5. O assassino.
Era noite, portanto muito escuro e foi tão rápido que ninguém conseguiria dizer com certeza o que aconteceu ali. Em um momento uma mulher — uns 30 anos, andava segurando sua bolsa com medo que a roubassem, pois estava em uma rua afastada do centro (provavelmente perdida), cabelo totalmente liso, caído sobre o olho esquerdo e sobre o ombro direito, cheia de bijuterias e um perfume caríssimo — perambulava na calçada, e no momento seguinte seu corpo estava jogado da mesma calçada.
O sangue sendo tirado como de uma caixinha de todinho, e quando não havia mais sangue para seu coração bombar, foi tirado do peito e mastigado logo depois.
Um grupo de góticos, que andava pela noite, viu quando um vulto se levantou do corpo estirado no chão, sem nenhuma gota de sangue e um furo no peito (onde o coração foi tirado para servir de sobremesa à fera que atacara a mulher), mas de repente eles ficaram confusos com tudo aquilo. Não sabiam se tinham mesmo visto ou era um sonho que todos tiveram. Era como o controle mental de um Vampiro, mas sem grande força para fazer a pessoa esquecer-se do que vira. E um Vampiro rápido o bastante para estar do outro lado da rua, em menos de um milésimo de segundo, teria forças para fazer qualquer um de nós nos jogarmos na frente de um carro, então o vulto não poderia ser um Vampiro.
Sem saber muito o que fazer, o grupo virou-se de costas para a mulher, cochichando entre eles “se virarmos e não tiver um corpo jogado na rua: foi uma ilusão, mas se ainda estiver ali: é real e precisamos chamar a policia”.
Alguns tiveram coragem de se virar e comprovar que não era um sonho, outros já sabiam que era real, quando o vulto se afastou na noite seu poder mental foi interrompido. Os primeiros discaram o número da policia sem tirar o olho do corpo. Foram varias tentativas, até achar alguém do grupo que não estivesse com a voz chorosa e tremula para explicar o que acontecia ao policial desnorteado do outro lado. Com custo o mais velho do grupo explicou em poucas palavras que havia um corpo jogado na rua.
Minutos depois, vários carros da polícia estavam no local. Apenas um ficou com o grupo e a mulher sem vida. Os outros seguiram direções diferentes, atrás do assassino. Dez minutos mais tarde, uma ambulância encostara-se à calçada e os paramédicos colocaram a mulher sobre uma maca. Enfermeiros tentavam dar tranquilizantes para o grupo. O menor deles não aceitou e foi forçado a entrar na próxima ambulância que chegara.
Com o escarcéu feito na rua, os carros, que ali raros apareciam, foram parando e os curiosos conectados as redes sociais espalharam a notícia. Antes dos peritos terminarem sua discussão com os paramédicos que ainda queriam levar o corpo sem antes deixa-lo no mesmo lugar para tirar fotos e ajudar a achar o assassino. Havia uma pequena multidão assistindo e filmando tudo. Outras viaturas foi chamada para conter a população.
O grupo gótico seguiu direto para a delegacia — menos o menor. Que não aceitou os remédios e foi parar no hospital em choque e com a pressão baixa. Pouco tempo depois, ficara louco, o vulto entrou em sua mente e saiu sem nenhuma preocupação e sem reorganizar as coisas, assim, sua mentalidade humana o deixara para sempre.
Nico foi acordado com o Tio entrando como um louco em seu quarto — sem Mike no quarto, ele esquecia os bons modos —, com olhos maiores que de uma coruja. O Tio esperou o sobrinho acordar por completo, para, então, jogar o jornal matinal em seu colo.
A manchete vendera o jornal como água naquela manhã. A mesma dizia: “Extra: corpo é encontrado sem sangue e o coração não se sabe onde foi parar, será que temos um zumbi na cidade?”. Era uma longa manchete que cobria toda a primeira página. E embaixo de tudo isso, uma foto do local onde encontraram a vitima. O escuro natural, sem as luzes fotográficas, deixou a fotografia como de uma capa de um filme de terror.
— Você acha que foi ele? — perguntou o Tio, com um sussurro amedrontado.
— Não! — bravejou Nico atirando o jornal para longe. Sem que o Tio desse conta, ele já estava vestindo uma camisa de botão, xadrez azul com branco. Nico não sabia que horas eram, mas depois dessa notícia ele não poderia mais ficar na cama. Seus olhos queimavam em fúria.
— Mike — ele começou quase falhou ao dizer o nome do amado em um tom tão severo. — Nunca iria atacar uma pessoa dessa forma e deixar a impressa publicar, ele teria matado todo o jornal Jot (nome do jornal que o Tio lhe trouxe) se soubesse que eles iriam publicar, e diz na manchete que o coração foi comido — esse último momento, foi mais um pensamento alto do que uma defesa. — Vampiros não comem carne.
— Mas quem pode ter sido? — o Tio estava lendo o jornal. — Quando ele chegou à cidade você sentiu ele e ficou com aquele mau humor, e se outro tivesse chegado aqui, você também teria sentido. Quem será que fez isso?
— Pouco me importa — gritou Nico. — Minha preocupação é se isso escapar e os militares souberem... Eles vão encher a cidade de soldados e vão achar que eu sou o culpado.
O Tio parou para ler o jornal.
— Diz aqui: as testemunhas não se lembram de muito bem, é como se alguém tivesse tentado entrar em suas mentes — ele parou e ler. — Você não tem esse talento, então só pode ter sido um Vampiro.
Ouvindo gemidos, Tio deixou o jornal cair. Agora sua atenção era para o sobrinho, que sem ao menos perceber estava se transformando. O medo e a raiva juntos é uma combinação perfeita para a transformação.
— Nico — disse o Tio quando ouviu a calça rasgar, mas o outro não pareceu ouvir. — Nico! — mesmo com o grito, ele não ouviu.
Nico se virou para o Tio sem saber quem era ele — esquecer-se das pessoas mais amadas quando transformado pela fúria, coisa de Lobo —. Tio só pode olhar para a saída mais próxima.
Quando pensou em correr, parou e refletiu “se correr o cachorro vai atrás, o melhor é sair de fininho”.
Não teve tempo para ir de mansinho, o Lobo o jogou contra a parede e rosnou. O cheiro de Nico começava a sair de atraente, puro e único para apodrecido e seus pelos humanos ficavam grossos e sebentos. O hálito imaculado, era agora, um fosso fedido.
Com náuseas Tio segurou o vomito repentino.
Enquanto Nico continuava sua transformação. O focinho agora era de trinta centímetros. Mas ele não quis esperar a transformação, os olhos negros e terríveis se preparavam para o ataque.