Primeira semana de aula e me sentia um idiota, Marcelo começou a me ignorar, as poucas vezes que ele falava comigo era apenas comprimentos por obrigação quando ele estava junto com a Milena, que passei a ver casa vez menos, as poucas aulas que tínhamos juntos, mal conversávamos, comecei a me odiar pela maneira que havia tratado a Milena, ignorado ela porque me disse a verdade sobre meus sentimentos, e pior ainda ter descontado no Marcelo algo que provavelmente ele não deve ter entendido. Na segunda semana de aula, terça-feira para ser mais específico, decidi falar com a Milena, tentar me explicar, tentar salvar o resto da amizade que tinha sobrado. Após terminar a aula, decidi chamar ela para almoçar comigo.
Eu- Milena, podemos conversar?
Milena- Claro. – guardando as coisas.
Marcelo- Vou à biblioteca, a gente se vê depois da aula.- levantando- Até mais Daniel. – acenando.
Senti-me mais mal por ele ter sido frio comigo, e meio que deixei isso escapar pela minha expressão.
Milena- A culpa é de quem? – em pé ao meu lado.
Eu- É, tenho noção.
Milena- Ele ficou realmente chateado com você, não só por ter sido um babaca no primeiro dia de aula, mas por ser se afastado durante o fim do semestre passado.
Eu- Imagino. – suspirando - você também deve ter ficado bastante chateada comigo.
Milena- Pois é, fiquei, mas meio que entendi por isso te dei espaço, confronto nessas horas acaba sendo pior. – caminhando para a porta da sala.
Eu- Verdade, então – seguindo ela- quer almoçar comigo?
Milena- Pensei que não ia chamar. – fazendo careta de surpresa.
Comecei a rir, nesse momento eu entendi o que era amizade, além do fato dela conseguir me fazer rir em um dia que eu não imaginei que seria possível ficar animado. Conversamos bastante, ela me explicou porque havia reprovado nas matérias, que eram bem difíceis, me falou dos seus relacionamentos e ainda me chamou para fazer companhia para ele em uma festa, quase perdemos a aula que começava às duas da tarde, a acompanhei até sua sala que agora era diferente da minha por conta das matérias que ela havia reprovado. Esbarrei com o Marcelo na entrada da sala, ele apenas sorriu e continuou andando, decidi fazer o mesmo que fiz com a Milena, criei coragem e sentei atrás dele. No meio da aula escrevi um bilhete perguntando se poderíamos conversar, para ele e me esforcei para colocar encima de sua carteira, me senti como no colegial, ele pegou e sua resposta era apenas “sem problemas”, mais uma vez fiquei mal. Ao final ele apenas se virou.
Marcelo- Diga?
Eu- Então- surpreso- queria me desculpar.
Marcelo- Por ter afastado todo mundo ou por ter sido um idiota no primeiro dia de aula?
Eu- Os dois, sério, estava mal no final do semestre passado e no primeiro dia acabei descontando em você, foi idiota e me arrependo muito por isso.
Marcelo- Não tem problema, pensei que havia feito algo para te chatear, quando você falou que queria se desculpar acabei sendo grosso. – tentando esconder sua vergonha- Desculpa.
Eu- Não, não, a culpa é toda minha não tem que pedir desculpas por nada.
Marcelo- Eu não agradeci direito por ter cuidado de mim quando fiquei doente, depois você sumiu e quase não te via, então, obrigado.
Eu- O prazer foi meu, foi divertido.
Marcelo- Foi. – levantando- Quer uma carona?
Eu- Se não for incômodo.
Marcelo apenas sorriu e seguiu na frente, fui atrás dele, pois não sabia a onde estava seu carro.
Eu- E a Milena, ela já foi?
Marcelo- Já, a aula dela termina mais cedo que a nossa. – destravando o carro- Já deve estar em casa.
Eu- Entendi. – entrando.
Já estava um pouco tarde por volta de seis e meia da tarde, só tinha almoçado, quando sentei no banco meu estômago começou a roncar, fiquei vermelho coloquei as duas mãos no rosto.
Eu- Desculpa.
Marcelo- Não tem porque pedir desculpas- rindo- muito menos ficar envergonhado.
Eu- Mas você está rindo. – ainda com as mãos no rosto.
Marcelo- É engraçado, mas natural. – ainda rindo- Eu também estou com fome, que tal comprarmos algo para comer.
Eu- Ia ficar feliz.
Marcelo ligou o carro, e o som, pra variar era Lana que estava tocando, American pra ser mais exato, aumentou o som sorriu pra mim. Paramos em uma barraquinha de sanduíches perto do meu apartamento. A conversa foi extremamente agradável, mais uma vez lembrei porque estava apaixonado por ele. Paramos na porta do meu apartamento, estava pronto para sair do carro.
Marcelo- Daniel, posso te perguntar algo? – deixando o clima meio tenso.
Eu- Claro o que é? – com a mão na porta.
Marcelo- Você é afim de mim? – me olhando nos olhos.
Fiquei sem palavras, paralisado, não sabia o que responder, respirei fundo juntei toda a coragem que eu tinha e respondi.
Eu- Sou.
Marcelo- Já prestou atenção na letra dessa música? No refrão para ser mais específico.
Eu- Hãm? – sem entender.
Marcelo- Summertimes Sadness – meio tímido.
Eu- Já, mas o que tem haver? – ainda perdido.
Marcelo- Escuta – esperando- Kiss me hard before you go, summertimes sadness – cantando junto com a música.
Minha ficha demorou um pouco pra cair.
Eu- Você quer me beijar? – assustado.
Marcelo- Na verdade quero que você me beije. – rindo.
Inclinei em sua direção, ainda não acreditando no que estava acontecendo dei um selinho nele e voltei a me afastar.
Marcelo- Sério?
Eu- O que?
Marcelo- Você é afim de uma pessoa, ela libera e você da apenas um selinho?
Eu- Desculpa, mas estou meio perdido aqui, e outra, se você quer alguma coisa tome iniciativa.
Marcelo- Não posso. – abaixando o rosto.
Eu- Por quê?
Marcelo- Eu não sei como beijar.
Tinha esquecido que a Milena falou que ele nunca tinha ficado com ninguém.
Eu- Certo, então vamos devagar.
Me inclinei mais uma vez, dei um selinho, e aos poucos comecei a abrir a boca, ele fez exatamente igual, conforme nossos lábios iam abrindo nossas línguas começaram a se encontrar, após alguns segundos ele entendeu como funcionava, colocou a mão sobre meu ombro e tomou o controle da situação, não estava mais ensinando ele como beijar e sim sendo beijado, me entreguei ao momento, passei a reparar em cada detalhe, seu perfume com toques de chocolate, sua pele macia, sua mão gentil, sua língua delicada, até ele se afastar, fiquei um pouco tonto, não sabia o que fazer, não queria parar.
Marcelo- E ai, como me sai? – um pouco envergonhado.
Eu- Foi bom, foi bom. – tentando fazer gracinha com ele.
Marcelo- Foi horrível não foi? – decepcionado- você falou duas vezes a resposta, nunca é bom quando tem uma segunda afirmação.
Eu- Calma, estava te sacaneando, foi perfeito. - rindo.
Marcelo- E agora? Você tem que entender que tudo é novo pra mim.
Eu- Primeiro, me explica de onde veio isso?
Marcelo- Isso? – sem entender.
Eu- É, o beijo, e quando você começou a sentir algo por mim.
Marcelo- Você sempre foi legal comigo, quando comecei a me abrir, fui você te conhecendo melhor, pra falar a verdade foi quando você ficou cuidando de mim, depois que você me afastou eu comecei a sentir sua falta.
Eu- Entendi. – rindo.
Marcelo- Por que está rindo?
Eu- Porque nunca imaginava isso acontecendo.
Marcelo- E você, quando foi que começou a gostar de mim?
Eu- Meio clichê, mas desde o momento que te vi entrando na sala no primeiro dia de aula.
Marcelo- Sério? –sorrindo.
Eu- Sério. – não queria acabar com o momento mas estava tarde- Acho melhor eu entrar.
Marcelo- Verdade, já está tarde.
Estava pronto para sair do carro.
Marcelo- Até amanhã. – acenando.
Eu- Até amanhã – olhando pra ele- desculpa, mais quero te beijar de novo.
Marcelo sorriu e inclinou, nós beijamos mais uma vez, e mais uma vez foi mágico pra mim. Sai do carro acenei, vi ele saindo e entrei pelo portão, não estava acreditando no que havia acontecido, queria explodir de felicidade, literalmente estava vendo estrelas. Entrei no apartamento, Marcos já estava dormindo, fui para o quarto, tomei um banho deitei na cama peguei o notebook coloquei o fone de ouvido e comecei a escutar Summertimes Sadness do álbum que havia baixado quando descobri que ele era fã de Lana, minha esperança era ficar revivendo o momento, acabei pegando no sono da maneira mais doce que se pode imaginar.
