Procurei encarar a porta por alguns minutos e realmente era mesmo quem eu pensava ser. Ele vestia uma calça jeans clara, uma camisa polo azul água sem estampa e um sapa tênis meio bege. Um relógio de ouro e sua barba por fazer lhe davam um ar de cara mais maduro. Como ele podia mexer tanto comigo daquele jeito?
Corri pra dentro do meu quarto e comecei a chorar por ser tão fraco. Como eu poderia estar tão rendido por um cara que só me fazia mal?
Algum tempo depois alguém bate na porta, então eu me escondi embaixo da cama como uma criança que fugia da surra dos pais. Essa pessoa era o Kauã.
- Alexandre? Não fica se escondendo porque eu vou te achar - ele parecia bravo.
A princípio tentei me render mas ele iria mesmo me achar. Sai de baixo da cama e o encarei.
- Alexandre, tu viu um fantasma? Tu tá pálido - o Kauã se assustou. - Eu vou chamar alguém, calma aí! - ele saiu do quarto e voltou com a Ana.
- Meu deus, Ale, o que aconteceu contigo? - ela estava assustada e limpava com suas mãos o suor gelado que escorria pela minha testa.
- Eu tô bem, acho que minha pressão baixou - respondi, dando um sorriso falso e pálido.
- Tem certeza? - ambos perguntaram.
- Sim, eu só não quero descer agora... deem um jeito de fazer com que ninguém perceba! - pedi.
- Já sei o que aconteceu... - Ana soltou um sorrisinho pro Kauã, que agora também parecia ter percebido o porque de eu ter passado mal.
- Se você quiser eu o expulso daqui! - Kauã falou.
- Não, essa é minha chance de mostrar que eu estou vivendo sem ele! Já vou descer, esperem só alguns minutos! - falei.
Os dois concordaram e saíram do quarto. Eu troquei de roupa, coloquei meu melhor perfume e um relógio caríssimo que eu tinha. Eu coloquei uma calça escura e uma camisa vermelha, junto com um sapato bege e meu relógio banhado a ouro. Desci as escadas e fui em direção do pessoal que pararam o que faziam pra me verem descer. Inclusive o Renan.
Ele olhava pra mim com um sorriso no rosto e eu o ignorei. Logo o DJ começou a tocar músicas pop/eletrônicas como Like a G6, I Gotta a Feeling, Dominó e etc. Apesar de eu querer parecer o melhor possível, o Kauã e a Ana perceberam e não desgrudaram de mim.
Enfim chegou a hora dos parabéns. Eu, que já estava todo soado, cortei o bolo sem rodeios e claro que dediquei o primeiro pedaço a todos os meus amigos, que dividiram o mesmo pedaço, dando início à uma cena hilária. Depois disse que todos poderiam se servir e então o DJ começou a tocar as músicas novamente.
Uma hora o Fábio chegou perto de mim e abriu os braços. Eu, inocente, achando que seria um abraço, só me fez chegar perto dele pra que ele pudesse tacar um prato com bolo na minha cara.
- Filha da puta - falei, rindo da situação!
Fui até o banheiro pra me lavar e no caminho vejo o Renan ficando com a Clara. Ele passava a mão por dentro do vestido dela, que estava em cima da minha maquina de lavar.
Fiquei ali, paralisado, sem acreditar no que estava acontecendo. A Ana, estranhando eu estar ali, parado, se aproximou e pode ver junto comigo aquela cena que eu nunca esqueceria.
- Vem, Ale! - ela disse, espantando os dois que estavam se pegando e me levando até o banheiro.
Quando saí do estado de múmia, já estava dentro do banheiro.
- Me deixa um pouco só? - falei pra Ana, que logo concordou.
Ela saiu do banheiro e então eu pude colocar pra fora toda a raiva que eu sentia naquele momento dando um soco no espelho do meu banheiro. Na hora não senti nenhuma dor, pelo contrário, senti um alívio enorme. Cacos de vidro adentravam meu pulso e eu cai no chão, ainda sangrando. Logo percebo que alguém adentrava meu banheiro: era o Renan.
Ele parecia estar horrorizado com aquela situação: o banheiro ensanguentado, meu punho cheio de cacos de vidros e o vidro do espelho todo quebrado.
- TU VAI FICAR ME EVITANDO ATÉ QUANDO? - Ele perguntou
- ME DEIXA CARALHO! - Gritei.
- POR FAVOR ALE, VAMO CONVERSAR... EU NÃO AGUENTO MAIS, TU E MINHA MÃE SÃO AS UNICAS COISAS QUE EU TENHO - ele já estava com lágrimas nos olhos.
- EU NÃO TENHO O QUE CONVERSAR CONTIGO
- PORRA ALEXANDRE, O QUE TA ACONTECENDO CONTIGO?
- O QUE TÁ ACONTECENDO É QUE EU ACHO QUE TO APAIXONADO POR TI - uma lágrima caiu dos meus olhos - é isso que tá acontecendo - falei.
Ele me deu um abraço e depois me olhou fixamente com um olhar indecifrável. Eu podia ver apenas uma confusão de sentimentos em seus olhos. Ele me largou no banheiro e saiu sem dizer nada. Em seguida, voltou com a Ana e o Kauã que, assim como ele, ficaram assustados com o que viram no banheiro.
- Meu deus - Kauã e Ana falaram juntos.
Eles me levaram pro meu quarto onde fizeram um curativo caseiro no meu punho apenas pra estancar o sangue, que parecia correr como uma torneira. O Renan andava com as mãos na cabeça de um lado pro outro do meu quarto, me fazendo chorar ainda mais. Pude notar nos olhos do Kauã uma lágrima cair.
- Vem, vamos te levar no hospital - Kauã falou.
- Saímos eu, ele e a Ana pela porta dos fundos pra não atrair curiosos até nós. Chegando no hospital, minha mão doia muito e estava inchada, sem contar que o sangramento não parecia sessar.
Após algumas horas no hospital, levei alguns pontos nos cortes e tive que fazer compressas de água pro inchaço passar e tomar antibióticos, além de vacina anti tetânica.
Ainda no hospital, tomei um sedativo pra dor e então só acordei em casa, no dia seguinte. A Ana dormia no colchão e o Renan na minha poltrona.
Sem fazer barulho, fui até meu banheiro e vi ainda os cacos de vidro no chão, mas as manchas de sangue já não estavam mais ali. No espelho vi meu reflexo completamente destruído. Escovei meus dentes e fui até a cozinha. A dona Dolores trabalhava.
- Oi meu filho, feliz aniversário atrasado - ela disse.
Ela percebeu minha mão enfaixada.
- Meu deus filho, o que foi isso? - ela perguntou.
- Um pequeno acidente. Liga pra vidraçaria e pede pra eles virem colocar o espelho no meu banheiro o quanto antes, tá? - falei, dando um beijo em sua cabeça.
Eu estava sem fome, mas ela insistiu tanto que acabei comendo uma torrada com um molho de alho que só ela sabia fazer, junto com um copo de leite puro.
Subi novamente até meu quarto e o Kauã estava no banheiro e a Ana estava paralisada, sentada na minha cama.
- Bom dia - falei.
- Bom dia - o Kauã respondeu, colocando a cabeça pra fora do banheiro.
- Que noite, hein! - Ana falou, rindo.
- Você é louca, só pode! - falei
- Você que é louco, quebrar o espelho do banheiro com um murro... você poderia ter uma hemorragia e ter morrido, sabia? - o Kauã se incluiu na conversa.
- Tá, tá... - falei. - O que aconteceu depois? - perguntei.
- Me falaram que o Renan foi pra casa e depois a gangue limpou a casa. Migo, desculpa, tive que contar pra eles o que aconteceu, desde o começo... - Ana disse, me pedindo desculpas novamente.
- PUTA QUE PARIU, TUDO? - Eu perguntei.
- Sim, tudo... Aliás, eles já desconfiavam. A Clara ficou com a cara no chão e ninguém tem notícias dela, todos estão com ódio dela - Ana falou.
- Por que? Ela não tem culpa. - falei.
Continuamos conversando e depois todos foram pras suas casas. No grupo, nada da Ana. Fiquei preocupado que o pessoal me tratassem diferente por descobrirem que eu sou gay, mas o contrário aconteceu: comecei foi a ser mais mimado. As meninas dizendo que sempre quiseram ter um amigo gay, O João não se manifestou porque todo mundo desconfiava dele, e o Fábio, bom, ele no começo disse que estranhou, mas depois ficou normal comigo. Claro que todos juraram segredo de estado em relação a isso e então pude ficar em paz, mas duas coisas ainda me incomodavam:
1- A Clara.
2- O Renan.
Continua...
Espero que tenham gostado, pessoal! Hoje não vou responder aos comentários porque estou atrasadíssimo pra um compromisso, mas não deixem de comentar, votar e deixarem suas opiniões aqui em baixo. Um abraço, galerinha!