Acordei com o despertador zunindo em meus ouvidos, eu realmente queria ficar deitado, mas tinha a escola, levantei e fui direto para o banheiro, me olhei no espelho e observei meu cabelo totalmente bagunçado, meus olhos estavam minúsculos. Entrei no banho e me vesti, passei perfume, e desci para tomar café.
Meus pais estavam se beijando romanticamente quando cheguei, e pararam na hora.
- Ih gente, eu não sou nenhuma criancinha não, até gosto de ver vocês se beijando.
- Aé é ? - disse mamãe ainda agarrada ao meu pai.
- Por incrível que pareça eu gosto de ver amor verdadeiro.
Eles se beijaram e sorriram.
Mamãe estava linda, seu cabelo preto lustroso estava solto e caía pelos ombros parando no busto. Eu gostava de ter a descendência indígena, os avós da minha mãe eram indígenas, e sua herança genética se refletiu em mim me dando cabelos negros, pele morena e olhos puxados. Papai estava radiante, seus olhos verdes como os meus brilhando, amava ter puxado isso dele, apesar que sua pele branca não foi algo que herdei, já que a minha era morena assim como da minha mãe. Tomamos o café da manhã e fui pra escola, só assim percebi que o céu estava cheio de nuvens, provavelmente ia chover. Enquanto eu e Bruh estávamos no carro da tia Lilian, vi o carro da vó de Alex na nossa frente, tia Lilian estava me chamando para eu vê-la mais frequentemente alegando saudade, sorri e ao sairmos do carro dei um beijo em seu rosto.
Vi Alex saindo do carro de sua avó e sorriu gentilmente.
- Bom dia.
- Bom dia. - respondi.
Então Alex começou a conversar comigo, contou sobre a mudança, alguma coisa o estava incomodando, ele mexia muito em sua nuca e franzia a testa. Eu estava começando a entender seu humor. A conversa foi se prolongando até o sinal da entrada bater e fomos pra sala, por incrível que pareça ele sentou do meu lado, e não ao lado da Bianca. E ah, Bianca não tinha ido à escola, isso fez da minha segunda feira a melhor segunda feira, a aula de matemática me irritou mas Alex explicou pacientemente o exercício até eu entender, foi meio difícil porque eu me concentrava mais em seus lábios.
- Louie cê é um burro hein. - ele disse rindo.
Soquei seu braço.
- Cala a boca, Schneider.
- Nossa que forte você cara - ele debochou.
- Olha só - protestei com um sorriso se formando em meus lábios.
Alex me olhou com os olhos sorridentes, rindo baixinho, me senti sem graça e provavelmente fiquei vermelho.
- Então, entendeu ?
- Aham - eu disse olhando o exercício.
- Que bom, a próxima aula é de história, é com você !
- Ah por favor, Iluminismo é algo tão legal de se explicar.
A aula de história começou com o professor contando piadas sobre absolutismo, Alex ria e eu observava seus dentes brancos.
Como prometido, eu expliquei a matéria pro Alex, o professor pediu para assimilarmos a herança do iluminismo com os dias de hoje.
- Ah que droga não tô entendendo porra nenhuma - Alex afundou na cadeira.
- Nossa Alex você é burro hein - sorri.
Ele me olhou e sentou direito.
- Aé ? É assim ? - ele deu um sorriso malicioso.
Seus olhos azuis encaravam os meus verdes e eu encarava cada vez mais e então Alex abaixou e
a cabeça e respirou fundo, se concentrando.
- Então, o iluminismo surgiu como um ato de libertação do absolutismo cruel - ele disse.
- Sim... - apoei os cotovelos na mesa e a cabeça nas mãos. - E o que temos de semelhante hoje em dia ? Não é isso o que fazemos ? Não lutamos pelos nossos direitos ? Não tentamos nos libertar do Absolutismo desse Estado. - falei com confiança.
- Puxa... - Alex me olhava admirado.
- Entendeu ? - sorri ironicamente.
- Aham, obrigado você é demais.
- Ah eu sei sempre me dizem isso.
Ele riu e me tacou folhas.
Depois da aula de história fomos para a cantina e comemos, eu comi um pastel e bebi uma coca e Alex comeu dois croissants e dois sucos de maracujá.
- Nossa Alex você é um poço sem fundo mesmo hein.
Ele riu e me mostrou seu o dedo do meio, segurei seu dedo e o torci de leve, Alex gritou e me olhou:
- Louie seu sádico !
O olhei com desdém quase sorrindo e ele me olhou com os olhos semi cerrados.
Depois de comermos, ficamos conversando sobre comida, Alex era taurino então já sabem né ??
- Tô com vontade de comer torma de limão - ele exclamou.
- Ah, eu sei fazer - sorri.
- Sério ? Quer ir lá pra casa hoje pra fazer ? - ele riu.
- Tenho que arrumar meu quarto. - fiz uma expressão azeda.
- Vai pra lá depois então, por favor estou precisando de torta de limão na minha vida.
- Vou pensar no seu caso, moço.
- Vai pensar nada você vai sim - ele riu e debruçou sobre a mesa olhando nos meus olhos.
Ia começar a protestar quando ouço a voz de Fred me chamando:
- Louie ! Posso falar com você ?
Ele se aproximou. Olhei para Alex.
- Vejo você na aula ok ?
Ele olhou pra Fred impaciente e depois pra mim, levantou e andou pesadamente. Fiquei sem entender.
- Ok Fred, pode falar.
- Aqui não, bora lá pro pátio.
Fomos e Fred me arrastou pra atrás de uma árvore e começou a falar.
- Poxa por que você se afastou de mim, Louie ?
- Não me afastei, eu só...
- Se afastou sim, o que foi ? Perdeu o interesse ?
- Fred...
- Poxa, eu gosto de você e eu pensei que...
- Pensou errado. Fred, eu não quero te iludir, eu estou completamente apaixonado por outro cara.
Ele me olhou nos olhos, e foi embora. Senti alguém tocando meu braço e vi Bruna atrás de mim, eu até agora não a tinha visto.
- Louie seu sumido, tava aonde ?
- Eu tava conversando com o Alex... - procurei Alex em meio aos outros alunos e o encontrei no meio dos seus amigos.
- Bom, acho que ele tá ocupado demais com aqueles amigos dele...
- É, cê tá certa - disse frio, enquanto eu sentia uma sensação de abandono...
Quando cheguei em casa tratei de arrumar meu quarto, depois de muito tempo arrumando ouço Alex me chamando.
" E a minha torta ??" - dizia o cartaz em sua mão.
Ri e peguei meu caderno e escrevi.
"Estou sem limões em casa"
Alex prontamente escreveu.
" Aqui tem tudo, vem fazer aqui"
Um frio desceu pela minha espinha, pensei e depois de muito pensar escrevi.
" Ok, só vou tomar um banho."
Ele se retirou e fui pro banheiro. Tomei um banho bem demorado, e ao sair passei hidratante, perfume, desodorante, mas sem exageros, é claro, só pra ficar cheiroso pra ele. Vesti uma blusa preta e uma bermuda bege. Desci e tranquei a casa, fui andando até a casa de Alex e toquei a campainha, ele me atendeu com uma camisa branca colada no corpo e um short preto... Sexy, de um modo desleixado, mas sexy.
Ele me olhou dos pés a cabeça e me deixou entrar. Sua casa era bem aconchegante, o tipo de casa que você gostaria de ficar o dia inteiro sem se cansar, tinha um clima ótimo, tons claros nas paredes e tons fortes na mobília.
Alex me encaminhou pra cozinha que também era bem legal e pedi pra ele pegar os ingredientes. Ele colocou todos em cima do balcão e me olhou.
- Agora é com você, chef.
Sorri.
- Vou te ensinar a fazer, comece triturando os biscoitos e coloca no liquidificador pra virar farinha - me debrucei sobre a bancada o olhando.
Ele fez o que eu pedi, e enquanto eu derretia a manteiga pra fazer a massa. Alex chegou prontamente com a farinha de biscoito e misturei a massa com habilidade, eu misturava calmamente. Pedi a forma com fundo removível e mandei Alex cobrir com a mistura, ele me surpreendeu cobrindo a forma com perfeição.
- Pronto, chef ! - ele riu.
- Agora vamos fazer o recheio.
- Sim senhor - ele disse com a voz carregada de sarcasmo, o olhei com um olhar mortífero só pra causar mesmo, coisa de escorpiano.
Pedi pra Alex misturar o suco do limão com o leite condensado e o creme de leite enquanto eu fazia o chantilly, mas Alex mexia rápido demais.
- Não Alex, assim não ! - tomei a colher de sua mão.
Mexi com delicadeza, jeito e prática, chegando a cremosidade perfeita, percebi o silêncio e levantei os olhos, Alex me observava de um jeito engraçado.
- Que foi ? - ri nasalmente.
- Dá pra ver a paixão com que você faz isso.
Corei.
A massa estava no forno, e o cheiro de biscoito preenchia o ar, depois de um tempinho a tirei e despejei o mousse de limão, e quando fui despejar o chantilly por cima:
- Louie, olha isso.
- O que ?? - virei o rosto e Alex sujou meu nariz com chantilly.
Ele riu. Eu o observei rindo, e joguei chantilly eu sua bochecha, Alex pegou uma quantidade significativa e despejou sobre o meu rosto, bati em seu peito e limpei o chantilly do meu rosto e joguei nele, que desviou.
- Aé ??? - Alex disse de forma meio doida, pegando mais chantilly.
- Não Alex, ó, para ! - disse enquanto colocava minhas mãos na frente como tentativa de me defender. Ele veio em minha direção, eu corri pro outro lado do balcão, Alex ameaçava passos e eu reagia, então ele veio muito rápido e eu corri para a sala, rindo igual um idiota. Alex me segurou por trás e caímos no tapete, Alex por cima de mim, vermelho de tanto rir, e eu rindo descontroladamente, os risos foram acabando aos poucos e seguiu-se um silêncio mortal, os olhos azuis de Alex me encarando, os meus verdes o desvendando.
- Bom, a torta...
- É, a torta - ele levantou e me deu a sua mão para eu me levantar também.
Voltamos pra cozinha e terminamos a torta, não sem antes Alex tirar uma foto pra postar no Instagram. Lavamos o rosto e comemos metade da torta e então Alex me chamou pra jogar video game.
- Não dá cara, tenho que fazer um monte de coisa ainda. - eu falei.
- Ah, beleza então, e valeu Louis, valeu mesmo ! - ele me observou, seus olhos me analisando.
- Bom, vou nessa.
- Te acompanho até a porta - disse ele me acompanhando até a mesma. - Tchau Louie, valeu mesmo.
- Que nada, sempre que eu puder te ensino umas receitas - sorri.
- Eu adoraria.
- Tchau tchau.
- Tchau - ele sorriu.
Voltei pra casa com um sorriso idiota e o rosto corado, já estava anoitecendo, a lua estava brilhante, entrei em casa e fiquei assistindo televisão, mamãe chegou, e depois papai. Jantamos, mas eu não me concentrava quase em nada, estava meio que brincando com o espaguete.
- Huuum, conheço esse olhar - mamãe disse.
- Que conhece o que mãe, sabe de nada - comi o resto do espaguete e subi pro meu quarto, botei Lana Del Rey pra tocar baixinho enquanto eu desenhava, depois escovei os dentes e dei boa noite aos meus pais, demorei novamente um tempão pra dormir, com um sorriso idiota no rosto, por fim, fechei os olhos e dormi.
Acordei com uma dor no corpo horrível, parecia que eu tinha sido atropelado por um trem. Depois de um tempo meu pai venho me ver.
- Louie, você vai se atrasar meu filho - disse ele sentando na minha cama.
- Pai... minha cabeça tá doendo muito...
- Muito mesmo ? - ele afagou meus cabelos.
- Acho que eu posso ir...
- Não filho, repousa, vou pegar um remedinho pra você. - ele desceu e depois voltou com um copo de água e um comprimido na mão.
- Aqui, toma isso.
Sentei e tomei o comprimido, deitei de novo.
- Je t'aime, reste. - ele beijou minha testa.
- Bon travail. - disse enquanto me cobria.
Dormi como um bebê, acordei por volta de 12:00 me sentindo livre da dor, levantei e tomei café mesmo estando em horário de almoço, fiquei vendo TV a tarde inteira e botei todas as minhas séries em dia, Bruna me ligou me perguntando porque faltei e disse o porquê, ela entendeu. O dia passou rápido e mamãe chegou cansada e fiz uma massagem em seus pés, a ajudei com o jantar, e quando papai chegou estávamos colocando a mesa.
- Ei filho, melhorou ? - ele beijou meus cabelos.
- Aham, pai. - disse o abraçando.
Jantamos e eles ficaram com a louça, subi pro meu quarto e coloquei Paramore pra tocar enquanto que eu meio que dançava.
- Não Bianca ! Caraca, para de graça, eu disse mas não foi por mal, ok ?? - Alex gritava ao telefone.
Eu o observei e abaixei o volume do som, peguei o caderno.
"Você tá bem ?" - dizia o meu.
"Cansado de drama" dizia o seu.
"Foi mal :(" escrevi.
Alex deu de ombros, significava o seu "ok né". Então ele levantou e fechou as cortinas. Suspirei, e aumentei o som e fiquei cantando, depois fiquei na internet e por fim fui dormir. Na quarta eu fui pra escola e Bianca não foi, isso me deixava feliz porque eu passava mais tempo com Alex. Depois da saída, ele me chamou para irmos ao Subway, e é claro que eu topei. Pedimos e sentamos pra comer.
- Nossa aquela professora de química é muito chata - ele disse.
- Você acha ela chata ? Pior são aqueles vestidos que ela usa, parece um bujão - comentei.
Alex riu alto.
- E o Daniel pagando de cult hoje ? - acrescento ele.
- Qual o seu maior medo ? - imitei a voz do Daniel.
- O meu é de errar comigo mesmo - Alex completou.
- Me segurei pra não falar "o meu é de olhar pra essa sua cara feia".
Alex riu jogando a cabeça pra trás igual uma criança, ele tinha lágrimas nos olhos de tanto rir. Ficamos conversando e quando terminamos de comer fomos embora, chegando ao seu portão eu parei subitamente e olhei em seus olhos.
- Alex... não podemos mais ser amigos.
- Que ? Por que ? - ele me olhou surpreso.
- Olha, eu...
- Louis, o que eu fiz ?? Me fala - ele estava mesmo preocupado.
- Olha, desculpa, você não fez nada o problema sou eu e... - eu saí correndo e entrei em casa, deixando Alex sem entender.
Eu estava cansado, cansado desse sentimento sufocante, eu não conseguia fingir, mas eu me esforçava, e eu estava cansado de ser um robô por isso. Então chorei, muito, eu estava me odiando. Depois de muito chorar veio aquele alívio, e então eu dormi.
O celular tocou irritantemente, e depois da 5ª chamada eu atendi.
- Fala - eu disse com minha frieza.
- Louie...olha, eu não tô entendendo... o que eu fiz ???
- Alex, precisamos conversar. - eu disse frio até demais.
Ele respirou fundo.
- Ok, eu vou aí, ou você vem aqui ?
- Vem aqui.
- Ok. - ele desligou o celular.
Troquei de roupa e vesti uma blusa sem mangas preta e um short azul, desci e atendi Alex na porta.
Ele estava vestindo uma blusa lilás e uma bermuda branca, ele me hipnotizava com sua beleza, mas logo me concentrei, sentei no sofá e ele também sentou, de frente pra mim.
- Vai, fala - ele disse nervoso.
- Alex... eu, eu não sei como dizer, mas desde que eu te vi pela primeira vez eu me atraí muito e depois de... eu conheci você e você é uma pessoa maravilhosa e eu... Eu sou completamente apaixonado por você.
Alex me olhou mudo.
- Olha, eu sei que você não corresponde porque você é hétero e...
Ele levantou, mudo. Seu silêncio me destruía por dentro.
- Louis...
- Olha, é por isso que preciso me afastar, porque debaixo desse escudo de frieza e sarcasmo existe uma alma que sofre a cada vez que eu te vejo com a Bian...
Alex se aproximou de mim muito rápido, e me beijou, seus lábios esmagaram os meus com a maior delicadeza possível.
- Cala a boca, você fala demais...
Ele me olhou sorrindo, seus olhos brilhando, eu tentava raciocinar mas deu um bug monstro no meu cérebro, então percebi que aquilo era real, ele me beijou mesmo... meus olhos foram dos seus olhos para sua boca e da sua boca pros seus olhos.
Ele me olhou, e então eu o beijei, minhas mãos em seu rosto, as suas em minha cintura, Alex tinha uma pegada incrível, muito melhor que a do sonho... Eu coloquei minha alma naquele beijo, eu me entreguei totalmente, dosando perfeitamente paixão, luxúria e carinho.
Alex parou o beijo com selinhos doces.
Ele me olhou nos olhos e exclamou:
- Uau... você é...
- Cala a boca e me beija - eu disse o provocando.
Alex me pegou no colo e me encostou na parede, minhas mãos alisaram seus braços e ele me beijou com uma sensualidade incrível, ele parou o de me beijar.
- Você não sabe o quanto eu esperei por isso. - ele disse me olhando nos olhos. Meu coração parecia a praia de Copacabana no ano novo, eu estava totalmente entregue à ele, bobinho... mal ele sabia o quanto EU esperei por aquilo.
Nos beijamos, nossas línguas se fundindo, nossas almas também
