Capitulo dezoito.
Voltei para casa me sentindo mal. Miguel havia me surpreendido de uma forma positiva, mas que afetaria tudo o que eu e Brenda havíamos planejado até então. "Você não pode desistir agora!". Pude ouvir a voz de Brenda em minha cabeça. E realmente não podia. Eu deveria me vingar de Enzo e precisava de Miguel para isso. Mas ainda assim aquela noite havia me afetado e muito.
...
O carro de Miguel parou em frente a faculdade e ele abriu a porta do carona.
— Entra ai — ele disse.
Obedeci e o encontrei sorrindo como se estivesse realizando um sonho de infância.
— Onde vamos? — indaguei tentando parecer animado como ele.
— Pensei de pegarmos um cinema e depois irmos comer alguma coisa — disse corando — O que acha?
— Prefeito — respondi.
Miguel deu partida no carro e durante todo o caminho até o shopping, nós conversávamos sobre a faculdade, contávamos um ao outro histórias engraçadas sobre nós. Eu ria de suas histórias. Mas a mais engraçada foi a do dia em que ele rolou escada abaixo na escola e todos riram dele. Miguel riu muito também quando lhe contei da vez em que achei que um garoto estava afim de mim por que não parava de me olha, mas só depois de um bom tempo descobri que eu estava com uma mancha de chocolate na cara causada pela cobertura do sorvete que tomei pouco antes.
O shopping era longe, mas aquela viagem pareceu durar apenas segundos. Miguel entrou no estacionamento e caçou uma vaga. Parou um pouco longe da entrada do shopping, mas era a única vaga disponível. Entramos no shopping e Miguel me conduziu até o cinema. Compramos ingressos para o filme Noé. Por alguns instantes eu realmente esqueci a vingança e da dor dentro de mim. De repente eu era apenas um garoto de dezessete anos tendo um encontro normal.
Sinceramente achei a reação das pessoas ao filme muito engraçada. O filme era bom, mas quase nada do que foi mostrado estava na bíblia.
Senti algo quente e macio sobre minha mão na cadeira do cinema e quando olhei era a mão de Miguel. Ele olhava para o filme fingindo não saber onde sua mão estava.
— Estou com frio — disse me aconchegando nele.
Miguel sorriu e me envolveu em seus braços sem soltar minha mão. Quase chorei com o que senti. Em toda a minha vida eu nunca me senti tão confortável como naquele momento. Me senti acalentado e aceito como se houvesse encontrado o lugar ao qual eu sempre pertencia. A dor e a tristeza dentro de mim haviam se tornado fantasmas assim como a felicidade um dia fora para mim. Nunca em toda minha vida havia me sentido tão bem.
"O filme acabou rápido demais". Pensei quando os créditos começaram a subir na tela e a luz foi acesa. Miguel olhou para mim sorrindo e involuntariamente retribui aquele sorriso.
— Gostou do filme? — ele me perguntou enquanto descíamos a escada de mãos dadas.
— Adorei — respondi embora da metade para o final eu fiquei apenas prestando atenção a cada movimento dele e a cada sentimento que isso me causava.
Ele sorriu e fomos até o Spoleto. Fizemos nossos pratos e nos sentamos em uma mesa meio escondida.
— Posso te contar uma coisa? — ele me perguntou ficando rubro como seu cabelo acobreado.
— Claro — respondi me assustando com a vontade que sentia de ouvir qualquer coisa que ele fosse me dizer.
— Eu sempre gostei de você — admitiu — Desde a primeira vez que te vi na sua casa quando fui lá com Enzo pela primeira vez. Continuei te amando mesmo depois de você ter tentado me matar. E continuo te amando até hoje. Nunca foi o Enzo — ele segurou minha mão por cima da mesa — Sempre foi você.
Não sabia o que dizer. Aquilo me pegou realmente desprevenido. Sempre pareceu que ele gostasse de Enzo, ou talvez meu ciúme me fizesse ver isso. Miguel tentou nos separar por que me amava e não por que queria Enzo só para ele. Na verdade ele queria a mim só para ele.
Não sei por que fiz isso. Talvez fosse a vingança que eu queria realizar contra Enzo, ou talvez o que Miguel me fez sentir esta noite. Mas eu disse:
— Também gosto de você — disse.
Miguel sorriu e me beijou. Um beijo cheio de amor e cheio de confiança. Não era mais aquele beijo assustado e patético que ele havia me dado na cozinha. Era um beijo decidido e cheio de paixão que incendiava meus lábios e queimava minha alma como fogo queima papel. Sentir ele ali junto a mim fazia meu coração despedaçado se curar e voltar a bater como antes.
Nunca um beijo havia sido capaz de me tirar da realidade e me levar para um lugar onde só o que importava era aquele momento, mas o beijo de Miguel fora capaz.
Terminamos nosso jantar e demos uma volta pelo shopping ainda conversando. Passamos por uma loja que vendia animais de pelúcia e Miguel me comprou um cão de pelúcia branco e peludo com uma coleira de coração escrito "Te amo!"
Fomos para o carro onde nos beijamos mais algumas vezes e depois Miguel me levou de volta para a faculdade, pois ainda não podíamos deixar que Enzo nos visse juntos.
...
— Não pode desistir de tudo agora — Brenda disse assim como eu havia previsto — Estamos na fase final do nosso plano de vingança.
— Eu não sei o que aconteceu ontem, mas foi algo especial — argumentei com ela — Não posso machucar o Miguel.
— Aquele idiota te causou três anos de sofrimento e você diz que não pode machuca-lo?
— O único que me fez sofrer foi Enzo e ele vai ter o que merece — disse.
Brenda estava quase surtando.
— Se seguir com nosso plano nada vai acontecer Miguel! Confie em mim. O único machucado nessa história será Enzo.
— Tem certeza? — indaguei.
— Absoluta. Depois você pode ficar com Miguel se quiser.
E de repente algo me veio a cabeça. Por que Brenda estava tão interessada em ver Enzo sofrer.
— Por que quer tanto que eu me vingue de Enzo?
— Eu tenho meus motivos.
E com isso a conversa foi encerradaQual inveja da luz que ilumina teus olhos suntuosos e sedutores que me chamam pelo mais suave toque da tua voz.
Que ciúme do som, que reproduz a docilidade sutil da sua meiga voz que geme e encanta aos meus ouvidos quando na cama
Que ganância de ser as águas do mar que lambem teu corpo com total cupidez e voracidade tal e qual fossem meus.
Que cupidez de ter-te somente e puramente meu ao chamar-te amor, responder.
Alexandre Sousa (editor do conto
Obrigado a todos por me acompanharem até aqui e espero que tenham gostado desse capítulo também.
Pelos comentários percebi que estão tristes e um tanto receosos quanto a tal vingança do Gabriel. Mas essa é uma parte do conto da qual eu já pensei bastante e aguardem.
Lembro de ter dito em um capitulo anterior que vocês ainda iriam ver quem era o verdadeiro Gabriel e agora estão começando a ver. Aquele garoto que conheceram nos primeiros capítulos era apenas como Enzo via o irmão. Logo no primeiro capitulo narrado por Gabriel eu recebi um comentário de gatinha-s2 dizendo que o Gabriel tinha um "jeitinho de bisca". E era realmente isso que eu queria mostrar. Gabriel é um garoto gentil e doce, mas também é vingativo. viram isso quando Enzo terminou com ele e estão vendo novamente. Ele é um menino bom, mas pode ser extremamente destrutivo quando confuso, com raiva e magoado.
Quanto a Brenda: Apenas aguardem.