Capitulo dois: Wake me up when september ends (Green Day)
LUCAS
Me lembro de ter ouvido uma vez que ser diferente era bom. Vou dizer uma coisa: Ser diferente é uma merda! Ser diferente significa não ser aceito por ninguém. Ser diferente significa não ser entendido. Ser diferente significa não ser feliz!
Eu me sentia diferente das outras crianças. Olhava em volta e via meninos e meninas sendo eles mesmo e sentia que algo em mim estava errado. Algo que me diferenciava dos outros e que sempre tive medo. Nunca fiz o tipo atlético, aliás, eu sempre fiz o estilo nerd devido aos meus óculos grossos e redondos que escolhi por serem exatamente iguais ao do Harry Potter. Sempre gostei de ler, tanto que existe uma enorme prateleira de livros em meu quarto. Sou gago e estou em tratamento desde que comecei a falar e hoje em dia a gagueira quase não existe mais.
Eu sou apaixonado por um menino chamado Caio. Estudamos na mesma escola desde sempre, porém nunca fomos amigos. Caio faz o tipo popular que gosta de zoar os outros, mas eu sinto que aquilo é apenas uma mascara. Eu sei que existe algo por trás daquele jeito dele e é isso que me fascina. Perdi as contas de quantas horas já perdi fantasiando que ele olharia para mim e diria que gostava de mim. Perdi as contas de quantas vezes pensei nele antes de dormir ou de quantas vezes seu nome aparecia em meu diário secreto.
Eu tinha onze anos na primeira vez que fui ao passeio ao sitio da escola. Lembro de ter ido só por que meus pais disseram que seria a chance de eu conhecer os garotos fora da escola. Afinal de contas, eu não tinha nenhum amigo além de meus livros.
A noite antes do passeio foi terrível para mim, pois eu fiquei pensando no que eu faria durante todo o dia. Leria e com certeza ouviria música em meu celular. Mas não teria com quem conversar e nem saberia como conhecer alguém.
Cheguei atrasado na porta da escola onde o ônibus que nos levaria até o sitio nos esperava. Todos já estavam dentro do ônibus e deram gargalhada quando eu entrei me chamando de lesado, rolha de poço, entre outras coisas. Os professores tentaram repreender a todos, mas os alunos só calaram a boca quando eu me sentei em um lugar vago atrás de Lucas. Passei a viagem toda até o sitio ouvindo música e vendo seu cabelo castanho por sobre o banco resistindo a tentação de toca-lo. Foi uma hora e meia de agonia até que finalmente chegamos.
Passei grande parte do tempo lendo sobre uma árvore bem longe de todos até que resolvi ir até o refeitório comer algo e o ví. Ele estava vestido com uma bermuda de tactel branca e uma camisa vermelha. Seus olhos castanhos se encontraram com os meus olhos azuis e por um segundo eles pareceram uma droga muito forte me obrigando a fazer algo que nunca fiz antes. Falar com ele.
— Oi Caio! — as palavras simplesmente saíram por minha boca.
— Cala a boca esquisito! — Caio disse com uma expressão perversa no rosto.
Seus dois melhores amigos (Ramon e Diego) deram risadas de mim e os três seguiram seu caminho.
Aquilo me despedaçou por dentro. O garoto que eu gostava tinha me tratado como um lixo na frente do todos ali. Olhei em volta e ví que as pessoas me olhavam com e algumas davam risadinhas maliciosas. Uma lágrima escorreu por meu rosto e eu comecei a correr o mais rápido que eu podia. Corri até uma parte do sítio onde só tinha árvores e uma fonte de água a uns vinte metros de distância. Me joguei no chão e comecei a chorar. Ele já tinha me zoado outras vezes na escola me chamando de gordo, quatro olhos e de monstrengo, mas nunca me chamou de esquisito. Para mim essa era a pior coisa que alguém poderia me chamar, pois era deste jeito que meu pai me chamava. Meu próprio pai me achava estranho.
Não sei quanto tempo havia se passado, mas quando eu olhei para a fonte, ví Caio ali com Suelen. Eles conversavam baixinho e ela o beijou algumas vezes. Foi então que ela me viu e apontou para mim e Caio se virou
— Esquisito! — ele gritou para mim e com fúria nos olhos, caminhou em minha direção — Está me nos espionando?!
Meu único instinto foi levantar e correr, mas ele era muito mais rápido do que eu e me alcançou. Me segurou pela camisa e me derrubou no chão.
— Por favor não me bate! — pedi chorando.
Mas ele não ouviu. Me deu um soco na cara e um chute na barriga me fazendo gritar. Depois ele e Suelen correram de volta para onde as piscinas se encontravam e me deixaram sozinho ali até que uma mulher me encontrou e me levou até o posto médico para cuidar do meu nariz que sangrava muito. Os diretores e meus pais insistiram para que eu contassem quem tinha feito aquilo comigo, mas eu nunca disse.
...
Eu chorava todas as noites em que sonhava com ele e sabia que não podia tê-lo. Sentia meu coração se quebrar todas as vezes que via ele com a Suelen. Me dois todas as vezes que eu lia seu nome em meu diário. Me doía todas as vezes que eu me masturbava e sem querer ele vinha a minha mente. Me doía todas as vezes que eu tentava esquecê-lo.
Mas foi em setembro quando eu completei treze anos que minha vida mudou para sempre. Cheguei em casa depois de mais dia horrível e solitário na escola quando encontrei meus pais sentados à mesa da cozinha com um caderno velho à sua frente. Eu conhecia bem aquele caderno e sabia que ele deveria estar debaixo do meu colchão.
— O-o-oi — gaguejei como sempre fazia quando estava nervoso.
— Tem algo que queira nos contar Lucas? — Meu pai perguntou.
— Na-nada que vo-você não tenha li-lido — disse me sentando na cadeira a frente de ambos.
— Por que não nos contou? — minha mãe perguntou chorosa — Por que nos deixou descobrir?
— Não estava pronto — confessei.
— Você sempre foi estranho Lucas — meu pai disse — Sempre foi fraco demais, gordo demais, nerd demais. Agora viado? Isso eu não vou aceitar!
Não sei de onde veio aquilo, mas meus ossos se inflamaram de ódio. Um ódio que nunca senti em toda a minha vida. De repente eu não era mais aquele Lucas submisso que todos pisavam em cima.
— Eu não vou mudar pai!
— Você vai sim! — ele gritou — Eu não quero ter um filho viado!
— Mas você tem e é melhor aceita-lo! — gritei de volta.
Ele me deu um tapa forte no rosto fazendo meus óculos voarem longe e se quebrarem em contato com o chão.
— Vá já para o seu quarto — ele disse sem olhar para mim.
— Eu não vou mudar! — disse novamente.
— Já disse para ir para o quarto! — ele gritou para mim.
— Vá Lucas — minha mãe me pediu com carinho e foi a ela que obedeci.
Subi as escadas e me tranquei em meu quarto. Me joguei na cama e comecei a gritar com o travesseiro abafando o som estridente de meus gritos.
Aquele foi o setembro mais longo da minha vida. As coisas na escola eram horríveis, pois não tinha com quem conversar e ainda tinha de aguentar zoações dos outros alunos e quando chegava em casa tinha que aturar meus pais que mal falavam comigo. Logo a situação ficou insustentável e eu fui morar com a minha tia. Ela me aceitou como eu era, mas eu tinha perdido meus pais. Os meses se passaram e em novembro eu fui dispensado das provas finais devido minhas notas altas, mas mesmo assim sentia que aquele setembro ainda não havia acabado. Ele estava gravado em minha cabeça e nunca iria me abandonar. Foi quando eu decidi mudar. Minha tia me levou a um nutricionista que me passou uma rigorosa dieta que eu segui a risca e ainda me inscrevi em aulas de natação. Os óculos remendadas deram lugar a lentes de contato e aquele corpo gordo tinha dado lugar a um corpo esbelto e um pouco musculoso. Porém minha asma não havia sumido por completo e eu ainda tinha de carregar minha bombinha para todo o lado. Agora as pessoas me olhavam com desejo e não com desprezo como antes. Eu era um garoto bonito que as meninas desejavam embora eu só tivesse olhos para uma pessoa.
Eu me sentia bem comigo mesmo embora meus pais ainda não se sentissem da mesma forma e mesmo que aquele setembro ficasse para sempre em minhas lembranças, finalmente eu pude sentir que ele acabou como se fosse o despertar de um pesadelo.
...
Em fevereiro as aulas recomeçaram e eu estava ansioso para ver a reação de todos ao me ver. Eu cheguei cedo como sempre e Caio já estava ali com Ramon e Diego. Todos na sala pararam para me olhar como se eu fosse um aluno novo e conforme eu passava pude perceber que eles cochichavam sobre mim, porem eu não podia ouvir devido aos fones de ouvido que estava usando. Me dirigi até o final da sala e me sentei próximo a janela. Olhei de relance para Caio e ví que o garoto que eu desejei durante anos estava me olhando. Não um olhar de desprezo, não um olhar de curiosidade, não era nem mesmo o olhar que ele lançava para Suelen. Era um olhar de desejo e medo. Meus lhos penetraram em seus olhos castanhos e não pude deixar de lhe lançar um sorriso travesso. O que o deixou tão constrangido que ele corou levemente. Não tardou para a professora entrar na sala e se apresentar aos alunos, porém nossa troca de olhares não cessou. Por mais que eu tentasse disfarçar, minha atenção era totalmente voltada para ele, tanto que não ouvi quando a professora começou a chamada e disse meu nome.
— Deve ter explodido de tanto comer professora — Diego disse e todos caíram na gargalhada me fazendo despertar e perceber que todos falavam de mim.
Uma fúria do tamanho da que me fez enfrentar meu pai em setembro, me fez levantar o braço e dizer:
— Estou aqui professora — minha voz soou firme e sem sinal da gagueira — E eu não explodi Diego. Eu só não ouvi ela me chamar — e tirei meus fones de ouvido.
Com satisfação percebi que todos na sala estavam boquiabertos e sem resposta. Inclusive Caio que me olhava com um misto de desejo e curiosidadeÉ gente, depois de elogios e uma ameaça de morte do Riquinho_ e do Kayo B, eu estou de volta com mais este capitulo. P3dr0r!ck, eu também gosto muito dessa música e todos os meus capítulos teram o nome de músicas que eu gosto.
Bom gente, até o próximo!