Fiquei com um nojo daquele cara, filho da puta, poderia muito bem ter me deixado pegar a agenda era na sala ao lado, e o pior é que ele me pediu mesmo um monte de coisas para minha sorte era uma relacionada a outra então se tornou bem fácil lembrar, fiquei uns cinco minutos ouvindo ele pedir, e pedir, e pedir quando terminou de falar, ficou me olhando e fez um gesto com a cabeça, meio que dizendo: O que esta fazendo ai sentado? Sai daqui... Nem sei como sai daquela sala, fiquei tremendo de raiva eu nunca havia sido tratado daquela forma por ninguém, serio mesmo, EU FIQUEI PUTO DE RAIVA, cheguei no hotel na hora do almoço dando socos e mais socos no colchão, fiquei minhas duas horas de almoço pensando no que faria da minha vida quando ele me mandasse embora, era obvio que ele iria me despedir ainda mais depois que eu desse um soco na boca dele dentro daquela sala decorada, iria tingir as janelas com sangue dele.
Retornei do meu almoço e fui concluir tudo que ele havia me pedido, estava sentado em minha mesa e a Luanda veio a minha sala e disse para eu mandar tudo por e-mail mesmo que alguma coisa fosse impressa pois o Jonas adora coisas documentadas em e-mail, segundo ela, ele vivia frisando que e-mail é documento é uma forma de provar que fez algo, mesmo quando alguém superior em termos de hierarquia diz que você não fez, tinha sentido o foda é que os relatórios de campo vinham todos impressos, agora alem de fazer tudo ainda teria o trabalho de escaniar dos relatórios de campo para encaminhar ao bonito do meu gestor, eu já havia terminado tudo e mandado por e-mail quando pedi pra Luanda me anunciar, eu iria entrar para entregar a parte impressa, e ela como sempre muito amável me deu um caderno de protocolos evitando que eu levasse mais uma catracada do Jonas.
Quando entrei ele estava parado de pé em frente a uma estante com alguns livros, na verdade eram muitos livros, olhei melhor o corpo dele de costas, era gostosinho mesmo, mas nem tive vontade de comer pois junto ao corpo vinha a personalidade, e pra eu pegar um cara daquele só se fosse pra passar areia na cabeça da rola e enfiar nele, pra machucar mesmo... Mesmo assim nem iria valer a pena, ele sequer me olhou enquanto eu deixei os papeis em sua mesa, apenas me disse que quando encontrasse o erro iria me chamar para conversarmos, ele não falou caso encontrasse, ele afirmou que iria achar, nossa que vontade eu fiquei de dar uma voadora nas costas dele, já estava de costas mesmo, me segurei e sai daquela sala para evitar um homicídio.
O Pior de tudo é que aquele ainda era o primeiro dia ao lado daquela pessoa, quando temos um desamor no local de trabalho isso desanima muito, no escritório eramos naquele momento 12 funcionários mais o corpo administrativo pra unidade seria de 50 pessoas, eram cinco da tarde eu me preparava para ir embora a Luanda me disse que novamente ele estava me chamando em sua sala, eu entrei e ele disse que precisava que eu preparasse uns currículos para ele, pois havia a necessidade de funcionários para o Comercial, respondi que tudo bem eu faria essa seleção para ele no outro dia e deixaria em sua mesa, o cara deu uma risada meio de deboche e já foi falando:
– Se for pra fazer isso amanhã deixa que eu mesmo faço tudo, se te pedi pra fazer é porque conhece melhor o cargo que eu, e pode fazer essa seleção mais rapido, mas se estiver com preguiça pode ir embora eu mesmo farei...
– Me desculpe Jonas é que não ficou muito claro...
– Para de justificar e faça o que eu pedi, basta saber ler e tenho certeza que isso você sabe, agora vá trabalhar irei esperar até as 20:00.
Outra coisa que já estava me dando no saco era o fato de ele nunca esperar a gente terminar uma frase, sempre interrompe ou simplesmente corta a gente no meio da frase, fui ao RH onde os currículos já estavam todos em cima do balcão e voltei a minha sala, é bem chato separar currículos ainda mais para aquele cara, com certeza ele iria ler todos, só para achar uma falha na minha escolha e ficar jogando aquilo na minha cara, fiquei até 19:00 separei todos que achei viável e fui a sala dele novamente eu precisava saber a que horas deveria marcar as entrevistas, ele estava em frente ao computador e sem me olhar disse que poderia ser a partir de 13:00 ele iria entrevistar os candidatos e queria que eu estivesse na sala com ele, e por esse motivo era melhor eu comer em um restaurante próximo a empresa mesmo, ele falou isso porque já sabia que eu saia 12:00 para almoçar, ao invés de me liberar as 11:00 não. O filho da puta me reduziu uma hora de almoço.
Retornei a minha sala e fui ligar para os 20 candidatos que separei currículo, cheguei no hotel morto tomei um banho comi uma bolacha e fui dormir, nem tive tempo pra sentir solidão, o Jonas suga os funcionários o máximo que consegue, ele impõe um ritmo de trabalho quase militar, dormi como uma pedra acordei com o despertador no outro dia, levantei no susto, me arrumei de forma mais ordenada, já que ele exigia isso e fui trabalhar, um pouco do meu capricho também era por conta das entrevistas, eu nunca havia participado do processo seletivo antes, era minha primeira vez e queria causar uma boa impressão se bem que nem sabia como aquilo seria... No caminho para empresa o motorista foi falando sobre o Jonas...
– E ai meu filho está gostando de trabalhar com o seu Jonas?
– Ele é muito exigente como patrão, mas tenho certeza que irei crescer muito trabalhando aqui com ele.
– Não conheço ele dentro do escritório não, mas das vezes que carreguei ele nesse carro ele foi muito educado, só fiquei sabendo que ele era um dos grandes daqui depois de uma semana que ele já estava na unidade.
– Serio isso, eu pensei que ele fosse diferente com os outros funcionários, e sinceramente achei que todo mundo soubesse quem ele é, eu tive uma aula sobre ele quando entrei aqui nessa unidade achei que todos tiveram.
– ele é um moço muito fino, todo nos panos e elegante, mas mesmo assim almoça todos os dias lá no refeitório junto com a gente ali do escritório e os peões da obra, não tem essas frescuras que os outros tem não.
– Mentira, ele almoça ali no refeitório da empresa? Eu não sabia disso não pra mim que ele ia para casa todos os dias comer e voltava.
– Não, não... Ele come ali mesmo, tem dia que até lancha com a gente, comendo pão com manteiga e tomando café preto é uma pessoa muito boa, já trabalhei com muita gente, mas daquele jeito ali ainda não tinha conhecido.
Não parecia que a gente falava da mesma pessoa, não poderia ser o mesmo Jonas, de onde que um cara fresco como aquele, todo arrumadinho e cheiroso comia junto com o operário no refeitório, não era o perfil dele, mas poderia apenas ser um preconceito meu, fiquei com aquilo na cabeça, entrei na firma e fui para minha sala, organizei a mesa, e fui andar pela unidade, fui a parte externa em uma varanda que dava acesso a industria e de longe vi ele, com uma camisa azul clara, calça social e sapato estava cumprimentando os operadores da esteira um por um, com um sorriso no rosto, parava e conversava com o pessoal e vinha andando em direção ao administrativo entrei novamente e subi para o terceiro piso, fiquei olhando da varanda ele vindo, dava pra notar que ele já era alguém querido ali, mesmo sendo uma pessoa horrorosa com a gente do administrativo.
Ele entrou na empresa e foi direto para sua sala, um tempo depois passaram os encarregados da logística, e começaram a discutir dentro da sala o clima parecia bem acalourado, mas só se ouvia as vozes dos dois encarregados, a do Jonas não ecoava pela sala, o meu ramal tocou era ele me pedindo para entrar na sala, entrei e me sentei em um sofá que tinha na sala, ele nada falou continuou a conversar com os dois, ele sempre falando muito calmo e firme e aquilo parecia irritar os outros caras que apontavam o dedo no rosto dele e esbravejavam, quando eles terminaram de falar o Jonas levantou de seu lugar e ficou em pé entre as duas cadeiras onde os dois homens estavam sentados, e sem nem transpirar começou a falar.
–Vocês acham certo o comportamento que estão tendo nessa sala? A única coisa que eu pedi dos dois foi rendimento e comprometimento, ao invés de pensar em formas eficientes de fazer isso, os dois decidiram que os motoristas iriam trabalhar em escala prolongada para conseguirem cobrir mais areas, acham mesmo que rendimento é isso?
– Não senhor, mas com transporte não tem muito o que fazer para aumentar o rendimento, não existe formas eficientes, temos que pressionar os motoristas para eles acordarem e correrem o trecho.
– Essa empresa é como uma maquina, algumas peças não aguentam pressão, se pressionar muitos elas desgastam, já outras precisam ser pressionadas para amaciarem e trabalharem melhor, e você são essas peças, eu pressiono para que pensem, se não for assim eu não preciso de vocês aqui, acham mesmo que eu quero motoristas drogados, dobrando noites dirigindo por ai? Não meus queridos, uma das coisas que poderiam ter feito, é premiar, bônus por KM rodado, aumentar os motoristas, temos 5 caminhões parados aqui, e ainda não vi uma solicitação de contratação no meu e-mail, e agora eu pergunto aos dois PORQUE?
Fiquei ali parado olhando, os dois ficavam ensaiando palavras e gestos mas não havia o que argumentar, se tinham caminhões parados era mais fácil escoar produção, o Jonas depois de uma curta pausa disse para os dois que lhes daria até o final da tarde para uma solução, e que era melhor aparecerem com alguma, pois ele não iria tolerar mais falhas de um setor que não pode falhar, os dois saíram de cara amarrada da sala, dava pra sentir a raiva que eles estavam, quando bateram a porta ele se sentou no sofá em frente ao meu e falou me olhando nos olhos:
– Sobre os fatos que presenciou aqui nessa sala, qual sua opinião? Se fosse o gestor da unidade e sentisse que um setor pode dar problemas o que faria?