Caminhava distraída no campus da faculdade. Lia um livro para o curso quando um voz me interroga.
- Beatriz?
Antes de erguer meus olhos já tinha extrema consciência de quem era. Depois de todo esse tempo não a procurei, nem ela a mim. Em partes porque mi recuperação havia chego a poucas semanas, em outras pelo medo que me travava.
A possibilidade de Manuella não querer mais falar comigo era tão horrenda que evitara ao máximo aquele encontro. Mesmo que a saudade fosse quase insuportável.
- Oi. - respondi erguendo o olhar e me deparando com o rosto que não saia de minha mente.
Ela continuava exatamente como a ultima lembrança dela que tinja, com exceção de Matheus segurando possessivamente sua mão. Apenas com aquele gesto pude me pôr a parte da relação deles, haviam reatado o namoro.
A conversa que se iniciou naquele instante foi leve. Manuella e eu evitávamos propositalmente o motivo de meu sumiço. Ela contou com seus olhos, que julguei tristes, fixos aos meus a novidade do namoro. Saudei Matheus que permaneceu calado ao seu lado. Me despedi de ambos sabendo que ela apareceria em meu apartamento aquela tarde.
Quando abri a porta naquela tarde e a encontrei nosso abraço veio apertado. Depois de infinitos segundos nos sentamos em meu sofá de dimensões reduzidas.
Interrogou-me sobre os dias em que nos perdemos, separadas uma da outra. Relatei então sobre meu último semestre, meu sofrimento interno, meu estado, a vinda de minha mãe, meu psicólogo e meu renascimento como pessoa. Ouvia-me atentamente, vi lágrimas escorrendo de seus olhos mas não reagi, estava presa naquelas memórias. Apenas quando terminei me desculpando e contando que a lembrança de sua face foi a responsável por conseguir superar tudo, que consegui enxugar as gotas salgadas de seu rosto.
Esperei sua resposta. Quanto mais o silencio aumentava, maior era também a certeza de que Manuella não me perdoaria. Foi surpreendente para mim que sua quebra de silencio viesse com um pedido de desculpa por não ter estado comigo no momento mais difícil de minha vida. Ela então contou-me sobre seus dias.
Matheus aproximou-se de seu pai e este a havia pressionado para que reatassem. Ouvi de sua boca que aquela relação era tóxica e que estava infeliz, que apenas uma pessoa a fazia feliz. Sua única satisfação era com o curso que escolhera.
Depois daquela tarde nossa amizade voltou da mesma forma de quando a conheci, mas dessa vez não conseguia evitar o desejo de seu corpo, sua boca, seu carinho. Olhares eram trocados e reprimia em vão meus sentimentos.
Três meses se passaram nessa tortura e quando eu achei que não dava para piorar.. Piorou.
O pai de Manu adoeceu, foi internado no hospital que ele expressou como o satisfazia a relação de sua filha com o atual namorado. Não foi preciso que ela me contasse, mas soube que aquilo mexera com ela. Seu pai a ajudara muito e ficar com Matheus era como realizar o último desejo dele. Em contra partida ela teria que definitivamente desistir de sua felicidade.
O veredito da sua escolha veio em uma bela noite estrelada. A família de Matheus estava realizando um jantar ao qual eu e amigos nossos da faculdade foram convidados. O amplo salão estava lotado de mesas, garçons a todo momento distribuíam bebidas e uma suave música tocava ao fundo. Fui designada a mesa que alguns colegas estavam enquanto Manuella sentava-se ao lado de Matheus e sua família. Nos observávamos ao longe, discretamente. Em determinado momento da festa o pai de Matheus subiu ao pequeno palco e pelo microfone agradeceu a ilustre presença de todos (em especial seus parceiros comerciais que vieram com a família) e chamou o filho ao palco.
- Hoje é uma noite muito especial para mim. - falava com segurança - E quero compartilhar com vocês. Manu, amor, vem aqui.
Trocamos rápidos olhares interrogativos, ela levantou-se e com um sorriso no rosto foi em direção ao namorado. A partir desse momento tudo passou em câmera lenta para mim. Vi Manu subir ao palco, Matheus pegar em suas mãos, ajoelhar, retirar uma pequena caixinha de veludo do casaco e proferir as seguintes palavras: Quer se casar comigo?
Meu coração parou, mas foi ao ouvir a resposta de Manuella que meu mundo desabou. O meu redor explodiu em palmas enquanto eu explodi de dor. Sai do local com lágrimas ameaçando sair dos olhos.
Aquela noite adormeci ressentida, me sentia de certa forma traída, mesmo que não tivesse o direito de tal sentimento.