Já passava das 11:00 h da manhã. O dia estava até agradável. O azul do céu mais lembrava uma pintura de um grande mestre do passado. O telefonema da noite anterior não saia da minha cabeça.
_ Ligo apenas pra te avisar que chegarei no voo das 14:30 h. Não vejo a hora de voltar a vê-lo.
As ideias começaram a se misturar e de vez em quando o riso ou mesmo uma ruga de preocupação se desenhava em meu rosto.
No primeiro momento o coração acelerou e logo em seguida parecia um carro de fórmula um.
Será que a vida estava me dizendo que mais uma vez eu teria uma outra chance de ser feliz ao lado daquele que amei com tanto ardor e vontade? Ou eu seria apenas o amigo querido que um dia foi amado e não assumiu a bela história que não teve final?
Foi pensando sobre o passado que finalmente terminei o banho, vesti uma roupa esporte, peguei a chave do carro e praticamente voei para o Aeroporto Internacional de Fortaleza.
O trânsito estava fluindo maravilhosamente bem, o que era de se estranhar. E eu segui firme e forte em direção a meu destino.
Jonas Melo Neto, 38 anos de idade, 1.78 de altura, 78 kg, físico invejável, moreno, cabelo preto, olhos da mesma cor dos cabelos, beleza sóbria e clássica, e um solitário que trabalhava na Polícia Federal.
O estacionamento do Aeroporto estava praticamente vazio. Por estar muito ansioso, acabou chegando com quase duas horas de antecedência.
Jonas andou com passos firmes e seguros pelo saguão amplo e limpo, subiu pela escada rolante e sentou-se à mesa de um dos cafés que funcionava no segundo andar. O celular voltou a tocar, sendo atendido por ele no terceiro toque:
_ Fala Kim, o que tá pegando?
_ Ei mano, tô ligando só pra avisar que o almoço amanhã foi transferido pra casa da Lidu.
_ Porra Kim, tu sabe que eu amo a nossa irmã, só que não vou com a cara daquele marido dela. Já vi que não vai dar pra ir não. Por que tu transferiu pra lá, meu irmão?
_ Por causa do espaço. Lá é bem maior e o pai é louco por ela. Aí eu pensei assim, já que é o aniversário dele e a mãe já não tá mais aqui com a gente, seria melhor que o almoço fosse lá.
_ Nesse caso Kim, vou ver se dá pra ir. Não prometo nada.
Jonas amava os dois irmão como verdadeira adoração. Tanto Joaquim quanto Liduina eram mais velhos que ele. O pai nunca foi o exemplo que ele procurou seguir na vida, o irmão Kim era o seu ídolo. Por causa do pai, um militar linha dura, que ele teve que abrir mão do seu amor do passado e pra não entrar em conflito direto com ele, acatou a sua vontade e o pedido da mãe.
_ Porra Jonas, faz um esforço cara, tu sabe que o velho é muito tradicionalista. Não vou aceitar não como resposta. Beijo mano, até amanhã.
_ Não prometo nada, tchau.
Assim que guardou o celular no bolso da bermuda preta que usava, olhou o relógio e faltava pouco mais de vinte minutos para às 13:00 h.
O diálogo com o pai voltou com a mesma força de um raio. E seus olhos ficaram um pouco tristes ao lembrar desse passado que estava tão longe.
_ Não quero saber desse tipo de coisa dentro da minha casa, ouviu bem?
_ Pai nós dois somos amigos. Eu não posso levar culpa de uma coisa que não existe.
_ Você mente, seu porra.
A surra foi a pior coisa. Até então eu já sabia sentir algo por meu amigo, só que nunca havia acontecido nada. E quando meu pai falou o que tinham falado pra ele, isso fez com que sua raiva triplicasse de intensidade. Por dias as marcas ficaram em meu corpo. Marcas feias inclusive. Muitas das coisas faladas para ele por terceiros nem mesmo eu sabia do que se tratavam ou que um homem fazia aquele tipo de coisa com outro, meu pai foi implacável na sua fúria.
O serviço de som do Aeroporto de Fortaleza finalmente avisou que o voo que eu esperava sofreria uma atraso de pelo menos três horas porque o mal tempo em Salvador reteve a aeronave naquela cidade.
Consultei o relógio mais uma vez e decidi sair pra comer alguma coisa, com a certeza de voltar por volta das 17:30 h.
Ser punido por praticar sexo com outro homem mesmo sem nunca ter tocado nele, me fez querer experimentar e se a surra que eu levaria fosse igual a que já levara, daria pra suportar.
E essa lembrança me fez voltar no tempo, assim que o garção do restaurante em que fui almoçar terminou de anotar meu pedido e me vi novamente sozinho.
Miguel Resende dias, meu amigo e meu primeiro amor. Amor esse que nunca teve paz ou mesmo compreensão por parte daqueles que nos eram tão caros. No começo um tinha o outro e tudo o que a gente queria era poder viver o amor em toda a sua plenitude. Mas o que sabem sobre o amor dois garotos de 14 e 16 anos?
Enquanto eu almoçava o passado voltou pra fazer um aparte da minha vida e do meu amor, que nunca deixei de sentir pelo MIGAS meu amigo, que era filho do amigo do meu pai.
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Oi. Começo agradecendo o carinho, a atenção, a consideração e o amor que cada um de vocês fez questão de demonstrar sempre que aqueciam o meu coração com suas palavras de incentivo, com suas análises precisas e cheia de paixão na defesa que fizeram dos seus pontos de vista.
Me emocionei várias vezes por nunca esperar uma aceitação tão clara e ampla de algo que tivesse escrito e segundo vocês disseram, bem escrito. Venci alguns medos do meu passado, como bem falei algumas vezes sobre a professora de redação. E fui convencido por cada um de vocês de que sou capaz de andar com as próprias pernas. Tenho certeza que seguirei por essa estrada que há de me mostrar coisas, fatos e pessoas tão imortais como aquelas que o Nobre e Grande Machado de Assis encontrou na sua queria São Sebastião do Rio de Janeiro.
Beijo a cada um de vocês e que eu consiga mais uma vez seguir em tão agradáveis e queridas companhias.
Nando Mota.
