A minha paciência já estava no fim, e com isso abri a porta sem pensar. Ela foi entrando sem ser convidada, visivelmente histérica.
_Mas que porra vocês fizeram?
_Saia daqui, não te devo nenhuma satisfação.
_Seu gay, sua bicha imunda, como ousa me desafiar? Vocês se acham os salvadores da humanidade? Ridículos, vocês não tinham o direito de interferir. Era problema do seu amigo o fato de ele ser um drogadinho arrependido.
_Se você não sair daqui agora, as coisas vão ficar muito feias.
_Ah é? Ou o que?
_Ou esse seu rostinho vai ganhar uma cicatriz – disse o Murilo chegando na sala – garota, eu já estou de saco cheio de você. Primeiro tentou agarrar o meu namorado por que estava numa merda de uma aposta, depois mexeu com nosso amigo e isso eu também não perdoo. Ninguém mexe comigo e sai impune!
_Ah, chegou o namoradinho atencioso. Seria muito legal ver a sua cara caso eu tivesse ganhado a aposta, não?! O que você faria caso me visse chupando o seu namorado? Ou cavalgando nele? Na cama de vocês ainda! Não seria interessante?
Em fração se segundos o Murilo “voou” até a Ana, e rapidamente a empurrou no sofá e a segurou firmemente.
_Tente. Tente fazer qualquer uma dessas coisas que eu vou fazer muito mais do que apertar os seus braços, eu vou deixar uma marca nesse seu pescoço. E tem mais, cuide da sua vida a partir de agora, já que a minha paciência está no fim a muito tempo – nisso foi saindo de cima dela – e acho bom se contentar com a sua derrota, já que a partir de agora não vamos mais ser pacíficos. Tudo que vier, vai ter volta. Falo sério.
Quando ele se postou em pé em frente o sofá, ela se levantou em um pulo, cuspiu no rosto dele e foi em direção a porta.
_Vocês podem ter acabado com os meus planos, mas eu ainda vou estragar esse namoro. Vocês têm sorte que eu não vou conseguir apoio do povo do beco, mas isso não importa. Murilo, quando você menos esperar, eu vou estar ocupando o seu lugar.
_Isso é impossível – disse eu intervindo na situação – e se você não sair daqui agora, vou perder a paciência de vez, e eu mesmo vou torcer o seu pecoço.
_Bichas. Vocês me dão nojo!
_Isso vale para você também.
Quando ela saiu, bateu a porta com violência. Fui até lá e a tranquei.
_Mas o que foi isso? – questionei o Murilo – por um momento achei que um de nós iria espanca-la.
_Isso quase aconteceu por minha parte. Mais alguns minutos e eu não iria me segurar.
_Bom, mas agora já sabemos que ela é realmente uma ameaça em potencial, então temos mesmo que conseguir arrumar um apartamento para sair daqui o quanto antes.
_Não aguento mais ver ela todo dia pela manhã e depois ainda ter que atura-la nas aulas. Maldita hora em que ela resolveu voltar a estudar.
_Vamos esquecer isso por enquanto, amanhã temos aula e devemos ir dormir.
_Tem razão.
Dormimos e no outro dia pela manhã, na hora do café fomos surpreendidos por mais batidas na porta.
Eu me dirigi a porta já com raiva, e quando a abri levei um susto. Não era a Ana.
_Hã, oi – disse o Victor – posso entrar?
_Claro cara! Entre aí.
_Não queria aparecer tão cedo aqui para incomodar, mas... queria agradecer pelo que fizeram por mim. Meu pai me contou tudo. Eu estou com muita vergonha por ter feito vocês se sentirem na obrigação de me ajudar. Eu não queria que tudo isso tivesse acontecido.
_Cara, você não tem que agradecer, nós só ajudamos um amigo, nada mais. Mas agora, em troca, exigimos que tome juízo e largue de ser omisso. Quando tiver algum problema, conte com nós. E pelo amor, não use mais aquelas coisas, olhe só o quanto as drogas causaram transtornos para todos nós.
_Eu sei, juro que que sei. Estou muito arrependido por ter tomado algumas atitudes irresponsáveis. Agora meus pais vão ficar um bom tempo sem confiar em mim.
_Mas você tem que reconquistá-los, basta ser um bom filho. Não se envolva mais com essas coisas.
_Não sei o que seria de mim se eu não tivesse dois grandes amigos como vocês. Amo vocês dois!
Dei um abraço nele, e depois fomos tomar café juntos. Conversamos bastante, e resolvemos passar o final de semana juntos pra comemorar o início de uma nova fase.
Quando chegamos na universidade, já na aula, a Ana não parava de nos encarar. A Thaís e a Paty já tinham percebido, além de que o Victor estava de boa comigo novamente.
_Qual o problema da Ana agora? – disse a Thaís – ela fica encarando vocês três com uma cara de psicopata.
_Thaís, nem queira saber do que se trata. Ela é louca, mas a ignore.
_Sabe o que ela estava dizendo pra mim e a Paty hoje na cantina?
_O que?
_Que você estava interessado nela, e que o Murilo estava perseguindo ela por isso.
_Ridícula. Ignore.
_Mas vocês sabem que nem todos da sala sabem sobre vocês serem um casal. E se ela sair espalhando para todos?
_Ela não fará isso, porque caso o contrário iremos dizer a todos que ela é uma drogadinha louca, que tem uns amigos barra pesada.
_Tomem cuidado.
_Pode deixar.
Na hora do almoço, estávamos na cantina comendo uma pizza quando ela chegou em nossa mesa.
_Oi galera! Vou dar uma festinha lá no meu apê amanhã, gostaria que todos vocês fossem. Murilo, caso você queira ir, tudo bem. Rafa, você é o meu convidado de honra.
_Aff, me deixa em paz.
Ela se aproximou e falou baixinho próximo ao meu rosto:
_Gostoso.
O Murilo se levantou e ao mesmo tempo a Ana o encarou.
_Se você não gostou, vá chupar um pinto e me deixe em paz.
_Bom, eu chupo o pinto que você sempre quis.
Quando ele disse isso todos da mesa riram, menos eu porque fiquei com vergonha, fora ela mesma.
_O que foi Aninha? A verdade machucou?
_Você é um palhaço.
Ela foi se retirando. Mas virou-se e mostrou o dedo em riste para nós.
Todos rimos da atitude infantil dela.
No período da tarde ela nem foi a aula, deixando o clima entre todos do nosso círculo de amigos mais leve.
Naquele dia, já no período da noite saímos para beber.
Quando as meninas já tinham ido embora com os namorados e o Murilo tinha ido ao banheiro, fiquei conversando com o Victor.
_Rafa, você ainda deve estar puto comigo por causa do seu irmão.
_Ah, porque falar disso agora?
_Bom, não podemos passar por cima de tudo isso.
_Tem razão. Mas onde você quer chegar?
_Eu tenho conversado com o Matheus por facebook. Ele também está preocupado com você.
_Comigo?
_De suas reações acerca de tudo o que houve.
_E?...
_Bom, eu quero que você saiba que eu não estou brincando nisso tudo. Mesmo que você não entenda isso, eu também estou confuso assim como o Matheus, já que eu também nunca tinha me relacionado com outro homem.
_Cara eu não quero falar disso agora. Preciso pensar um pouco mais em tudo.
_Eu entendo, mas mesmo assim, tenho que te dizer que eu não vou me afastar dele.
_Já imaginava isso. Mas Victor, eu não quero nenhum tipo de aproximação afetiva entre vocês, Pelo menos não agora.
_Sei que você quer protege-lo, mas ele está consciente de tudo o que está acontecendo.
_Eu sei.
_As vezes ele me assusta por levar tudo tão naturalmente mesmo estando confuso.
_Ele é bom nisso.
_Eu sei que errei ao não contar a você sobre eu querer ter experiências homo, mas eu não consegui te contar. E no fim, acabou acontecendo de ser com o Matheus, e... eu nem sei o que dizer mais. Só quero que saiba que não estou brincando com ele. Nunca poderia fazer isso com um carinha tão legal, que é irmão do meu melhor amigo.
_Eu só quero ter certeza de que isso não o prejudique. Pra mim, ele ainda é meu irmãozinho, e eu quero proteger ele de qualquer coisa que venha a causar sofrimento.
_Eu entendo.
_Mas o problema é que meus pais deveriam saber que ele está passando por essa nova fase de descobertas, já que mesmo eu sendo irmão, o papel dos pais é sempre mais relevante. Mas eu não quero que eles descubram que a primeira vez dele foi com você. Isso seria mais um grande choque, porque você é mais velho e tal, então não é uma situação fácil. Eu preciso me concentrar mais a respeito para ver o que fazer.
_Eu vou te dar tempo.
_Valeu cara.
_Mas algum dia é possível que eu te chame de cunhado, né? Kkkkkkkkkk
_Não abuse.
_Brincadeira.
_No momento eu quero garantias de que a sua fase obscura passou, porque não quero nem cogitar a possibilidade de o meu irmão ter relações com um drogado.
_Puxa, isso doeu. Mas pode ter certeza que, não apenas pelo seu irmão, eu quero esquecer de tudo isso. Esse meu pedaço do passado é vergonhoso, eu sei, mas mesmo assim, o que importa é o presente, pois é a partir dele que surge o futuro.
_Acho bom.
Quando o Murilo voltou do banheiro, pagou a conta e então fomos embora.
No outro dia não fui a aula, já que era uma aula nem tão importante, mas o Murilo resolveu ir.
Conversando com meu pai por telefone, descobri que a festa de aniversário do Matheus estava com os preparativos em andamento, e que obviamente todos os meus melhores amigos deveriam ser convidados. Ele me disse ainda que o Matheus estava querendo ir para minha casa, mas que a permissão havia sido negada pela minha mãe, por ela ainda estar horrorizada com as mentiras dele (e minhas também).
Depois da conversa fiquei refletindo sobre tudo e percebi o quanto meu irmão estava determinado em manter contato com o Victor.
Na hora do almoço o Murilo foi pra casa.
_Você não sabe o que aconteceu!
_O que?
_Deram uma surra na Ana hoje no estacionamento da universidade.
_Como assim? Quem fez isso?
_Parece que ela mexeu com o namorado de uma menina, e isso não ficou barato.
_Isso é de mais hahahahaha
Depois do almoço, quando ele iria voltar pra aula, enquanto nos despedíamos na porta, o elevador se abriu, e de dentro saiu a Ana com os cabelos bagunçados e vestígios de sangue no rosto.
Ao nos ver, nos encarou com uma cara raivosa, e do nada partiu pra cima de nósGalera, agora de forma definitiva informo que os dois próximos capítulos serão os últimos.
Qualquer coisa, rafael_hanchuka@outlook.com