EU ANTES DE VOÇÊ #3

Um conto erótico de Jonas
Categoria: Homossexual
Contém 1657 palavras
Data: 05/05/2014 16:13:59

Terceira parte pessoal.

Ele estava na academia de ginástica, como eu sabia que estaria. De segunda a quinta, pontual como um relógio suíço, Patrick ficava lá se exercitando ou dando voltas na pista bem-iluminada. Subi a escada abraçando a mim mesmo para me proteger do frio e entrei devagar na pista, acenando quando ele chegou perto o bastante para conseguir me ver.

— Venha correr comigo — disse ele, ofegante, ao se aproximar. Sua respiração formava nuvens claras. — Faltam quatro voltas.

Relutei por um instante e então comecei a correr ao seu lado. Era o único jeito de conseguir ter qualquer tipo de conversa com ele.

— Não estava esperando por você.

— Eu me cansei de ficar em casa. Pensei que talvez pudéssemos fazer alguma coisa.

Ele me olhou de soslaio. Seu rosto tinha uma leve camada de suor.

— Quanto antes você arrumar outro emprego, Jonas, melhor.

— Eu perdi meu emprego há apenas vinte e quatro horas. Será que eu posso me sentir um pouco infeliz e desanimado? Sabe, só por hoje?

— Você precisa ver o lado bom. Você sabia que não poderia ficar naquele emprego para sempre. Precisa seguir em frente.

Dois anos antes, Patrick tinha sido eleito o Jovem Empreendedor do Ano de Stortfold e ainda não tinha se recuperado bem da fama.

— Joh, perder o emprego pode mudar a vida de uma pessoa. — Ele deu uma olhada no relógio, conferindo o tempo que fizera naquela volta. — O que você quer fazer? Podia estudar. Tenho certeza de que o mercado valoriza gente como você.

— Gente como eu?

— Sim, que busca uma nova oportunidade. O que você quer ser? Poderia ser esteticista. É bonito o bastante.

Fez um sinal para mim enquanto corria, como se eu devesse agradecer o elogio.

— Você conhece minha rotina de beleza. Água, sabão.

Patrick começava a parecer exasperado.E eu, a ficar para trás. Detesto correr. E detestei-o por não ir mais devagar.

— Pense… lojista. Secretário. Corretor de imóveis. Sei lá… deve ter alguma coisa que você queira fazer.

Mas não tinha. Eu gostava de trabalhar no café. Gostava de saber tudo o que era possível saber a respeito do The Buttered Bun e de escutar sobre a vida das pessoas que frequentavam o lugar. Eu me sentia bem lá.

— Não pode ficar infeliz, querida. Você precisa superar isso. Todos os melhores empreendedores lutaram para se reerguer dos piores infortúnios. Jeffrey Archer fez isso. Richard Branson também. — Ele deu uma batidinha no meu braço, tentando me animar.

— Duvido que Jeffrey Archer algum dia tenha perdido seu emprego de esquentar bolinhos para o chá. — Perdi o fôlego. Desacelerei, baixei as mãos e as apoiei nos joelhos.

Ele se virou e voltou, a voz agitando o ar parado e frio.

— Mas se ele tivesse… estou só falando. Pense melhor, ponha uma roupa bonita e vá ao Centro de Trabalho. Ou posso treinar você para trabalhar comigo, se quiser. Você sabe que isso dá dinheiro. E não se preocupe com a viagem. Eu pago.

Sorri para ele.

Ele me jogou um beijo e sua voz ecoou pelo ginásio vazio.

— Você pode me pagar quando voltar a trabalhar.

* * *

Minha primeira tentativa foi na Agência de Empregos. Fiz uma entrevista individual que durou quarenta e cinco minutos e outra em grupo, na qual fiquei sentado com mais ou menos vinte pessoas, entre homens e mulheres, metade delas com a mesma expressão meio apalermada que eu também devia estar exibindo, a outra metade com a expressão vazia e desinteressada de quem já estivera ali diversas vezes. Eu vestia o que papai chamou de meus trajes “civis”.

Como resultado desses esforços, consegui um estágio noturno numa fábrica de processamento de frangos (o que me causou pesadelos por semanas) e dois dias de treinamento no Conselho de Energia Doméstica. Cheguei bem rápido à conclusão de que estava sendo orientada a convencer idosos a trocar de fornecedores de energia e disse ao meu “conselheiro” pessoal, Syed, que não conseguia fazer isso. Ele insistiu para que eu continuasse, então fiz uma lista com alguns métodos que eles me pediram para usar e, a essa altura, ele ficou meio calado e sugeriu que nós (tudo era sempre “nós”, embora fosse bastante óbvio que um de nós tinha emprego) tentássemos outro cargo.

Fiquei duas semanas numa rede de lanchonetes.

Agora eu estava sentado, esperando a quarta entrevista, enquanto Syed explorava o touch screen em busca de outras “oportunidades” de trabalho. Até ele, que tinha o jeito terrivelmente animado de quem conseguia empregos para os candidatos mais improváveis, estava começando a parecer um pouco preocupado.

— Hum… já pensou em trabalhar na indústria de entretenimento?

— Em que função? Assistente de mágico?

— Não. Por favor, diga que está brincando.

— Você disse que tem muita facilidade para lidar com pessoas. E parece gostar de… roupas… teatrais. — Ele lançou um olhar para minha camisa, que era verde e

Brilhante, por baixo da camiseta branca. Pensei que aquela camisa pudesse me animar.

Syed deu um tapinha em algo no teclado.

— O que acha de “supervisor de conversas telefônicas adultas”?

Olhei bem para ele.

Ele encolheu os ombros.

— Você disse que gostava de conversar com pessoas.

— Não. Também não quero ser massagista. Ou operador de webcam. Qual é, Syed. Deve ter alguma coisa que eu possa fazer sem necessariamente causar um ataque cardíaco no meu pai.

Ele pareceu intrigado.

— Não sobra muita coisa mais, a não ser vagas no comércio de varejo, com horário flexível.

— Arrumar prateleiras à noite? — Já estive aqui tantas vezes que sou capaz de falar a língua deles.

— Então, só nos resta o serviço de cuidador.

— Limpar traseiro de velho.

— Receio, Jonas, que você não tenha qualificação para muito mais que isso. Se quisesse aprender outra ocupação, eu teria prazer em lhe mostrar o caminho certo. Há vários cursos para adultos no centro de educação.

— Mas já falamos sobre isso, Syed. Se eu fizer o curso, perco o seguro-desemprego, certo?

— Se você não estiver disponível para trabalhar, sim.

Ficamos em silêncio por um instante. Olhei para as portas, onde estavam dois seguranças corpulentos e me perguntei se teriam arrumado o emprego pelo Centro de Trabalho.

— Não sou bom em lidar com idosos, Syed. Meu avô mora conosco desde que sofreu os derrames e não consigo lidar com ele.

— Ah. Então você tem alguma experiência como cuidador.

Depois de ficar conversando sobre essa vaga. E pensando em como eu estava com saudade do meu antigo emprego, das pessoas, Syed me interrompe dos meus pensamentos.

— Ah, isto aqui pode dar certo.

Tentei dar uma olhada na tela.

— Acabou de aparecer. Neste minuto. Uma oferta de emprego como cuidador

assistente.

— Eu lhe disse que não sou bom com…

— Não é com idosos. É uma… vaga confidencial. Para ajudar na casa de alguém, e o endereço fica a menos de três quilômetros de onde você mora. “Cuidados e companhia para deficiente físico.” Você sabe dirigir?

— Sei. Mas eu teria de limpar o…

— Não é necessário limpar traseiros, pelo que entendi. — Ele examinou a tela. —

Ele é… tetraplégico. Precisa de alguém de dia para ajudá-lo a se alimentar e para assisti-lo. Geralmente, nesse tipo de emprego é preciso acompanhar a pessoa quando ela quer ir a algum lugar, ajudar com coisas simples que ela não possa fazer. Ah. Paga muito bem. Muito mais do que o piso.

— Provavelmente porque deve envolver limpeza de traseiro.

— Vou ligar para confirmar isso. Se não precisar, você aceita fazer uma entrevista?

Ele perguntou como se houvesse dúvida. Mas nós dois já sabíamos a resposta.

Suspirei e peguei meu envelope, pronto para voltar para casa.

* * *

— Jesus Cristo — exclamou meu pai. — Dá para imaginar? Como se já não fosse castigo suficiente ficar numa cadeira de rodas enferrujada, você ainda tem como acompanhante o nosso Joh.

— Bernard! — minha mãe o repreendeu.

Atrás de mim, vovô ria com a caneca de chá encostada na boca.

* * *

Não sou burro. Quero já deixar isso fora de cogitação. Mas é difícil não se sentir um pouco deficiente no quesito “Células Cerebrais” quando se cresce com uma irmã mais jovem que não só passou para a minha turma na escola, mas que depois foi aprovada em uma série acima da minha.

Tudo o que é ajuizado ou inteligente Katrina foi a primeira a fazer, apesar de ser dezoito meses mais nova que eu. Cada livro que eu lia ela já tinha lido antes, tudo o que eu contava à mesa do jantar ela já sabia. É a única pessoa que conheço que gosta de fazer provas. Às vezes acho que me visto desse jeito porque a única coisa que Treena não consegue é combinar roupa. Ela é o tipo de garota que se veste de jeans e pulôver.

Sua ideia de elegância é usar uma calça passada a ferro.

Meu pai me chama de “figura” porque costumo falar a primeira coisa que me vem à cabeça. Ele diz que sou como a tia Lily, (minha Atitude) que eu nunca conheci.

Mas, exceto por um curto período durante minha adolescência, eu jamais quis ser como qualquer outro menino da escola. Até uns quatorze anos, eu preferia roupas que me agrada, conforme o humor do dia. Não há por que querer parecer convencional. Sou pequeno, de cabelos escuros e, segundo meu pai, tenho o rosto de um elfo. Não é a mesma coisa que ter uma “beleza élfica”. Não sou feio, mas acho que ninguém vai me chamar de bonito. Não tenho aquela coisa graciosa. Patrick diz que sou lindo quando quer transar, mas nem sempre ele é tão transparente assim. Nós nos conhecíamos há quase sete anos.

Eu tinha vinte e seis anos e não sabia muito bem quem era. Até perder o emprego, não tinha sequer pensado nisso. Achava que provavelmente iria me casar com Patrick, moraria a algumas ruas de onde sempre morei. Um garoto comum, levando uma vida comum. Para mim, estava ótimo desse jeito.

Bom pessoal, Próximo capitulo, vai ser a grande entrevista de Jonas.

E Não esqueçam de comentarem, isso incentiva muito.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive LeitordeContos™ a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários