surpresa e surpreender a todos. Como eu tinha a certeza de que o Felipe não ia estar lá, a minha preocupação diminuiu. Aproveitei a manhã de sol, e fui dar uma corridinha na praia, depois tomei uma água de coco. Há muito tempo que eu não praticava exercícios. Fui numa lanchonete e pedi um pão na chapa, com café meio amargo, depois voltei para casa.
O dia passou rápido, e quando me dei conta, eu tive de sair correndo para o banheiro e depois me arrumar. Eu fiquei de passar na casa do Arthur para irmos juntos. Meia hora depois, eu estava pronto, com uma calça jeans justa, que realçava minhas pernas grossas e a bunda redonda. Coloquei uma camisa de malha fina, pois o calor estava insuportável. Peguei um táxi até a casa dele.
- E aí? Vamos?
- Nossa Nando, você está uma delicia. Me deu até vontade de te comer aqui nas escadas.
- Pode ir parando... – eu rir. Vamos logo, antes que cheguemos atrasados. Minha tia odeia atraso.
- Mas antes me dá um beijinho. – nos beijamos no corredor do prédio. Ele ainda tentou tirar a minha calça, mas eu fui mais rápido e o impedi. – Agora vamos!
- Ok! Vamos. – ele levantou as duas mãos.
Eu entrei no carro dele, e mais uma vez, o elogiei. O Arthur era rico e fazia questão de estar bem confortado, apesar de que, ele era muito simples, e não exibia sua fortuna para os outros. No trajeto, eu quis saber mais sobre a família dele, e dele também.
- Como era a sua relação com os outros namorados? – eu perguntei.
- Normal. Só que eles me diziam que eu era muito ciumento e terminaram comigo por este motivo.
- E você? Não se considera ciumento? Quero dizer, excessivamente?
- Você me acha assim? – ele me olhou sério.
- Bom, eu às vezes observo você, e vejo que muita dessas vezes, o seu comportamento não me agrada. Outro dia, você queria brigar com o Guilherme, só por que ele dormiu em minha casa. Ele é meu amigo, um dos meus melhores amigos. Confesso que neste dia, eu pensei em terminar com você.
- Eu sei que eu errei. Mas eu te pedi perdão. É que eu gosto muito de você.
Eu apenas o encarei. Finalmente chegamos, e claro, a atenção de todos se voltaram para nós dois. Também, com o carro imponente do Arthur, em qualquer lugar chamaríamos atenção. Eu dei uma sondada para me certificar de que o Felipe não estava, e ao que me parecia, ele não foi mesmo.
- Nandoo! Meu sobrinho querido! – minha tia me abraçou forte.
- Oi tia. Quanta saudade. Como você está? Pelo que vejo, cada dia mais linda hein?
- Pois é. Homem gosta de mulher bem cuidada. Mas então, não vai me apresentar?
- Ah, claro! Este aqui é o meu namorado, o Arthur. – Esta aqui é a minha tia Paula.
Eles se cumprimentaram com um beijo no rosto e m sorriso largo.
- A senhora é muito jovem. É um prazer conhecê-la.
- Obrigada querido. Nossa, Nando adorei este seu namorado.
Começamos a rir e jogar conversa fora, até que a tia Paula, foi dar atenção aos outros convidados. Eu me direcionei a mesa onde estavam os meus pais. Apresentei o Arthur e pouco tempo depois, ele parecia intimo do meu pai. Eu observava a festa,enquanto eles conversavam. Me levantei da cadeira para falar com meu primos, meus outros tios, e quando resolvo ir até a cozinha pegar cerveja, eis que me deparo com o Felipe e a Paloma agarrados, rindo os dois, junto a minha avó.
Meu coração acelerou e ao mesmo tempo se desapontou. O nervosismo foi tanto, que eu deixei a garrafa cair das minhas mãos. Eles olharam pra mim.
- Ai meu Deus, como eu sou desastrado. – me abaixei para limpar os pedaços de vidro, quando vi que ele me encarava sério. O assunto ao qual os três conversavam, era sobre o casamento do Felipe com a vadia da Paloma. Eu não suportava aquela mulher.
- Quer ajuda? – ela se ofereceu, com um ar e deboche.
- Obrigado, eu sei me virar. – ele fez questão de agarrá-la e se esfregar nela, só para me provocar. Não seja por isso querido... Eu dou o troco. – pensei comigo mesmo, imaginando a cara dele, quando me visse com o Arthur.
Esta festa ainda vai rolar confusão...
CONTINUA...