Cap.15
- Como é que é ?- ele falou
- Eu não estou prevendo o futuro, o resto tá funcionando, será se é efeito do tratamento.
- Não sei amor. Mas se for, acho que você consegue viver sem.
- É- ele passava a mão em meu rosto- vai ser esquisito, mas acho que dá pra viver sem.
Ele ficou lá, comigo, deitado, com a cabeça em meu peito. Era gostoso ter ele ali comigo. Nos arrumamos para ir pra aula. Aquele dia, a casa estava vazia. De certeza, meus pais tinham viajado de madrugada. Tomamos nosso café na enorme mesa da sala de jantar, ele olhava pra mim, me encarava bastante e eu adorava aquilo. Tirei o carro da garagem e fomos andando em direção ao colégio. Aquela altura, todos já estavam acostumados comigo, ninguém ficava olhando por horas. Era a primeira vez que ele iria aparecer no colégio com aquele visu. Assim que ele desceu do carro, um monte de gente olhou pra ele. Afinal, ele estava bem mais bonito. Sai do carro e logo fomos andando. E todos olhavam pra ele. Gente, será se não existia gente bonita naquele colégio ? Cheguei perto do ouvido dele e falei.
- Ei, acho que tem gente achando que você fez cirurgia plástica pra ficar assim
- Ochi, deixa de exagero !
- Eu não estou exagerando, você está muito gato. Mas esse gato é só meu, e ai se algum outro quiser rouba-lo de mim, por que eu vou me transformar em um cachorro- ele ria do que eu falava.
Logo entramos na sala. A gente não tinha assumido nosso namoro pra ninguém, mas sabíamos que as pessoas desconfiavam, afinal líamos os pensamentos, e tivemos a confirmação tempo depois. Ficamos um tempinho sozinhos na sala, até que entrou um garoto hiper afeminado, mas que parecia gente boa. Ele entrou na sala e sentou do nosso lado. Ficou olhando pra gente um tempo, na maior cara de pau e falou.
- Ei, me diz uma coisa, vocês dois são namorados né ?- não pude esconder o nervosismo, ninguém fazia essa pergunta diretamente.
- Porquê a pergunta ?-falei
- Tipo, dá pra ver que vocês se gostam, a gente sente o clima. Desde o primeiro dia eu sentia isso, mas não falei nada. Vocês são né ?
- Sim - falei
- Legal, vocês formam um lindo casal. Adorei. Me chamo Leandro.
- Ah sim. Sou Daniel e ele é Arthur.
- Ei. Vocês são assumidos pros pais ?
- Sim. Porque ?
- Eu queria umas dicas sabe. Tipo, de como falar pra família. Eu quero falar a muito tempo, mas não tem coragem.
- Tipo, não tem segredo, é chegar e falar. Chama a coragem e diz pra ela ficar. No começo vai ser difícil, óbvio, seres humanos são extremamente preconceituosos. Mas depois eles entendem.
É nessas horas que a gente percebe que não somos os únicos que gostamos do mesmo sexo. Que tem pessoas pelo mundo que passam por dilemas parecidos, e que a raça humana é extremamente hostil com essa forma fragilizada e diferente de amar. Acho até que o amor entre as pessoas do mesmo sexo é mais puro que o entre o de sexos opostos. Só os pastores que não enxergam isso. E fazem os outros não enxergarem. Mas um dia, a raça humana vai acordar e perceber o mau que fazem a algumas pessoas.
TEMPO DEPOIS
- Olha aquela nuvem, parece um tubarão- falei
- Aquela parece um coração.
Estávamos deitados no gramado do parque, ele com a cabeça recostada no meu ombro. Leandro tinha vindo com a gente, segundo ele " Quero ver se acho algum bofe escândalo por lá kkkk !"
- Aff migos, esse lugar é hiper parado- ele dizia, entregando nosso milk shake que ele havia ido comprar.
- Leandro, esse não é o lado bom do parque pra arranjar namorado.
- Porquê ?
- Aqui só vem os casais. Os solteiros andam mais pra perto da rua.
- Pô, você tá me expulsando ?
- Não Leandro, eu estou brincando kkkk.
A tarde passou logo. A noite caiu. Aquele dia Arthur tinha saido com a prima. Eu estava lendo um livro, quando recebi uma ligação.
- Alô ?
- Ora, não é que é Daniel mesmo.
- Quem é ?
Continua
Gostaram ???
