Terminei de abraça-lo e fiquei olhando pra ele (como eu já disse, até hoje eu tenho esse papel onde ele escreveu o que tinha acabado de me falar)
— Não vai me convidar pra entrar?
— Ah, claro! Entra.
Ele passou por mim e eu ainda tava besta, então fui sentar do lado da Marina, que me olhava com um sorriso no rosto.
— Vocês foram feitos um pro outro, a forma que ele te olhou só quem for cego não percebe que ele te ama!
— Ai Marina, que foda viu!
Então a mamãe resolveu bater os parabéns (igual festa de criança) e depois serviu o jantar. O clima tava bem legal, por incrível que pareça o Rodrigo e o Rafael conversavam como se nada tivesse acontecido, isso que eu sempre achei legal.
Teve uma hora que o pai do Rodrigo veio falar comigo. Fiquei sem palavras.
— Vinte e um anos e pensar que eu te carreguei no colo.
— Verdade, tio.
— Sabia que eu conheci teu pai com a tua idade? Claro que sabe, e agora conversando com ele, ele me disse que vocês brigaram e que te expulsou de casa.
— Foi...
— Te vendo hoje é como se eu tivesse vendo ele com essa mesma idade, vocês são demais parecido, não só na aparência, mas no jeito. – ele deu uma risada – Cabeça dura que vou te contar, viu!
— Mamãe também diz isso.
— Bem, mas eu não vim pra ti falar isso e sim que teu pai tá arrependido. Não, ele não me disse isso, mas dá pra ver. Ele mesmo disse que nem te parabenizou, então dá uma força também meu filho, eu não sei o motivo de vocês terem brigado, ele não me falou, mas fala com ele, faz isso por mim, pode ser?
Fiquei pensando no que o pai do Rodrigo tinha falado.
— Vou falar sim tio e brigado pelo toque.
Ele me abraçou e foi conversar com a tia Silvia, voltei a conversar com a Marina que a essa hora já tava conversando com eles. Me sentei do lado do Rafael.
— Tá tudo bem? — disse ele.
— Tudo sim.
Ele apertou minha perna e riu. A conversa até que tava legal, tava só a gente na sala e os mais velhos estavam na sala de jantar (sim, aqui em casa tem disso, coisa da mamãe), quando eu vi o papai indo em direção da cozinha, me levantei e fui atrás dele. Ele pegava gelo no congelador quando meu viu, mas continuou o que fazia.
— O senhor não me deu parabéns.
Ele parou e ficou me olhando, me aproximei dele. O papai é mais alto que eu (tem 1,83) ele chegou mais perto e me abraçou, a gente ficou abraçados um tempo sem falar nada, até que ele disse a primeira palavra:
— Desculpa, meu filho.
Nessa hora meus olhos se encheram de lágrimas.
— Me desculpa, eu fui um idiota contigo, me desculpa.
— Tudo bem, pai.
— Tudo nada, eu tenho raiva de mim por ter falado aquelas coisas pra ti. Tu é meu maior orgulho, só tenho a agradecer a Deus por ter me dado um filho assim — e me abraçou de novo.
— Brigado, pai!
— Agora tá bom, porque tenho que manter a pose de durão.
Quem vê até pensa, meu pai é maior coração de manteiga.
— Tá certo, pai.
— Até que o Rafael não é tão feio pra ti!
Dei um sorriso pra ele e voltei pra sala e me sentei do lado do Rafael, tava muito feliz, claro que o Rafael notou, eu falei pra ele que ficou feliz também. Às vezes, no meio da conversa o Rodrigo me encarava e eu claro que mudava o olhar.
A Marina foi embora ficando só eu, Rodrigo, Guga e o Rafael, isso era quase uma da madruga, a gente tava sentado na calçada de casa conversando. A gente lembrava da época de criança e o início da nossa adolescência, era só pra rir.
O Guga dormiu lá em casa aquela noite, muito a contragosto do Rafael, mas o cara tava porre, não ia deixar ele dirigir naquele estado.
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Um mês tinha se passado, minha vida voltou ao normal. O Rafael frequentava lá em casa como antes, mas agora na condição de namorado, meus pais tratavam ele como antes. Já o Rodrigo tinha sumido, não ligava pra mim pra jogar play com ele e nem inventava algo pra poder me levar pra casa dele, mas quando eu via ele na faculdade ele só se resumia a um oi.
Então, depois de muito tempo eu resolvi aparecer na bola e foi aquela encarnação pro meu lado, confesso que tava com saudades daqueles filhos da puta. Fiquei conversando com eles antes da bola rolar porque ainda faltava o Rodrigo (como sempre).
— Qual é canoa, que milagre é esse que tu resolveu aparecer? — o Guga me disse.
— Sim, porra! Não posso, fresco?
— Pelo que eu sei, não sou eu não que dou a bunda.
Claro que ele falou aquilo só pra mim, não aguentei e comecei a rir.
— É, filho da puta, tu me paga!
— Tu sabe que isso é amor!
— Amor de cu é rola!
— Ui, adoro!
Nós dois caímos na risada, o Gustavo é demais. Ele deu um gole na cerveja dele e disse:
— Hum, por falar em rola, o Fabrício perguntou por ti.
— Cara, esqueci completamente dele.
— Mas parece que ele não de ti.
— Aí o problema já é dele, sou comprometido e muito fiel!
Ele começou a bater palmas.
— Que continue assim!
— E tu seu Gustavo, nada? Nenhuma namorada? Ou namorado?
— Tá doido? Namorado jamais, nunca meu parceiro! Aqui gosta de buceta!
Cruzei os braços e fiquei olhando pra ele, que me olhava com a cara mais cínica do mundo.
— Não entendi esse cruzar de braços! — ele começou a rir.
Me aproximei dele.
— Aposto 200 reais contigo se tu nunca deu o cu — ele deu uma risada tão alto que todo mundo que tava ali por perto olhou pra gente. — Depois dessa risada tive minha resposta!
Ele não confirmou e nem negou.
Depois de uns minutos o Rodrigo apareceu vestindo um short de jogador de futebol e com uma camisa do Barcelona, ele foi falando com todo mundo e quando chegou na minha vez só fez um “joia” com a mão e foi falar com o Fábio, juro que fiquei sem entender, mas deixei passar.
A bola começou a rolar, eu fiquei no time do Guga e no time oposto do Rodrigo, que ficava de marcação em mim. Às vezes ele me abraçava por trás e encostava o pau dele na minha bunda, quem via pensava que era coisa normal de futebol, mas ele fazia aquilo de propósito.
O jogo terminou em 1x1, da galera algumas pessoas foram embora e outras ficaram bebendo, entre elas o Rodrigo. Eu bebi uns dois copos e disse que ia embora, me despedi de quem ficou e fui sem falar com o Rodrigo. Se ele queria assim, assim seria.
Fui no banheiro, mijei e quando tava lavando as mãos ele entrou e ficou encostado na parede e me olhando, já tava puto com ele.
— Vai ficar me olhando?
Ele deu um sorriso.
— Eu prometi pra mim mesmo que não ia mais atrapalhar a tua vida e principalmente a minha. Mas eu não consigo ficar longe de ti, tentei mas não consigo.
Fiquei mais puto com aquilo.
— Como é? Na hora de ficar se esfregando em mim na bola, tu não pensou nisso, né?
Ele começou a rir.
— Tava normal contigo na bola, não viaja Vinícius.
— Então tá, eu tô viajando. Aliás, eu que sempre viajo, né? – peguei minha mochila e saí do banheiro e ele veio logo após.
— Vai começar o drama?
— Vai tomar no cu!
Ele riu. Saí de dentro da arena onde a gente joga a bola.
— A gente não manda e sim convida.
— Vai pra casa do caralho!
— Sabia que tu fica lindo com raiva? —ele riu de novo.
Cada risada dele eu ia ficando mais puto e ele fazia de propósito. Eu comecei a andar na direção contrária dele pra pegar um táxi.
— O carro tá no outro lado — ele vinha me seguindo
Isso devia ser umas 11:30 da noite ou mais, a rua tava vazia. Parei e olhei pra ele.
— Rodrigo o que tu quer, porra! Tu não falou comigo a noite toda e agora tá me seguindo, caralho!
E ele rindo foi chegando mais perto até que ficou na minha frente.
— Eu gosto de te ver com raiva, aliás sempre gostei, sempre tive prazer em ti deixar puto.
— Isso é coisa de moleque, vê se cresce.
Antes de eu terminar de falar ele me beijou. Um beijo com força, com desejo, bruto mesmo, mas com paixão. Tentei empurrar ele, mas como sempre não consegui, então fui me envolvendo no beijo, meu coração parecia que ia sair pela boca. Tava completamente entregue a ele, ele encostou meu corpo pra junto do dele, por sorte que a gente tava debaixo de uma mangueira e fazia o local ficar escuro, até que o beijo terminou, mas ele não afastou de mim. Dei dois passos pra trás e dei um soco na boca dele que fez minha mão doer pra caralho e ele quase cair no chão.
— Puta que pariu, Vinícius! Por que tu fez isso, ficou doido?
— Fiquei, só posso ter ficado quando eu retribuí o beijo que tu me deu.
Ele riu e depois ficou sério.
— Eu não devia ter feito isso, tu tá certo, eu mereci esse soco!
Ele falou aquilo e deu as costas, foi em direção do carro dele, fiquei ali parado vendo ele ir. Ainda podia sentir a boca dele na minha. Comecei a andar e fui pra casa.
—
Final de outubro, dia 31 melhor dizendo, o Rafael disse que ia ter um aniversário de um amigo dele do trabalho e que seria num condomínio famoso daqui de Belém que fica na Augusto Montenegro.
Então nós fomos, a casa era bem bonita, o cara tinha grana. Ele me apresentou o amigo dele que tava fazendo aniversário, dei os parabéns pra ele e depois a gente ficou numa mesa onde tava alguns amigos dele do trabalho, todos gente boa. A conversa era sobre trabalho, claro, e eu ficava boiando, mesmo sendo da “área” quando chegou um tal de Marcão. O cara devia ter uns 30 anos.
Tá, confesso, o cara era lindo, tinha jeito de homem, ele vestia uma camisa social preta que mesmo assim ainda mostrava o corpo dele forte, ele sentou e começou a falar, mas eu percebia que ele falava algo e olhava pra mim. Teve uma hora que o Rafael foi no banheiro e eu fiquei lá, então ele veio puxar assunto.
— Beleza, mano?
— Tudo na boa. E contigo?
— Tranquilo. Amigo do Rafael?
— Sim e tu trabalha com ele?
— Sim sou o engenheiro principal da obra que o Rafael tá trabalhando.
— Que legal!
Ele levantou e sentou na cadeira onde o Rafael tava sentado e começou a puxar assunto, queria saber de tudo. Eu já tava ficando sem graça quando o Príncipe voltou.
— Marcão, dá licença?
— Senta ali, tô conversando com teu amigo.
O Rafa fez o que ele mandou. Não tava mais aguentando o cara, ele falava e ficava tocando em mim e eu só vendo o Rafael bebendo e bebendo, até que teve uma hora que o cara pergunta se eu namorava, inventei uma desculpa e me levantei da mesa. O Rafael veio atrás.
— Que foi?
— Nada não, só cansei de ficar lá.
— Ele te fez alguma coisa?
— Não Rafael, tá tranquilo.
Ele ficou conversando comigo e bebendo, o clima já tava melhor. A gente foi pra uma parte meio escura e ele já tava meio alegre e safado.
— Tu vai lá pra casa hoje, né?
— É? Vou?
— Vai sim, hoje vou te colocar pra trabalhar — ele olhou pra ver se tinha alguém por perto — eu gosto tanto de ti! – e me beijou, foi um beijo rápido.
Depois a festa começou a rolar tinha um DJ tocando, até que esse Marcão surgiu de novo.
— Cadê o Rafael?
— Ele foi falar com o aniversariante.
— Coragem dele te deixar sozinho aqui.
— Cara não tô gostando disso, tu já tá enchendo o saco, porra!
Ele colocou a mão na minha cintura e tentou me beijar, mas eu consegui empurrar ele, mas na hora o Rafael apareceu.
— O que tá acontecendo aqui?
— Nada demais, bora embora!
Mas o Marcão começou:
— Esse teu amigo que tá dando em cima de mim a noite toda e quando eu vou pra cima, fica fazendo cu doce.
Na hora que o filho da puta disse aquilo deu vontade de voar pra cima dele, mas pensei no Rafael.
— Bora embora, Rafael!
O puxei pelo braço até sair da casa, ele já tava porre e até o carro ele foi calado.
— Me dá a chave, deixa eu dirigir?
— Não precisa, eu dirijo.
A gente entrou no carro e quando saiu do condomínio ele começou a falar.
— Aquilo que ele falou era verdade?
— Claro que não, Rafael!
— Tu não tava dando em cima dele? Me diz a verdade!
— Mais que saco Rafael! Porra, para de ver coisas onde não tem, ele que ficou me perturbando a noite toda.
Ele segurou meu rosto.
— Diz pra mim que eu tô ficando doido, diz que era só ele que tava dando em cima de ti e tu não tava dando trela pra ele! — ele tava visivelmente alterando por causa do que tinha bebido.
— Porra, presta atenção, tu quer bater a merda desse carro? Olha pra frente!
Ele não falou mais nada e só olhava pra frente e eu senti que a velocidade do carro ia aumentando.
— Rafael, diminui.
Ele não falava nada.
— Rafael, diminui essa porra!
E ele metendo o pé no acelerador.
— Para esse carro que eu vou descer!
— Tu veio comigo e eu vou te levar, e cala a boca!
Eu vi que se continuasse gritando ele não ia diminuir a velocidade.
— Por favor Rafael, vai devagar...
Foi quando senti o carro balançar e depois não lembro de mais nada do que aconteceu depois.
Quando eu acordei meus olhos doíam por causa da claridade. Ouvi a voz de um homem dizendo que eu tinha acordado, minha vista ainda tava embaçada, eu queria falar e não conseguia, parecia que eu não tinha voz e muito menos conseguia me mexer.
Minha vista foi ficando normal aos poucos, então eu vi uma claridade nos meus olhos e logo após uma voz de um homem dizendo que era pra eu acompanhar a luz com os olhos. Fiz o que ele mandou, era um médico, ele começou a fazer um monte de coisa comigo. Até que tentei fala de novo e consegui, com dificuldade, mas saiu:
— Onde eu tô?
Então o médico que tava ali disse que eu tava no hospital e que agora tudo iria ficar bem e mandou eu não fazer mais esforço. Depois de um tempo eu sabia que tava em na UTI do hospital.
— Cadê minha mãe?
— Ela está lá fora, daqui a pouco mando ela entrar. Tu sentes alguma coisa?
— Um pouco de dor no corpo e sono, mas o que aconteceu comigo?
— Tu vai ter que descansar agora, fica calmo, tá tudo bem agora.
Como eu tava meio grogue acabei adormecendo de novo e quando acordei a mamãe tava do meu lado e eu já tava no quarto.
— Meu amor, ainda bem que tu acordou!
— Mãe, o que aconteceu?
— Tu sofreu um acidente de carro e ficou em coma por uns cinco dias.
Na hora que ela falou isso me deu um aperto no coração e me veio o Rafael na cabeça.
— Coma? E o Rafael mãe, o que aconteceu com ele?
Ela ficou pensando, como se tivesse procurando a resposta.
— Mãe, e o Rafael? Mãe, cadê o Rafael?
Ela ficou me olhando e chegou mais perto.
— Fica calmo e descansa.
— Mãe aconteceu alguma coisa? Pelo amor de Deus, me diz!
Bem, eu atualizei o conto com uma versão revisada que uma leitora do conto fez. Queria deixar aqui o meu muito obrigado a Josi, a pessoa que teve esse trabalho todo. Então vc que estiver lendo a partir de hoje, irá ler uma versão bonitinha, sem erros ortográficos e tudo mais rsrsrs. Aproveita e me segue lá no Wattpad https://www.wattpad.com/user/viiniiciiusp Tô escrevendo e postando uma história lá. Dá lá essa moral rsrs.
Caso queria mandar um e-mail: viiniiciiusp@hotmail.com