O Cara da Faculdade de Letras 2

Um conto erótico de GarotoBH
Categoria: Homossexual
Contém 1686 palavras
Data: 06/07/2014 13:29:36
Última revisão: 07/07/2014 09:51:21

Alguns dias já haviam vindo e ido desde que o Pedro mandou uma solicitação de amizade para o meu perfil do Facebook. Como eu já mencionei, sou bastante ligado a manifestações culturais artísticas. Lembro que em um determinado sábado chamei meu namorado, Matheus, para irmos a um museu que estava com uma amostra de Pop Art de artistas americanos. Ele não curte muito esse tipo de programa, todavia nunca recusa em ir como minha companhia.

A amostra foi ótima! Expliquei ao Matheus o contexto da época, o que aquele tipo de arte tencionava transmitir e, também, os principais artistas daquela corrente. Mas não ficamos mais do que uma hora, uma vez que contrariando o que eu desjava, não havia muitas peças, contudo o que faltava era substituído por telões interativos.

O museu fica próximo à Praça da Liberdade, portanto fomos para lá lanchar, descansar (Matheus) e comentar sobre a amostra (eu, Felipe). É uma praça grande, retangular, com lindos jardins e árvores frondosas. Ali é um dos locais que se tornam verdadeiros oásis para fugir da selva de pedra e trânsito caótico que é Belo Horizonte. Tiramos algumas fotos e descemos para o centro no intuito de pegar o metrô e voltar para casa. E como um bom voyeur, um exímio observador, em um edifício próximo à Estação Central do metrô havia uma arte em grafite maravilhosa! Vou tentar explica-la: havia um monge envolto por luz dourada, flanqueado por uma cidade cinza e sem vida, salvo uma única árvore verde. Achei aquilo de um expressionismo e impressionismo fantástico. Fotografei, pedi ao Matheus para que me fotografasse e, pronto, adentramos a estação e fomos embora.

Depois de algumas horas que eu já estava na minha casa e ligado para o meu namorado, a fim de avisar que havia chegado bem, fui fazer o upload das minhas fotos no computador e algumas postei no Facebook. Curtidas e alguns comentários à parte, logo a caixa de mensagem abre e quem estava no inbox? Isto mesmo: o Pedro! Ele elogiou as fotos e o conceito que elas transmitiam. Mas a conversa limitou-se a apenas isso. Tão logo o assunto esvaiu e o silêncio preponderou, paramos de teclar um com o outro e eu fui ver o que meus amigos haviam postado.

Tenho um amigo, na verdade meu melhor amigo, que tem tudo a ver comigo com relação a gostos. Ele faz direito na UFMG, mas seu forte mesmo é a filosofia. Conheci ele no primeiro ano do ensino médio e, acreditem ou não, nos tornamos inseparáveis desde o primeiro dia. Lembro que estávamos estudando a noite e logo na segunda semana de aula mudamos para o turno da manhã. A supervisora não nos separou de sala. O resultado foi que continuamos a tecer aquela que se tornaria uma amizade verdadeira e, até hoje e se estiver na minha dependência, inseparável.

Enfim, o Guilherme havia me marcado em uma postagem sobre a época em que o Cine Belas Artes só exibe filmes clássicos. Ele é um cinema que foge dos blockbusters convencionais e abarca os filmes mais cults e undergrounds. A melhor definição para ele é que é perfeito! Só que há alguns períodos do ano em que exibe em cartaz clássicos hollywoodianos, como o Bonequinha de Luxo que o Gui me convidava para assistir. Ele já havia postado isso fazia algumas horas, então liguei para ele e marcamos que iríamos sim assistir tão logo tivessemos tempo. Eu já havia assistido apenas algumas cenas soltas dele, dado que antes de ir para a área de letras havia feito um período de publicidade e propaganda e, em uma das aulas, especificamente na de mídia publicitária, precisávamos encontrar alusões que havia entre o Bonequinha de Luxo com uma peça publicitária que a professora havia passado.

Pessoal, eu sei que é chato ler os detalhes e tal, mas são eles que enriquecem a história e não a deixam bruta e maquinal. Então prosseguindo, neste mesmo dia ainda havia visto na página do Cine 104, outro espaço cultural de BH que eu amo, que o filme Hoje eu Quero Voltar Sozinho havia chegado na cidade e estava em cartaz. Também estava doido para ver, mas como o Guilherme diz não ser gay e isso para mim é irrefutável, não o convidaria para ver dado seu teor. Pensei na hora em chamar o Matheus e prontamente o fiz, sem antes o ouvir reclamar que deve ser um filme ruim e que iria dormir na seção. Subsequentemente, compartilhei a publicação e quem é que me chama novamente via inbox para comentar? É, ele mesmo: o Pedro.

Ele me perguntou onde ficava o Cine 104 e eu o informei. Desta vez a conversa não foi retesada pelo silêncio, já que o Pedro logo foi comentando sobre o filme, que também queria ver, e sobre o curta que o originou. Achei legal a forma que ele definia a trama e a produção, sobretudo por já ter visto o curta e eu, embora conhecesse, não. Quando falei que não havia visto o curta, poucos segundos depois ele envia o link do You Tube para que eu pudesse ver. Ele jogou algumas indiretas, algumas das quais tentava adentrar no universo homossexual e dizer que, como não faria nada naquele início de noite, iria ver o filme. Segundo ele, o problema é que o veria sozinho e gostaria muito de ter uma companhia. O que você interpretaria com isso? Que ele estava me convidando para assistirmos juntos? Bom, eu não aceitei e o cortei logo dizendo que iria com um “amigo”. Conversamos mais algumas coisas que não me lembro e ele foi se arrumar para sair.

Eu finalmente pude assistir o curta Eu não Quero Voltar Sozinho e depois fiquei no face teclando com alguns amigos, sem nada de melhor para fazer. As horas transcorreram tão rápidas que o Pedro mais uma vez me chamou para conversar, isso já mais de meia noite. Ele me disse sobre o filme e, sendo sucinto, o descreveu como “meigo, doce e lindo”. Isso eu nunca vou esquecer! Um cara rústico, grosso, no ambiente universitário se transformando em um homem envolto de gargalhadas ocasionadas por conversas que giravam em torno de sexo e radicalismos, no Facebook se transmutava em uma pessoa legal, boa de papo e, o que mais me espantou, sensível. Amei isso e fomos conversar sobre o filme, neste momento eu já nem me importando com spoilers cujos tanto odeio.

O sono bateu dos dois lados e nos despedimos. No domingo acordei tarde, com o almoço já sendo servido por minha mãe. Eu estava tentando engolir The Walking Dead e pela tarde fui assistir a segunda temporada. Na boa, para quem desde 1996 joga Resident Evil (no meu caso assistia tapando os olhos meu padrinho jogar), quando assisti a série vê referências ao próprio jogo e intertextualidade envolvendo as fodásticas obras de George Romero. Depois entrei no meu perfil do Facebbok e nem preciso mais dizer quem foi que no exato momento em que fiz login me chamou para conversar.

Até hoje o Pedro sempre me chama com um “Oi :)”. Nada mudou. Enfim, naquele dia conversamos sobre a faculdade e eu revelei meu fastio envolvendo a nossa turma desinteressada. Ele entendeu e incrivelmente compactuou comigo. Não fiz críticas à ele naquele dia. Enquanto conversávamos, esquadrinhei seu perfil e, observando suas fotos, descobri que ele havia conhecido a Nova Zelândia. Perguntei acerca para ele, que seguidamente me respondeu que morou lá trabalhando como chef de cozinha. Também puxou um gancho e me disse que conheceu o Chile, que em sua não tão humilde, mas esmerada opinião, é um país que o Brasil deveria se inspirar.

Logo ele revelou que estava solteiro há três anos e, igualmente, estava sendo um porre a falta que um namoro fazia em sua vida. Perguntou se eu namorava. Eu respondi evasivamente que sim. Aí um inconveniente silêncio fez-se presente, porém logo alquebrado pela pergunta que ele me fez:

– Então, meninos ou meninas, Felipe?

Fiquei um pouco sem reação. Embora compreendesse muito bem a pergunta imposta, respondi que não havia entendido. Ele pareceu pensar e reformulou suas palavras:

– Por favor, não me leve a mal. Estou tentando dizer sem que eu pareça uma pessoa chata. Quero dizer se você namora com um menino ou uma menina?

– Menino – eu respondi.

Fiquei um pouco desconcertado e, ao que me parece, ele também. Todavia também resolvi indagar:

– E você, Pedro, prefere meninos ou meninas?

– Meninos, claro – ele respondeu depois de decorrido algum tempo.

Houve mais alguns momentos de desconcerto. Fugimos daquele assunto e pedi à ele para me contar mais concernente a sua residência na Nova Zelândia. Ficamos por isso naquele dia. Despedi dizendo que iria assistir um filme com minha irmã e saí do face. No outro dia, chegando alguns minutos mais cedo na faculdade, o encontro assentando numa das mesas, rodeado por sua turma. Eu passaria direto se o próprio, com um sorriso deslumbrante e uma face ostentando puro deboche, não me convidasse para sentar com eles. Não devia ter aceito.

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Então, pessoal! Tão gostando? Mas tão gostando mesmo? Está sendo um pouco complicado escrever, mas prometo que tentarei publicar os vindouros capítulos ao menos duas vezes por semana e, segundo o que me pediram, reduzir o nível de prepotência. Ai, Ai...

Ah, gostaria de comentar uma coisa! Sabem do viaduto que caiu na Pedro I aqui em BH? É essa mesma avenida que me leva ao meu bairro e também à minha faculdade. Passo por essa via quase todos os dias e, um dia antes da tragédia, fui me encontrar com o Pedro em um shopping; meu ônibus ficou parado alguns minutos por debaixo do supracitado viaduto. Estava quente e os raios solares batiam com veemência no meu rosto. Olhei pela janela e vi um homem pintando ele sem qualquer preocupação. O que quero dizer é que, puta que pariu, meu ônibus parou debaixo do tal viaduto um dia antes do ocorrido! Espero que tragédias assim não mais se repitam por virtude da irresponsabilidade da prefeitura e que Deus tenha ao seu lado as vítimas.

Enfim, até a próxima, cambada!

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Comentários

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Opa, gostando demais! Já sinto dó do Matheus... sei lá, ele me passa a ideia daqueles que são rudes por fora mas moles por dentro. Caso contrário, ele não zanzaria com você por uma exibição de sei lá o quê de PopArt, AUHShAUShuHA! Ou talvez ele te traia também... nesse caso, foda-se ele. Até a próxima!

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Pera ae, o pedro eo garanhao, gostosao rodeado de vadias mal comidas e derrepente 30 diz que prefere meninos?Cara ja vi que a historia vai ter muitos altos e baixos, to muito ansioso pelo proximo capitulo, mais por favor lipe nao demora tanto que assim se mata seus de ansiedade!!E sobre o viaduto, a morte chega de surpresa, so Deus msm naquela hora!!:)

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Muito bom.Sua escrita e rica e envolvente. Não poderia espera outra coisa de um aluno de letras.Sua estória e muito legal ,passa verdade. Um será que o Pedro já esta afim de ti.

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Tirando aquela crase de "a um museu (assim está certo)", está bom.

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AEEHOOOO até q enfim postou mais um!!! Bom demais!!

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Eu gosto da questão dos detalhes, daqueles "parágrafos desnecessários" que as pessoas criticam. Mas gosto muito mesmo da sua maneira de escrever. E GOSTO AINDA MAIS DO SEU GOSTO ARTÍSTICO , principalmente porque me identifico bastante!!! Espero próximo conto ansioso!!!

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gostando cada vez mais da sua historia ,o pedro me parece ser uma pessoa bastante vamos dizer que ecletico com relaçoes a amizade como o johem jhol comentou .dificil conviver com pessoas com gostos tão diferentes do nossos .mais uma vez te dou os parabens pela sua escrita.

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Continua nos instigando com seu conto,claro.Sua escrita,às vezes "pomposa" para o padrão do site,é no minimo interessante.Parece,se estimulado,capaz de uma rica loquacidade.Quanto à prepotencia,não se incomode com nossos julgamentos.Seja genuíno,rapaz!Ao menos não exibe uma falsa fachada de humildade enquanto,por dentro,se ufana de sua sabedoria(pretensiosa?típica do geminiano que só conhece a superfície das coisas?não creio,rs).Autenticidade nesse mundo de "posers" é uma delicia!

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Vejo que este conto vai nós dá um ar de "intelectual".Let's Go

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Claro que estamos gostando, chato! Bem, fica difícil conviver com uma pessoa que pelo menos tente gostar do gosto do namorado, como o Matheus faz, ao menos que você o ame demais. Até que depara com o Pedro, com muitos gostos e/ou assuntos iguais, acaba que balançando. É como dizem no real a pessoa é uma, mas no virtual é outra. E muitas pessoas são assim, em grupo são de um jeito, mas quando estão em companhia apenas de outra pessoa ou teclando com outra no virtual é que se percebe como a pessoa é realmente. Nossa, ele realmente te testou com a pergunta de preferência de gênero hehehe. Agora ele deve começar os flertes. Será que ele ou algum amigo vai fazer algo contigo. Abraços!

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