Só faltavam três dias para o grande momento. Rafael se sentia tonto, fraco e com mais frio do que os outros convidados do coquetel de seu pai, que acontecia em um espaço de festa localizado no terraço de um suntuoso prédio em Higienópolis, bairro nobre da grande São Paulo, em uma gelada tarde de Julho. A duas semanas o garoto já não se alimentava mais adequadamente, treinava intensamente na academia, e praticamente mantinha as energias do seu corpo a partir de suplementos e comprimidos. Quando sentia fome, o pó o ajudava a espanta-la. Mas da li a pouco tempo ele seria o terceiro a entrar na passarela do desfile de uma grande grife de moda praia, usando apenas uma pequena e justa sunga e sandálias de palha. Rafael não era modelo, mas com apenas 19 anos o jovem descendente de uma familia aristocrática paulista, dono de um corpo esculpido pela malhação praticada desde os 15 anos, era não só um cliente fiel e em potencial da marca, mas um dos it boys mais conhecidos da capital paulistana. Sem dúvida alguma, para ele, era indispensável estar com o corpo perfeito. Era gay, estudante de Administração da Fundação Armando Alvares Penteado, branco, cabelos pretos, olhos castanho claro, 1.72, um rosto que revelava uma beleza infantil. Mas uma áurea misteriosa pairava em torno de todo ele, seu olhar era vazio, e sua expressão era, geralmente de insatisfação, ou de falta de alegria.
O garoto se esforçava para conseguir cumprimentar e ser ao menos educado com os convidados do pai. Mas seu celular vibrava de forma voraz no bolso de sua calça skinny preta Burberry, que quase lhe tirava o ar. Minutos antes ele havia cumprimentado e conversado brevemente com seu ex namorado Leonardo, agora era seu amigo, que tinha comparecido acompanhado de seus pais, sócios do pai de Rafael. Provavelmente Bernardo, seu atual namorado, devia estar o atormentado com mais uma de suas crises de ciúmes. Rafael, já ultrapassando os limites da impaciência, pegou o celular e leu oque havia recebido. Primeiro haviam ofensas, pedidos de respeito e depois suplicas pra ser respondido. Por fim havia uma ordem: " te dou 5 minutos para estar no corredor externo, próximo ao elevador."
Rafael se apressou, ultimamente Bernardo lhe assustava, o intimidava, o excesso de droga e seu temperamento explosivo não eram uma boa combinação. Ao cruzar a porta que isolava o espaço de festa e o corredor de saída sentiu a mão do garoto de 21 anos segurar o seu braço com violência e empurra-lo na parede. Bernardo tinha 1.81 de altura, era mais forte, pele bronzeada, corpo definido e olhos pretos penetrantes, um rosto bonito e másculo, traços de macho misturado com o ar juvenil de sua idade. Um convencido. Mal educado, bruto. Dono de uma pegada violenta, na cama o maior safado, encantador e fofo quando precisava ser. Possuía características que tornava a sua personalidade um paradoxo.
- EU JÁ FALEI QUE NÃO TE QUERO DE CONVERSINHA COM AQUELE CARA! QUANTAS VEZES EU VOU TER QUE TE FALAR! - Bernardo falava aos berros, enquanto sacudia seu namorado pelo braço sem medo de ser flagrado por alguem. Bernardo continuava a gritar e a insultar o garoto a sua frente, que visivelmente não tinha condições de se defender dele. Rafael apenas pedia calma, enquanto sentia sua pernas fraquejarem e sua visão ficar embaçada.
- Bernardo, por fa... - e der repente ele não conseguiu mais enxergar nada. Desfaleceu, como que por um segundo.
Quando acordou não era nos braços de Bernardo que ele estava. Ainda no chão sua cabeça estava pousada nas pernas de um rapaz forte, de cabelos castanhos claro, bem penteados, olhos claro, pele branca e vestido igualmente aos garçons da festa. Ele era lindo. Rafael tentou se levantar e caiu para trás, se sentindo tonto novamente.
- Vamos com calma... Você parece fraco, está pálido. - disse o rapaz desconhecido o examinando com os olhos.
- Quem e você?