Três Formas de Amar – Capítulo 9
Peguei a mochila na casa do Beto, e voltei sorridente pra casa. O domingo estava acabando, e aquele foi, facilmente, o fim de semana mais louco de toda a minha vida. Não conseguia parar de pensar em tudo que tinha rolado, todo aquele clima excitante de novas descobertas e experiências. Não resisti em mandar uma mensagem para Rodrigo antes de dormir:
- “Passei um dia maravilhoso. Obrigado por tudo”.
- “Que honra receber isso. Foi muito bacana! :)”. – ele respondeu alguns minutos depois.
...
A semana definitivamente começava de forma promissora. A reunião semanal com o pessoal da criação tinha sido transferida para tarde, sem maiores explicações. Perto da hora do almoço, mensagem no meu celular:
- “Hoje você não escapa. Noite de saideira! \o/”.
“Putz, e agora?”. Não conseguiria fugir da Luiza pra sempre. Precisava conversar com ela. Não estava pronto para falar sobre o tema, mas não queria deixar um clima ruim na nossa amizade, e principalmente, no ambiente de trabalho.
- “Lu, hoje está sendo um dia complicado. Mas depois converso com você”, foi a minha resposta, ou melhor, desculpa esfarrapada, afinal ela trabalhava no mesmo lugar.
“Seu burro!”, mas já tinha escrito. Aquilo não iria se sustentar durante muito tempo, e eu precisava pensar rápido. Já se passavam mais de 15 dias desde o ocorrido, e a coisa tendia a piorar. Luiza não respondeu a mensagem.
Logo depois, a caminho da sala de reunião, me deparei com ela também seguindo para o mesmo lugar, me olhando visivelmente chateada. A reunião tinha sido transferida porque não seria só da criação, mas sim um encontro geral entre setores. Todos se acomodaram (sim, é uma equipe grande pra caramba), e aguardavam os sócios chegarem para começar.
Sentia vontade de mandar novas mensagens para Rodrigo, mas ficava sem saber o que aquilo poderia implicar na mente dele. “Será que ele vai achar que somos namorados?”; “E se ele achar que eu não quero mais papo?”; “Mas também se ficar mandando mensagem toda hora ele pode achar que estou afoito demais...”; “Droga, ser um novato é uma merda!”. Olhava para a tela do celular pensando no que fazer, até ter o pensamento cortado por Marcelo, um dos sócios-diretores da agência:
- Vamos lá pessoal, boa tarde.
Todos se calaram.
- Então, pedi pros diretores de cada departamento reagendarem suas reuniões de setor pra gente fazer essa convocação. Vou tentar ser breve porque sei que algumas pautas estão cheias e temos prazos apertados. Surgiu hoje nos bastidores do mercado uma grande oportunidade que não vai demorar muito pra ser divulgada. Trata-se de um cliente grande, a nível nacional, com verba importante e que em breve vai trocar de agência. Eles estão tentando abafar o caso e começar uma concorrência às pressas para então soltar na imprensa, já com a informação sobre a nova agência. Vou me sentar com cada diretor de departamento para escolher quem vai integrar a equipe. Quem for escolhido, peço a gentileza de manter total sigilo do que iremos criar e apresentar, e até a identidade do cliente. Conto com vocês. – concluiu.
Concorrência no meio publicitário é algo exaustivo e tenso. Vou tentar explicar para quem não conhece. Quando alguma empresa se dispõe a contratar uma agência de publicidade, muitas vezes opta por uma concorrência. Diversas agências expõem as suas ideias para campanhas, valores e propostas, sem saber o que a outra está apresentando. Numa única reunião, as agências adversárias fazem a sua apresentação e a empresa seleciona a que se ajustar melhor ao seu perfil. É uma faca de dois gumes, porque pode ser vitorioso, mas também pode não dar em nada, e você ver o seu esforço jogado no lixo. O pior aspecto desse tipo de trabalho, é que o profissional tem que estar completamente à disposição da agência, já que os prazos são absurdamente menores para a quantidade de coisas a se fazer.
Lentamente, todos os funcionários foram deixando a sala, sem ter nenhuma ideia dos possíveis escolhidos para o projeto. Antes de voltar para a criação, passei na cantina para tomar um cafezinho. Sentei à mesa puxando papo com algumas pessoas da produção e meu celular apitou.
- “Ei, não precisa ficar calado não viu? Sem neuras! Eu não mordo, a não ser que você peça, rs”.
Era do Rodrigo. Comecei a dar uma risadinha, até ouvir de uma redatora:
- Rindo sozinho Luciano? Tá apaixonado é?
Ri junto com ela, até me dar conta de que Luiza estava ao lado, também aguardando um café sair da máquina. Me encarou sem sorrir, e saiu. “Puta merda!”. Precisava conversar com ela o quanto antes, mas precisava saber o que dizer.
De volta à criação, respondi a mensagem do Rodrigo:
- “Desculpa Murilão. Dia intenso de trabalho. À noite falo com você”.
- “Putz, nem me fale, tá puxado aqui também. Fico no aguardo. Abraços!”.
“Abraços”. Reli sua despedida sorrindo. Ele continuava da maneira mais respeitosa possível e achava aquilo atencioso da parte dele. Continuei com a minha jornada até o telefone da criação tocar. Pouco depois, Antônio, um dos diretores de arte anunciou:
- Luciano, eu e você. Estão chamando a gente...
“Droga!”, pensei tentando disfarçar.
...
Já na sala de reunião, Bruno, o diretor da criação explicou:
- Luciano e Antônio, escolhi vocês pra fazer parte da equipe da concorrência. Talvez ainda chame algum outro diretor de arte, mas vocês dois serão os principais. Daqui a pouco o pessoal do atendimento dará os maiores detalhes. Já pedi pra reservarem uma sala no segundo andar, e a partir de hoje, trabalharemos em sigilo lá. Quando os computadores estiverem todos instalados, aviso a vocês.
Eu já conseguia imaginar o inferno que seria a minha semana. Bruno prosseguiu:
- Lembrem, não conversem com ninguém que não seja da equipe sobre a concorrência. Teremos três dias para montar tudo e apresentar. A reunião de entrega será na quinta, portanto, conto com a disposição de vocês.
“Puta que pariu, três dias!”. Precisava repor o meu estoque de energético. Poucos segundos depois, a diretora do atendimento entrou na sala de reunião, com Luiza a tiracolo:
- Pessoal, Luiza vai representar a agência no atendimento e apresentação do projeto. Tudo o que vocês precisam saber, perguntem a ela...
“Que ótimo! Isso aqui só tá melhorando”, pensei. Luiza ficou um pouco surpresa ao me ver na equipe, e não escondeu um certo desconforto.
Poucas horas depois, já tinha me mudado temporariamente de andar, e lá estavam as 5 pessoas da equipe trancafiadas, bem ao estilo reality show, na casa mais vigiada do Brasil. Antônio não percebeu muito o clima com Luiza e todos respiravam trabalho. Após o dossiê, percebemos que seria um projeto dos grandes e se a gente ganhasse, a agência chegaria num novo patamar. “Ponto pro meu currículo!”, imaginei. Discutimos algumas ideias e motes, batemos um papo e começamos a colocar a mão na massa. O dia não teria hora para acabar.
...
Lá pra uma da manhã, encerramos uma etapa e decidimos continuar no dia seguinte. Todo mundo estava exausto. No estacionamento, tentei me despedir de Luiza, mas não obtive resposta. Aquilo não estava legal. Pensei em ligar para Rodrigo, mas achei que seria indelicado naquele horário. Mandei uma mensagem e vi que ele estava online:
- “Tá aí?” – perguntei.
- “Opa! Acredite, tem meia hora que cheguei em casa”.
- “E eu estou saindo agora da agência... :(“.
- “Eita! Que dia hein? Acabei de pedir uma pizza pra comer... quer dividir?”.
A proposta era tentadora, mas tinha que levantar cedo no dia seguinte. Pensei um instante olhando para a tela do celular. “Ah, dane-se”, concluí:
- “Beleza, mas não posso demorar. Não tem problema mesmo?”.
- “Tô te esperando!” – ele encerrouMuito trabalho? – Rodrigo perguntou já colocando um pedaço de pizza calabresa no meu prato.
- Cara, nem fale, caiu uma campanha grande hoje na criação, e a cobrança será puxada – falei sem poder entrar em muitos detalhes.
- O bicho tá pegando também lá na empresa. Muita movimentação e pouca informação. Isso nunca é um bom sinal... – disse demonstrando certa preocupação.
Mais uns pedaços e mudamos de assunto:
- Posso te perguntar uma coisa? – comecei.
- Claro, manda!
- Depois daquela noite, você voltou a falar com Luiza?
- Mandei uma mensagem pra ela no dia seguinte, agradecendo a hospitalidade. Mas ela não me respondeu. Depois disso, nunca mais...
- Hospitalidade? – comecei a rir.
- Você queria o que, que eu agradecesse por ela me mostrar meu amigo de pau duro e me agraciar com aquela visão?
Gargalhamos juntos.
- Mas porque isso? – ele prosseguiu – Vocês não estão se falando?
- Depois daquela noite, não rolou mais nada entre a gente – percebi que ele esboçou um sorriso, mas se conteve – Ela chegou a mandar algumas mensagens me chamando, mas recusei. Não sei bem como agir e tô percebendo um clima chato entre a gente.
Queria dar maiores detalhes do meu dia, mas não podia.
- Cara, tenta conversar com ela numa boa, sem maiores indisposições.
- Você não sente vontade nenhuma de ficar com ela de novo?
- Luciano... ficava com Luiza porque não conhecia ninguém em Salvador. E solidão é uma merda. Ainda assim, a gente estava meio que fazendo um favor ao outro. Não era nada demais, e não tinha sentimento nenhum, só físico. Eu prefiro fazer outras coisas... – disse me encarando.
- Sei lá, me sinto péssimo. Perdi a virgindade com ela, sempre fomos amigos...
- Eu entendo. Cara, você precisa colocar na balança o que está sentindo e ser franco com ela. Se ela for mesmo a sua amiga, ela vai ter paciência e vai esperar.
Rodrigo estava certo, mas ainda assim pedi pra ele não comentar que me conhecia, caso ela questionasse o assunto. Ele concordou.
- E como anda aquela outra sensação? – ele prosseguiu.
Olhei pra ele com uma cara de interrogação.
- Você sabe, o nosso dia seguinte – disse sorrindo.
- Cara, vou te confessar... fiquei pensando nisso o dia todo – respondi timidamente.
- Sério?
- Sério... não sei explicar ainda, mas foi muito bom.
O rosto dele se iluminou e ele começou a se aproximar, com os olhos brilhando:
- Você não sabe o que você causa em mim quando falas coisas desse tipo...
Se inclinou, e me deu um beijo quente e demorado.
- Dorme aqui hoje? – ele disse, com a cabeça encostada na minha.
Aquilo estava ficando cada vez mais sério. E minha noite parecia estar só começando.
“Lá vamos nós de novo...” pensei, sorrindo pra ele.
...
Oi pessoal! Que bom que continuam prestigiando a história. Para mim isso não tem preço, de verdade. Smashing Girl, uau, obrigado! Assim eu fico envergonhado (hehe). KaduNascimento, tudo indica que sim, mas as coisas não parecem ser tão fáceis (rs). Stylo, Geomateus e Irish, será mesmo? Ru/Ruanito, olha o pensamento maldoso (rs)! Drica Telles, obrigado pelo elogio! Amanhã tem mais galera! Grande abraço!