Um ano havia passado desde o acidente que vitimara meu companheiro Raul Toledo. Eu tive que aprender a viver novamente. Muita coisa havia acontecido comigo e uma das maiores dificuldades com que tive que me deparar foi a falta total de visão.
Não lembro bem o que realmente aconteceu, a não ser isso...
_ Poxa André, essa rádio novamente? como pode uma pessoa ter apenas 26 anos de idade e ser tão louco por músicas dos anos 70 e 80?
Raul era um cara impar. Sempre me amou e muito. Acho que desde o dia em que eu fui pagar a taxa de inscrição para o concurso para Auditor Fiscal da Fazenda, e ele era o bancário que teria que me atender, que o cara grudou em mim de uma forma que também me encantou.
Os dias passaram a não mais ter 24 horas pra nós. Tudo era intenso, mesmo as ligações para celular que fazíamos quando a saudade batia avassaladoramente em nossos corações, as contas milionárias que o digam. Não tinha como separar a gente. Onde um estava é claro que o outro também estaria.
O toque no digital do rádio do carro foi acionado e rapidamente sintonizei na estação que era a minha paixão. Tina Charles cantava LOVE TO LOVE e logo em seguida Gladys Knight cantava FOR ONCE IN MY LIFE e eu literalmente viajei nessas músicas. Lembro que logo em seguida meu querido Raul falou mais uma vez que me amava e rapidamente trocamos um selinho. Comentamos um pouco sobre a festa que tínhamos ido e mais uma música entrou na programação, dessa vez Donna Summer com LAST DANCE.
Um determinado trecho da Avenida em que estávamos, se encontrava totalmente na escuridão e de repente duas lanternas que mais pareciam olhos vermelhos se materializaram na nossa frente e nosso carro entrou embaixo da carroceria de um caminhão carregado com sacos de cimento.
Três dias, esse foi o tempo de vida do meu amor. Tempo esse que me foi ingrato, pois nunca mais o vi ou mesmo o senti em meus braços. Nunca mais o toquei ou mesmo ouvi sua voz de timbre grave e macio dizendo que me amava. Raul foi embora de minha vida e eu ainda tive que ficar 6 meses entre coma, cirurgias, UTI's, o escambau. Ninguém nunca acreditou em mim quando disse que queria ter ido junto. Queria mesmo. Nada tinha sobrado. Se em cinco dias levaram ele de mim sem minha autorização, trataram de apagar 5 anos de amor, cumplicidade, devoção, luta, conquistas, amizade, entrega, prazer, felicidade e me mandaram seguir mesmo contra a minha vontade novamente. Só que não conseguiram e jamais conseguiriam.
Minha família jamais aceitou o meu amado. Eles eram pra completar evangélicos de carteirinha. Só me chamavam de ímpio e que com certeza o inferno seria a minha última morada, mesma morada em que o meu amor segundo eles estava a minha espera. Cambada de escrotos, dava até ódio dessa minha família.
Mais eu dei a volta por cima, ah, dei mesmo. Já que não morri teria que colocar na minha cabeça e no meu coração uma nova missão pra poder seguir na vida. Raul havia me deixado alguns imóveis comerciais, dinheiro em aplicações e o melhor, passei a receber uma pensão como viúvo. Eu por conta da minha cegueira preferi aposentar de vez e com minhas rendas, abri uma escola junto com minha ex-cunhada, irmã de Raul e uma das turmas era formada apenas por crianças carentes cegas. Podem apostar que foi isso que me salvou. E foi também por causa dessas crianças que eu voltei a viver e melhor, a lutar por cada uma delas. Eram meus filhotes e ai de quem ousasse fazer algo contra eles.
Alguns amigos foram em nossa antiga casa por conta do primeiro anos de sua partida e após a missa, fomos comer pizza numa cantina metida a italiana legítima no bairro da Varjota. Angela e Anselmo, meus atuais cuidadores estavam sentados um a minha esquerda e a outra a minha direita quando Anselmo disse:
_ Tem um gato, quer dizer, um verdadeiro tigre na messa a tua esquerda que não pára de olhar pra cá.
_ Com certeza não é pra você, né querido? Disse Angela. Além de feia, vesga. E soltou uma verdadeira gargalhada. Angela adorava tirar onda com o irmão gay.
_ Muito menos pra você, né queridinha? Se não fosse minha irmã eu juraria que tu tinha acabado de sair de uma das caldeiras do inferno. E pagou a gargalhada na mesma intensidade.
_ Querem fazer o favor de se comportarem, os dois? E os demais amigos que estavam à mesa não faziam outra coisa a não ser sorrir. Eram em torno de 15 pessoas. E eu sabia que o grande lance era me fazer esquecer a data em si e sorrir o mais que eu pudesse.
_ É verdade mesmo André, o cara é um gato e não tira os olhos de você. Falou Juliano, um dos meus colaboradores na escola.
_ Ah lá em casa, disse Daniel, que era além de primo, meu contador.
_ Eu apenas olhei na direção indicada e talvez deva ter dado aquele típico sorriso que nós cegos sempre damos, mesmo sem querer. Os amigos disseram que o cara ficou radiante com o meu flerte inesperado e ainda não havia notado a minha real condição.
Apesar de todo o clima descontraído, eu não estava mais afim de ficar naquele lugar que nunca vi na vida e a ideia de me fazer esquecer a minha dor tinha ido pras cucuias de uma vez por todas.
_ Quero ir pra casa. Me desculpem o mau jeito, só que pra mim já chega.
Pensando nisso agora, vejo o quanto que minha vida havia mudado. Eu me tornara amargo. Juro que a cegueira já não mais me incomodava tanto, caso contrário eu ja teria tentado me matar, mas o que meus amigos tentavam fazer era uma verdadeira afronta ao meu amor, ao meus sentimentos e o pior a minha saudade que ainda doía muito no peito, na cabeça, no corpo, no dia a dia.
Levantei e automaticamente Anselmo foi a minha frente e logo atrás de mim Angela. Ele sempre seguia na frente me dizendo que andasse reto, em frente, levanta a cabeça, esse tipo de coisa, esse verdadeiro anjo fazia transparecer que eu era um cara normal e acho que deu certo pois o tal gato da mesa a esquerda não tirou o olhar da minha direção um momento sequer, segunda Angela.
Os amigos entenderam a minha saída rápida e ainda se desculparam por talvez terem contribuído para a minha decisão repentina.
Meu maior medo seria sempre esse, eu não poderia colocar no lugar do Raul ninguém. E esse proposito era quase um mantra diário que eu mesmo recitava para o meu coração. Só que a vida jogava contra e eu bem mais cedo do que esperava teria notícias do tal gato da mesa á esquerda daquela bendita catina metida a italiana da Varjota em Fortaleza.
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Olá meus amigos. Tão vendo o que vocês fizeram? Não? Pois é rapaziada, me fizeram voltar. Tava com uma saudade dessa troca que existiu entre nós no primeiro conto e juro que não resisti mais tempo longe de cada um de vocês.
Parece que o final foi satisfatório, né? O Kayo B inclusive falou algo como ruim como sopa de chuchu com brocolis, quase morro de rir, o combinação aguada rapah. Depois vi que ele mesmo se retratou e só quero que ele saiba que estará sempre tudo bem entre nós. Já pensou se eu começasse a te agredir só por não saber aceitar uma crítica? Fica frio aí rapah. Neguinha, não precisa tanta coisa pra dizer apenas que sinto muito ou mesmo, entendi tudo errado. Juro que não sou o Brako e que nosso Guilherme sempre fique em nossos corações. Paz entre nós e obrigado pela sua quase promessa de me seguir, taí a chance de cumprir pois começo agora uma nova trama, um novo enredo. E já adianto a cegueira do André não tem nada a ver com a realidade do nosso garoto, tá?
Obrigadão pelos comentários dos demais amigos e mais ainda pelo carinho particular que demonstraram por esse pobre coitado metido a escritor que teve que no último final de semana corrigir uma porrada de prova de matemática.
Queridos e Queridas, fiquem a vontade a partir de agora...Tô super ansioso pelas letras de cada um de vocês. Beijão do Nando Mota
