Capítulo 3: Meninos, meninas, e um pouquinho de água.
A minha primeira semana no colégio/internato foi bem, digamos, proveitosa em todos os sentidos. As aulas de todas as matérias eram bem puxadas, os professores exigiam da gente o máximo. Sabia que naquele mesmo dia que eu dormir com Júnior, na minha primeira aula foi uma prova geral! De todas as matérias! Fiquei muito puto, como alguém estaria apto a realizar uma prova de cento de dez questões (e redação!) no primeiro dia de aula? Ninguém sem sã consciência estuda nas férias, a não ser aqueles esquisitões que estão a um passo da insanidade de tanto estudar, a não ser, ninguém pega nem um papel do caderno na falta de papel higiênico. Quase chorava de raiva quando eu constatei que 99,9% da prova eu não sabia responder, a única que eu tinha certeza que acertaria era aquela questão de duas partes que ficava bem no começo da prova, que eram: Nome (e tinha uma linha para eu assinar meu nome) e a Data (três linhas e duas barras para preencher com números, amo essa parte). Fiquei um pouquinho menos de raiva quando eu vi que todas as questões eram de múltipla escolha, sem eu fosse no “mamãe mandou” eu ainda poderia acertar algumas. Então eu fiz a minha prova toda com um sorriso satisfeito no rosto, estava consciente que não acertaria tudo, mas pelo menos a metade estava no papo. Fui o primeiro a entregar, caminhei todo orgulhoso até a mesa do professor, eu era um gênio! O professor, um cara que até tinha um certo charme, me falou com aquela voz característica de professor de ensino médio (enfadonha e que simplesmente da vontade de dormir) que entregaria a prova na outra semana.
E aqui estou eu, na mesma sala, na mesma cadeira e com a mesma cara. Rabiscava furiosamente coisas aleatórias que surgiam em minha mente. Quando a folha já estava cheia demais de palavras eu parei e fui lendo as palavras que eu tinha copiado. Algumas que me chamaram atenção pelo excesso de repetições foram: gorda, cintura, loiro, olhos e sala. Que? Olhei mais atentamente, o que será que eu queria escrever ali? Fiquei ali, pensando, e meu olhar divagava pela sala quando ficaram presos em uma pessoa. Uma garota, loira, um pouquinho acima do peso, olhos de um azul-esverdeado, uma cintura fina mesmo ela sendo gordinha e ela era da minha sala. Ela também estava rabiscando em um pedaço de papel e eu fiquei encarando-a, acho que ela percebeu que estava sendo observada, levantou a cabeça e vasculhou a sala atrás do seu fã, eu me permaneci do mesmo jeito e ela viu que eu era quem estava olhando para ela. Abri um sorriso e ela retribuiu. Quando o professor entrou na sala eu estava na cadeira ao seu lado conversando animadoramente com ela sobre tudo e mais um pouco. Ana era o seu nome, e o meu é Evan... opa! Esquece, vocês já sabem quem sou eu, as vezes eu perco o fio de pensamento e falo de outra coisa. Então Ana era engraçada, ela sabia fazer as pessoas rirem e rirem com vontade, eu fiquei com a barriga dolorida e os músculos do rosto tensos de tanto rir.
Ele, o professor, entregou as provas e adivinhe a minha surpresa quando eu descobri que não tinha acertado absolutamente nada. Fiquei estático... mas o que? Aquela prova não era minha! Não mesmo, perai deixa eu ver de quem é essa destruição imprimida. Fui vasculhando furiosamente com os olhos até achar aquela lacuna escrito “Nome” e vamos ver de quem é essa prova aqui, Evan Bloom Gaspar... Ahá! Quem é esse tal de Evan? Eu não conheço nenhum Evan! Ia me levantar quando Ana falou comigo.
— Quanto foi a sua nota, Evan? — Olhei para ela quase gritando para que ela me dissesse quem era esse tal de Evan... e eu arregalei os olhos em pavor! Evan sou eu! Deus! Como eu esqueci o meu próprio nome? Eu devo ter algum problema, um sério problema na cabeça. Olhei para o imenso zero grafado de vermelho no canto direito da prova e disse, baixinho, para Ana. — Não tem problema, eu também tirei essa nota.
E me mostrou seu zero, o zero dela parecia ser mais bonito que o meu zero. O dela parecia uma carinha o meu estava mais para um ovo, um ovo feio. Achei legal a minha mais nova amizade, eu não era exatamente burro, estava um nível acima do abestado e um abaixo do tapado, então eu ainda estava era no lucro. Enrolei aquela vergonha xerocada em um canudinho fino e guardei-a dentro de minha mochila. A aula até que foi legal, tentava prestar atenção na explicação do professor ao máximo, eu juro que tentava, mas qualquer coisa me distraia. O mais frequente causador de minhas distrações eram os brincos tintilantes e brilhosos de uma garota mais alta que eu, mais magra que eu e mais burra que eu sentada ao meu lado. Aqueles brincos deviam ser proibidos dentro de sala de aula, cada vez que uma nesga de luz fazia contato com aquele material dourado reflexos alongados batiam certinho em meus olhos. Então parei de tentar prestar atenção, parei de copiar do caderno de Ana e apoiei a cabeça no punho esquerdo. Olhava para a janela quando uma movimentação estranha chamou a minha atenção. Vários homens, que não se pareciam professores, funcionários ou adjuntos da escola estava ao redor da piscina. Bom essa piscina não era exatamente uma piscina, é um rio, aquele mesmo rio que eu cai no primeiro dia que pisei aqui. Júnior me contou, enfim, o rio foi represado, feito as bordas e depois passou a ser uma piscina de águas naturais. Até que era bem legal de se olhar, olhar apenas, eu ainda não tinha tido a oportunidade de nadar nele.
Os homens, cinco para ser mais exato, estavam fazendo alguma coisa nas margem da piscina, um movimento feito por um dos homens me fez perceber e chegar a conclusão que eles estavam fazendo ajustes ali, fiquei olhando, toda hora alguém daquele pequeno grupo olhava para trás, frente e lados. De repente um dos homens entra suavemente dentro da piscina e permanece lá dentro por alguns segundos, vinte e sete segundos depois (contados por mim) ele retorna a superfície. No meio tempo que ele estava submerso os outros do grupo começaram a guardar uma série de ferramentas dentro de uma bolsa preta. O mergulhador disse alguma coisa para os outros e depois saíram correndo para dentro da floresta. Achei a atitude muito estranha, mas o que eu poderia fazer eu também não era muito normal. E a aula continuava, continuava e continuava, três horários depois eu estava quase tendo um ataque fulminante causado pelo excesso de tédio em meu organismo.
O resto do dia foi um borrão para mim, um fato sobre essa escola. As matérias que deveriam ser difíceis, são absurdamente difíceis, as medias são difíceis e as que deveriam ser as fáceis não são. Vou dar um exemplo, Arte, uma matéria que na minha concepção só era para pintar e ficar desenhando círculos e linhas, mas não, a professora estava dando aula em nível de formação superior. Ela queria que nós ali já fossemos considerados Van Gohgs de espinhas e hormônios febris. Eu nem sabia desenhar um boneco de palito! Imagine me auto retratar em uma pintura, seria a treva.
— Ei, Ana! – Cutuquei minha mais nova amiga que estava com a cabeça apoiada no apoio de braço da cadeira, ela nem se mexeu, cutuquei novamente e dessa vez um pouquinho mais forte, ela começou a se mexer e olhou para mim com os olhos semicerrados de sono, perguntei antes que ela voltasse a dormir – Que horas bate esse horário?
— Doze e meia – Respondeu em meu a um bocejo, segurei a vontade de bocejar também e cutuquei-a novamente quando ela já ia colocando a cabeça no apoio – O que é?
— Que horas são agora? — Ela olhou no relógio antes de responder:
— Doze e quinze, ainda temos mais quarenta minutos de aula – E com essa frase encostou sua cabeça no apoio e por ali permaneceu.
Eu poderia ter tirado zero naquela prova mais eu sabia que não faltava isso tudo que ela disse. No máximo ainda temos vinte e cinco minutos de aula. Até que me saiu bem com matemática, não é mesmo gente? Finalmente a aula acabou, Ana e eu fomos os últimos a sair da sala por que ela não queria acordar. Cutuquei, estapeei, gritei e mesmo assim ela nem se moveu. A minha ultima alternativa foi dar um beijo na boca dela e ela acordou, assustada e me acusando de perversão, mas acordou. Em pé Ana era maior que eu, sinceramente eu nunca tinha visto uma pessoa que ao mesmo tempo que é gorda é alta. Para mim sempre foi uma coisa ou outra, sem meio termos ou adições. Mas como tudo tem a sua primeira vez, aqui e agora eu estou olhando para uma gordinha alta. Fomos para o refeitório e avistei meus irmãos de longe, eles rapidamente tinham feito amizade com os alunos mais influentes dali. Eu como era de praxe ficava a margem de tudo isso, dizem as lendas (ou as histórias que meu pai e minha mãe contam, tanto faz) que eu fui o primeiro a nascer, mesmo nos sendo quadrigêmeos e coisa e tal. Sendo assim se eu nasci primeiro eu deveria ser mais respeitado, mas eles me tratavam com se eu fosse o mais novo. Tirando o momento nostalgia familiar de cena eu peguei uma bandeja azul acinzentado e fui colocar o meu almoço.
Salada de verduras cozidas ao vapor, um pedaço de frango grelhado e um suco de laranja com hortelã depois eu estava satisfeito. Não sou de comer muito, e só um pouco já me enchia completamente.Ana quando viu que a quantidade de comida que estava no meu prato era aproximadamente um dezesseis avos da quantidade que tinha no seu, resolveu tirar algumas coisas. Eu como sou um cara que gosta de preservar amizades disse para ele colocar a quantidade para duas pessoas comerem, depois pisquei, achei que ela não tinha captado o aviso, mas o sorriso que se espalhou pelo seu rosto que confirmou o contrário. Ela acabou o que tinha no prato dela primeiro que eu, da pra acreditar? Estávamos conversando sobre as nossas antigas escolas quando sinto a sua presença: Júnior. Nem preciso olhar para saber que ele estava atrás de mim, meu corpo vibrava de desejo quando ficava muito próximo dele.
— Por isso que você não engorda – Sussurrou em meu ouvido, depois, atrevidamente, passou a ponta de sua língua por aquela sensível região – Conserve-se sempre assim, ainda não te fodi e quero ter a oportunidade de fazer isso com você gostosinho desse mesmo jeito de agora.
— Júnior! — O repreendi, Ana ficou com os olhos arregalados de espanto e choque depois que ouviu ele falar todas aquelas coisas, mas quem não ficaria? Eu ainda ficava com vergonha sempre que ele dizia que queria me comer por trás de forma bem bruta – Eu não estou sozinho na mesa, se você não percebeu.
— É claro que percebi – Respondeu, passou o braço pelo meu ombro e me puxou para mais perto do seu peito. Nessa uma semana que se passou Júnior e eu avançamos e muito na nossa doida relação. Ainda não tinha rolado sexo, não o convencional, que envolve penetração e tudo mais. Mas eu, já tinha dado duas ou três chupadas nele. É, eu definitivamente era um devasso – Mas eu aposto que ela não saiba que nós andamos nos agarrando por ai.
— Claro que eu sei – Ela respondeu toda entusiasmada, nem parecia que estava mortificada de vergonha segundos atrás. — Não se fala outra coisa na escola, além disso.
Eu também sabia. Na escola a predominância era de casais héteros, mas tinha uma quantidade bastante grande de casais homo, tanto homens como mulheres. Quando o boato de que eu ( ou “O novato”, “O quarto gêmeo”, “Aquele do cabelo vermelho”) e Júnior estávamos nos envolvendo, e não só de forma fraternal, todos ficaram sabendo. Parecia fogo em palha seca, menos de um dia depois toda a escola já sabia e menos de quarto horas depois de já terem uma confirmação do meu envolvimento com Júnior (ele fez questão de me beijar no meio do refertório para confirmar tudo) todos já estavam sabendo que marca de perfume eu usava e quantos pelos púbicos eu tinha (não estava brincando). Agora não era novidade para ninguém que ele e eu estávamos junto, mas ainda era o assunto mais comentando.
— Você viu a programação de hoje a tarde, Evan? — O meu (bom, ainda não sei que denominação usar com ele, então vou usar o mais comum) amigo disse. Ele ficava acariciando a minha mão e depois discretamente com um elefante rosa com pintinhas laranjas, ele colocou a minha mão sobre o seu pau duro, olhei para Ana e apenas movendo os lábios eu pedi desculpas, ela deu de ombros como resposta.
— Ainda não, vim direto da aula para cá. — Respondi, não podia disser que não estava contente que de certa forma ele assumiu um compromisso comigo. Acho que a única coisa que ainda me deixava com um pé atrás cerca o fato de transar com ele é justamente ele, toda noite eu passei a dormir no chalé dele e toda noite ele me pressionava. As vezes ele se saciava apenas com a masturbação, outras eu tive que usar a boca, ainda não me sentia pronto (ótimo, isso soou como uma garota virgem do século XX com medo da sua primeira vez), mas é por que Júnior entrou na minha vida tão abruptamente que eu nem tive tempo de me acostumar com a ideia – O que é que tem de bom?
— A melhor coisa possível – Era visível como ele estava animado, sua excitação (e dessa vez não era sexual) era quase palpável. Olhei para Ana e ela nada me respondeu, quando ia perguntar o motivo de toda aquela agitação ele falou primeiro – A piscina está liberada!
— Que bom – Até eu fiquei um pouco aminado com a ideia de nadar um pouco, mas eu queria mesmo era pegar um bronze, eu estava muito pálido. — Então foi por isso que eles estavam ao redor dela hoje mais cedo? Eles estavam verificando algo?
— Se alguém estava lá mais cedo eu não sei – Me deu um beijo estalado na bochecha e saiu do meu lado, levantou do banco compartilhado e continuou – Só sei que a piscina está livre. Tenho que ir, Evan. Vou te buscar as duas e meia para irmos para a piscina.
E saiu andando.
Ana e eu ainda ficamos por um tempo razoavelmente grande ali no refertório, eu ainda tinha que andar um bom pedaço até o meu chalé e essa ideia não me agradava muito. O chalé da Ana, assim como de todas as meninas era para a esquerda, os meninos eram na direita. O sistema de chalés era numerado com uma letra do alfabeta e um número de 1 a 31, seguindo os dias dos meses que tem trinta e um dias. Então eu era literalmente o último, meu chalé ficava cercado de árvores por todos os dias e até de dia ali era esquisito. A distancia de um chalé para o outro era cerca de 50 metros um do outro. Enquanto eu ia andando eu encontrava muita gente pelo caminho, o fluxo de pessoas era intenso e eu sabia o motivo que ficou confirmado quando eu vi vários garotos apenas de sunga e com toalhas penduradas nos ombros. Eu tinha que usar toda a minha força de vontade para não olhar para os garotos que vestiam unicamente sungas, agora eu era um cara comprometido e caras comprometidos não deviam olhar para outras pessoas com desejo.
Vi também aqueles garotos que eu sem querer vi transando, foi sem querer querendo. Eu perguntei para Júnior o que exatamente eles eram e obtive a resposta. Eles eram e ainda são namorados, James Linch e Lion Leveiros namoram desde o primeiro ano do ensino médio, é claro que eu escondi a parte que eu os vi transando. Eles andavam lado a lado, Lion parecia um cachorrinho feliz em ver seu dono, ficava pulando de um lado para outro e as vezes roubava uns beijos do outro cara. Mas não fiquei muito tempo encarando eles não, vai que um deles me reconhecesse e me fizesse passar vergonha aqui, não, era melhor não ariscar. Segui meu caminho um pouquinho mais rápido. Cheguei no meu chalé e quando cheguei no meu quarto tinha uma trilha de roupa pelos cômodos, estava bastante cansado, poderia dormir um pouquinho antes que Júnior aparecesse. E foi isso que eu fiz, dormir.
Não sei por quando tempo dormir, mas não foi Júnior que me acordou, não mesmo, eu que acordei. Olhei para o relógio que ficava no criado-mudo ao lado da minha cama e vi que já eram três horas. Estiquei meus membros duros e fui procurar um sunga. A maioria de minhas roupas são brancas e algumas sungas minhas também, eu não queria e nem poderia usar uma sunga branca, afinal eu estava muito pálido e sunga branca depois de molhada fica transparente, não colaria mesmo. Vasculhei mais um pouquinho até que achei uma sunga verde, essa teria que servir. Depois de vestido eu recolhi todas as peças de roupas largadas no chão, tranquei a porta e fiz o caminho inverso de mais cedo. Ainda conseguia ver uns retardatários andando mais a frente e por isso não fiquei com medo. Quando chequei a área da piscina me surpreendi, mesmo estando no período frio a maioria da escola estava ali. Era uma festa, literalmente falando, eu sabia que não era uma festa movida a álcool (a escola proibia terminantemente o álcool) os alunos estavam a base de suco de fruta e refrigerante. Mas o clima estava tão descontraído que eu nem estava ligando ou não se mais tarde aparecesse alguém de coma alcoólico. O som tocava alto e os gritos de felicidade juvenil mais altos ainda, avistei Ana de longe e me dirigi até ela, ainda não tinha visto Júnior.
Ficamos conversando, era bom conversar com ela, mesmo ela sendo um pouco, como posso dizer, lesada, ela sabia conversar. Quando enfim achei Júnior (tecnicamente foi ele quem me achou, então...) ele convidou Ana e eu para dar um mergulho. No começo eu não queria, mas ele insistiu tanto que eu acabei cedendo e Ana me acompanhou. A água não estava tão gelada, mas também não estava quente. Júnior me abraçou ali dentro, meus pés não tocavam no chão então entrelacei minhas pernas em sua cintura e meus braços em seu pescoço, suas mãos estavam dentro da minha sunga apertando a minha carne. Por incrível que pareça ficamos apenas conversando, a piscina estava fervilhando de gente e mesmo assim ele continuava me apalpando. Estava prestes a beijar ele quando tudo aconteceu.
A piscina explodiu, e eu não estou falando no sentido figurado da palavra, ela explodiu de verdade. Com a força da explosão a água junto com quem estava mais próximo ao ponto principal jorraram para todos os lados, vi pessoas caindo no chão a vários metros da piscina. Depois começaram os gritos, mas já era tarde, o estrago já tinha sido feito, várias pessoas tentaram sair da piscina, inclusive eu (que já tinha me desgrudado de Júnior) mas não adiantou de nada, a borda da piscina atingida pela explosão trincou e depois veio a baixo. Como eu já disse a piscina não era exatamente uma piscina e sim um rio represado, então logicamente todo rio tem seu curso natural. Mas ali já estava bastante modificado, aterraram demais a parte onde fizeram a piscina, destruíram o curso natural quando construíram as bordas e agora sem uma das bordas o rio seguiria seu curso, levando o que tivesse nele, que no casso era um bando de adolescentes estéricos.
Como o a piscina era mais elevada do que o rio natural quando a borda veio a baixo e a água começou a correr se formou uma cachoeira no final, a queda deveria ser de uns cinco ou seis metros. Ainda gritei para que Júnior me pegasse ele tinha conseguido subir, também vi Ana a salvo e correndo, mais atrás, estavam os meus irmãos. O grito que saiu da minha boca quando eu cai naquela cachoeira macabra não foi humano, era um grito cheio de medo e terror, do mais puro tipo. Em alguns segundos eu me senti livre, mais depois eu me lembrei que estava caindo e o terror me atacou com muito mais força. O impacto das minhas costas com o rio natural doeu demais, a água de repente ficou congelante, engoli muita água e comecei a me desesperar. Freneticamente eu comecei a bater meus pés e mãos via agitações do meu lado e mesmo sem eu pensar muito eu sabia que eram outras pessoas tentando se manter na superfície. Eu estava submerso e meu corpo estava clamando por oxigênio e foi isso que eu fiz, quando quebrei a barreira da água em vez de respirar eu inspirei e mais água entrou no meu corpo. Gritei mais uma vez.
O rio antes era raso, como eu já tinha constatado antes, naquela queda do primeiro dia. Mas agora estava mais profundo, com a força da água vários detritos se chocavam contra o meu corpo, galhos, pedra e outras coisas me feriam dolorosamente. Consegui manter a cabeça para fora da agua e via que algumas pessoas já tinham conseguido sair daquele inferno molhado e agora estavam nas margens do rio.
— Socorro! Algu... — Entrou mais água e eu comecei a tossi. Quando abri a minha boca novamente foi para gritar, alguma coisa tinha me ferido e mais profundamente dessa vez. Foi na minha perna, continuei gritando até quando outra golada de água me obrigou a parar. Eu estava perdido, morto, sem chances alguma de viver – Socorro!
O rugido da água era ensurdecedor, água batia no meu rosto e me impossibilitava de ver o que acontecia ao meu redor. O rio ia fazer uma curva e rapidamente eu tracei um plano, eu ficaria próximo a margem perto o suficiente para eu poder me segurar. Escutei um grito e virando para o meu lado direito eu vi uma garota que lutava bastante para ficar na superfície. Estava próximo, mais próximo, era agora, Evan! Vai! Comecei a chutar, mesmo com a minha perna avariada e toquei na margem enrolei a minha mão em uma raiz solta que felizmente ali se encontrava, me estiquei e foi por pouco que eu não consegui pegar a garota. Ela me abraçou e eu comecei a afundar, gritei e gritei. Já tinha lido uma reportagem que quando alguém está se afogando essa pessoa sempre busca o objeto mais próximo para se apoiar. A minha mão já estava doendo, a raiz estava cedendo e gritei com a garota. Precisávamos trabalhar juntos pedi para ela começar a bater as pernas com o máximo de força que ela tivesse e ela me obedeceu, juntos nós dois saímos daquele inferno aquático.
Estava respirando muito forte, meus pulmões estavam cheios d'água e eu estava agonizando. Não tinha ar suficiente. Me virei de lado, com forças retiradas não sei onde eu levei minha mão até a minha boca, depois enfiei o dedo na garganta, provocando o vômito. Água jorrou a vontade, meu estômago se contraia dolorosamente cada vez que aquela água suja era expelida do meu organismo. Ouvi que a garota também estava com dificuldades em respirar, eu estava tonto, fraco, extremamente dolorido e com uma perna agonizante. Mesmo assim eu me rastejei até ela e enfiei o dedo em sua garganta também, toda aquela água saiu de seus pulmões, depois eu fiz uma massagem torácica nela. Tinha me esquecido completamente de como era os primeiros socorros para uma vítima de afogamento, meus olhos estavam pesados eu a garota já estava dormindo, a única coisa que fiz foi me deitar na grama molhada ao lado dela e adormecer, mesmo sabendo se eu voltaria a acordar ou não.