7. Teorias.
— Eu ainda acho que pode ser uma bruxa — era Mike o primeiro a quebrar o silêncio. — Elas são terríveis e quando querem fazer alguma maldição forte para um inimigo, não ligam com os riscos.
— Não — Tio o contrariava. — Bruxas nem existem. Eu acho que é um como você, afinal quem mais iria beber o sangue de alguém?
— Vampiros não comem carne, seu tolo — disse Mike irritado por ninguém acreditar nele. Bruxas existem e ponto final!
— Quem disse que ele comeu os corações? — disse Nico, era uma boa olhada da situação. Os corações apenas foram arrancados. Ninguém tinha uma foto do “sei lá o que” comendo o coração, tinha?
— Isso é verdade — refletiu Mike e Tio, ao mesmo tempo.
— Eu também acho que pode ser um vampiro — disse Nico por fim, tomando lado do partido do Tio. — E mesmo que (isso é idiota de se falar em voz alta) seja uma bruxa, ela vai morrer de qualquer jeito.
O carro ficou em silêncio até chegarem em casa.
A notícia se espalhou como fogo em dias quentes de verão. Quando chegaram em casa Tio ligou a TV, a fim de assistir um programa de entretenimento. Mas teve uma decepção quando viu que o programa fora substituído por uma notícia urgente. E não era apenas no Canal 9. Todos os canais estavam falando sobre a mesma coisa: O Assassino. Mike, com seus ouvidos inumanos, ouviu tudo do quarto de Nico e como uma rajada de vento, estava ao lado de Tio antes que ele piscasse. Nico veio logo depois, ainda com os papais nas mãos. Ele os jogou sobre a mesa de centro e se sentou sobre uma das pernas de Mike. Que beijou seu corpo sem tirar os olhos da TV.
De repente alguém que estava na rua disse: “isso é obra de satanás, ele quer voltar à vida, por isso precisa de corações inocentes”. Mike deu uma risada tão alta e repentina que de principio Tio deu um pulo no sofá.
Segundos depois uma repórter do Canal 7 disse: “não se sabe ao certo, mas a polícia tem certeza que o assassino não está agindo sozinho, pois minutos depois do carro (colocaram a imagem do carro destruído e cheio de sangue – típico de um jornal sensacionalista, o foco da câmera voltou à jornalista) ser destruído houve o mesmo tipo de crime perto do museu. As vitimas de ambos os casos estão sem o coração e sem nenhuma gota de sangue. É com você Fábio”. Depois que voltaram para o estúdio, Mike mudou de canal.
Agora estavam entrevistando uma mulher culta, alta, de uma pele morena, linda a noite e a luz de sirenes. Era a prefeita falando sobre o caso. Ela disse: “nossos policias estão fazendo o impossível para encontrar o culpado e fazê-lo pagar por seus crimes”. Ela se calou ouvindo uma pergunta de alguém. Depois continuou: “Sim, já foi levado em conta que tudo isso pode ser um ritual satânico. Não acreditamos nisso, mas há quem acredite e está matando gente inocente para fazer alguma coisa”. Ela parou e ouviu outra pergunta. “Não, não podemos revelar os nomes das vitimas e nem das testemunhas. Elas foram tiradas da cidade para sua segurança”. Depois que a multidão ouviu que: sair da cidade era mais seguro. Não se pode ter certeza de mais nada. Todos começaram a comentar sobre a segurança e sair correndo enquanto estavam vivos. Alguns começaram a sair da cidade. Mas com a presa, muitos bateram os carros uns nos outros bloqueando a principal saída da cidade.
Todos os canais estavam falando disto. E não só os da cidade. Um canal do Estado também estava falando sobre a cidade.
— Eles viram — disse Nico pensando nos militares. — Temos que encontrar o assassino antes que eles venham e nos encontre.
— Agora ficou mais difícil encontrar as pessoas. Elas estão fora da cidade e não vamos conseguir chegar perto delas — Mike fitava as folhas sobre a mesa.
— Não estão esquecendo-se de nada, meninos? — perguntou Tio olhando para eles com certa felicidade por ter percebido o óbvio. Ele deu uma mordida no seu lanche e continuou quando viu que eles não sabiam do que ele falava. — 8 foram às testemunhas. Mas um deles entrou em choque. O único que não reagiu bem à força do vampiro. Por isso ele está no hospital (era bondade ele chamar aquele lugar de hospital), logo não saiu da cidade.
— E isso elimina nossa busca — completou Mike. — É claro, ele entrou em choque porque teve maior contado com o assassino e com certeza posso saber quem é depois de entrar na mente dele.
— Então vamos para o hospital — exclamou Nico dando um pulo.
Quando Tio tentou se levantar, suas costas estalaram e ele caiu sentado. Com uma dor enorme, ele só conseguiu falar:
— Vão vocês, esse meu corpo velho não aguenta maiores aventuras — arfou Tio com uma careta assustadora. Depois comeu o lanche em uma só mordida. Mike revirou os olhos e saiu.
Os policiais estavam preocupados de mais com a população eufórica e com a prevenção de novos ataques, para ficar olhando um lunático em um manicômio. Foi fácil entrar na mente das enfermeiras e as fazerem dormir. Apenas uma ficou sã e levou Mike e Nico ao quarto do gótico.
O corredor era escuro, a única luz que vinha era de uma janela aberta no final do túnel. Dela vinha um vento gelado, as cortinas se balançavam despreocupadamente. Era arrepiante estar ali.
Nico, de repente, se arrepiou quando viu um clarão sair por debaixo de uma porta (havia uma sombra ali, apareceu rapidamente e logo sumiu). Mike não se aventurou a entrar na mente de nenhum dos internos. Era certo que ao entrar em uma mente maluca, ele também ficaria maluco. Mike rezava para o assassino ter deixado um pouco de juízo da cabeça do gótico.
O sorriso da enfermeira ao chegar ao quarto foi sinistro. Qual o motivo para ela estar sorrindo? E com esses olhos escuros.
— É aqui — um clarão maior que os outros, entrou pela janela e o corpo magro da mulher fico ainda mais escuro, por estar tão perto da janela.
Só então que o casal percebeu que os clarões eram relâmpagos e que o tempo se preparava para uma grande tempestade. Inexplicavelmente o dia passou de: (a) um dia ensolarado e calmo para (b) uma noite de tempestade e assassinatos.
— Coisa de bruxa — cochichou Mike no ouvido de Nico, ambos olhavam pela abertura da janela. Quando se viraram a mulher não estava mais ali.
— Não faça mais isso — disse Nico dando um soco no ombro de Mike.
— Não fazer o que, amor? — o pálido quis saber.
— Fazer a mulher sair sem fazer barulho. Não achei graça.
— Eu não deixei ninguém sair. Ela sumiu! — os dois se olharam e ficaram atentos.
Era a primeira vez que alguém se desfazia dos poderes mentais de Mike. Isso nunca aconteceu em seus 800 anos.
Será que ele estava mesmo se transformando em um fraco para ficar com o Lobo ou havia uma força maior que a dele no manicômio?
— Vamos — disse Mike querendo não acreditar ter alguém mais poderoso que ele no mesmo prédio.
Deram alguns passos e estavam na porta do quarto mais uma vez, agora ela estava aberta. O lado de dentro era completamente escuro, não havia nenhuma janela ali dentro, o ar era quente e cheirava mal. Tão mal que foi quase impossível para o Lobo sentir o cheiro de sangue. Levou muito tempo para ele perceber que havia acontecido outro assassinado dentro do quarto.
— Vocês — disse uma voz que vinha da total escuridão. — Estão mortos!
Na realidade Mike já estava morto, morreu para se transformar em vampiro, então isso não lhe causou mal algum, mas em Nico, que ainda tinha um coração batendo no peito, foi um choque ouvir coisa desse tipo.
— Fique atrás de mim — disse Mike o colocando para trás de seu corpo de pedra.
Sem aviso ele entrou na mente de quem estava no quarto. Sentiu alivio em ver que não era o assassino. Era o gótico encolhido em um canto. Com mais esforços Mike conseguiu ter acesso às memórias dele. Achar a noite passada foi fácil.
Ali estava ele e seu grupo a caminho do cemitério quando de repente pararam. Por ser o menor da turma, Mike não teve uma boa visão de tudo, só quando os maiores se viraram para o corpo estirado no chão, que ele pode ver melhor o assassino. Usava um tipo de capa preta e tinha o cabelo preso por tranças, pareciam uma mulher. Mas assim que o assassino entrou na mente do pequeno. Mike percebeu que não era uma mulher, nem um homem, não tinha um órgão genital — não mais — depois de tantos anos ele perdera o pênis. De qualquer jeito era ele. O assassino.
Além de não ter um órgão genital o mesmo não tinha rosto, seu rosto era na verdade uma mascara feita da pele retirada da barriga de alguém, e pelo mal estado já fazia tempo que aquela pele estava ali. Também não se tinha nome, não tinha endereço. Mike se concentrou para saber o que era a criatura, quando estava quase conseguindo, foi dominado pela força do assassino sem rosto.
— Mike? — perguntou Nico quando viu o namorado cair ao seu lado.
Sem ter noção do que fazia Mike começou a falar, não era sua voz, era um grito agudo que ninguém conseguiria imitar. Ele falava devagar.
— Vocês acham que podem me deter? Eu vago pela terra desde que Noé construiu sua arca. Ninguém pode me matar! Vou mostrar a vocês do que sou capaz, quando ferir aquele mais próximo a vocês. E se continuaram com essa busca inútil, eu matarei um de vocês.
Mike foi atirado para fora da cabeça do garoto. Que teve um ataque de risos. Quando um novo clarão invadiu o quarto. Nico viu o corpo da mulher caído no chão, estava sem o coração. O assassino conseguiu mata-la sobre seus narizes.
— Mike... — Nico tentou chama-lo mais uma vez. Agora o pálido acordara.
— Com certeza não são bruxas e não é um vampiro. Não um comum — disse ele com os pensamentos tontos. Se não fosse tão antigo e tão forte estaria louco.
— Mike — repetiu Nico. — Ele falou que vai atacar alguém próximo a nós — a voz de Nico era preocupada, só havia uma pessoa próxima deles. Tio!
— O seu tio — falou Mike. E desapareceu logo depois. Passou pela janela como o vento. Rolou ao cair no chão. E logo depois sumiu na noite.
Nico saiu correndo a caminho de casa. Era sua culpa o tio estar em perigo agora. Ah se algo acontecesse...