De Macho a Fêmea – A Mudança
Passava um pouco das nove de um sábado preguiçoso e nublado de maio, quando Helena irrompeu pela porta do quarto me acordando num sobressalto. Ela segurava o telefone sem fio numa das mãos enquanto me sacudia com a outra. Eu estava sonhando, não me lembro o que, e meus olhos demoraram a se acostumar com a claridade da luz que se infiltrava em feixes pela janela. A ligação vinha dos Estados Unidos, era do dono de um internacionalmente reconhecido escritório de arquitetura, que semanas antes havia composto a banca que julgou os projetos de novos talentos para uma importante revista de arquitetura em Amsterdã. Eu havia me inscrito com um projeto desenvolvido ainda nos tempos da faculdade e vencido o concurso, algo que me deixou nas nuvens por mais de uma semana. Além do premio em dinheiro, uma quantia considerável, o projeto seria publicado na revista, lançando meu nome desconhecido no universo da arquitetura mundial.
Imediatamente reconheci a voz agradável e risonha do outro lado da linha, que durante a premiação havia se interessado particularmente pelo projeto, e tecido muitos elogios a respeito da qualidade do meu trabalho e da criatividade das minhas ideias. Recordo de ter ficado mais feliz com os comentários dele do que com a grana do premio, pois se trata de uma sumidade na área. Agora ele me propunha uma oportunidade como arquiteto assistente em seu escritório em Morehead, uma cidadezinha litorânea do nordeste do estado da Carolina do Norte, com uma remuneração substancial e uma participação anual nos lucros dos projetos.
- É claro que não precisa me responder imediatamente, sei que você precisa reformular sua vida, mas aguardo uma resposta sua em quinze dias. E, estou disposto a providenciar as coisas por aqui, se sua resposta for positiva. – disse ele, já contando com essa possibilidade.
A sonolência se dissipou assim que desliguei o telefone, da letargia passei a euforia. Em inicio de carreira, era o primeiro reconhecimento dos meus esforços. É certo que eu já havia ganhado outros concursos menores, mesmo durante o período da faculdade, com meus projetos, mas essa era uma proposta que me deu a certeza de estar no caminho certo. Contei a Helena os pormenores da oferta com o entusiasmo de uma criança que acaba de receber o tão sonhado presente. Ela aquiesceu com a racionalidade que vinha se fortalecendo, dia-a-dia, em sua personalidade depois de haver se tornado advogada. Ponderou os prós e os contras de uma maneira muito mais fria do que eu. Enquanto eu enumerava todas as possibilidades numa visão positiva, ela rebatia me apontando os aspectos negativos. Aos poucos fui arrefecendo meus argumentos, pois notava que a felicidade daquela proposta era muito mais minha do que dela. A não ser por uma expressão que começou a mudar em seu rosto, quando ela aventou a possibilidade de fazer uma pós-graduação enquanto estivéssemos por lá. A chance de incrementar sua carreira foi decisiva no seu assentimento.
Três meses depois, estávamos nos instalando num pequeno, mas confortável apartamento do terceiro, e último, andar de um edifício de tijolos marrons, balcão e janelas brancas que se abriam para uma das inúmeras praças quase no centro de Morehead. Pertencia ao escritório do meu empregador e havia sido recém-reformado, os ambientes ainda rescendiam a tinta fresca. Quase não peguei no sono na primeira noite da minha nova vida. Rememorava os preparativos para nossa mudança, a despedida do meu antigo e primeiro emprego numa construtora em São Paulo, a contrariedade do meu pai, que via nessa mudança o encerramento definitivo de suas expectativas de eu me juntar a ele e meu irmão na condução da empresa que havia fundado, o abandono de uma convivência com a família e os amigos que, de certa forma, sempre foram meu esteio, até a presente incógnita que era meu futuro agora.
Não foi difícil me adaptar ao ritmo frenético de trabalho do escritório, que tinha demandas tanto dos Estados Unidos como de países do outro lado do mundo, mais especificamente no Oriente Médio, onde projetos megalômanos eram bancados pela riqueza do petróleo. Embora o escritório também se dedicasse a projetos residenciais e de menor envergadura. Além do arquiteto chefe, havia mais três assistentes com as carreiras bem encaminhadas e mais de duas dezenas de auxiliares e secretárias, formando um time de mais de 30 pessoas. Um condomínio residencial foi meu primeiro desafio no escritório. Implantado a oeste de Morehead margeando a US Highway 70, vinha se consolidando com sua infraestrutura e, quase todas as residências, projetadas pelo escritório. Pelo menos umas duas vezes por semana eu visitava as obras e, logo numa das minhas primeiras visitas ao lugar me encantei com uma área em declive suave, entre um arvoredo denso, que chegava até as águas da baía. Sobre ela havia as fundações e algumas paredes já erguidas de uma ampla residência, cuja continuação havia sido interrompida. Podia-se contemplar as construções do outro lado da baía iluminadas pelo sol da manhã, enquanto o vento criava marolas nas águas tranquilas cintilando reflexos prateados. Casualmente, algumas semanas mais tarde, encontrei as plantas do projeto numa prateleira no escritório. Estavam atadas num rolo amarrado com uma fita e um cartão carimbado com a palavra ‘CANCELED’ em letras vermelhas. Perguntei a um dos arquitetos assistentes sobre o projeto, e ele me disse que a obra fora interrompida após o casal proprietário estar se divorciando e, inclusive, a propriedade estar à venda.
No dia seguinte voltei ao local com interesse redobrado. O projeto inicial era exagerado para minhas necessidades e minha conta bancária, mas com alguns ajustes, modificações e abolições, eu conseguia vislumbrar uma morada acolhedora e charmosa, junto a exuberante natureza. Contei meus planos para Helena naquela mesma noite, após o jantar. Novamente aquela expressão de concordância veio acompanhada de um entusiasmo que era mais meu do que dela.
- Ainda bem que o acesso de lá à rodovia é mais próximo e, com isso, consigo chegar ao trabalho em menos tempo. – disse ela, pensando no percurso que a levava pela US Highway 70 todas as manhãs, em direção ao escritório de advocacia onde havia conseguido uma posição com a indicação do meu chefe.
- Será ótimo para a Julieta que fica confinada no apartamento enquanto estamos fora. – argumentei, me referindo a minha cadela pointer inglês que trouxera do Brasil comigo.
Meu chefe intercedeu mais uma vez e consegui adquirir a propriedade por um valor bem abaixo do mercado, pois os trâmites do divorcio dos proprietários corriam na justiça com ambas as partes tentando espoliar os bens do outro. Com as gratificações e um bônus extra no final daquele ano devido ao implemento que meu trabalho trouxe ao escritório, consegui terminar, após alguns meses de obras, uma casa confortável que podia ser chamada de lar. Nos mudamos em pleno inverno, e o fato de ter a minha primeira casa, aqueceu meu espírito. Sentado em frente à lareira da sala de visitas, preparando algo na cozinha, ou simplesmente deitado sobre a cama, olhando para o teto do meu quarto, senti orgulho de mim mesmo e das minhas conquistas.
Decorrido quase um ano, eu tinha poucos amigos. Os colegas de escritório tinham suas próprias vidas e, a recepção esfuziante inicial, foi dando lugar a uma indiferença respeitosa, típica dos americanos. Sentia falta dos amigos que ficaram no Brasil, a distância fez rarear os contatos, ou talvez fosse a minha carga de trabalho, o fato é que eu os via no passado, algo que ficara para trás, e que dificilmente seria resgatado algum dia.
Numa manhã de primavera, um sábado ensolarado que enchia de longas sombras as águas da baía, Julieta não me acompanhou com o mesmo ritmo durante a caminhada que dávamos pelos arredores todas as manhãs. Parecia ofegante, e eu notara que ultimamente suas tetas estavam aumentadas, ela toda parecia mais roliça. Expus minhas observações a Helena, que deu de ombros, e comentou que a cadela vinha comendo mais de uns tempos para cá.
- Ela só pode estar prenha! Com certeza foi aquele mastiff enxerido daquele vizinho folgado, que vive querendo se enfurnar pela porta da cozinha, ou está roncando ao sol nos degraus da varanda. – denunciei, insatisfeito com a presença constante do cachorro do vizinho em nosso quintal.
Desde a nossa mudança, não conseguia ver com bons olhos o atlético vizinho que parecia fazer de tudo para exibir seus músculos avantajados e o porte de um esportista. Embora ele nunca houvesse feito nada para me irritar, era nesse estado que eu ficava toda vez que o via em seu quintal, que a cerca baixa permitia vislumbrar sem nenhum empecilho. Solteiro, ele recebia muitas pessoas, nem sempre mulheres desacompanhadas, mas especialmente três casais, com filhos pequenos, e que, com o fim do inverno, de espalhavam sobre um deque fazendo churrasco, ouvindo música e rindo das estripulias das crianças. De alguma forma aquela movimentação toda me incomodava, eu não sabia bem o porquê. Eu tinha a impressão de que ele nunca trabalhava. Que seu tempo se distribuía entre as festas no jardim ou dentro de casa, sobre uma motocicleta estradeira e reluzente que ele tirava da garagem ao som de aceleradas que faziam tremer os vidros da casa e, um jet-ski que ele transportava na caçamba de sua camionete. No primeiro final de semana, após nossa mudança, ele veio nos dar as boas vindas, com uma garrafa de vinho nas mãos, um sorriso largo no rosto másculo que o queixo quadrangular deixava ainda mais viril, e um palavrear descontraído e eloquente.
- Sou Jeff, seu vizinho, e gostaria de dizer que estou contente por ter novos vizinhos ao invés daquelas ruínas abandonadas. – disse, com a espontaneidade de velhos amigos e um olhar penetrante que me deixou parecendo um menino diante dele, embora nossas idades não fossem tão díspares assim.
- Foi ótimo você aparecer! Preciso mesmo falar com você! É que .... – fui logo despejando, ignorando completamente a garrafa de vinho que ele estendia em minha direção. E sendo abruptamente interrompido pelo mastiff que naquele instante vinha correndo em percalço do dono e se aproveitou para saltar sobre mim fazendo festa e me lambendo a cara com sua língua babona.
Não esperando por aquela atitude do cachorro e, totalmente desprevenido, ele me fez perder o equilíbrio e quase caí, não fosse o Jeff me segurar pelo braço.
- Você está bem? Me desculpe. Não foi uma das melhores boas-vindas, não é? – perguntou, antes de verificar que eu conseguira me reequilibrar e ficar de pé.
Fiquei tão zangado que mal conseguia ouvir sua voz que parecia distante, embora não o fosse, pois logo percebi que estava olhando para alguém que era muito mais musculoso do que eu, as maçãs do rosto protuberantes, a pele bronzeada e bem cuidada e o cabelo castanho cacheado nas pontas. Tão próximo, ele era bonito, muito bonito e, suspeitei que ele também soubesse disso. Perdido nestes pensamentos, abri a boca para dizer algo, mas subitamente percebi que havia esquecido o que ia dizer. Após o cachorro quase me nocautear, sentou-se sobre as patas traseiras, relaxado e contente, tornou a me encarar e levantou uma pata para me cumprimentar. Era muito fofo, mesmo para um mastiff daquele tamanho, mas decidi não me deixar seduzir por aquele comportamento. Afinal, esse vira-latas não só contente por me desmoralizar diante de seu dono, também havia arruinado a vida da minha cadela. O mínimo do que se podia chamá-lo era de bandido, ou, melhor ainda, de tarado!
- Meu cachorro é muito festeiro, adora um carinho. Sinto muito, ele geralmente presta mais atenção. Diga olá, Tucker! – continuou ele, percebendo que eu estava irritado. Você tem certeza de que está bem?
O jeito como ele perguntava me fez ver que esse não era o tipo de confrontação que eu queria. Aliás, eu não queria nenhuma confrontação. Eu queria apenas dizer que aquele cachorro invadia meu quintal, se aboletava nos degraus da minha varanda, e havia deixado Julieta prenhe. Um transtorno com o qual eu teria que conviver, uma trabalheira danada que isso me daria e a preocupação de encontrar um lar para talvez meia dúzia de filhotes. Tudo por culpa dele, um dono relapso e descuidado.
- Estou bem. – disse com a voz ríspida. E foi tudo que consegui proferir, pois aquele sorriso largo e gentil continuava a me encarar, sem fazer menção de partir.
Olhando para mim, subitamente acho que ele percebeu a minha irritação. De algum modo ele sabia que aquela raiva era direcionada a ele, embora não fizesse ideia do porquê. Ele já havia visto esses mesmos sinais em muitas de suas ex-namoradas, eles mostravam um acúmulo de ressentimentos no decorrer do tempo. Mas, como podiam estar presentes em mim, se mal nos conhecíamos, pensou. Esses olhos brilhantes e tão azuis, esse nariz afilado e pequeno para um rosto tão harmonioso, os cabelos claros como o mel, despretensiosamente descuidados, um corpo esguio e definido, davam um ar de vulnerabilidade à minha aparência, e lhe pareceram naturalmente agradáveis e o deixaram atraído. O que ele sabia é que não dava para ficar bravo com alguém tão charmoso.
- Depois de toda essa interrupção, acho que podemos voltar ao que importa. Sou Jeff Parker! Muito prazer em conhecê-lo. – disse me estendendo a mão.
- Eu precisava conversar com você. – continuei, retribuindo o gesto mecanicamente.
- Você já disse isso! – exclamou, levantando as sobrancelhas.
Senti uma pontada de incerteza. Não queria fazer amizade, com certeza, mas a cortesia e os bons modos prevaleciam e, sem perceber, respondi.
- Sou Martin Noberg.
Ele percebeu que eu o encarava com cara de poucos amigos, mas ainda não sabia o que poderia ter me deixado irritado daquela maneira. Depois de uns segundos, comecei a falar, de maneira um pouco hesitante, como se estivesse prestes a ser interrompido por alguma coisa novamente. Aos poucos fui encontrando um ritmo, e as palavras começaram a sair cada vez mais rápidas. Nem sei bem por que, comecei falando sobre como havia vindo parar numa cidade pequena nos Estados Unidos, sobre como havia encontrado o terreno e o quanto fiquei animado com a descoberta, e sobre como ter a própria casa era um sonho que sempre tive, antes de desviar o assunto para os mamilos da cachorra e da forma como estavam ficando maiores a cada dia. No início, Jeff não fazia ideia de quem era Julieta, o que dava uma qualidade surreal àquele monólogo, mas à medida que eu ia contando, ele gradualmente se deu conta de que Julieta era minha pointer inglês, que ele já havia visto, uma ou duas vezes, caminhando comigo pela praia. Enquanto eu falava em filhotes, excesso de trabalho, sujeira para todos os lados, arranjar um lar para cada um, ele me olhava com a expressão de quem não compreendia o sentido de tudo aquilo, até que eu comecei a fazer gestos em direção ao mastiff. Foi isso que permitiu que ele somasse dois mais dois e percebesse que eu acreditava que seu cachorro havia sido o responsável pela gravidez de Julieta.
Um riso contido parecia se esconder sob a expressão do rosto do Jeff enquanto eu falava, isso foi me deixando outra vez irritado. Ele tentou responder, sem conseguir, entre as breves pausas que eu fazia. Deixou que eu vociferasse, limitando-se a escutar e pressentindo sinais de desespero e confusão em relação ao que estava acontecendo comigo.
- A questão é a seguinte: o que você vai fazer? – perguntei concluindo.
- Em relação a que? – ele hesitou, tentando saber ao que eu me referia.
- Aos filhotes! – proclamei. Ele conseguia pressentir minha raiva começando a entrar em ebulição novamente.
- Vamos começar do início. Você tem certeza de que ela está grávida? – perguntou, levantando as mãos tentando me acalmar.
- Claro que tenho! Você não ouviu o que acabei de dizer? – revidei.
- Você já a levou a um veterinário? – continuou.
- Julieta está andando mais devagar, os mamilos estão inchados, e ela vem agindo de forma estranha ultimamente. Já tive outras cadelas e sei quando estão esperando filhotes. Ela está grávida e vai ter uma penca de filhotes, e você vai ter que me ajudar a achar pessoas que os queiram. – afirmei categórico.
- Nem sempre estes sinais são evidência de gravidez. – retorquiu ele.
- Como você sabe? – questionei, quase perdendo a paciência com aquela situação.
- Com certeza não foi o Tucker! Tenho muita experiência com cães. Na verdade .... – respondeu, antes de eu o interromper com um gesto de desdém, pondo um fim naquela discussão que eu percebi não nos levar a lugar algum, muito menos a um consenso.
Helena pouco se importou quando lhe contei como havia sido meu encontro com o vizinho e o conteúdo da nossa conversa. Sempre que eu falava alguma coisa que envolvesse a Julieta e minha relação com ela, uma expressão de enfado se desenhava no rosto dela, e suas observações se limitavam a alguns sons monossilábicos. Curiosamente nos dias que se seguiram, eu me pegava pensando no Jeff a caminho do trabalho, enquanto olhava para o oceano, cada dia mais azul, com o aumento das horas de luz que a primavera trazia consigo, ou enquanto assistia a um programa sem muito interesse na TV. Havia algo de marcante e perturbador naquele homem que parecia levar a vida como se fosse uma festa. De alguma forma ele me inquietava, me tirava do sério sem mesmo estar presente, e isso me aborrecia. Ainda mais, por que ele parecia estar sempre certo. Tanto que segui seu conselho ponderado e sensato e levei a cachorra à única clínica veterinária da cidade.
- Um momento, que vou levá-lo à sala de consulta e chamar o doutor. Pode demorar um pouquinho, é que hoje só estamos com um dos veterinários atendendo. – disse a garota da recepção, me acompanhando até uma das salas de um corredor.
- Que bom que você resolveu seguir minha recomendação! – disse a voz que imediatamente identifiquei como sendo a do meu vizinho.
- Você é..... quer dizer, você não me disse que .... eu não pensei que você fosse veterinário. Por que não me disse que era veterinário? – balbuciei, espantado com a descoberta e, olhando para aquele homem que o jaleco branco fazia parecer mais bronzeado e corpulento.
- Você não me deu chance. Espero que não esteja mais tão zangado hoje. – disse com aquele sorriso intimidador e um aperto de mão que fez estalar as juntas dos meus dedos.
- Me desculpe, eu não sabia... – continuei, desengonçado.
Aquela sensação de parecer um garoto ingênuo diante dele voltou no mesmo instante, e eu comecei a me penitenciar intimamente por permitir que esse sentimento se apoderasse de mim. Ele examinou a Julieta que, como uma traidora volúvel, logo abanou alegremente o rabo e tentava lambê-lo do rosto, e constatou sua prenhez. Fez as orientações de praxe e receitou algumas vitaminas, para que ela se mantivesse saudável durante todo o processo de parto e amamentação dos filhotes. Sugeriu que eu fizesse um cercado na garagem e mantivesse os filhotes por ali, evitando maiores turbulências pela casa.
- Você pode me chamar a qualquer hora se verificar que algo está saindo diferente do esperado. – disse, ao terminar a consulta e me acompanhar até a saída.
- OK! Eu estava certo o tempo todo então, não é? Eu sabia que ela estava grávida! – ousei desafiá-lo, mesmo diante da gentileza com a qual examinou Julieta.
- Parcialmente sim. Exceto por achar que o Tucker seja o responsável por essa gravidez. – continuou em seu tom profissional e taxativo.
- Seu cachorro nem se dá mais ao trabalho de sair lá de casa! – exclamei, constatando que ele havia aceitado o desafio e estava revidando, e defendendo seu cão.
- Não tenho dúvidas de que ele encontrou uma companheira ao você se mudar com sua cadela, mas como ele é castrado não pode ser o culpado. – argumentou, seguro de si.
- Me desculpe mais uma vez por ter tratado você daquela maneira. - foi tudo o que consegui dizer, me sentindo ainda mais despreparado e constrangido com aquela situação.
- Você já se desculpou uma vez. – retorquiu, com a certeza de haver marcado alguns pontos naquele round.
Os filhotes nasceram duas semanas depois. Numa manhã de domingo não vi Julieta correr em minha direção quando abri a porta da cozinha para lhe dar seus costumeiros biscoitos. Fui encontrá-la dentro da caixa de madeira que servia de cama, cercada por seis filhotes mamando feitos esfomeados em suas tetas, enquanto ela os lambia com o desvelo de uma mãe cuidadosa. Estranhamente nenhum dos filhotes tinha a mais remota aparência do cachorro do vizinho.
Naquela segunda-feira, saí atrasado de casa e tirei o carro da garagem com tanta velocidade que quase bati na camionete que cruzava a frente da casa, não fosse a agilidade na manobra que o condutor fez para evitar a colisão.
- Bom dia! – acenou o Jeff em minha direção, pouco se incomodando com meu descuido.
- Bom dia! Me perdoe. – retribui constrangido.
- Como está a cachorra? – perguntou solícito.
- Teve os filhotes ontem. Ela está bem. São seis e parecem estar por todos os lados. – esclareci, olhando para o relógio e ressentindo que chegaria atrasado ao escritório.
- Passo aí mais tarde para vê-los. – continuou ele, quando eu já colocava novamente o carro em movimento.
Ao anoitecer eu preparava o jantar quando o Jeff apareceu na porta da cozinha. Seus cabelos ainda estavam molhados e, pouco penteados, ele estava sem camisa, e a bermuda, um pouco larga, deixava à mostra o cós da cueca. O cheiro que vinha de seu corpo entrava nas minhas narinas e parecia embaralhar meu juízo. Ele segurava outra garrafa de vinho nas mãos e, ao colocar os olhos sobre mim, parecia não saber o que fazer com ela. Demorei a fazê-lo entrar e a voltar a me concentrar no que estava fazendo. Estava bastante quente para uma noite de primavera. Eu era particularmente susceptível àquele calor e ao mormaço que o acompanhava, tomava mais duchas por dia do que na época em que morava em São Paulo. Havia saído de uma, instantes antes de começar a preparar o jantar e, não trajava nada além da bermuda de seda do pijama. Um silêncio repentino se formou entre nós, e o nervosismo me fez dizer a primeira coisa que me veio à mente.
- Minha mulher foi visitar os pais no Brasil, estou me virando com o jantar. Venha ver os filhotes. Estão aqui na garagem. – balbuciei sem jeito, tomando o rumo da garagem.
Ele experimentava uma sensação nova que o deixou perturbado consigo mesmo. Qual seria a razão de se sentir subitamente constrangido ao ver o vizinho de bermuda? Afinal, ele já havia visto muitos caras de bermuda, e até nus, sem que isso despertasse qualquer reação de sua parte. No entanto, agora ao seguir os passos daquele vizinho, ele estava se esforçando para não olhar diretamente para aquelas costas de pele clara e lisinha, para aquela bunda sensualmente carnuda e arrebitada, que preenchia a bermuda de seda de maneira provocativa. Ele me seguia de perto e fingia não perceber que o ar se enchia do rastro do perfume que meu corpo deixava atrás de si, algo cítrico e apimentado, que mexia com seus brios.
Na garagem reinava o caos. Os filhotes haviam sujado quase todo o chão ao redor da caixa onde Julieta os teve. Eu tinha a impressão que todas as horas em que me encontrava em casa eram dedicadas a manter aquele espaço limpo e, mesmo assim não estava conseguindo.
- Você não seguiu minhas orientações. Eu não lhe disse para confiná-los a um cercado, forrá-lo com jornal e tudo ficaria mais fácil? – disse ele, rindo-se da maneira como meu desviava dos montes de bosta espalhados pelo chão.
- Creio que você tem razão. Na verdade me esqueci dessa recomendação, preciso providenciar alguma coisa com urgência.
- Tenho algumas taboas na minha garagem que vão servir para resolver seu problema. – disse, se prontificando a buscá-las e, instantes depois retornando com uma caixa de ferramentas e as taboas debaixo do braço.
Com habilidade e rapidez ele montou quatro taboas no formato de um cercado, fixando-as com parafusos, criando uma área suficientemente confortável para os filhotes. Enquanto trabalhava seus músculos se retesavam e dava para ver como eram definidos e grandes. Embora parecesse que aquele trabalho não lhe custasse esforço físico algum, sua testa e costas ficaram suadas e lustrosas realçando o contorno da sua musculatura. O calor voltou a invadir meu corpo e uma inquietação crescia no meu peito. Ver aquele torso nu me excitava e me dava vontade de acariciá-lo, eu até podia sentir na palma das minhas mãos aquela pele quente é úmida. Nem percebi que ele havia terminado o cercado e dito alguma coisa. Somente quando ele voltou a dizer algo e ficar me observando em transe que eu me dei conta do que estava acontecendo à minha volta.
- Ah! ... Claro! ... Você já terminou? Nem sei como agradecer, eu teria demorado um dia para fazer isso, e com certeza, não teria ficado tão bom. – consegui finalmente dizer.
- Não foi nada! Isso vai facilitar sua vida de agora em diante. – disse ele sorrindo.
- Você está todo suado! Lamento te causar esse transtorno. – me desculpei, quase chegando a tocar seu peito com a mão que instintivamente ergui em sua direção, antes de me dar conta do que estava fazendo e interrompendo o gesto repentinamente.
- Vou levar esta caixa de ferramentas e tomar uma ducha, volto em seguida! Vou filar parte deste jantar tão cheiroso! – disse, com a alegria de quem havia conquistado o direito a saborear aquela comida em minha companhia.
Jantamos na varanda, numa mesa pequena, onde velas de citronela espantavam os mosquitos típicos daquela estação do ano, o que criou um clima intimista, favoreceu a conversa e nos aproximou, pela primeira vez, como nunca antes, desde que me mudei para a casa ao lado da dele. Ele me contou de suas viagens. Fiquei espantado com seus conhecimentos sobre tantas coisas mundo afora, especialmente por ser de uma cidade pequena. Falou daqueles amigos que eu costumava ver em sua casa, quando ele promovia aqueles churrascos que agora não me pareciam mais tão barulhentos. Eram amigos do tempo de colégio, sempre moraram em Morehead, só saíram para fazer a faculdade, e viviam felizes ali com suas esposas. Apenas ele continuava solteiro, não havia conhecido ninguém que despertasse nele um sentimento que justificasse abandonar sua liberdade, afirmou entre um gole e outro do vinho que ia se extinguindo na garrafa. Seu pai era o dono da clínica veterinária, havia feito muitos amigos e era muito querido na cidade. Ele gostava dessa vida pacata, onde as pessoas representavam alguma coisa na vida da gente. E, achava que naturalmente iria substituindo seu pai que já não conseguia trabalhar tanto e talvez se aposentasse em alguns anos.
Ouví-lo me fez ver o quão diferente eram nossas vidas. Eu nascera numa cidade grande, mas sabia pouco do mundo. Havia feito algumas viagens, mas voltara delas com pouco a contar. Talvez não tivesse vivido esses lugares, apenas estado lá. Sempre fui muito certinho, ousara pouco. Cumpria meus deveres de bom filho. Havia sido um bom aluno, frequentara a faculdade e procurava ser bom naquilo que fazia. Como se eu não quisesse decepcionar os outros, especialmente minha família. Boa parte do que eu havia feito havia sido ditado por eles, e eu nem me apercebera disso. O mesmo podia-se dizer do meu casamento. Conheci Helena na universidade, numa festa que marcava o inicio do ano letivo e congregava todas as faculdades. O tempo foi passando, éramos amigos, saíamos bastante juntos, conhecemos os pais um do outro, eles gostaram de nós e, o caminho natural foi nos levando ao altar. Era o curso natural dos eventos. Em dois anos de casamento eu comecei a enxergar diferenças que todos os anos de convívio na universidade não mostraram. Os nossos interesses individuais, pouco tinham haver com os do outro. Depois das raras discussões que tivemos, eu me perguntava se realmente a amava e, para ser sincero, não descobri a resposta.
- Estou falando demais. Não sou um grande conhecedor de vinhos, e acho que acabei optando por um que tem o dom de soltar nossa língua! – disse ele, ao me ver meditativo, enquanto ele se expunha como pouco vezes havia feito até então.
- Eu não diria isso. É um excelente vinho. Nada estaria mais adequado à situação do que esses sabores equilibrados. – retorqui, voltando de uma imersão em mim mesmo e, de uma pausa para organizar os pensamentos.
- Então creio que é a minha conversa que está te dando sono. Você está tão calado! – exclamou, procurando na expressão do meu rosto o que estaria passando na minha mente.
- Longe disso! Há tempos não me recordo de ter uma conversa tão gostosa. Você é uma pessoa muito interessante! – respondi, deixando-o ainda mais confuso.
- Interessante? Nunca tinham me definido assim antes. – observou ele.
- Desculpe se me expressei mal. Eu quis dizer que você parece saber o que quer da vida. E pelo visto consegue. – consertei, sob o olhar atento dele ao meu gesto de pegar a taça e sorver um longo gole do restante de vinho que se encontrava nela.
- E você, não sabe? – perguntou, sem tirar os olhos de mim.
- Eu achava que sim, mas não tenho mais certeza. – respondi, com a sinceridade de quem se questiona se fez as escolhas corretas.
Jeff não sabia o que fazer em relação àquilo e estava tentando descobrir desde que entrara naquela cozinha no inicio daquela noite. Provavelmente ele havia deixado Martin exausto com as histórias de sua vida. Mas os céus estavam de prova que ele estava tentando conquistar aquele homem de feições suaves, olhar expressivo e corpo esguio, desde que ele o vira pela primeira vez examinando as paredes inacabadas no terreno ao lado de sua casa.
Uma brisa varreu a varanda fazendo tremular as chamas das velas. A noite já corria adiantada e tudo ao redor estava em silêncio. Apenas o coaxar de algum sapo perdido entre as folhagens e o grasnar de um bando de grous em rota de migração sinalizavam que mesmo àquela hora havia vida ao redor. Tucker e Julieta estavam cochilando, enrodilhados em frente a porta da cozinha, como um casal que há anos compartilha o leito conjugal. A luminosidade bruxuleante das velas iluminava o contorno do rosto do Jeff. Eu percebi que não conseguia desviar o olhar. Também não consegui encontrar minha voz. Em vez disso, eu simplesmente o fitava, emudecido, tentando organizar o redemoinho de emoções que começavam a se aglomerar em meu coração. À medida que a noite avançava, Jeff se aproximava um pouco mais de mim, casualmente colocando sua mão sobre o meu braço, como que para obter a minha atenção, enquanto falava de sua infância em Morehead. Eu me sentia mais aconchegado e feliz ouvindo aquela voz grave, e observando os reflexos prateados do luar conforme eles se filtravam por entre as nuvens.
Sei que você é casado, mas eu não posso sair daqui esta noite sem lhe dizer que sermos apenas vizinhos não é o bastante para mim.
- Jeff ...
- Deixe-me terminar. – interrompeu ele.
- Mais cedo quando conversamos, você me disse o quanto sentia falta de ter amigos por perto e, eu estive pensando nisso a noite toda, mas não da maneira como você provavelmente está imaginando. Aquilo me fez perceber que, embora eu tenha amigos, sinto falta de algo que todos os meus amigos têm. Eles têm alguém para compartilhar as pequenas coisas do dia-a-dia, como você e sua mulher. Eu não tenho isso em minha vida, e até você aparecer, eu não sabia que precisava de algo assim. Nesse exato momento não consigo me imaginar estar apaixonado por qualquer outra pessoa. – concluiu, como se tivesse tirado um peso de seus ombros com aquela revelação.
A luz das velas tremeluzia nas paredes, lançando sombras pela varanda. Ele conseguia sentir o movimento suave do meu tórax, subindo e descendo conforme eu respirava, e nós continuamos com os olhos fixados um no outro, nenhum dos dois conseguindo falar.
- Venha comigo, quero lhe mostrar uma coisa. – disse ele, depois de instantes que me pareceram uma eternidade, quebrando o silêncio que se formara depois daquela revelação. Ele chegou a segurar minha mão e, levantando-se, fez com que eu o seguisse.
- Já é tarde. Seria mais acertado dizermos ‘Boa noite’, não acha? – retruquei, sem, no entanto, oferecer resistência a sua determinação.
Cruzamos os quintais e ele me levou através de sua cozinha, até uma porta lateral que se comunicava com a garagem da casa. Num canto, coberta por uma capa de lona, se esboçava a silhueta de uma motocicleta. Ele removeu a capa e me apontou, cheio de orgulho, uma Harley Davidson FXSTS Springer Softail de 1988. Como fez questão de frisar.
- Só foram produzidas 60 mil unidades, para celebrar os 85 anos da marca! – exclamou, diante do meu olhar interrogativo.
- Puxa, que legal! Está parecendo nova. – disse, procurando as palavras para falar sobre algo do qual eu nada sabia.
- Eu a comprei há uns cinco anos e fui restaurando aos poucos. – completou
- O orgulho da sua vida? – arrisquei.
- Pode-se dizer que foi algo com que eu realmente me envolvi. – disse olhando fundo nos meus olhos. Em seguida ele colocou seu capacete e, num único movimento gracioso, subiu e deu a partida no motor, permitindo que ela esquentasse. Manobrou a moto, estendeu outro capacete em minha direção e mandou que eu ocupasse o lugar do garupa.
- Você é louco! Estou de pijama, quase nu e a noite corre solta. Onde pensa ir a essa hora? – protestei.
- Suba, não faça drama! – ordenou, não considerando meus protestos.
Obedeci. Com o capacete ajustado, ocupei a posição do carona. Pude sentir uma leve vibração através do assento e, uma ponta de emoção. Jeff acelerou a moto cuidadosamente, saindo da garagem, passando pelo gramado e chegando à rua. Desajeitado, não sabia onde colocar as mãos. A alça atrás de mim parecia não ser segura o suficiente. Estendi minhas mãos para segurar nos quadris dele, mas, assim que os toquei, me lembrei daqueles músculos que ele tinha nos quadris, e isso fez com que meu estômago virasse de cabeça para baixo. Não tinha muita escolha, era fazer aquilo ou abraçá-lo ao redor da cintura, e para isso eu não estava pronto.
Rumamos por algumas ruas que eu conhecia bem, embora nunca as tivesse visto tão desertas, até ele seguir por uma estrada sinuosa que acabava junto a algumas dunas onde se erguia um farol, ao lado de uma construção toda caiada de branco; telhado acinzentado e quatro chaminés de tijolinho em cada uma das suas extremidades. Sem me dar tempo de me desfazer do capacete, ele me puxou pela mão como quem segura uma criança ao atravessar a rua. Empurrou a pesada porta na base do farol e começou a subir a escada em caracol que nos levou até uma estreita plataforma ao redor de uma mesa onde estava instalado o conjunto de espelhos e lâmpadas que projetavam um potente facho dourado sobre o oceano escuro. Caminhamos ao redor da plataforma e a vista lá de cima permitia ver quase toda a baía. As luzes das ruas e das residências brilhavam como diamantes aos nossos pés, e a lua derramava uma luminosidade suave pelas grandes vidraças da torre. Eu arfava pelo esforço da subida até lá, e pelo espetáculo que se descortinava à minha frente, quando senti os braços do Jeff ao redor da minha cintura. Ele apontou com o dedo em direção as nossas casas e a outras referências da cidade. Eu podia sentir o sopro morno dele roçando minha nuca e, quando me virei ficando frente a frente com ele, os lábios dele se juntando aos meus num beijo demorado e carregado de desejo.
Quando descemos, ele me indicou o banco dianteiro da moto, com um breve comentário de que era como andar de bicicleta, bastava manter o equilíbrio, e que ele me ajudaria a acelerar. Aprendi a não polemizar com ele, pois no final, ele sairia vencedor mesmo. Assim que suas mãos cobriram as minhas sobre as manoplas, os pelos do peito dele roçaram minhas costas nuas e, eu praticamente estava sentado em seu colo, minhas vontades ficaram em segundo plano, pois eu só conseguia sentir um tesão imenso se apoderando do meu corpo. O leve sacolejar da moto fazia com que as minhas nádegas se esfregassem sobre um volume que ia se tornando consistente sob a bermuda dele. Isso o estava deixando mais contente a cada instante, e a volta demorou seguramente o dobro do tempo da ida, e me pareceu que ele não estava se importando nem um pouco com isso. A sensação de dirigir pelas ruas desertas, sentindo a brisa morna acariciando meu torso e o peito dele resfolegando minhas costas me fez desfrutar a liberdade em seu sentido pleno.
Enquanto eu desafivelava a presilha do capacete e o devolvia à prateleira no fundo da garagem, o Jeff envolveu minha cintura por trás e me encoxou como um animal montando uma fêmea. Com uma das mãos ele me prendia firmemente junto a si, e com a outra apertava entre os dedos o bico de um dos meus mamilos. Inclinei minha cabeça para o lado, flanqueando meu pescoço que ele passou a lamber e beijar com voracidade. Eu me entreguei sem reservas, deixando-o explorar meu corpo e insuflando seu tesão. Sempre andando atrás de mim ele me guiou até seu quarto, nossos passos se entrelaçando numa corrida trôpega. Ao lado da cama ele me amassava com aquelas mãos enormes e gulosas, acariciava minhas nádegas sob a maciez da bermuda de seda, até baixá-la próxima aos joelhos. A bunda farta e nua estava finalmente ao seu alcance e ele esfregava nela a jeba dura cerceada pela bermuda dele, onde uma mancha úmida denunciava a sofreguidão da sua excitação. Ele me deu um leve empurrão me derrubando sobre a cama, tirou a bermuda e a cueca num único movimento instantâneo e, segurando minha cabeça entre as mãos me colocou cara a cara com sua rola avantajada e babona.
- Lambe e engole! – disparou, enquanto o líquido espesso e translúcido escorria da enorme glande arroxeada, fazendo penetrar em minhas narinas um cheiro másculo e viril.
Um sabor levemente salgado e frutado se espalhou na minha boca enquanto eu tentava alojar a glande entre meus dentes. Ele empurrou minha cabeça de encontro àquele cacete que iase encorpando mais e mais. Comecei a salivar com aquela delicia na boca e ao olhar para cima, vi seu rosto se contorcer de tesão. Explorei aquela tora de carne quente sem pressa, ora fazendo deslizar minha língua até o sacão intumescido, ora chupando a mucosa lustrosa da cabeçona parecida com um cogumelo. Eu podia sentir o afluxo de sangue irrigando aquela pica grossa através das veias dilatadas que a circundavam. Ela pulsava morna em minhas mãos, dando empinadas que dificultavam seu controle. Aos poucos o Jeff foi se deitando sobre mim, chupando e mordiscando meus mamilos, me fazendo arfar de desejo. Passando os braços por baixo das minhas pernas, na altura dos joelhos, ele as abriu, separando as coxas lisas e deixando meu cuzinho vulnerável aos seus instintos. Quando um dedo dele começou a roçar minhas pregas anais eu comecei a gemer numa lascívia incontrolável. Ele não se contentou em sentir o enrugadinho do meu ânus, metendo o dedo naquele orifício tenro e morno, quase me fazendo delirar. Precisava testar a elasticidade daquelas pregas, provocá-las até que, em êxtase, se deixassem penetrar pelo caralho duro que esperava diligentemente à porta. Foi durante uma leve distração, quando relaxei involuntariamente os esfíncteres anais, que ele se aproveitou e meteu a rola no meu cuzinho, distendida e firme como uma rocha, a pica entrou distendendo as pregas numa dor aguda e lancinante, como se me estivessem cortando a carne com uma faca. Gemi feito uma cadela enchendo-o de satisfação. Dominado e submisso, senti como ele me estocava fundo nas entranhas, espalhando, inicialmente, uma dor profusa que julguei não conseguir suportar, mas que aos poucos foi se transformando num prazer único e confortante, fazendo com que a musculatura do meu ânus se comprimisse apertadamente ao redor de seu membro viril. A maciez úmida e morna daquele aperto fazia seu pinto se sentir agasalhado e desejado, permitindo com que ele desse vazão a seus instintos másculos. Ora ele me estocava com furor animal, ora metia a pica suave e ritmicamente desde a cabeçorra até as bolas do sacão ingurgitado, fazendo com que a sentisse dentro mim latejando e se contorcendo como uma fera enjaulada. Enrosquei meus braços ao redor de seu pescoço e puxei aqueles cento e dez quilos de músculos sobre mim, beijando-o e afagando seus cabelos ao pé da nuca, ou deslizando minhas mãos sobre suas costas, tentando cravar meus dedos nelas quando uma estocada mais violenta me fazia lembrar que estava sendo fodido. Ele arfava pelo esforço; aos poucos vi o suor brotando em suas têmporas, mas a volúpia não lhe demovia de seu intento que, naquele instante, se resumia em me possuir completamente. Quando fui invadido pela umidade pegajosa e morna de sua porra, que explodia em jatos no meu cuzinho, senti meu gozo fluindo e soube que o amava mais do que supunha até então. Beijei-o com luxúria e paixão, enquanto contraía meus esfíncteres anais acalentando aquela rola indomável em mim. Nossa respiração voltava lentamente ao ritmo normal, os olhos dele pousados nos meus, diziam mais do que mil palavras, e quando nossos lábios se tocaram, mesclando nossas salivas, tivemos a certeza que nossas vidas dali em diante dependiam um do outro.
A claridade da primeira luminosidade emitida pelo alvorecer começou a se infiltrar pelas amplas janelas, banhando o quarto com uma luz difusa e fria. Senti que minha pele estava arrepiada e puxei o lençol até o pescoço. O Jeff estava ao meu lado, deitado de costas e com uma das mãos sobre minha coxa, como que se assegurando de que eu não sairia dali sem seu consentimento. Sua respiração era calma e profunda, fazendo com que aquele peito deliciosamente peludo, subisse e descesse a cada inspiração. Eu estava tão próximo dele que podia sentir o calor de seu corpo me aquecendo. A expressão de seu rosto denotava uma satisfação realizada, e eu compreendi então o significado pleno da palavra amor, enquanto o experimentava pela primeira vez. Na segurança dessa certeza acabei cochilando, e só fui acordar horas depois com o sorriso dele me encarando e o cheiro de café vindo da cozinha.
- Como é bom ver você sonhando tranquilamente em meus lençóis. – disse, acariciando meu rosto com as costas do indicador e dedo médio deslizando suavemente até minha boca.
- Adoro você! Adoro sentir esse presente viril e pegajoso que você deixou dentro de mim! Adoro ser seu! – balbuciei, com os olhos úmidos e brilhantes.
Ele me puxou para junto dele e, antes de me beijar, me vez prometer que eu seria sempre dele. Que ele havia procurado por isso a vida toda e não queria mais ter que abrir mão desse sentimento. Durante o longo beijo que lhe dei para dar-lhe a certeza de que eu também queria aquilo, senti que ele entrava novamente em mim com o cacete duro a pulsar entre as minhas pregas.
Duas semanas depois a Helena retornava do Brasil. O beijo que ela me deu nas bochechas e o abraço rápido e fugaz que trocamos, nem de longe denotavam o afeto que um casal trocaria depois de quase dois meses de ausência. Naquela mesma noite eu disse a ela que queria me separar, sem dar maiores esclarecimentos. Ela também não exigiu meus motivos, apenas concordou como se no fundo também almejasse o mesmo. Creio que esse ano longe de nossas famílias e dos amigos nos fez descobrir que fomos levados ao casamento muito mais pelas contingências do que pela nossa própria vontade.
O Jeff se mudou aqui para casa esta semana. Ainda estamos arrumando nossas coisas nos armários e alocando os pertences que ele decidiu trazer pelos quatro cantos da casa. Quando entro em nosso quarto não consigo deixar de me encantar com o cheiro másculo dele, que parece impregnar não só os lençóis, mas a atmosfera daquele ambiente, deixando-o mais rico e mais cheio de sentimentos. O Tucker e a Julieta, que parou de amamentar seus filhotes há quase dois meses, estão dividindo a mesma caixa na garagem, e durante o dia correm um atrás do outro pelo quintal ou por entre as nossas pernas, como se tivessem adivinhado o curso dos eventos. Um anúncio deixado na clínica veterinária do Jeff deu conta de encontrarmos um lar para cada filhote.
- Tenho uma reunião para apresentar aquele projeto de Los Angeles ao cliente no final desta tarde, é provável que chegue mais tarde em casa hoje, você pode ir preparando o jantar? – disse ao telefone, enquanto o Jeff atendia seu último cliente na clínica.
- Claro! Você acha que vai demorar muito? – questionou.
- No máximo duas horas depois do meu expediente normal. Por quê? – indaguei curioso.
- Passei o dia todo tentando domar algo irrequieto entre as minhas coxas, mas não consegui. Agora mesmo ele está engomando minha cueca e, a única solução nestes casos, é deixar que ele marque seu território, coisa que só você é capaz de fazer. – cochichou baixinho num riso contido, depois de olhar ao redor para se certificar de que estava só.
- Já estou vendo que amanhã venho trabalhar esfolado. – murmurei entre dentes.
- Te amo! – dissemos simultaneamente, depois de um silêncio carregado de cumplicidade.