Capítulo 5.
Satoru Sato passou a noite em claro, o sono não chegou mesmo depois de se deitar na relva, de um verde vivo. Era tão fofo aquele campo que passou a manhã toda olhando o sol mudar de lugar e as nuvens fazerem desenhos abstratos. Logo se esqueceu de todo o resto. Jun'Ichi chegou tão calmamente, mas mesmo assim os ouvidos de Satoru o perceberam quando ele saiu da floresta e entrou no descampado.
Satoru vestia uma camiseta de manga comprida, cor roxa, nos braços o tom de roxo era mais forte. Usava um short de um tecido parecido com algodão, cor marrom que ia até os joelhos, fazia um laço na cintura, onde ele amarrara para não cair. Jun'Ichi por sua vez, estava com uma blusa azul escura, quase roxo, e por baixo uma camisa branca com desenhos azuis. Usava uma calça cor preta.
Os olhos verdes escuro brilharam com a imagem do amigo postado na relva. De repente se lembro de que ainda estava com a mochila do colégio a deixou cair sem ousar para os passos. Pouco a pouco ele chegou perto de Satoru.
— Jun — disse o garoto de cabelos castanhos. O vento e o mau jeito fizeram de seu penteado um alvoroço. — Meu pai lhe mandou? — quis saber Sato, sua voz mostrava certa tristeza. Não havia um motivo específico para se estar triste, ele simplesmente estava desgostoso essa manhã.
— Sim — respondeu Jun'Ichi, depois se sentou ao lado do corpo branco. — Eu sei de tudo. Quer dizer, ninguém me contou, mas há livros na minha casa que contam a história do seu povo. Eu sei que seu pai é um Nefilim e que você é um anjo. Sei também da guerra que teve há mais de mil anos e vou guardar segredo sobre a identidade de vocês, assim como meu pai, o Oyabun do clã Juti, guardou até hoje.
— Não tem medo do que podemos fazer e do somos? — perguntou Satoru olhando o céu.
— Não! — a resposta foi rápida e com muita convicção. Sem hesitar nenhum segundo Jun'Ichi mostrou estar confiante de si.
— Lembra-se da promessa que fiz, ontem? — Satoru se referia à promessa de não deixar ninguém ferir o amigo e... mas em especifico, se referia à promessa de que ele mesmo não faria nada contra o amigo.
Jun'Ichi disse “sim” com a cabeça, Satoru continuou...
— Temo que agora eu não possa mais cumprir com minha palavra. Ontem quando me viu na calada da noite, eu estava deixando de ser um Nefilim, ou seja, todo o lado racional que eu tinha se foi como a primavera. Agora só a um demônio — um anjo — egoísta dentro de mim. E ele é tão egoísta que: eu já deveria estar longe para lhe proteger, mas ao invés disso estou aqui tentando me convencer de que ainda podemos ficar juntos.
— Satoru, você sempre me achou fraco. E vendo por esse novo lado eu sou mesmo fraco e não tenho asas, nem uma grande força. Mas se está pensando que vai sumir e me deixar, está completamente enganado. Se for embora do vilarejo, eu irei atrás de você e mesmo, tenho certeza, que não lhe encontre, vou continuar procurando por você em todos os lugares. Nunca deixarei de lhe procurar — disse Jun'Ichi rápido de mais. Seus olhos se encheram de lágrimas, ele se segurou para conte-las.
— Eu sei disso — falou Satoru mais calmo. Sua voz deixava Jun'Ichi um pouco mais tranquilo. — E é justamente por isso que não vou sair do vilarejo, vou ficar com você... Mas me pergunto uma coisa. Por quê? Por que iria atrás de mim e colocaria sua vida em risco?
— Por quê?... Eu te amo — era a primeira vez que Jun'Ichi disse isso em voz alta. Agora era tarde de mais para voltar atrás. Satoru o fitou sem dizer nada. — Eu vou aonde você for. Afinal o amor não é isso? Ir com a pessoa onde ela for? Já dizia um antigo poeta “aquele que ama fica cego”. E eu estou cego de amor por você Satoru.
Um silêncio veio com uma nuvem que cobriu o descampado. Os dois estudaram a expressão um do outro.
— Azami, nós deveríamos voltar — implorou Nana mais uma vez.
Há mais de uma hora as três amigas estão andando atrás de Jun'Ichi. Agora que sabiam que ele estava na beira do rio depois da floresta, Azami apertou o passo para chegar lá o mais depressa possível.
— Cale-se, sua fraca! — repeliu Azami com uma voz severa. — Vai ajudar ou atrapalhar? Se continuar com a conversa fiada, lhe jogo nessa poça de lama e não nos atrapalhara.
Com isso Nana não disse mais nada. Sayuri nunca foi de falar, era perfeita para estar ao lado de Azami, uma vez que a ruiva gostava de falar e não de ouvir.
Quando chegaram à beira do descampado, Azami fez com que as duas se escondesse do outro lado do rio. Depois, sozinha, subiu a colina. Estava ofegante, quando se encolheu atrás de um troco de árvore podre.
Ela viu a seguinte cena: Satoru se levantou como se fosse embora. Jun'Ichi não deixou, gritou algumas coisas e puxou o amigo pelo braço. Depois de alguns segundos Satoru bateu com a mão sobre o peito magro de Jun'Ichi. Com o impacto ele caiu e Satoru se deitou por cima dele. Jun'Ichi tentou dizer algo, naturalmente. Mas o dedo de Satoru cobriu sua boca e lhe impediu qualquer tentativa de conversar. Depois alinhou a mão sobre as duas mãos de Jun'Ichi, jogadas na relva. Seguraram com força um na mão do outro. O rosto de Satoru roçou o de Jun'Ichi levemente, o hálito quente de Jun'Ichi bateu sobre suas bochechas. Ambos ofegaram por alguns segundos (que para eles, só para eles, foram milhares de anos), depois um colocou a língua na boca do outro. Fizeram um bailado apaixonado com as línguas. As mãos andaram pela relva, a blusa de Jun'Ichi se abriu. Satoru mergulhou sua cabeça sobre o peito nu, depois voltou a beijar os lábios pequenos de Jun'Ichi.
Azami não acreditou no que estava acontecendo. O mais sensato que achou a fazer, era ter uma prova do que vira. Para acreditaram nela, quando dissesse que o grande Satoru Sato, futuro Oyabun do clã Fujiwara, filho do homem mais poderoso do norte, estava beijando outro garoto.
Nas mãos de Masao aquela foto poderia significar a divisão do clã Fujiwara. E todo mundo conhece o velho ditado popular que a civilização antiga costumava usar. Era ele “dividir para conquistar”. Uma vez que o clã Fujiwara estivesse em confronto com seus membros, seria fácil se tornar Oyabun pela força.
— Ele é meu — disse Azami sentindo imensa e eterna raiva de Satoru. Ela pegou uma coisa transparente da bolsa que estava no ombro. Era do tamanho de um celular, mas só que não era feito de metal nem de qualquer outro matéria da civilização antiga, era feito de um material transparente e leve como uma pena. Ela deslizou o dedo sobre o ateki e o virou para os dois garotos que ainda se beijavam. Sem hesitar tirou várias fotos. Depois correu para o outro lado do rio. Sem dizer nada as amigas, elas foram embora.
O beijo ainda continuava. Satoru mordia o queixo de Jun'Ichi quando algo aconteceu.
Com um som suave, toda a luz do sol se foi de repente. Levou algum tempo para perceberem que as asas — brancas e suaves — de Satoru haviam saído. Ele não tinha controle sobre as novas asas. Então não poderia fazê-las sumirem como teria feito.
Trinta segundos depois, o corpo magro de Jun'Ichi se levantou, as asas formaram um casulo, com Satoru e Jun'Ichi do lado de dentro. Ficou escuro, é claro, mas não deixaram de se beijar.
Quando elas se abriram Jun caiu nos braços de Satoru.
— Agora que sei seu segredo, nunca mais vou deixar você — o rosto de Satoru ficou vermelho e ele tentou não deixar lágrimas se formarem em seus olhos. Depois de ter o controle das emoções, acariciou o rosto de Jun'Ichi. Não o beijou. Apenas fez carinho.
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Redenção do amor... http://www.casadoscontos.com.br/texto/