Era por volta de 07:15 h da manhã. O dia começara chuvoso e a tendência era pelo menos permanecer assim. Muitas pessoas estavam na parada há pelo menos 40 minutos e nada da porra do ônibus chegar.
" Caralho outra vez vou atrasar pra entrevista ". Pensou Beto já olhando o relógio pela milésima vez em três minutos.
Muitos planos haviam sido feitos desde a primeira etapa da seleção que escolheria o assistente pessoal de um famoso fotografo de moda do País. O cara em questão era referência na produção de catálogos de moda, além de possuir uma das maiores e mais conceituadas agência de publicidade do Brasil.
Beto estava confiante pois era um cara bonito e carismático. Tinha uma boa altura e um corpo moreno forte e proporcional. O sorriso era a sua principal arma e seu olhar penetrante lhe dava uma segurança que muitas vezes era entendida como arrogância, tinha 25 anos e acabara de se formar em propaganda e publicidade.
Finalmente o ônibus chegou e ele pôde embarcar rumo a seus sonhos...
Sabrina Mendes, diretora de criação da empresa foi quem ficou encarregada da seleção dos candidatos, 8 ao todo, que fariam os testes finais juntamente com a entrevista. Passava um pouco das 08:00 h quando o último deles, Beto, chegou e se juntou aos demais que já conversavam entre si. Todos os garotos estavam muito nervosos, apesar de dominarem muito bem o tipo de serviço que fariam tanto na agência como no âmbito pessoal ao lado do tal fotografo.
_ Roberto Leme Silva, chamou uma jovem loira com um sorriso nos lábios. Beto levantou da cadeira marfim em que estava sentado e se dirigiu à porta do escritório. Segunda porta a direita, você vai falar com D. Sabrina Mendes.
_ Queira sentar, disse Sabrina. E finalmente começou sua entrevista. Tudo foi muito preciso e direto. A firmeza em suas respostas deram mais confiança ainda a esse jovem que pretendia ganhar a vaga. Ao terminar agradeceu pela chance de estar tentando realizar seu sonho e saiu da sala com passos firmes porta afora.
Dos oito candidatos apenas três passariam para a fase final e fariam um teste no estúdio do todo poderoso Gilberto Mendes Veiga, considerado o maior de todos quando o assunto era fotografia.
Beto levantou do amplo sofá no segundo andar da agência. O lugar era simplesmente fantástico. Totalmente climatizado e um leve perfume de madeira dava uma paz tranquilizadora a todos aqueles que lá se encontravam. Ele entrou no amplo estúdio e se dirigiu à mesa onde O Cara da fotografia estava. O mesmo lhe estendeu a mão direita e o cumprimentou...
_ Bom dia rapaz, Roberto, certo? Antes de mais nada, posso te chamar de Beto?
_ Bom dia senhor, claro que pode, é assim que os amigos me chamam. E as mãos de ambos se encontraram e se apertaram simultaneamente.
_ Fico feliz em saber que você é um dos rapazes finalistas. Uma outra coisa me chamou bastante atenção, você tem certeza que quer trabalhar por trás das câmeras? Você tem noção da sua beleza?
Beto corou um pouco e respondeu com um bonito sorriso nos lábios cheios e dentes retos brancos...
_ Tenho senhor, nunca pensei em oura coisa na vida. Amo a fotografia e jamais me vi como a paisagem e sim como o seu espectador.
_ Nesse caso, eu só tenho três perguntas a você...Posso começar? E os olhos de Gilberto Veiga fitaram o rosto másculo e porque não dizer inocente de Beto Silva.
_ Sim, por favor...
_ Que tipo de lentes são mais utilizadas em nosso trabalho?
_ Lentes Micro, Macro e Normal, uma vez que fazemos fotos de pequenas dimensões e assim corremos menos riscos de distorções.
_ Colorida ou preto e branco, qual sua preferência?
_ Preto e branco. É como se o fotografo conseguisse não só a melhor imagem, ele é capaz de captar a alma, o pulsar do sangue, a verdade do modelo que esta sendo retratado.
_ Tô pretendendo fazer uma exposição sobre pessoas comuns e suas realidades, que tipos de pessoas você retrataria e por que?
_ Eu estava pensando outro dia justamente sobre isso. Eu com certeza colheria um ótimo material em paradas de ônibus. Todo tipo de pessoas passam por elas todos os dias e cada um ali, é um universo em particular. Eu sou usuário de transporte coletivo e sei bem do que falo. Seria uma outra forma de dar vez a uma multidão que mesmo diante de suas realidades, ainda conseguem sorrir.
Beto foi levado ao estúdio com uma câmera e várias fotos foram tiras por ele aleatoriamente num tempo de 30 minutos. Em seguida as fotos foram reveladas e antes do meio dia, a vaga de assistente era sua. Ele conseguira, finalmente poderia colocar em prática os sonhos que haviam acumulado desde muito tempo.
Nos dois dias seguintes, teria que correr atrás de um monte de documentação, fotos, exames e um tanto a mais de burocracia. Na segunda pela manhã, começaria no novo emprego pontualmente as 08:00 h. Saiu do prédio da nova empresa em que trabalharia com um sentimento de realização no peito. Quem o viu passar rapidamente pela recepção, deve ter percebido que ele chorava de pura alegria.
_ Vai dar tudo certo, falou pra si mesmo em voz alta e correu pra pegar o ônibus que o levaria pra casa.
_ Sabrina em minha sala por favor. Falou Gilberto Veiga.
_ Pois não Gilberto?
_ Esse garoto que acabou conquistando a vaga ficará nesse primeiro trimestre com você. Quero que ele seja o responsável por uma parte do material que pretendo usar na exposição dos novos no final do ano. O garoto é muito bom.
_ Já vi Gilberto que será um grande barato trabalhar ao lado desse jovem. Gostei dele também, pensei que era modelo. Lindo o sorriso do garoto. Que bom que ele nos procurou. Os dois trocaram um sorriso e Sabrina saiu da sala.
Gilberto pegou uma ficha que continha alguns dados sobre Beto, releu seu conteúdo e guardou no seu arquivo pessoal.
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Estou iniciando um conto nesse site que já acompanho há pelo menos 2 anos. Muitos foram os autores que li e que me deixaram fascinado pela forma natural, precisa e concisa de seus escritos. O que me motivou nessa aventura que não sei se vai ou não agradar foi um fato particularmente triste que nos abalou - nós leitores da DCD - A morte prematura de um cara que tinha uma forma de interagir e apesar de não conhecê-lo, tinha também um carisma muito grande. Acho que vocês sabem de quem eu estou falando, Guilherme Bastos. Li, li novamente, Reli e reli novamente seus textos não só por serem para mim fantásticos, que pena que sumiram, mas por querer captar um pouco sua forma de escrever. Seu texto era clássico, limpo, fácil e prazeroso de ler. Preciso contar com a ajuda de vocês seja no elogio, seja na critica ou mesmo no esculacho. Fiquem à vontade para falarem o que quiser e da maneira que quiserem também. Só não prometo fazer o que ele fazia nos finais de seus contos, aquele agradecimento intimo e pessoal a cada um daqueles que eram chamados por ele de fiéis.
Brako, se por acaso ler esse conto, saiba que fiz de coração e a única pretensão que tive foi a de me lembrar dele com o maior carinho possível. Lembro que em um de seus contos ele falou uma frase que me tocou muito... Nunca sabemos o que espera por nós na próxima curva da estrada... Espero que ele só encontre muito amor, pois ele era um especialista em amar e se deixar amar, pelo menos essa é minha opinião. Um abraço a você e que tu fique bem na tua vida.
