Quando cheguei à adolescência, havia muito tempo que os meus pais estavam separados. Meu pai tinha uma nova mulher, que morava com ele em cima da loja e tentava em vão me conquistar com afeto pseudo-maternal. Mas eu era intransigente, e devo tê-la feito cortar um dobrado... do mesmo modo como fazia com a minha mãe. Por mais que eu tivesse desentendimentos com a minha mãe, eu era ferozmente leal a ela quando estava com meu pai e sua nova mulher.
Taciturno, calado, todo vestido de preto, acompanhado com um namorado... eu era o adolescente dos pesadelos de todo pai e mãe. Descia a rua numa nuvem de fumaça, com um exemplar de O Ser e O Nada, de Jean-Paul Sartre sob o braço que não estava envolvendo Marcos, enquanto ele, por sua vez, carregava o seu teclado e canivete. Marcos media 1,90 (sempre gostei de homens altos) e eu media então, na época, apenas 1,63.
Meu pau era grande, minha bunda era grande e minha cintura fininha. Considerado sensual de um jeito meio moleque, nunca achei realmente que fosse bonito, mas os garotos eram atraídos por mim aos montes porque, aparentemente, eu tinha aquele algo mais. O cheiro de sexo é um afrodisíaco poderoso, e algumas pessoas o têm, enquanto outras (até muito bonitas) enfaticamente não o possuem.
Tem menos a ver com a beleza do que com o cheiro, pois os humanos estão mais perto do mundo dos insetos e dos invertebrados do que a sua arrogância lhes permite saber. Com toda aquela atração sobre o sexo desde a minha adolescência, eu estava em geral mais preocupado em me proteger dos homens do que em conquistá-los.
Afastava os bons rapazes e moças com o meu sarcasmo cortante e meu talento prodigioso - e me voltava, em vez disso, para os rebeldes, para os párias e os gays. Eu não sofria de inveja do pênis, eu tinha um pênis.
Minhas primeiras experiências com garotos tinham sido com o enteado da minha tia. Por sermos muito amigos, era comum eu dormir na casa dele. Ele era dois anos mais velho, mais alto, mais forte e muito atraente. Era uma noite de abril, quando ele me chamou no meio da madrugada. E quando eu me virei, ele sorriu para mim. Como eu podia dizer não?
E então começou a diversão e os sonhos que eu sempre tinha tido. E nós dois, tão próximos, tão amigos, começamos a descobrir um novo tipo de intimidade e cumplicidade. Nos tocávamos, sentíamos nossos corpos crescendo, se transformando, e com isso um novo misto de emoções até então desconhecidas.
O primeiro beijo me varreu por dentro. Sentir o toque dos seus lábios, da sua língua, dos seus dentes, do corpo dele se pressionando contra o meu, foi indescritível. E embora eu apenas gemesse baixinho, era como se estivesse gritando por dentro.
Naqueles dias eu era como um marinheiro viajando nos ventos de novos oceanos, tocando os sonhos que sempre tinham se escondido dentro de mim, mas que agora podiam ser vistos. Dormia abraçado com aquele adolescente forte, grande, bonito, protegendo o seu amigo menor, mais novo, frágil em seus braços.
Não havia compromissos, e logo as correntes da vergonha e da timidez caíram em pedaços no chão. Ele ficava sozinho em casa todas as tardes e eu sempre dava um jeito de ir para lá. Quando nos encontrávamos era como um estrondo, ríamos, dançávamos, brigávamos.
Cada vez mais desinibido, ele já passava a me receber apenas de cueca. E entre nossos amassos e agarros no sofá, no chão, na parede, eu logo a puxava, revelando aquele membro que para mim era gigante, sempre apontando para cima, me chamando a atenção. E então eu ia descendo, meu coração batendo tão rapidamente, pelo seu peito, pela sua barriga, seu abdômen, aquela estrada sinuosa que se esfacelava em um mastro orgulhoso e um saco grande e pesado.
Os dias se passaram e meu amigo e eu chegamos ao nosso último verão, hoje tão longe e distante, nosso tempo mútuo de crescer. Naquele eterno brilho da nossa amizade, tentávamos, com nossos beijos e abraços, aliviar nossas almas e acalmar a nossa dor. Dormíamos nos braços um do outro, apenas buscando coragem e amparo para acordarmos de novo.
Descansando nos fortes braços do meu amigo, que me segurava tão forte, eu divagava sobre o caminho que nossas vidas iriam nos levar. Mas, no fundo, eu já o sabia...
Quando minha tia se separou do pai dele, passamos a nos ver cada vez menos. Então ele acabou indo morar com a mãe dele em outro Estado e eu mudando de cidade, indo para Viçosa, estudar em um colégio novo, e assim nos distanciamos.
Faz anos que não nos vemos e nunca mais aconteceu mais nada entre nós. Hoje ele é engenheiro, morou algum tempo fora, tem uma namorada. Não sei se pra ele foi só uma fase, quando se é adolescente tem dessas coisas. Mas não deixo de me lembrar daquela época com uma certa nostalgia.
De qualquer forma, aquilo apenas estava me preparando para o que viria...