Viçosa 7

Um conto erótico de Matheus Azevedo
Categoria: Homossexual
Contém 1054 palavras
Data: 19/07/2014 15:08:36

Você deve se lembrar disso... um beijo ainda é um beijo, um suspiro é apenas um suspiro. Essas são coisas fundamentais que ocorrem quando você está apaixonado, mesmo que isso já faça tempo.

Você ainda se lembra da sua primeira paixão? Ainda se lembra do seu primeiro namoro? Do seu primeiro eu te amo? De confiar no outro não importa o que o futuro traga?

Com o passar do tempo você percebe o quanto aquilo foi tolo e bobo, mas como apagar os passeios ao luar? Como esquecer as canções de amor que tanto doeram e tocaram o seu coração? Como invalidar um coração cheio de paixão, ciúme e ódio?

Creio que isso nunca deixará de acontecer. Todos precisamos de um alguém nas nossas vidas, isso não há como negar. Então ainda é a mesma velha história, uma luta por amor e glória, um caso de aja ou morra!

O mundo sempre dará boas-vindas aos novos amantes com o passar do tempo...

E eu me lembro bem da primeira vez em que me apaixonei e é isso que estou tentando relatar para vocês.

Depois de ir a umas três, quatro festas na casa da Ana, comecei a fazer amizade com os irmãos dela. Ela me chamava para ir a casa dele com a intenção de que eu me aproximasse dela, mas eu estava interessado em outras coisas.

Ela não tinha graça para mim, não necessariamente por ser mulher, mas por ser uma boa moça, certinha, engomadinha, bonitinha. Eu menosprezava a sua afetuosidade recatada, o seu pudor, a sua doçura e infantilidade. Mas não deixava de ser próximo dela, pois queria continuar indo as festas na casa dela.

Em uma daquelas festas, enquanto eu bebericava um Johnny Walker em torno da piscina, escutei o pessoal se ajuntando para uma roda de violão na varanda no andar de cima. Eu logo subi e dei de cara com Marcos, o irmão mais velho, dedilhando um violão, tirando velhas músicas dos Beatles e fazendo a galera cantar.

Eu me sentei em um canto e fiquei observando aquele cara tocar e cantar, enquanto eu segurava o meu copo de whisky na mão. Ele tocava uma canção antiga, quase ninguém conhecia. "Oh, meu amor, pela primeira vez na minha vida os meus olhos estão abertos de verdade", ele cantou. E era como se eu estivesse enxergando pela primeira vez.

Não que ele cantasse verdadeiramente bem, mas algo mudou em minha vida pela primeira vez. Marcos era tão alto (devia ser quase uns 30cm mais alto do que eu na época), a pele branca, os olhos acinzentados, o semblante impassível, sério, as linhas finas do rosto como que desenhadas em gesso. O cabelo grande, bem preto, bagunçado, a barba sempre por fazer, o jeito descompromissado. Senti-me atraído por ele no mesmo instante em que o vi.

Ele não demonstrava atenção alguma em mim, na verdade nunca havíamos realmente conversado. Mas eu o quis naquele exato momento, o desejei para mim, e a minha alma chegou a doer nesse instante. Eu me segurava a sua imagem, tentando captar aquele momento, como um náufrago se agarraria a um bote salva-vidas.

Fiquei desconcertado e nervoso quando Ana se sentou do meu lado, bem próximo de mim, e tentou puxar conversa. Queria enfiar o meu copo na boca dela para que ela não falasse mais nada, não interrompesse a minha contemplação, a minha atenção.

A música, as risadas, as conversas, a impertinência de Ana, o whisky que já me subia quente à cabeça, me envolviam, e a voz de Marcos, um pouco rouca, chegava aos meus ouvidos, me deixando entorpecido. Um sentimento de aflição e desespero começou a correr dentro de mim, como que me queimando por dentro. Um medo tão grande de nunca poder ter aquilo que eu almejava.

Me sentia inadequado e confuso, um pouco perdido, o coração pesado, o espírito inquieto. Era injusto por demais da conta. Ana podia dar a entender o seu sentimento, podia transmitir e comunicar, mesmo não verbalmente, o seu interesse por mim, embora eu o desprezasse.

Mas eu não podia fazer o mesmo com Marcos. Ninguém podia saber do meu desejo, da minha súbita paixão, da minha vontade, eu não podia nem ao menos tentar algo com ele. E isso me sufocava, porque era injusto, porque era cruel, porque eu não havia escolhido que as coisas fossem dessa forma, porque eu não havia sido preparado para isso. E me deu um sentimento tão ruim e tão grande, pois, com apenas 15 anos, eu já antecipava a dor e o dilema de toda uma vida.

Quando o som e a animação começou a diminuir e o povo a se dispersar. Eu ainda estava sentado atônito no mesmo lugar. Ana desistira de conversar comigo e tinha entrado para dentro de casa. Talvez eu inadvertidamente tivera a decepcionado e frustrado suas expectativas. Ela tinha motivos para estar chateada comigo, mas eu também tinha minhas razões.

Os outros irmãos dela, o Renan e o Fernando tinham furtivamente entrado para dentro de um dos quartos com algumas meninas mais afoitas, mas eu não estava ligando para o que estivesse acontecendo ali.

Quando me dei conta tinha só uma meia dúzia de gato pingado ainda tomando o resto de álcool que havia sobrado e rindo convulsivamente sobre alguma história engraçado e já recontada várias vezes. E ali estava Marcos guardando o seu instrumento e a caixa de som.

Talvez ele tenha notado que eu o estava observando e me encarou por um instante. Eu tinha que esboçar alguma reação para não parecer um pateta:

- Cara! Você toca muito bem, que isso! - falei logo, me levantando de onde estava.

- Valeu! Obrigado mesmo - Marcos respondeu, ainda sério, os olhos cinzas firmes.

- Sério mesmo, eu gosto do jeito que você toca - eu realmente não tinha mais nada para falar.

Ele deu um risinho e falou:

- Você toca também?

- Não, nada mesmo! Mas sei apreciar uma boa música...

- Porque não aprende a tocar? Você é novo, tem tempo de sobra pra praticar.

- Eu sempre falo que vou começar, mas nunca tento - disse ensaiando o meu melhor sorriso forçado.

- Aparece aí depois, quem sabe eu te ensine alguma coisa - ele sorriu pela primeira vez e voltou a guardar os seus instrumentos, não me dando mais atenção.

E eu saí de lá como que andando em uma corda bamba.

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Comentários

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Sinto que essa historia vai acabar mal, espero que não seja tão ruim, continue.

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