Olá, leitores e escritores do CdC!
Só avisando que este NÃO É o último capítulo.
Irish, agradeço profundamente pelo apoio e espero que vocês gostem do final. Eu creio ter criado uma situação na qual vocês só imaginassem um possível romance final, e não sei se me arrependo ou me orgulho (no caso, por surpreender). De qualquer forma, estarei aberto para esclarecimentos via e-mail.
Ninha M, muito obrigado pelos elogios. Não é só você que pensa assim, mas logo descobriremos o desfecho.
Vi(c)tor, calma, ainda tem mais depois desse. Eu tinha dito que ia ser por volta de 15 caps. Muito obrigado pelo elogio, e não se sinta mal, pelo menos você pegou a reta final fresquinha. Estou pensando se irei escrever algo imediatamente após Medicina para Inumanos. Caso sim, eu avisarei todos vocês :D! Obrigado pelos elogios.
Neto, não se preocupe comigo, apenas com a sua saúde. Fico feliz só de você ter aparecido. E embora eu também não o conheça muito bem, posso dizer que também sinto uma estranha afinidade por você. Melhoras!
Cintiacenteno, Chele, Perley, menina7, FabioStatz, muito obrigado pelos votos e comentários!
Boa leitura, pessoal!
Contato: contistacronico@hotmail.com
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<REINCIDÊNCIA>
UM DIA DEPOIS (DOMINGO)
Eu e Hector caminhávamos pelo caminho de pedras brancas que guiava à grande entrada da mansão Voldi. O caminho era largo o bastante para um carro passar, e dos dois lados era possível ver os grandes jardins cuidados pelo jovem jardineiro americano Pierce, que já havia sido meu professor de jardinagem e foi contratado pelo meu pai. Havia uma enorme variedade de flores de várias cores e cheiros, atraindo algumas abelhas, algumas borboletas, vários beija-flores. Ao longe, pude ver o Canteiro do Victor, uma área cuidada apenas por mim, como aula prática para os ensinamentos de Pierce.
_Você não acha que tá muito vazio? – perguntei a Hector olhando em volta.
Meu irmão e segurança carregava nossas duas grandes malas nos ombros. Eu já havia pedido para carregar uma, mas ele se recusava. Hector analisou o ambiente e disse:
_Normalmente, viria alguém para carregar nossas malas.
Continuamos o nosso caminho até chegarmos à grande porta de entrada da Mansão Voldi. Abri-a e dei de cara com fileiras de funcionários perfeitamente arrumadas, quase como um exército. Todos disseram em uníssono:
_Bem vindo de volta, Sr. Victor e Sr. Hector.
Dois deles pegaram as malas carregadas por Hector. Não pude evitar um sorriso emocionado. A maior parte daqueles funcionários me acompanhava desde a minha infância, e como eu raramente havia saído da mansão durante a minha vida inteira, acabávamos tendo um contato prolongado, desenvolvendo uma certa ligação. Eles também respeitavam Hector, que mesmo não tendo o nome Voldi, era considerado por eles um mestre. Cumprimentei um por um com apertos de mão e abraços. Eu sabia o nome de todos eles, fora alguns novos funcionários que haviam sido contratados naquele semestre que eu estive fora. Eu estava cumprimentando Pierce, que era alto, tinha o corpo bronzeado por ficar por muito tempo no sol, sua barba estava sempre muito bem feita.
_Fico feliz que esteja bem, mestre Victor.
_Não me chame de mestre, Pierce. Você que é meu mestre. – eu disse com um sorriso – Por falar nisso, teremos aulas avançadas de jardinagem nessas férias?
_Estou sempre à sua disposição, mest... digo, aluno. – respondeu Pierce – Aliás, eu cuidei do seu canteiro enquanto você esteve fora.
_E fez um trabalho que humilhou o meu. – eu disse com um sorriso resignado.
_Claro que não, Sr. Victor. Você é um jardineiro nato. – ele disse dando uma leve bagunçada no meu cabelo – Tenho que dar uma olhada nas estufas, vejo o senhor outra hora.
Ele fez um sinal com os dois dedos na altura da testa como despedida. Todos os funcionários haviam voltado aos seus trabalhos, mas ainda havia uma no hall de entrada, olhando para mim com um sorriso alegre. Era Susane, em seu típico traje: camisete por baixo de um casaco social preto, saia de cintura alta que ia até os joelhos e um salto alto não extravagante. Seu cabelo castanho escuro estava amarrado num coque. Susane tinha um rosto que mostrava uma idade vinte anos menor do que realmente tinha.
Fui até ela e a abracei, envolvendo sua cintura. Ela carinhosamente passou a mão pelos meus cabelos. Hector subiu as escadas para o quarto.
_Olá, Sr. Victor. – ela disse com ternura.
_Que saudades, Susane. – eu falei após desfazer o abraço e encarando-a.
Passamos a conversar sobre as novidades na mansão: novos funcionários e mudanças na infraestrutura. Conversamos sobre o aspecto geral da Voldi, sobre o que havia mudado desde a minha ida para a ESOM. As novidades não eram tantas assim, meu pai mantinha tudo estável, como sempre.
_Algo para eu resolver enquanto meu pai está fora? – perguntei pensando em prováveis reuniões com negociantes.
_O Sr. Voldi pediu para que seu filho desfrutasse ao máximo de suas férias. – disse Susane olhando-me com um sorriso tranquilizador.
De fato, aquela informação era tranquilizante. O que eu mais queria era ficar em casa e aprender coisas novas.
_Exceto a festa beneficente na Mansão Halven de hoje à noite. – disse Susane – Seu pai lhe deu informações sobre como se comportar com seus parceiros de negócios?
_Suportar os puxa-sacos e sorrir educadamente. – eu repeti imitando a voz grave de meu pai.
Ela riu e disse:
_Basicamente, é isso.
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A mansão dos Halven ficava próxima à divisa de Minas Gerais com São Paulo, enquanto a dos Voldi ficava no interior de SP. Dessa forma, eu e Hector tínhamos pouco tempo para nos arrumarmos e irmos a festa, então escolhemos o meio mais rápido: helicóptero.
Lá de cima, eu via o hangar dos Halven. O piloto disse que começaria a pousar, o que ouvimos através dos grandes fones que utilizávamos. O hangar ficava acima da mansão e, quando pousamos e saíamos do helicóptero, eu vi um homem alto e com uma barriga levemente protuberante vir até mim e Hector. Ele usava um terno marrom, com gravata da mesma cor e camisa branca por baixo. Seus cabelos pretos estavam penteados para trás, sua barba era bem feita e seus olhos eram de um azul gélido. Ele se aproximou e cumprimentou-me com um aperto de mão.
_Eu estava esperando ansiosamente pelos Voldi. É uma pena que seu pai não possa ter vindo. Alberto Halven, prazer. – ele disse com um sorriso educado.
Imitei o sorriso e disse:
_Victor Voldi, o prazer é meu. Esse é o Hector. – apontei para ele ao meu lado - Eu e meu pai também queríamos conhecer o nosso mais novo parceiro comercial, mas não se preocupe, eu consigo desempenhar as funções de meu pai melhor que ele mesmo.
Alberto riu e nos guiou para a saída daquele terraço e descemos alguns lances de escadas enquanto conversávamos:
_Eu realmente fiquei entusiasmado seis meses atrás, quando a Voldi assinou um contrato conosco. – ele dizia satisfeito – E quando eu soube que o contrato havia sido feito pelo filho do Orlando Voldi, eu pensei “tenho que conhecer esse garoto”.
_Está decepcionado? – eu disse com um sorriso de quem sabe jogar.
Ele olhou-me dos pés à cabeça enquanto andávamos e disse:
_Estou impressionado, na verdade. Para um garoto tão jovem saber lidar com uma empresa como a Voldi... – ele pareceu lembrar-se de algo – Quero que conheça meu filho, Herbert, ele voltou da Rússia, estava cursando Engenharia Química. Talvez você dê a ele um exemplo de um verdadeiro homem de negócios.
_Acho difícil que ele me veja dessa forma. – eu disse.
Embora eu usasse um terno cinza abotoado, com uma gravata preta e sapatos sociais, eu ainda parecia novo demais. Claro, era o cabelo, como sempre. O corte desfiado continuava me dando um aspecto juvenil e rebelde. Meu rosto anguloso sem barba nenhuma também ajudava. Hector seguia ao meu lado, sempre em silêncio, em seu terno preto aberto. Hector odiava gravatas, mas eu o fiz usar uma para a ocasião. Seu cabelo estava descuidadamente arrumado, com os fios para o lado, mas também um pouco arrepiados.
_Então, Sr. Halven, eu recebi a notícia de sua festa às pressas, e nem sei qual é seu objetivo. – eu disse.
_Ah, sim, estamos arrecadando fundos para diversas organizações de combate ao trabalho infantil.
Trabalho infantil era sempre uma questão delicada no mercado industrial. Era normal que empresas utilizassem o combate a esse tipo de coisa como forma de se promover.
Chegamos a um grande salão onde a festa em si ocorria. Havia um grupo musical tocando músicas instrumentais calmas em um palco, no canto do salão. A decoração era moderna, nada extravagante demais, mas demonstrava classe. A iluminação era calorosa, com um tom incandescente. Alberto foi me apresentando para diversas pessoas, até que me deixou num grupo onde estavam simplesmente dois dos presidentes das indústrias farmacêuticas brasileiras que concorriam com a Voldi. Claro que eles não chegavam aos pés da engenhosidade da empresa da minha família, mas isso era algo implícito, o qual ninguém ousava externalizar, como se um contrato silencioso estivesse feito, e todos soubessem de sua existência. Alberto saiu e disse que logo voltaria. Um garçom passou com uma bandeja de espumantes, e eu peguei uma taça. Hector apenas parecia uma estátua ao meu lado.
_Eu estava ansioso para desafiar seu pai para uma partida de golfe, novamente. – disse o Concorrente 1.
_É uma pena que ele não jogue tão bem quanto conta piadas. – riu o Concorrente 2.
Eu ri com uma simpatia claramente falsa e decidi entrar no jogo de ofensas sutis:
_Ora, senhores, eu posso até tomar o desafio no lugar do meu pai. Minha habilidade em golfe é tão admirável quanto a capacidade do meu pai de manter a Voldi no primeiro lugar brasileiro.
Os dois hesitaram, analisando se eu havia sido realmente ofensivo ou havia falado sem má fé.
_Oh, o jovem Voldi é claramente alguém interessante. – disse o Concorrente 1 olhando-me com interesse.
_Vai assumir a empresa quando seu pai começar a perder sua sanidade? É o que ocorre, normalmente. – disse o Concorrente 2.
_Não se enganem. Meu pai não vai perder a sanidade... – dei um sorriso sarcástico – Ele já a perdeu há muito tempo. Como vocês acham que ele consegue fazer o que faz, carregar todos vocês na mão, tão indefesos? É porque vocês não conseguem compreender a forma dele de pensar.
Os dois ficaram surpresos com a minha resposta e Hector apenas deu um risinho. A conversa poderia até se prolongar mais um pouco, mas Alberto ressurgiu e me puxou consigo, Hector vindo atrás. Apenas acenei para os dois concorrentes da Voldi com um sorrisinho inocente. Alberto me levou até um homem que estava sentado no bar. Ele bebia um líquido transparente num copo com limão e gelo enquanto olhava para o nada. Parecia não querer estar naquele lugar. Seus cabelos tinham um corte social curto e eram de um loiro muito claro, brilhante. Era alto, com um corpo definido, com um bom formato, mas nada exagerado como Hector. Usava um blazer entre cinza e preto, com uma camisa branca por baixo ensacada, um cinto de couro preto e uma calça social um pouco mais clara que o blazer.
_Victor, esse é o meu filho, Herbert Halven. Filho, esse é o Victor Voldi, e esse é seu irmão, Hector. – disse Alberto, entre nós.
Encarei Herbert, seus olhos vieram de seu pai, claramente. A cor era um azul claro e gelado. O cabelo loiro claro provavelmente tinha vindo da mãe, que eu ainda não havia conhecido. Seu rosto tinha um formato másculo, sua pele era muito clara. O cara era muito bonito.
Estendi a mão a ele e disse, em russo:
*tradução simultânea de russo para português*
_Boa noite, é um prazer conhecer o filho do Sr. Halven.
Herbert sorriu surpreso ao me ver usando russo, e respondeu na mesma língua:
_É um prazer conhecer o grande garoto de negócios do qual meu pai tanto fala.
Herbert parecia não entender nada do que falávamos, mas sorria ao ver que estávamos nos dando bem.
_Vou deixar vocês conversando. – ele disse em português, e se embrenhou na multidão.
Virei-me novamente para Herbert e disse, ainda em russo:
_Tomara que meu russo esteja satisfatório.
_Estou nostálgico, então ele está bom. – ele disse com um sorriso, olhando para Hector logo em seguida – Vocês não parecem irmãos...
_Não somos de sangue. – disse Hector, usando russo também.
Herbert pareceu novamente impressionado ao ver Hector falar russo.
_Vocês são interessantes... – disse Herbert parecendo realmente interessado.
Conversamos durante alguns minutos, algumas vezes em português quando eu e Hector tínhamos alguma dificuldade. Falamos sobre como era a Rússia, como havia sido os estudos de Herbert, sobre seu futuro e porque seu pai queria que eu influenciasse ele a entrar no mundo dos negócios.
_Não sei se é o que eu realmente quero... – disse Herbert parecendo um pouco frustrado – Veja essas pessoas...
Ele apontou para a multidão que conversava com sorrisos falsos estampados no rosto, buscando impressionar, buscando descobrir coisas dos outros.
_Me dá nojo... – ele disse por fim.
Dei um gole na minha vodca com tônica, que eu havia pedido para acompanhar Herbert. Hector bebia um refrigerante por causa da sua política “não bebo enquanto trabalho”, embora eu houvesse contestado.
_Quem diria que eu iria encontrar o Sr. Voldi por aqui... – disse uma voz máscula atrás de mim.
Virei-me e vi Leonardo Miller escorado no balcão do bar, com uma taça com vinho na mão. Ele tinha um sorriso sedutor, seus cabelos loiros escuros estavam arrumados para o lado, mas não engomado demais. Usava um terno cinza como o meu, mas desabotoado, que caía muito bem no corpo trabalhado dele. Usava uma camisa social listrada por baixo e sapatos sociais pretos. Fiquei surpreso por um instante, mas sorri por fim. Leonardo fez um leve sinal com a cabeça para que eu o seguisse. Estendi a mão para um aperto para Herbert e disse:
_Foi um prazer conhecê-lo, Herbert. Espero que possamos conversar mais no futuro.
_O prazer foi meu, Victor. – ele olhou para mim e Hector – Então vão me deixar sozinho?
_O Hector vai ficar aqui com você. – olhei para Hector com um olhar que dizia “divirta-se”.
Hector apenas encarou-me como se eu não devesse tomar aquele tipo de decisão por ele, mas ignorei e segui Leonardo, deixando Herbert e Hector no bar. No caminho, algumas pessoas me cumprimentaram, já sabendo que eu era o jovem Voldi. Evadi deles com cumprimentos rápidos e mesuras, Leonardo me observava como se achasse aquilo divertido.
Chegamos até uma saída para os jardins na lateral da mansão. O caminho singelo de tijolinhos brancos era separado dos jardins por cerquinhas de madeira. Flores de diversas cores estavam plantadas em setores. Havia cercas vivas, estátuas de cupidos e um pequeno chafariz numa área circular para onde os caminhos convergiam. Ao redor do chafariz, havia alguns bancos de madeira. Sentamos num desses. A mansão era relativamente afastada da área urbana, então o céu estava estrelado.
_Você está bêbado, dessa vez? – eu perguntei com um sorriso irônico.
OBS (relembrando): *Leonardo estava bêbado numa situação parecida, quando ele e Victor ficaram, dois anos atrás*
Leonardo deu um riso gutural. Eu também acompanhei com um riso mais baixo. Quando ele se recuperou, disse:
_Você sabe começar uma conversa, Vic...
_Só estou me precavendo.
_Ok, ok, não estou bêbado. – ele disse com um sorriso.
Recostei-me no assento do banco e respirei fundo, sentindo o odor floral. Leonardo recostou-se e pareceu encarar algo ao longe.
_Ontem nós achávamos que íamos nos ver só em agosto, e aqui estamos. – ele disse pensativo.
_É... parece que o destino decidiu nos juntar de novo, e em uma circunstância muuuito específica. – eu disse sorrindo ao pensar em toda aquela situação.
Leonardo deu um sorrisinho fechado e disse:
_Então eu agradeço a esse destino.
Olhei para ele com uma surpresa divertida e perguntei:
_Por quê?
Leonardo pensou um pouco nas palavras que usaria:
_Quando eu saí do seu prédio, ontem, era como se alguma coisa estivesse faltando. Senti um vazio. – ele tocou o peito, na região do coração.
Identifiquei-me com aquilo, já que eu havia sentido o mesmo.
_Sabe quando você só percebe que devia ter feito e dito coisas depois de o momento passar? – ele perguntou.
_Sei.
_Pois então, era isso... e agora o destino está me dando uma chance de rever você... dizer que eu sinto algo por você... – Leonardo dizia aquilo como se fossem coisas naturais enquanto ainda olhava para o vazio, mas eu sabia que requeria muita coragem da parte dele.
Meu olhar estava fixo em seu rosto, mas ele não olhava para mim.
_Algo? – perguntei.
_Não sei dizer o que é... tenho medo de saber o que é... Mas eu posso tentar explicar. – ele fez uma pausa para pensar – Eu gosto de estar perto de você, sinto um vazio ao me distanciar de você, admiro esse seu jeito de ser, seu jeito de fazer as coisas.
_Desde quando? – perguntei.
_Pouco tempo... na verdade, foi meio progressivo, à medida em que fui conhecendo você melhor. – ele deu um risinho constrangido – Eu até chego a me arrepender de não ter te conhecido melhor dois anos atrás, naquela vez...
Fiquei em silêncio, mas o olhando com um sorriso carinhoso. Ele virou seu rosto para mim e disse:
_Posso te dar um beijo?
Assenti, surpreso com aquele jeito direto. Ele lentamente aproximou seu rosto do meu, nos olhamos nos olhos até nossos rostos estarem a milímetros de distância, e então nossos lábios finalmente se tocaram. Começamos com um ritmo lento que rapidamente se transformou num intermediário em que nossas línguas exploravam a boca do outro. Leonardo interrompeu o beijo e disse, com sorrisinho sedutor:
_Eu podia até estar bêbado naquela vez, mas eu lembro do seu beijo, e posso dizer que você melhorou muito.
Com uma mão, apertei suas duas bochechas, segurando seu rosto com firmeza, fazendo com que ele fizesse um biquinho.
_Você não viu nada. - eu disse com um sorriso sexy.
Leonardo envolveu minha cintura com seus dois braços fortes e se levantou do banco junto comigo. Eu fiquei uma cabeça mais alto que ele e meus pés balançavam soltos no ar, meus braços instintivamente envolveram seu pescoço para me dar equilíbrio. Eu ri e ele me olhava com um sorriso divertido. Ele começou a andar enquanto me carregava daquela forma e passou para uma área gramada, em volta da qual havia arbustos e algumas flores. Ele se jogou na grama junto comigo e eu caí sobre ele. Leonardo nos virou, de modo que eu fiquei deitado de costas para a grama e ele deitado de lado ao meu lado, com o rosto sobre o meu.
_Leonardo! Pode ter bichos aqui! – eu exclamei, embora eu estivesse sorrindo de maneira divertida.
_Claro que não... - ele me deu um beijinho enquanto sorria – Você tem medo de bichinhos?
_Só de aranhas... – outro beijinho - ...e centopeias.
_E cobras? – ele disse com um sorriso malicioso e passou a beijar minha bochecha, passando para o meu pescoço.
Eu gargalhei e disse:
_Ai Leonardo, que escroto...
Ele deu um risinho, deitou-se de costas na grama e ficamos lado a lado, olhando para o céu. Ele passou o seu braço por baixo da minha nuca e me puxou para perto dele. Ficamos um tempo ali, juntinhos. Ele quebrou o silêncio dizendo:
_Pode parecer estranho, mas... – ele olhou para mim, que estava com minha cabeça sobre seu ombro, brincou com meus cabelos com sua mão, jogando-os para trás, ficando uma parte da franja para frente, a qual ele colocou para o lado com um dedo - ... você me dá uma vontade de te proteger.
_Você pode começar me protegendo de caras que me tiram de festas para me macular nos jardins alheios.
_Mesmo se ele for um loiro gostoso e sarado? – perguntou Leonardo com um sorriso safado.
_É que eu tenho um trauma com essa situação, sabe? – eu disse com um tom falsamente inocente, implicitamente lembrando de quando me apaixonei por ele aos 16 anos.
Leonardo riu, mas ficou sério logo em seguida. Levou um instante até que ele falasse:
_Vic... Eu não pretendo “sumir”, dessa vez.
Percebi que, com aquilo, ele estava propondo algo mais duradouro que uma ficada, embora não fosse um pedido de namoro, o que provavelmente seria precoce. Fiquei ali, pensativo. Uma mão minha estava sobre o peitoral de Leonardo, com apenas os dedos se movendo, alisando-o de leve sobre a camisa. Eu gostava de Leonardo, claro, mas talvez não da mesma forma que ele parecia gostar de mim. Ainda assim, estar com ele era agradável, ele conseguia me fazer rir com facilidade, tinha um jeito que fazia com que eu me destravasse. Eu acreditava fortemente que, se eu desse a nós uma chance, as coisas bem que poderiam dar certo.
_Isto é... se você quiser, claro. – ele acrescentou, apresentando uma expressão cheia de expectativa.
Antes de tudo, eu deveria evitar o que havia ocorrido na minha relação com Eduardo. Lembrei do que ele disse naquele dia, na porta do seu apartamento, e sua voz ecoou pela minha mente: “Você nunca vai achar alguém que queira você e aceite seu relacionamento com o Hector”.
_Você está ciente da minha relação com o Hector? – perguntei.
_Sim, puro amor fraternal, certo? – ele disse.
_Isso. Jura que não vai tentar drogá-lo? – perguntei com um sorriso irônico.
_Juro. – ele respondeu.
Apoiei meu cotovelo no chão e apoiei meu rosto na minha mão, olhando-o de cima.
_Então acho que podemos tentar. – eu disse.
Leonardo sorriu e puxou-me pela nuca, fazendo-me baixar o rosto e dar-lhe um beijo. Ficamos ali por um momento, sentindo o gosto um do outro, até que tive uma ideia súbita. Desfiz o contato entre nossos lábios rapidamente e o olhei com um rosto intrigado.
_Lembra que você mencionou a ideia de viajar, ontem? – perguntei.
_Lembro... – disse Leonardo após pensar um pouco.
_Então... a gente podia aproveitar um tempo juntos num lugar legal... – eu disse fazendo um carinho com o dedo em movimentos circulares em sua bochecha.
Leonardo pareceu ficar muito interessado pela ideia. Ambos nos sentamos, tiramos nossos celulares do bolso e discamos números.
_Alô, Nicole? Quero que você faça os preparativos para uma viagem... – disse Leonardo.
_Susane, desculpe incomodar essa hora, mas você poderia fazer uns arranjos para uma viagem...?
<Continua>