Capítulo 16: Segure-se em mim, tem um turbilhão de problemas se aproximando.
Depois que eu descobri que o meu Marvo não estava bem, eu fiquei mais dedicado nas minhas aulas de como se tornar um espião melhor. Eu treinava com Lion e Lago, mas as vezes eu nem ficava até o final, a atração que aqueles dois era tão forte que chegava a me incomodar. Não nasci para ficar como a terceira pessoa, nunca fui a terceira, sempre fui a quarta. Era o quarto gêmeo e como eu sentia a falta de Marvo, chegava a ser fisicamente doloroso, minhas mãos não paravam quietas, eu me via a todo momento, tocando em meu rosto, alisando os meus braços, meu quadril e minha cintura. Eu tentava me fazer parar, até porque o meu rosto não era o rosto marcante de Marvo, os meus braços eram finos demais para ser os dele, minha cintura era fina demais e meu quadril, muito estreito. Eu precisava dele, dos seus abraços apertados que, as vezes, me deixavam sem folego e com as costelas doloridas. Minha boca, ficava seca e, por mais que eu bebesse água, ainda ficava com a sensação de secura. Estava tão cansado de ficar chorando escondido, meus olhos ficavam permanentemente secos depois de um tempo, agora eu chorava abertamente, para quem quisesse ver. Buscava em todos os caras ali um mínimo detalhe sequer que me relembrasse Marvo. Mas não tinha achado nada. Chaves se mostrava surda aos meus apelos para ver Marvo, ela não deixava entrar na barraca onde ele estava enfermo. Eu tinha certeza que ela estava fugindo de mim, uma vez eu corri atrás dela por quase toda a extensão do acampamento. Também já tentei entrar, furtivamente na barraca de tecido verde grosseiro, mas só consegui olhar de esguelha o meu Marvo com uma fina camada se suor no rosto, seu rosto tingindo de um verde doentio, que só de olhar me deixou nauseado. Tentei entrar mais profundamente para ver melhor o meu supersoldado, mas, mesmo a minha disposição ferrenha para vê-lo não foi pário para os braços de ferro que me impediram de entrar. Nessa noite eu dormir sobre efeito de calmantes, aplicado com uma seringa.
Andava como uma alma sem descanso naquele acampamento. Já não ia nas aulas fazia quase uma semana, uma vez, quando fui buscar roupas em meu chalé, eu escutei uma conversa gritada de meus irmãos. Tinha acabado de sair do chalé quando eles apareceram em ali. Quase respondi aos gritos que eles estavam fazendo, mas não consegui, não por que quisesse, eu queria muito falar com eles mais uma vez. Lago pressionou uma de suas poderosas mãos em meu rosto, cobrindo minha boca, meu nariz e metade de meus olhos. Não aguentaria mais aquilo, estava quase pirando, Lion já não tentava mais ficar perto de mim. Queria Marvo tão fortemente que eu ficava sem folego, sem coordenação motora e sem vontade de fazer qualquer outra coisa. Como eles não me deixavam ver Marvo eu exigi que eles me ensinassem a atirar com uma arma de verdade, uma arma de dardos tranquilizantes não ia ajudar em nada para quando a equipe maligna que nos rodeavam, nos atacarem. Faltava apenas um dia, da semana que Júnior me deu, faltava um dia para que ele cumprisse a promessa que me fez. Ele iria me matar! Mas eu não ficaria parado, na frente dele, com um alvo pintado em minha testa, esperando que ele me mate. Não mesmo, não era uma pessoa valente, mas ele me ameaçou e ninguém me ameaça! Meus irmãos são a prova disso, podia ser o menor e mais fraco dos gêmeos, mas nunca me deixei levar por tamanhos de braços.
Ao menos isso eles concordaram em fazer, foi Lago a pessoa designada a me ensinar, Lion também queria. As nossas aulas começavam meio dia, com o sol a pino, queimando minha pele de maneira causticante, e íamos até quase dez horas da noite. Nos primeiros dois dias minhas mãos estavam tão doloridas, inchadas e cheias de bolhas que pegar um simples copo era tarefa impossível. Mas não desisti, a coice dado por uma arma de verdade era tão intenso e dolorido que nos primeiros três tiros que eu dei, cai sentado no chão. Estávamos treinando há seis dias e eu não me sai tão ruim, tinha uma mira boa com a arma de tranquilizantes, com a arma de verdade o que eu tinha que fazer era ter mais força na pegada, no pulso e não deixar meu braço se mover. Quando acabávamos eu saia o mais rápido possível da clareia de tiros, por que assim que Lago dava as aulas como enceradas eles dois se atracavam em um beijo furioso que beirava ao erótico. Tirava as minhas roupas suadas, sujas de terra e ficava apenas de cueca, colocava uma toalha no ombro e ia tomar banho no rio. Mas antes de sequer me molhar eu ainda tentava dar uma olhada em Marvo, mas sempre sem sucesso.
Foi em um dos meus banhos noturnos que eu consegui ver o meu Marvo. Ele veio rebocado nos ombros de outros dois caras, tão musculosos e altos quanto o meu supersoldado. Seu corpo estava tremendo de uma maneira tão furiosa que eu fiquei com medo que ele estivesse tendo algum problema epiléptico, eu poderia rir se não fosse tão assustador. Estava só de cueca e com apenas a cabeça do lado de fora do rio, eles não me viram. Marvo estava só de cueca também, seu poderoso corpo brilhava com a fraca luz da lua que entrava por entre frondosos galhos de árvores. Ele ainda nem tinha entrado na água e estava todo molhado. Estava tão assustado que não consegui me mexer. Chaves vinha mais atrás, conversando alguma coisa com Lago, que olhava fixamente para Marvo e segurava firmemente a mão de... Lion! Eu não poderia ver o meu namorado, mas ele podia? Raiva borbulhou tão furiosamente pelo meu pequeno corpo, torcendo o meu estômago de maneira furiosa e fazendo que o meu coração sangrasse. Aquele ato, por menor que tivesse sido, me machucou tão profundadamente, por que Lion não me contou isso? Os dois homens que rebocavam Marvo foram andando pesadamente até a margem do rio e calmamente desceram até as águas geladas do rio. A cabeça de Marvo que pendia pesadamente para frente, chicoteou de maneira furiosa quando sua pele febril fez contato com a água gelada.
O som que saiu de sua boca foi como milhares de facas furando o meu já machucado coração. Lagrimas silenciosas escorriam pelo meu rosto enquanto eu via aquela cena terrível, gotas de água salgada se perdiam naquele imensidão escura de água doce. Não consegui mais ficar parado, meu Marvo estava parado no meio do rio tremendo de frio e balbuciando de maneira incompreensível. Mergulhei e por pura sorte emergi bem próximo a ele, na sua frente. Quando ele me olhou seus lábios rachados e secos se abriram minimamente e um “Evan” sussurrado saiu dali. Desmoronei, minhas mãos que estavam geladas devido a água fria ficaram quente quando encostaram em sua pele.
— Meu Deus! Como foi que ele apareceu ali? — A voz cantada de Chaves atravessou o espaço que nos separavam e o meu cérebro entorpecido pelo susto de ver Marvo daquele jeito – Tire-o de lá agora, Lago!
— Se você sair de perto de mim, Lago – A voz de Lion soou furiosa – Esqueça que algum dia me conheceu, entendeu?
— Senti tanto a sua falta, Marvo – Eu parecia uma criança, com a voz tão quebradiça e pequena, do mesmo jeito que eu me sentia – O que aconteceu com você, meu amor?
— Chaves disse que é algum tipo doença transmitida por algum inseto dessa região – Afundei a minha cabeça no vão entre o seu ombro e sua cabeça. Fiquei tão comovido quando ele me abraçou, braços quentes e tão macios – Mas já estou melhor, Evan. Muito melhor, já consigo até andar.
— Eles não me deixaram vê-lo – Lion e Chaves estavam tendo uma calorosa discussão na margem do rio. Passei a palma de mão no seu rosto quente e úmido - Nem uma vez sequer, Chaves é uma vadia sem coração! Eu implorei para ver você, mas ela não me deu atenção.
— Não fique bravo com ela, Evan
— Por que não? — Retruquei, seus braços ao redor do meu corpo eram tão familiares como a cor do meu cabelo – Ela me privou de ver você! Privou-me!
— Eu pedi para ela fazer isso, Evan – Acho que ele viu a confusão e a tristeza estampada em meu rosto, pois ele se apressou em me dar um rápido selinho. Seus lábios estavam tão secos como aparentavam, mas, mesmo assim, aquele ínfimo beijo acalentou o meu estômago revolto e reconstruiu o meu coração dilacerado – Não queria que me visse dessa maneira.
— Que maneira? Do que está falando, Marvo? — Coloquei minhas mãos em concha dos dois lados do seu rosto e pressionei minha testa na dele – Eu te amo de qualquer forma, com qualquer coisa e...
— O que você disse? — Mesmo sendo uma noite particularmente escura, seus olhos brilharam de maneira encantadora. E eu podia jurar que eu conseguia escutar as batidas, aceleradas, de seu coração. Mesmo com a discussão de Lion e Chaves. Um sorriso bobo se espalhou pelo seu rosto, cortando sua face de uma orelha a outra, eu sorri também – Você me ama?
— É claro! — Meu rosto ficou vermelho de vergonha, acho que eu nunca tinha dito com palavras para ele, o quanto eu o amava. Mas de resto, eu fiz tudo, a simples submissão do meu corpo quando chegava perto do dele era um exemplo. Se eu não estivesse tão apaixonado por ele, como se explicaria as reações do meu corpo? Era amor, puro e simples – Já faz quase meio ano que nos conhecemos, Marvo e... e... pensei que você soubesse o quanto eu te amo.
Se seu sorriso pudesse ficar maior, com toda certeza teria ficado. Seus braços me apertaram com mais força, seus olhos fizeram os meus de refém e sua boca capturou a minha. Ele ainda estava fraco, era perceptível pela forma como ele estava me beijando, eu tentei parar, mesmo que eu estivesse adorando aquele momento com ele, eu não queria que ele sentisse dor. Mas ele pegou no meu pulso quando eu tentei afastá-lo. Foi ai que o beijo ficou mais intenso, tão profundo quanto ao amor que eu sentia por ele. A discussão de Lion e Chaves parou, mas eu ainda conseguia ouvir alguns resmungos da parte dos dois. Chaves podia não gostar de mim, mas eu tinha toda a certeza que ela não gostava nem um pouco de Lion. Foi eu quem parou o beijo, foi eu quem pedi para que aqueles cinco que estavam na margem me deixassem sozinho com Marvo. Lion e Lago foram os primeiros a sair, depois de alguns minutos os dois homens que trouxeram Marvo, viraram-se e embrenhara-se na densa floresta. Chaves foi a última a sair. Quando ela saiu eu suspirei aliviado. Foi eu quem deu banho no meu supersoldado. Tocava-o como se fosse quebrar, e ele me apertava para constatar que eu ainda estava inteiro. Sua pele já não estava tão quente, ao meu toque, estava na temperatura ideal, e os tremores que acometiam ele quando veio até o rio, vinham com menos frequência agora.
Estava passando minha mão calosa e dolorida pelo seu tórax e num átimo de coragem e deixei minha mão correr mais para baixo. Mais abaixo e umbigo até que encontrei o seu membro duro. Olhei para os seus olhos, que agora queimavam de desejo, coloquei minha mão dentro da cueca, a costa de minha mão raspou com os seus pelos púbicos. Comecei a arfar antes mesmo de tocar no seu pênis, quando, de fato toquei-o, gemi. Fazia tanto tempo que não transávamos e meu corpo pedia o dele furiosamente. Abaixei sua cueca até a altura dos joelhos, a água que antes estava congelante, agora estava perfeita. Ele pegou em minha mão que estava segurando seu pau e me fez rodear seus ombros, depois pediu que eu fizesse o mesmo com as pernas e enrolassem-nas em sua cintura. Estava olhando em seus olhos quando ele me penetrou, sorri pelo fato de ele nem ter tirado a minha cueca, só afastado um pouco e ter se enterrado dentro do meu intimo. Como estávamos dentro da água, ele não tinha que fazer muito esforço, eu que já não era tão pesado fiquei mais leve dentro d'água. Arqueei minha costa e joguei a cabeça para trás, gemendo, quando ele tocou algum ponto dentro de mim que fez uma puta onda de prazer se alastrar pelo meu corpo. Ele atacou a fina pele do meu pescoço, primeiro dando leves beijos, depois pequenas mordidas e por último sugava a região beijada e mordida, com toda a certeza eu amanheceria todo cheio de chupões, mas quem liga? Eu não, estava perdido em Marvo. Meus olhos eram prisoneiros dos seus, eu buscava apoio enterrando minhas unhas na pele do seu ombro quando ele se afundava profundamente em mim.
— Estava com tantas saudades suas, Evan – Murmurou depois que deu mais um chupão em meu pescoço, se inclinou, me inclinando junto e colocou meu mamilo esquerdo na boca. Com alguns dentes ele puxou a pequena elevação marrom que ficava no centro do circulo de um tom mais escuro que minha pele. Gemi mais alto – Ficar doente não é nada, mas ficar sem foder com você, definitivamente, não dá.
— Eu sei – Respondi, minha voz estava tão esbaforida. Respirava profundamente pela boca, mas parecia que não conseguia encher meus pulmões de ar. Em vez disso eu me alimentava com as sensações que Marvo proporcionava em meu corpo, respirava o cheiro que emanava do seu – Mas cala a boca, Marvo! Só me foda! Estou a tanto tempo sem ter você dentro de mim que estava quase escalando as paredes.
— Que assim seja – E me empalou mais profundamente no seu pau.
Não foi só uma vez que transamos, pelas minhas contas, foram umas quatro vezes. Depois que ele encheu minhas entranhas com a sua semente da primeira vez, seu pau não amoleceu, uma segunda vez e ele ainda continuava duro, quando ele se derramou dentro de mim uma terceira vez eu já estava com o corpo tão languido e mole que ele me segurava para que eu não caísse dentro d'água e me afogasse. Mas caso eu caísse e me afogasse, definitivamente eu morreria feliz. A quarta vez foi só para que eu pudesse gozar uma quarta vez. O rio correndo, as árvores sussurrantes e a fina luz da lua foram as testemunhas da nossa consumação definitiva. Nossa primeira vez ficou tão borrada e sem importância que seria injusto comparar qualquer outra foda que tivemos antes dessa. Estávamos ligados agora pelo sentimento mais forte e durável de todos os tempos: o amor! Poderia soar brega e antigo, mas estava me lixando para o que os outros pensavam. Ele saiu lentamente de dentro de mim e colocou a minha cueca no lugar. Eu também coloquei a sua, dei mais uns dois mergulhos para lavar o suor, peguei em sua mão e o puxei para fora do rio. Marvo não tinha trago nenhuma toalha, disse para ele ficar ali enquanto eu buscava a minha do outro lado do rio. A água escura estava parada e uma leve correnteza corria no meio do rio. Na volta eu estiquei o meu braço que segurava a toalha máximo que podia, para que ela não molhasse. Do outro lado, coloquei a toalha ao redor dos ombros dele e entramos na mata fechada. Dormir naquela noite ao lado dele, eu ainda fiquei um tempão acordado olhando-o dormir, acariciando seu rosto. Dormir com um sorriso no rosto...
… e acordei ao som de estridentes gritos, passos apressados e outros sons que se misturavam em uma cacofonia horrível. Tateei o espaço ao meu lado e com um crescente espanto vi que não tinha mais ninguém ao meu lado. Dei um pulo, olhos arregalados e boca escancarada, cade Marvo? Gritei essa pequena frase assim que eu sai para a quente manha e ter me desenrolado das cobertas que serpenteavam as minhas pernas. Algumas pessoas me olharam quando eu gritei, mas nenhuma delas pararam e me deram a informação que eu precisava. Sai correndo, meus passos nem faziam muito barulho quando tocavam no chão fofo. Notei que quanto mais eu corria na direção da barraca que servia de base de operações, menos gente eu via. Cade todos aqueles homens e mulheres que a uma hora dessas já deviam está amontoando todos os espaços livres daquele acampamento? Tentei parar uma mulher que corria na direção contraria a minha e pedir informações, mas não deu muito certo, ela desviou com a agilidade de um felino quando eu tentei tocá-la. Depois disso não vi mais uma pessoa sequer, um pensamente macabro coloriu a minha mente. Uma semana! Deus, era hoje! Corri mais rápido, agora na direção da minha barraca. Vesti a mesmo roupa que tinha vestido na minha primeira experiência como espião, aquela do jogo de perseguição. Mas aquelas tinham umas diferenças, a calça ainda era extremamente apertada, mas agora elas eram forradas com tecido a prova de balas. A camisa era a mesma, um verde tom de musgo e apertada também, mas Chaves tinha me dado uma jaqueta a prova de balas, e luvas também. Coloquei o coldre em minha cintura, e prendi o suporte da arma na coxa direita. A única parte minha que não estava a prova de balas era a cabeça. Estava calçando os coturnos quando notei que não tinha nem uma arma de verdade ali comigo, nenhuma arma além da que atirava tranquilizantes. Eu sabia onde era o deposito de armas, ia lá toda a noite quando terminava o meu treino, e tinha que devolver a arma.
Corri mais uma vez e notei que nem o soldado que ficava na porta do pavilhão de armas, não estava mais lá. Entrei sem nenhuma interferência e olhei que a maioria das armas já tinham sido removidas e muitos dos cartuchos de balas estavam faltando. Peguei uma arma prateada que estava dentro de uma caixa, sobre uma mesa. Provavelmente alguém a pegou, depois repensou e viu que aquela não era a melhor opção. Eu a peguei, como eu não tinha muita experiência com armas, eu não sabia dizer qual calibre era ela. Mas eu sabia como recarregá-la e destravá-la. Coloquei-a dentro do suporte, na minha coxa e coloquei várias capsulas de munição nos compartimentos no cinto que cingia a minha cintura. Respirei fundo quando terminei de fazer tudo, antes de sair um brilho prateado me chamou atenção, olhei naquela direção. Facas! Peguei três e quase me cortava, o fio brilhava azulado contra a luz do sol, coloquei as três no meu coturno esquerdo. Já que o direito estava ocupado com a arma tranquilizante. Sai daquela quente barraca e um pensamento me varreu quando eu estava do lado de fora. E se...? o acampamento ficaria vazio, ali dentro ainda tinha dezenas de armas e centenas de cartuchos de munição. Então eu tirei a arma e atirei nas cordas que prendiam e deixavam a barraca armada. Quando as quatro cordas se partiram – e eu usei apenas sei balas, ótima pontaria! — a lona verde-musgo caiu ao chão, cobrindo nossas armas. Derrubei mais cinco barracas ali perto, uma só levantaria muitas suspeitas.
A minha corrida, floresta a dentro, foi bastante silenciosa. Os únicos barulhos eram das minhas passadas, minha respiração e o farfalhar das folhas. As facas que estavam em meu coturnos as vezes faziam pressão na minha perna, mas não chegava a ferir, se uma bala não passava pelo material que minha calça era feito, não seria uma faca que iria me ferir. Escutei um barulho só meu lado e pensei que fosse alguém malvado que estava me seguindo, mas quando eu parei, pronto para atacar quem quer que estivesse me seguindo, eu fui nocauteado e jogado ao chão. Mas não foi por alguém que eu conhecesse, quer dizer, eu conhecia o que tinha me acertado, mas não era exatamente uma pessoa. Estava mais para uma bola de pelos chata.
— Sai! Sai! — Ele estava lambendo o meu rosto e aquilo estava me deixando enojado – Como você conseguiu sair da sua gaiola?
Ele não respondeu nada, tombou a cabeça para o lado, deixou a língua pender para fora da boca e me fitou com enormes olhos cor de lama. Me levantei, depois olhei para o chão, para ter certeza que não tinha deixado nada de importante cair. E não tinha, comecei a correr novamente, mas agora, bastante consciente do bicho que corria, atrás de mim, brincando com os meus calcanhares. Eu já conhecia bastante bem aquela floresta, sabia como chegar até o meu chalé e até mais longe, mas esse caminho que eu estava tomando me levava até a minha antiga casa. Estava tão preocupado com Marvo, por que ele não tinha ficado deitado? Em segurança em sua barraca? Isso era, com toda a certeza, ideia de Chaves! Apressei ainda mais o passo quando escutei o som de tiro ao longe, uma revoada de pássaros que estavam empoleirados em dezenas de árvores levantaram voo, grasnando de forma raivosa. A raposinha ainda estava em meu encalço, parei por um tempo e para pegar a minha arma, destravei-a e comecei a correr com a arma na mão. Vi, ao longe, o meu antigo chalé, a janela do meu quarto ainda estava aberta desde a minha última visita. O meu chalé era o último e até ver outro foi que eu tive a certeza que eles, definitivamente, tinham cumprindo com a promessa. Já estava correndo a um tempão, o primeiro chalé que eu vi, depois do meu, estava com a porta escancarada, cheguei perto, mas nem entrei, nem precisei, estava tudo uma bagunça. Escutei mais um tiro, depois outro e mais outro depois do último, e, dessa vez, estava mais perto.
Corri novamente e vi um corpo estirado no chão, ao redor de uma poça de sangue. Minhas mãos começou a tremer incontrolavelmente, meus olhos começaram a arder e uma prece de “Por favor, Deus, por favor, não é ninguém que eu conheça, por favor!” escapava pela minha boca repetidamente. A cabeça do homem que estava no chão era uma massa vermelha e irreconhecível, me impedindo assim, de ver quem era que estava ali estirado. Mesmo eu não conseguindo reconhecer a pessoa eu chorei por ela, sabia que era o meu acampamento. As cores – vermelha e amarela – de suas roupas eram idênticas as minhas. Me levantei e, com as pernas tremendo, eu continuei em frente. Encontrei o segundo e o terceiro corpo a menos de cem metros de onde eu encontrei o primeiro. Esses dois eram os inimigos, roupas douradas e vermelhas estavam manchadas de sangue e terra. Agachei-me próximo dele e peguei as armas deles, joguei-as para além da floresta que nos rodeavam. E os corpos foram apenas aumentando a medida que eu ia mais para o centro da escola. Mulheres e homens mortos polvilhavam o chão de terra batida que era a estrada.
Encontrei o meu primeiro adversário já próximo a piscina. Ele estava sozinho, andando de um lado para o outro e dentro da piscina seca, estavam dezenas de alunos amedrontados. Vi que ele estava com os membros superiores e inferiores estufados, assim como eu, ele estava usando roupas a prova de balas. Alias, pensando bem, todos os que eu vi mortos, morreram devido a tiros na cabeça e nunca em outra parte do corpo. Então não adiantaria nada atirar com uma arma de verdade, peguei a minha arma tranquilizante e apontei na sua direção. Estreitei um dos meus olhos, para ter uma mira mais precisa e atirei. O dardo pegou em seu pescoço, instantaneamente seu corpo foi assolado por duros espasmos antes de cair no chão, esperei um pouco antes de sair de onde estava escondido. Outros dois homens vieram correndo na direção do homem caído e eu apertei o gatilho mais três vezes e acertei-os. Sai correndo até lá e peguei as armas dos caídos e joguei no mato. Amarei-os e depois estendi a mão para que os adolescentes saíssem dali.
Quando o último aluno já estava fora da piscina, o primeiro prédio explodiu. Fazendo que o dia claro ficasse tingindo de laranja, vermelho e rosa. E chover pedras quentes e fumegantes do céu.