Olá, leitores e escritores do CdC!
Vou começar escrevendo algumas linhas para marcar um momento especial para mim: o fim de Medicina para Inumanos. Obviamente, devo começar agradecendo aos leitores, porque eu tenho duas razões para escrever: satisfazer a mim mesmo e satisfazer os meus leitores. Na verdade, satisfazer faz com que eu me sinta satisfeito, então dá tudo no mesmo. Foi um período muito bom pra mim, pude usar minhas férias para conseguir esses textos relativamente grandes e postá-los no prazo de, normalmente, um dia. Adorei desenvolver as personalidades de Victor, Hector, Aline, Leonardo, Eduardo, Orlando e outros personagens mais coadjuvantes. Foram momentos divertidos, alguns em que fiquei totalmente absorto, era normal eu ficar pensando na história enquanto fazia outras atividades, às vezes me senti angustiado por razões como medo de desagradar ou incapacidade de fazer o enredo ficar fluido. Mas deu tudo certo, e aqui estamos! Com dificuldade, vou me despedir desses personagens para os quais passei, nem que fosse um pouquinho, a minha personalidade. Durante o percurso, tive a chance de conhecer mais profundamente alguns leitores, com contatos fora dos sites de publicação. Enfim... é uma ótima experiência ver uma história minha se desenrolar até o seu fim (porque eu já deixei outras histórias publicadas sem fim). Espero que vocês gostem desse final, eu quase chorei escrevendo-o. Mais do que isso, espero que compreendam minha escolha de acontecimentos. A história foi criada para que algumas relações entre personagens fugissem do padrão, e talvez eu tenha quebrado a cara no processo, mas as intenções foram de criar algo inovador, nem que fosse um pouco. Caso vocês queiram esclarecer alguma coisa em relação ao enredo, tirar alguma dúvida ou simplesmente falar algo a mais, podem mandar um e-mail, eu o visito todos os dias (e-mail mais abaixo).
Muito obrigado por me acompanharem até aqui!
Chele, sério que você ficou assim? Fico feliz, adoro quando eu também sinto isso quando leio uma história!
Vi(c)tor, não seja tão lisonjeiro, eu até fico constrangido. Fico feliz que você aprecie minha escrita e que tenha se divertido com o capítulo! Esse é o último capítulo, e espero que você goste.
Neto, que bom que está melhor. Sim, você entendeu bem a forma como eu me sinto. Somos dois românticos então, só posso torcer para não sejamos esmagados por esse mundo gay traiçoeiro (porque ele é, e muito!). Inclusive, desenvolvi um enredo para uma nova série usando essa temática (o mundo gay e seus problemas, como promiscuidade e volubilidade). Fico feliz que tenha gostado do Orlando, e realmente, é sempre divertido escrever uma cena entre eles. Eu também gosto muito de bromances, mas dessa vez, eu preferi ficar no bromance mesmo, nessa coisa não-sexual, mas insinuante, quase provocadora. A maior parte dos contos extrapola o bromance e o transforma num verdadeiro romance, e quis quebrar isso. Admito que eu deveria ter desenvolvido melhor a história com Leonardo, mas agora é tarde. Ah, suas coisas “sem importância” são realmente interessantes, Neto, não se preocupe. Fico muuuuito lisonjeado por estar em quarto lugar numa lista onde o primeiro é GoT! Temos mais uma coisa em comum, nesse caso: Crônicas de Gelo e Fogo estão no topo da minha lista, também. Se esse beijo crescer mais, iremos engolir um ao outro, hahaha! Abraços e um beijo, Neto!
Cintiacenteno, Irish, Perley, FabioStatz, Yan700, Ninha M e Ru/Ruanito, muito obrigado pelos votos e comentários! Fico feliz que estejam sendo compreensivos, muito embora o final não seja aquilo que esperavam. Sinto-me muito lisonjeado quando vocês exaltam minha qualidade como escritor, mas a verdade é que eu tenho muito o que melhorar. Eu poderia ter conduzido melhor. De qualquer forma, muito obrigado.
Pessoal, é isso, apresento a vocês o último capítulo de Medicina para Inumanos, tenham uma boa leitura!
Contato: contistacrônico@hotmail.com
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<IMUNE>
DOIS DIAS DEPOIS
_Seu RG, por favor.
Entreguei o meu RG para a moça da recepção do resort. Eram onze da noite quando eu, Aline, Hector e Leonardo chegamos no resort, trazidos do aeroporto de Salvador por um mini-ônibus da própria agência de turismo. A recepção do resort era um local amplo, aberto, tendo uma vista do ambiente litorâneo ao redor, com palmeiras lindas, piscinas, quiosques e, claro, o mar.
_Ai meu Deus, Vic, não acredito que você pagou por isso... – disse uma aflita Aline que usava um casaco jeans por cima de uma camiseta branca, calças de um tecido preto e sapatilhas.
Aline estava carregando uma mala grande cheia de estampas de bichinhos fofos. Seu cabelo estava amarrado de forma bagunçada, provavelmente por causa da corrida viagem. Após decidirmos o local da viagem, eu pedi para Susane comprar três passagens, sendo duas de São Paulo para Salvador e uma de Goiânia para Salvador, já que era lá que Aline morava. Além disso, pedi para Susane fazer reservas com tudo incluso na melhor classe do melhor resort da Bahia. Logo após a compra ter sido efetuada, liguei para Aline e praticamente ordenei que ela arrumasse as coisas, porque ela teria uma viagem para o dia seguinte. Expliquei tudo a ela e, quando ela parecia que ia argumentar sobre eu ter pagado tudo, simplesmente a ignorava.
_Aline, eu só quero passar um tempo a mais com meus amigos. Agora venha cá e vamos arranjar tudo com a recepcionista. – eu disse com um sorriso.
_Por falar nisso, o Rafael vai chegar amanhã de manhã, então prepare-se. – disse Leonardo.
Aline ficou vermelha e pareceu incrédula, mas chegou ao meu lado no balcão. Leonardo já havia feito seu check-in na recepção e me esperava abraçado a mim por trás, com o queixo no meu ombro e os braços envolvendo meu abdome enquanto esperava o término do meu processo de entrada.
_Nem sei pra quê você alugou um quarto pra você sendo que a gente vai ficar junto. – ele disse após dar um beijinho na lateral do meu pescoço.
_Ah, a gente vai? – eu disse com um sorriso provocante enquanto assinava dois papeis.
_Sim, a gente vai.
A moça da recepção olhava para nós com um sorriso sugestivo quando entregou o cartão magnético do meu quarto e imediatamente, Leonardo me puxou consigo, mal me dando tempo de finalizar as coisas.
_Tenha uma boa estadia. – a moça disse com um sorriso.
Acenei para ela de leve enquanto Leonardo praticamente me arrastava. Passamos por Hector, que estava sentado e esperando nossos check-ins, já que ele já havia feito o seu. Eu disse apressado enquanto Leonardo ainda me puxava:
_Hector, não deixe a Aline se perder ou... sei lá, cair das escadas.
Hector apenas assentiu e deu um leve aceno com a mão. Eu e Leonardo passamos pelo bar, chegamos a um corredor com três elevadores. Um deles já estava no andar e entramos. Lá dentro, Leonardo apertou o botão do segundo andar e, quando a porta se fechou, ele me pressionou contra a parede, dando um beijo que já estava num nível de preliminares. Sua língua dançava furiosamente contra a minha, que tentava acompanhar. A porta se abriu e saímos, com Leonardo ainda segurando firme a minha cintura com as duas mãos enquanto meus dois braços envolviam seu pescoço. Assim, fomos andando desastrosamente pelo corredor com várias portas para os quartos, às vezes raspando na parede ou colidindo contra ela. Nos intervalos entre os beijos loucos de Leonardo eu consegui falar:
_Leo... a gente vai... bater em... alguma coisa... cuidado!
Tarde demais, Leonardo não viu um extintor na parede e bateu seu cotovelo nele. Ele soltou um sonoro “ai”. Eu caí na gargalhada, encostando minha testa em seu peito.
_Deu choque. – ele disse com um sorriso doído.
_É o seu nervo ulnar. – eu disse após parar de rir.
Leonardo fez uma cara de quem tentava se lembrar do conteúdo de neuroanatomia que tivera no ano anterior, enquanto ainda me guiava pelo corredor. Olhei para ele com um olhar reprovador.
_Irresponsável.
_Nerd. – ele retrucou com um sorriso, após o que reiniciou nossa sessão de beijos quentes.
Depois de quase morrermos no caminho, chegamos à porta do seu quarto. Com dificuldade, ele passou o cartão magnético no aparelho na parede enquanto beijava meu pescoço. Entramos no quarto e batemos a porta. Chegamos na beira da cama e Leonardo me deu um leve empurrãozinho, fazendo com que eu me sentasse na cama de casal com lençóis brancos. Não pude reparar muito no quarto, mas percebi que ele era todo em madeira. Leonardo, que permaneceu de pé, na minha frente, tirou o casaco e a camiseta, ficando só de calças jeans. Pude, finalmente, ver o corpo trabalhado de Leonardo. Era sexy, não trincado demais, mas tendo a forma definida, típica de jovens que frequentam a academia. A diferença era que o corpo de Leonardo era naturalmente grande, largo, protetivo. O volume na sua calça já era visível. Ele colocou a mão no bolso de trás enquanto olhava para baixo, fixando seu olhar nos meus olhos. Seu sorriso branco ficava lindo em conjunto com aquela barba por fazer, aquele cabelo loiro escuro levemente bagunçado, aqueles olhos verdes. Sua mão voltou do seu bolso com sua carteira, da qual ele tirou uma camisinha e largou os dois sobre o criado mudo ao lado da cama. Olhei para a camisinha sobre o móvel e disse:
_Bom... há dois dias estávamos falando de tentar algo sério... – eu comecei a falar com um sorriso incerto, achando que talvez estivéssemos indo rápido demais.
Leonardo segurou meu queixo de leve com uma de suas mãos e olhou para mim com um sorriso malicioso:
_Você é puritano, Vic?
_Não, o que eu quero dizer é...
_Então me chupa logo. – ele disse como se fosse uma criancinha.
Semicerrei os olhos para ele, mostrando que aquela era uma fala descarada da parte dele. Entretanto, eu tinha um sorriso no rosto, curtindo aquela situação. O sexo com Leonardo parecia ser tão descontraído quanto ele, e isso parecia divertido. Eu iria descobrir.
Ainda sentado, mostrei uma expressão provocadora de quem aceita um desafio e desabotoei a calça de Leonardo, baixando o zíper logo em seguida. Beijei a área logo acima da cueca, com uma mão ameaçando baixá-la, mas não o fazendo. Leonardo mordeu o lábio inferior. Dei uma leve mordida no seu membro por cima da cueca boxer. Dessa vez Leonardo soltou um leve gemido. Fui baixando sua roupa de baixo vendo seus pelos pubianos levemente aparados, e à medida que seu pênis ia aparecendo desde a base, fui beijando-o até liberá-lo por inteiro. Tinha algumas veias levemente saltadas, uma cabeça rósea na qual passei minha língua em movimentos circulares e lentos. Após brincar um pouco, resolvi chupá-lo de fato. Eu segurava seu membro com uma mão enquanto ia até a metade dele com a boca. A outra mão acariciava suas costas. Uma mão de Leonardo estava no meu ombro e outra na minha cabeça, segurando meus cabelos, porém sem puxá-los.
Enquanto eu fazia o movimento de vai-e-vem com a cabeça ao mesmo tempo que minha língua dançava pelo corpo do seu pênis, Leonardo soltava sons de pura satisfação. Decidi tentar pôr mais para dentro da boca, e quase consegui chegar à base. Leonardo soltou um urro e não pôde evitar me pressionar contra ele enquanto puxava meus cabelos de leve.
_Puta que pariu, Vic...
Parei de chupá-lo e olhei para cima, encarando-o com um sorrisinho falsamente inocente ao mesmo tempo em que batia uma para ele lentamente.
_É só o meu puritanismo...
Ele riu e tirou as calças junto com a cueca, ficando totalmente pelado. Ficou sobre mim, ambos nos deitando na cama com ele por cima. Leonardo tirou minha camiseta e jogou-a para o lado. Começou a beijar meu corpo, desde o pescoço até abaixo do umbigo. Ele começou a desabotoar minha calça e disse:
_Eu nunca fiz isso.
Eu já estava muito excitado, o que era visível. Perguntei:
_O quê? Pagar um boquete?
_É.
_Foda-se. – meu linguajar ia para o brejo durante o sexo.
Leonardo tirou minha calça e minha cueca e começou a me chupar. Não foi habilidoso como um Oliver da vida, mas foi satisfatório e certamente gostoso. Contraí meus dedos dos pés enquanto gemia e tentava me controlar para não gozar. Leonardo pareceu perceber e parou. Subiu novamente para o meu rosto, beijando-me novamente. Ele pegou a camisinha sobre o criado mudo e abriu a embalagem com a boca.
_Quer colocar? – ele perguntou me olhando com um sorriso safado.
Peguei a camisinha e ele recomeçou os beijos. Que bom que eu já havia feito aquilo, caso contrário não conseguiria fazer, ocupado como estava. Minhas mãos foram para a altura do seu pênis e Leonardo deu uma levantada com seu corpo ainda sobre meu, para facilitar. Às cegas, segurei seu membro e deslizei a camisinha por sobre ele.
_Vira. – ele disse quando eu terminei.
Virei-me de costas e fiquei deitado, mas ele colocou sua mão por baixo do meu corpo e deu uma levantada, fazendo com que eu ficasse de quatro. Ele se inclinou sobre mim e beijou minhas costas enquanto eu sentia-o forçar a entrada. Meus braços bambearam quando a cabeça entrou e eu baixei minha cabeça e meu tórax, deixando apenas meu quadril levantado enquanto eu controlava meus gemidos. Mordi a própria pele do meu braço para diminuir a dor da penetração. Olhei para trás de soslaio e vi Leonardo com os olhos fechados, completamente absorto, seu grande corpo atrás do meu, de joelhos, suas mãos segurando minha cintura e trazendo-a contra ele ao mesmo tempo em que ele investia numa velocidade intermediária. Em certo momento, sua velocidade aumentou e seus gemidos tornaram-se mais graves. Uma de suas mãos saiu da minha cintura e seguraram meus cabelos, dando um leve puxãozinho para trás.
Segurei seu braço e saí daquela posição, puxando-o e fazendo-o se deitar de costas para a cama. Leonardo me olhava surpreso. Seu pênis estava em riste, para cima. Subi sobre ele, colocando meus joelhos nas laterais da sua cintura, ficando de joelhos na cama. Olhei-o de cima com uma expressão superior. Eu já o havia deixado controlar, mas agora era minha vez. Ele sorriu com uma expectativa maliciosa. Segurei seu membro com uma mão, posicionando-o e descendo lentamente sobre ele. Leonardo fechou os olhos e segurou minha cintura com ambas as mãos. Comecei a rebolar sobre ele enquanto subia e descia lentamente. Após um momento daquele jeito, passei a fazer movimentos mais rápidos, num sobe e desce que ia do começo do seu pênis até o talo. Ao mesmo tempo, eu massageava meu próprio membro com uma mão enquanto a outra apoiava-se sobre o abdome forte de Leonardo. Eu fui o primeiro a gozar, e meu líquido atingiu Leonardo no abdome e chegou até seu peitoral. Eu ofegava loucamente pelo esforço dos movimentos e pelo êxtase. Quando percebi que os sons de Leonardo ficaram mais urgentes na iminência de um orgasmo, eu saí de cima dele e recuei, inclinando-me de forma que minha cabeça ficou acima de seu pênis. Tirei a camisinha, joguei-a para o lado e passei a chupá-lo novamente.
_Eu vou gozar, Vic. – ele disse sem olhar para mim, com os olhos fechados e a cabeça levemente inclinada para trás.
Não me importei e continuei o que estava fazendo. Seu orgasmo veio num urro e em jatos fortes que preencheram minha boca ao mesmo tempo em que eu o chupava. Era tanto sêmen que chegou a escapar, deslizando pela extensão do seu pênis. Leonardo chegou a dar um quase espasmo quando eu o chupei ao mesmo tempo em que ele gozava. Levantei-me rapidamente, fui para o banheiro e lá cuspi seu sêmen na pia. Voltei à cama e Leonardo ainda estava em êxtase, ofegando. Ele olhou para mim com um sorriso surpreso.
_Isso foi bom pra caralho, Vic! – ele disse entusiasmado.
Deitei sobre ele e beijei-o de leve, passando o gosto de seu próprio leite para ele.
_Eu sei. – eu disse com um sorriso.
Ele riu ainda ofegante. Ambos estávamos suados, mas permanecemos lá, nos beijando. Peguei uma toalha que estava na cabeceira da cama e limpei o peitoral e o abdome de Leonardo enquanto ele colocava um braço atrás da sua cabeça e outro repousava sobre seu peito, ficando numa posição bela e relaxada. Limpei o pênis dele, que ainda tinha uma mistura de saliva e esperma e limpei o meu também. Joguei a toalha para o lado da cama e me levantei, indo em direção ao banheiro. Entrei no box e liguei o chuveiro. Uma água quente caiu sobre mim, fazendo-me relaxar de imediato. Senti braços me envolverem por trás, era Leonardo. Sem dizer nada, ele fez com que sentássemos no chão do box, comigo entre suas pernas, aninhado em seus braços grandes. Recostei minha cabeça em seu peito enquanto a água quente caía sobre nós dois. Leonardo fechou os olhos com um sorriso, e eu também decidi apenas aproveitar aquele momento.
E pela primeira vez, me senti totalmente seguro com outra pessoa que não fosse Hector.
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Era por volta de cinco da manhã e eu dei dois toques na porta do quarto de Hector. Ele atendeu a porta, e não parecia que estava dormindo, ao contrário de Leonardo, que estava no décimo terceiro sono. Ele apenas me encarou por um instante e disse:
_É aquele assunto, não é?
_É. – respondi.
Ele deu espaço para que eu passasse e fui para a sacada da sua suíte, passando por cortinas brancas que balançavam levemente com a brisa marítima. O céu ainda estava levemente escuro, mas logo iria amanhecer. Debrucei-me sobre a divisória da sacada, observando com serenidade as palmeiras balançarem lentamente. Hector chegou ao meu lado. Vi que ele segurava um cigarro e um isqueiro acobreado. Ele acendeu a ponta e deu uma primeira tragada.
Hector fumava muito raramente, apenas em ocasiões delicadas para ele. E aquele nosso assunto era delicado, sempre ficando enterrado por meses até que novamente tocássemos nele. Eu poderia resumir essa questão em uma frase: “Quanto tempo vai durar essa coisa entre nós?”.
Hector deu uma segunda tragada, escorando-se na divisória e olhando para o lado, em direção ao mar que formava ondas pequenas e espumantes. Ele soprou a fumaça lentamente, como que apreciando o momento. Seu rosto mostrava a mesma neutralidade de sempre. Ele usava uma regata frouxa branca e um short de dormir que mostrava suas pernas perfeitamente torneadas,
Eu não precisava repetir perguntas do tipo “Você está satisfeito vivendo do jeito que está?” , ou “Eu estou te prendendo?”. Eu já havia perguntado aquilo várias vezes a ele, embora não com frequência, e eu sabia que as respostas seriam as mesmas.
Eu posso afirmar que sou a pessoa que mais conhece Hector nesse mundo, mas havia sempre uma incerteza: até quando Hector seria meu protetor? Aquele era um tabu entre nós, mas eu não resistia, não aguentava pensar que talvez eu estivesse atrasando a vida de Hector. Se ele quisesse, ele deveria seguir sua vida. Não que eu não quisesse ele por perto, pelo contrário, eu amava Hector como um verdadeiro irmão.
_Você não vai perguntar nada? – ele perguntou.
Ambos olhávamos a paisagem. Nossos cabelos balançavam com a brisa.
_Estou pensando na forma de iniciar a conversa. – eu disse, sendo honesto.
_Você quer que eu pare de te proteger? – perguntou ele.
Hector nunca havia feito essa pergunta antes. Ele deu mais uma tragada, a ponta do cigarro era a única fonte de brilho do ambiente.
_Serei sincero, Hector, não estou tentando amenizar nada com palavras. – eu disse – O que eu disser é o que eu quero dizer.
Hector apenas assentiu, como se dissesse para eu seguir em frente.
_Eu gosto de ter você por perto, nós somos quase um só, e se eu fosse levar só isso em conta, eu pediria para que você jamais saísse do meu lado. – suspirei e olhei para o céu, vendo as nuvens no meio de um azul morto – Mas não funciona dessa maneira, uma pessoa não pode ter o que quer às custas da vontade da outra. Meu peito dói só de pensar que eu seja um obstáculo na sua vida, Hector.
Hector olhou para mim, virou o rosto para o lado, soprou a fumaça e voltou a me encarar.
_Não é só você que depende de mim. – ele disse – Eu também dependo de você.
Parecia que ele não ia dizer mais nada, mas continuou:
_Eu evito o assunto porque eu também tenho minhas dúvidas, meus pensamentos. Sei que essa nossa forma de viver... não é muito prática. Um dia você construirá sua vida com alguém, e eu não posso seguir você durante todo o percurso, por mais que eu queira.
Olhei para ele como se ele estivesse esquecendo de alguma coisa, e disse:
_Você pode, e eu gostaria que o fizesse, Hector. Mas sinto que você vai acabar construindo sua própria vida.
Ele sorriu como se duvidasse daquilo. Deu uma última tragada e apagou o cigarro, jogando-o numa lixeira.
_O Leonardo... – Hector começou a dizer, e eu olhei-o com interesse ao ouvir aquele nome - ...ele quer proteger você. Gosto dele.
_Ele não pode me proteger como você, Hector. – eu falei.
_Não ainda, mas poderá, futuramente. – Hector disse como se aquilo já fosse certo – E eu acho que esse será o nosso ponto final, Victor: quando você achar alguém que pode fazer mais do que simplesmente proteger você.
Embora Hector tentasse esconder, eu podia ver a dor no seu rosto. Eu nem tentava esconder, minha expressão mostrava completa tristeza por algo que nem sequer havia acontecido ainda. Aproximei-me de Hector e dei-lhe um abraço apertado.
_Até que esse dia chegue, e se você quiser, você vai ficar comigo? – perguntei com os olhos fechados.
Hector afagou meus cabelos e envolveu-me com outro braço.
_Sim.
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Estávamos eu, Hector, Leonardo e Rafael (que havia chegado havia algumas horas) sentados na areia da praia sob a sombra de um conjunto de palmeiras quando Aline surgiu ao nosso lado trajando um biquíni comportado azul claro. O corpo de Aline não era feio: seios e bundas proporcionais e ela, não sendo grandes, mas não sendo pequenos demais. Ela tinha uma toalha amarrada na cintura. A praia era bastante reservada e era de manhã, por volta das oito, com um sol não muito forte, mas o céu estava límpido e lindo. Rafael levantou-se ao ver Aline e perguntou:
_Ei, Aline, quer ir dar uma caminhada pela praia?
Aline corou violentamente e olhou para mim e para Leonardo. Nós lançamos sorrisinhos inocentes que praticamente gritavam: “Sim, fomos nós que demos a ideia”. Rafael era um cara bonito, com uma pele parda, um corpo muito legal, olhos castanhos, jeito cheio de iniciativa e um bom caráter, pelo menos até onde eu tinha visto. Ou seja, era perfeito para Aline.
_Ah... eu... – olhei para Aline de forma incisiva, induzindo sua resposta – Claro.
Rafael deu um sorriso satisfeito e os dois se puseram a caminhar, seguindo um caminho que parecia uma calçada, coberta por palmeiras.
_Comporte-se, Rafael! – disse Leonardo com sua voz grave.
Rafael mostrou o dedo do meio para ele enquanto sorria.
_Não deixe ele tocar no seu bumbum, Aline! – eu gritei para ela.
Aline olhou-me incrédula e com certo desespero, mas continuou o caminho. Eu e Leonardo nos viramos um para o outro e batemos as mãos, como quem dizia “missão completa”. Eu e Hector usávamos camisetas regatas e shorts de banho. Leonardo estava só de shorts, sem camiseta, sentindo-se muito confortável, aparentemente. A brisa marítima trazia consigo um cheiro agradável e o marulho dava uma ótima música de fundo.
_Victor, passou protetor solar? – perguntou Hector.
Droga, eu havia sido descoberto. Odeio protetor solar.
_Não... – eu disse resignado.
_Vira as costas para mim. – disse Hector pegando o tubo do protetor que ele havia passado em si mesmo.
_Pode deixar que eu passo nele, Hector. – disse Leonardo, e eu olhei para ele preocupado com uma possível psicopatia “a la Eduardo”.
Leonardo percebeu minha preocupação e retratou-se:
_Enquanto não for realmente necessário, não quero outro cara encostando em você, Vic.
Leonardo pareceu um pouco constrangido com aquilo, e eu ri daquele comportamento estranhamente machista. Hector entregou o protetor solar para Leonardo com indiferença. Tirei minha camisa regata e Leonardo começou a passar o protetor nas minhas costas. Enquanto fazia isso, ele disse:
_Hector, eu realmente gosto de saber que o Vic está sempre seguro perto de você... – Leonardo não tirava os olhos das minhas costas enquanto falava - ... mas um dia eu vou ser capaz de desempenhar sua função.
Aquilo soou como um desafio do Leonardo para ele próprio. Eu e Hector nos encaramos discretamente, lembrando-se da nossa conversa naquele mesmo dia, mais cedo. Inesperadamente, Hector deu um sorriso sincero para Leonardo e disse:
_Espero que consiga.
Leonardo o olhou com um sorriso. Eu olhei para o horizonte e sorri também. Novamente, mas pela última vez, a voz de Eduardo ecoou na minha cabeça: “Você nunca vai achar alguém que queira você e aceite seu relacionamento com o Hector”.
“Você estava errado, Eduardo...”, eu pensei. Leonardo passou protetor nos meus ombros, braços e peito. Eu mesmo passei no meu rosto e, após terminar, abracei os dois, envolvendo cada braço meu em volta do pescoço de cada um e trazendo-os para perto de mim.
_Quer dizer que eu tenho um irmão e_Pode dizer namorado, se quiser. – disse Leonardo.
Olhei para ele surpreso, mas aceitei aquela denominação. Eu finalmente sentia que as coisas dariam certo com Leonardo.
_Ok, então quer dizer que eu tenho um irmão e um namorado para me proteger. Mas o que vocês estão se esquecendo é... – eu dei um sorriso triunfante -... que eu posso me proteger sozinho.
Hector deu um sorriso debochado e Leonardo realmente riu, como se o que eu tinha acabado de dizer fosse algo ridículo. Olhei para os dois de forma indignada.
_Estão rindo de quê, seus merdas? – eu disse incisivamente, porém achando aquilo engraçado também.
Leonardo subitamente me pegou com os braços, levantou-se e me colocou sobre seu ombro, como se eu fosse um saco de cimento. Começou a andar em direção ao mar. Hector sorriu, deitou-se na areia e fechou os olhos, relaxando ali.
Senti a água gelada cobrir meu corpo quando Leonardo se jogou junto comigo no mar. Estávamos numa altura que eu já não alcançava o fundo, mas ele me segurava. Envolvi-o com meus braços e dei um beijo nele, sentindo o gosto de água salgada.
Sabe... naquele momento eu joguei fora tudo o que havia de desnecessário na minha mente. Afinal de contas, o que importava o futuro? Jamais saberíamos o que realmente ocorreria. Jamais saberíamos quando Hector me deixaria, jamais saberíamos até onde eu e Leonardo chegaríamos, jamais saberíamos como seriam os próximos anos na ESOM. Eu só tinha uma certeza: a certeza abstrata daquele momento.
Naquele momento, Aline poderia estar ainda caminhando com Rafael, ou talvez o beijando. Naquele momento, Hector poderia estar dormindo ou pensando em sabe-se lá o quê, porque havia tanto de Hector que ele ainda escondia. Naquele momento, meu pai poderia estar comendo num bistrô em algum lugar qualquer do mundo. Naquele momento, para mim, só havia eu e Leonardo, seu toque forte me segurando pela cintura por baixo da água, os seus lábios macios e a aspereza da sua língua na minha. Naquele momento, nada que não fosse o presente importava...
Porque eu sabia que, naquele momento...
...eu estava imune.
<FIM>