Viçosa

Um conto erótico de Matheus Azevedo
Categoria: Homossexual
Contém 631 palavras
Data: 23/06/2014 00:23:36

Sem pai para me guiar, sem mãe para se importar, tenho que suportar minhas dores sozinho. Nem um irmão para me ajudar a dividir este fardo que tenho de carregar sozinho.

Não fui sempre bem-sucedido em minha vida. Cresci pobre, no interior de Minas Gerais, com uma mãe coreógrafa e um pai vendedor de materiais de construção.

Eu vim, em suma, de uma família disfuncional... para usar o jargão tão em voga hoje em dia. (Às vezes me pergunto se existe algum outro tipo de família. Seguramente ninguém que eu conheça vem de uma família funcional, seja qual for essa anomalia.)

Meu pai nasceu nos anos 50, filho de uma rica e tradicional família de fazendeiros. Estudava em um aristocrático colégio católico nos anos 60 quando o pai, devido a maus negócios, perdeu todo o patrimônio da família. Teve de trabalhar duro nos anos 70 para ajudar a sustentar a mãe e as irmãs, enquanto o pai dava o fora com uma mulher 30 anos mais nova. Ele se casou com a minha mãe, uma jovem bailarina vinda da capital para abrir uma escola de dança, cujos pais tinham sido os primeiros da pequena cidade deles a se divorciar.

Da mesma forma, o casamento dos meus pais não funcionou melhor do que a maioria dos casamentos. Era remendado com a cola dúbia do trabalho, da religião e dos filhos. Eu sou o mais velho de três irmãos, nasci quando meu pai estava com 23 anos e minha mãe 24.

Ah, sei que meus pais se adoravam, mas isso não fazia com que soubessem se amar, automaticamente, de uma maneira sadia. Absorvidos no drama de seu próprio casamento tempestuoso, eles se separaram quando eu ainda era criança.

Desde os quatro anos eu já projetava. Quase não me lembro de uma época em que não projetasse. Eu sempre fazia parecido... como dizia o meu pai. E desde o começo eu estava sempre montando cidades de blocos, casas de Lego, desenhando projetos em cadernos.

Quando fui fazer o teste para o Coluni - Colégio de Aplicação (colégio universitário da Universidade Federal de Viçosa), aos 14 anos, já era um aluno melhor do que a maioria dos professores, e eles sabiam disso. Soltavam as maiores exclamações diante dos meus trabalhos. Frequentei o Coluni nos bons tempos míticos, quando meus colegas eram futuros grandes arquitetos, escritores e atores. Eu não era especialmente feliz ali... mas quem é feliz aos 15 anos?

O Coluni ficava no alto de um morro, na beira de uma mata, afastado da cidade de Viçosa, e eu tomava o ônibus pontilhado de exibicionistas desde o Centro para chegar lá. A escola ficava nas imediações da Universidade, que era envolta numa névoa aconchegante de maconha e rock.

No Coluni aprendi quatro coisas: que você nunca sabe tudo o que há para se saber sobre o sexo e relacionamentos, que cada um de nós tem a sua própria chave secreta para o coração da escuridão, que a Terra da Foda era cara, mas valia o preço, que um gay era sempre um pária e um rebelde na sociedade burguesa... independentemente do que se dissesse.

No Coluni eu me vestia todo de preto (das meias ao gorro), fumava, e tinha um namorado alto chamado Marcos... um tocador de piano que me ensinou tudo sobre música e sexo, para horror de meus pais. Cortei o cabelo num topete lustroso à la James Dean (um de meus primeiros ídolos). O cabelo era de um ruivo, mas o estilo era pura década de 50. Eu era o garoto de Viçosa, frequentador dos bares da cidade, indo para a casa uma, duas vezes por mês, e locomovendo-me entre a casa da minha mãe e a do meu pai, que morava em cima da loja dele.

Esperem só... vai ficar melhor.

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Comentários

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Menino, saudades dos seus contos de estrofes alucinógenas, que para entender complementarmente ou parcialmente é preciso estar em estado alucinógeno kkkkkk. E aê está com o Rodrigo ou estava narrando no passado? Abraços!

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Por curiosidade, a historia se passa em que época mais ou menos?

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Por saber que você estudou no Coluni, e este colégio é para poucos. Sei que vem coisa boa por aí!!!

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