Todo a caminho até a casa de Aninha foi silencioso, Gisele se quer olhava pra mim, estava seria e pensativa. Finalmente chegamos na casa de Aninha, buzinei, Samantha abriu a porta, provavelmente reconheceu meu carro, pois ela deu alvuns passos na minha direção e de repente voltou. Lídia apareceu na porta, ela abraçou Samantha e então veio na direção do carro, passou pelo portão, abriu a porta do carro e entrou.
-Eu... me desculpa, pai...- Lídia disse.
-Não adianta se desculpar, Lídia, não vai mudar o que aconteceu. O que nós podemos é esquecer ou não, e isso depende de você.
-Mas você tá magoado comigo?
-Eu... eu não sei. Não sei o que pensar, filha...
-Então você tá.
-Não eu...
-Eu vou morar com a mamãe, não vou?- ela perguntou, me interronpendo.
-Sim. Se você quiser.
-Tudo bem, pai. Eu ja sabia.
-Como assim sabia?
-Eu sabia que o quê fiz era tudo ou nada...
-Filha...- um longo silêncio se seguiu, até que liguei o carro.- Vamos almoçar...
Dirigi até um pequeno restaurante de comida caseira, um pouco afastada do centro da cidade. Parei na frente e desci, as duas vieram atrás.
-Que lugar é esse, pai?
-Esse aqui? É o meu restaurante prefirido!
-Esse é seu restaurante prefirido?
-Sim! A comida daqui é ótima, além de que, tenho muita história aqui...
-Como assim?
-Você não deve se lembrar. Esse foi o primeiro restaurante em que eu se mãe comemos aqui em Curitiba, e um dos único, até nós mudarmos, um pouco depois de você fazer 6 anos. Foi aqui que conheci Aninha... e aqui que a apresentei ao HP... algumas das suas festas de aniversário... e onde eu e sua mãe jantamos em todos os nossos aniversários de casamento, ou jantavamos...
-Eu... não sabia...
Entramos, logo o proprietário, Seu Julio, me comprimentou. Batemos um papo rápido, o apresentei a Gisele e Lídia e fizemos nosso pedido. Como sempre, a comida estava deliciosa. O clima na mesa não era dos melhores, nem Lídia nem Gisele olhavam pra mim, cada uma por seu motivo. Paguei a conta e bati mais um papo rápido com seu Julio antes de ir embora. Visitar aquele foi, sem dúvida, o melhor momento daquela, pela primeira vez naquela semana me senti realmente feliz, talvez pelo lugar, talvez pelas lembranças que ele me trazia. Eu fui com um sorriso no rosto o caminho todo até nossa casa, mas quando a vi, quando entrei, uma onda de tristeza invadiu meu peito, eu tremi, minhas pernas vacilaram, eu busquei apoio nas paredes e nos móveis, e me sentei no sofá.
-Pai?? Você tá bem??- Lídia disse correndo e pegando meu braço.
-Sim, filha... foi só um mal estar. Nada de mais...- Eu disse pegando sua mão.
-Tudo bem mesmo, Marcos?- Gisele perguntou.
-Sim...-Respondi.- Filha, eu te trouxe aqui pra você pegar coisa que quiser levar pra casa da sua vó...
-Tá bem, pai... Eu vou pegar algumas coisas- ela disse se levantando e subindo as pros quartos.
-O que aconteceu, Marcos?- Gisele perguntou sentando ao meu lado.
-Eu... sei lá, de repente me veio uma onda de tristeza... tristeza profunda...
-Mas você tava tão feliz no caminho pra cá...
-Eu sei, aquele lugar me trás ótimas lembranças... Aqueles foram os melhores anos da minha vida... Apesar de trabalhar, e estudar, do cansaço, cada dia eu me sentia mais feliz ao lado da minha filha, da minha esposa, dos meus amigos, as noites que passavamos só conversando e rindo... e então eu cheguei aqui e... e percebi que nunca mais vou ter nada daquilo. Eu perdi meus melhores amigos, perdi minha esposa e tô perdendo minha filha...- e então eu chorei.
-Marcos, talvez você não acredite em mim, mas tudo isso tá acontecendo por uma razão, e quando você menos esperar vai perceber isso, e eu tenho certeza que daqui algum tempo, quando você olhar pra trás denovo, e ver tudo o que aconteceu e como tudo acabou, você vai perceber que os melhores anos da sua vida ainda estão por vir...
Gisele me beijou na testa e também subiu as escadas. Ainda fiquei alguns minuto sentado no sofá, pensando no que ela havia dito, até que olheio o relógio já estava quase me atrasando pra reunião.
Me despedi das duas dizendo que voltava logo, entrei no carro e fui ao endereço combinado. Demorou pouco mais de uma hora até assinar o contrato de aluguel do apartamento, quando cheguei em casa novamente já passava das 3 da tarde.
Quando entrei Lídia já me esperava na sala, ela tinha somente mais uma mochila nas costas e algumas coisas na mão, a ajudei a guardar.
-Cadê sua tia?- perguntei fechando o porta-malas.
-Ta lá em cima, pegando algumas coisas...
-Vou lá chamar ela...
Entrei em casa e subi as escadas, a chamei e ela não respondeu, decidi procurá-la nos quartos. Entrei primeiro no meu, mas não a achei, e nem no quarto de Lídia. Então entrei no quarto em que ela passara os últimos 2 meses, e a vi fechando o zíper de uma das duas malas. Ela pegou as pegou de pulso e se virou pra mim.
-Marcos, eu...- eu sai do quarto, me dirigindo as escadas- Marcos!
-Foi o que você decidiu?- perguntei me virando pra ela.
-Foi...
-Eu disse que não ia interferir na sua decisão...
-Marcos... me desculpa, mas...
-Você não me deve desculpas. Você é a menos culpada nessa história toda...
-Mas eu sinto que não devia deixar você agora...
-Você deve fazer aquilo que achar melhor...-eu disse me aproximando- Você merece alguém melhor do que eu...- disse a ajudando com as malas.
-Não faça tão pouco de si, Marcos. Você é a melhor pessoa que já conheci...
-Será que sou mesmo? Pra merecer tudo o que tá acontecendo comigo...
-Já se esqueceu daquilo que eu te disse?
-Que tudo acontece por uma razão? Só se a razão for acabar com a minha vida...
-Nunca se esqueça, Marcos. Depois da tormenta, sempre vem o céu azul...
Gisele desceu as escadas, me deixando sozinho, demorei um pouco pra descer também. Ageitei as malas de Gisele dentro do carro e finalmebte entrei.
-De quem são essas malas?- Lídia perguntou.
-Minhas...- Gisele respondeu.
-Como assim??- Lídia perguntou surpresa.
-Sua tia achou melhor que voltasse a morar com seu avô, filha...- respondi.
-Mas... eu não entendo...
Seguimos viagem, deixando Curitiba para trás, voltando a minha cidade natal. O silêncio, como sempre, reinava no carro, apesar do clima já não estar tão pesado. Quando chegamos ao destino o sol já estava dando lugar a lua, parei na frente da casa de minha ex-sogra, vi que Marie já estava nos esperando.
Desci do carro, Marie teve a intenção de vir em minha direção, mas Gisele saiu do carro e ela simplesmente parou. Abri a porta de trás, Lídia olhou pra mim e começou a chorar, ela saiu do carro e nos abraçamos longamente, um abraço apertado e emocionado, demorou alguns minutos até se acalmar e soltar um pouco o abraço, eu dei um beijo na sua testa e depois nos olhamos nos olhos, e finalmente, Lídia se entrou na casa da avó. Eu tirei as malas de Lídia do carro e as levei pra dentro da casa, quando passei por Marie nossos olhos se cruzaram, senti o peito apertar. Deixei as malas na sala, e fiz o caminho devolta ao carro, mas dessa vez Marie me parou, colocando a mão no meu peito, olhando nos meus olhos, eu peguei sua mão suave, sentindo novamente sua pele, um calafrio me desceu a espinha e eu engoli no seco.
-Será que a gente pode conversar?- escutei sua doce voz dizendo.
-Eu... eu acho que ainda não tô preparado pra essa conversa, Marie- disse soltando a sua mão.
-Tudo bem, eu espero o tempo que você quiser...
Eu fui ao carro respirando fundo, entrei, e logo o liguei, e segui em direção a casa de meu pai. Não demorou muito até chegarmos lá, as luzes estavam acesas, Gisele olhou pra mim e saiu do carro, logo saí também. Tirei suas malas e as deixei com ela.
-Daqui duas semanas é o aniversário do papai...- Gisele disse.
-Eu sei...
-O que eu quero dizer é que você vai vir aqui... e até lá eu vou ter pensado melhor, você vai ter pensado melhor, e daí nós vamos poder conversar com mais calma. E talvez você também queira conversar com Marie depois...
-Então até lá...
Nos abraçamos, por muito mais tempo do que pensei que seria, mas depois do abraço ela logo apanhou as malas e entrou pelo portão.
Eu fui pro carro, mas uma longa viagem devolta a Curitiba, e só conseguia pensar em Marie e Gisele, ao menos no aniversário do meu pai tudo seria esclarecido. Cheguei em casa morto, fisica e psicologicamente, desabei no sofá mesmo