― Desculpa por te levar na missa. Sério, mamãe me obriga a ir. ― falou Veloso. ― Como tu sabes... Eu não sou muito religioso.
― Suponho que sim. ― falei com um mínimo sorriso. ― Não vejo padres bombados por ai.
― Ah tá. ― falou ele, sorrindo. ― Tão caladinho. Não quis me dar nem um beijinho, nem carinho. Por quê? ― perguntou ele trocando de marcha.
― Dor de cabeça. ― falei enrugando o canto direito da boca. ― Eu também não vou muito à igreja. Mas, minha vó me obrigava a comer peixe na semana, mesmo eu morrendo de medo das espinhas.
― Tá gozando comigo, né? ― Soltou um risinho como se tivesse imaginado. ― Mas, me diz... Esse comportamento não tem nada a ver com aquele estranho, tem? ― falou. ― Não, porque eu notei uma enorme diferença em ti depois que recebeste a visita dele. ― Ele passou pelo sinal, no amarelo. ― Tem alguma coisa que queira me dizer?
― Ficou muito evidente? ― falei indo para frente e virando para o lado e mexendo no cabelo. ― Me desculpa. Ele... Voltou para me lembrar de coisas que me fazem muito mal. Na verdade, ele não tem culpa de nada. Não quero falar. ― Parei de forçar a tela do celular. ― Eu não te contei, mas eu recebi também a resposta doutras editoras.
― Ah tá. Então, queres me dizer que te arrependes de ter falado que, talvez, tu poderias aceitar a minha vaga? ― falou ele buzinando para o carro da frente.
― Do namoro? Ou do trabalho? ― falei temeroso, por mais que eu não tivesse aceitado havia ficado nas entre linhas. Os dois assuntos. ― Desculpa. Eu não aceitei nenhum dos dois.
― Pelo menos podemos ficar só na amizade? E para que sair da É ISSO? E que tipo de lembranças?― perguntou ele, finalmente, parando no sinal. Virou-se para mim.
― Claro, que sim, né? As lembranças são coisas que eu prefiro não lembrar. Que fiquem no passado. Esquece.― falei, olhando para minhas mãos e enfiando-as juntas por entre os joelhos. ― Seis meses me fizeram ter uma ligação contigo. Talvez até uma amizade especial. ― falei mudando de assunto.
―Uau ― Ele riu. ― Sexo bom e grátis. Mas seria melhor se fosse exclusivo. ― ele se virou de novo à direção e levou a mão ao câmbio. ― Não me leve a mal.
― Não... mais quando... ― O ar passou por meus lábios fazem barulho ― Todos me dizem isso todos os dias! ― disse ― Normal.
― Deixa de ser sarcástico. ― disse ele sorrindo e olhando para a rua que ia dobra e girando todo o volante falou mais alguma coisa pegando a rua mais deserta que eu já vi.
―Aham. ― falei forçando a tela do meu celular. Acabei enviando um monte de emoji para Colette, uma amiga da Jaqueline que deveria ter “caído na festa” .
Encostou o carro. Olhei para a rua e perguntei:
―Por que paramos aqui? ― falei digitando.
Tomou o celular da minha mão.
― Eu posso não ser mais teu namorado, mas mereço atenção!
E quando foi?, pensei.
― Por que essa revolta? ― perguntei arqueando minha sobrancelha.
― Porque não prestas atenção no que eu digo! ― falou colocando o celular perto do câmbio. ― Queres ir para o sítio comigo? Passar a semana santa?
― Eu não arrumei nada para ir! ― falei pegando o telefone.
― Não faz mal, podes usar minhas roupas. ― falou. Ia digitar mais me desconcentrei.
― Tás trêbado, não? Vou ficar parecendo o Bozo! ― falei rindo, só de me imaginar.
― Ai, ai. ― disse ele abrindo um sorriso. ― Aceita ou não? ― disse ele ligando o carro. E dando a volta em direção da pista estadual mais próxima.
― Oui, oui. Ok? ― falei. ― Somente para não fazer desfeita.
― Eu ia te levar mesmo não querendo ― disse ele rindo. ― Nunca te ouvi falando em francês. Por quê? ― perguntou ele concentrado na rua.
― Ou melhor... Por que eu nunca te vi dirigindo pelado? ― Chupei o ar.
― Faço isso num estalar de dedos. Quer?
― Adoro! ― falei imitando uma voz bem “rasgada” e deixando meu telefone em cima do porta-luvas. Meu telefone gemeu.
― Puts, esse telefone não para de tocar, não? Deixa-o ai! ― mandou ele.
― Eu não ia pegar mesmo. ― falei olhando-o pelo canto do olho.
―Não. É que, tipo, a gente quase nem conversou ao vivo. Pow ― Reclamou.
― Sei... ― falei mordendo o canto da minha boca. ― Então me conta mais sobre ti. Porque eu não sou nada interessante.
― Não sabe de nada inocente. ― falou.
― Tu que não sabes de nada ― Pisquei e ele riu alto.
― Bom, o que queres saber de mim?
― Sobre a tua família. ― perguntei.
― Meu pai é General no exército, meu irmão tá no caminho. Minha mãe é uma acionista da editora e de outras coisas; e como vistes uma beata. Basicamente isso. E eu sou o editor.
― O que você fazia naquele site? ― Me virei, nessa eu estava mais interessado, mesmo sabendo a resposta.
― Sexo.
― Uau, que direto. ― falei.
― Querias que eu falasse que eu queria uma putaria cheia de pássaros, florzinhas e blah-blah? ― falou ele rindo.
― Sabia! ― falei como um xeque-mate. ― E tava com preguiça de ir caçar. E se ferrou por que eu não tava nem no Brasil!
― Por que perguntou então? ― Ele era muito serio quando dirigia sempre olhando para os lados ou para o retrovisor.
― Mas tu podias pegar essas patricinhas por ai. Por que não pegou?
― Porque é tudo só interesse e nem uma me atrai. ― Olhou de novo pelo retrovisor. ― Ao contrário de ti atencioso e delicado. Lembra-te, pensei até que fosses mulher! E pensei essa pepeca é para casar. ― falou ele rindo, me fazendo rir e apoiar a cabeça na mão meneando.
― Tás procurando o Augusto? Acho que ele não nos seguiu até o sermão do padre, não. ― Ri.
― Bom, sexo nem pensar... Acho que deverias ter seguido os exemplos dos outros caras. Enfiar e ir embora.
― Mas, contigo é diferente, fera. ― falou ele e me olhou com safadeza. ― E nem enfiei, né? ― piscou.
Pensei rindo: Que safado!
― Como diferente? ― perguntei. Ele tava numa puta velocidade.
― Sei lá. Eu acho que não deveria falar. Mas, confio em ti. Pronto, tá contente? ― Abrindo um sorriso.
― Uau. Obrigado. Isso foi sincero? Ou só algo para aumentar o status? ― falei impressionado, abraçando-o.
― Claro, pô. Vou te mentir? Putamerda, deves tá morrendo de fome, né? ―falou ele se distraindo, virando para mim.
― Não. ― falei. ― Já fiz tantas dietas malucas que posso ficar um ano com fome que nem faz diferença.
― Ah, mais eu tô. ― falou ele apertando ajeitando o seu “pacote”. ―Comprei um presente para ti. Ontem de noite. Mas, como não sou mais teu namorado... Uma pena... Eu não pensava que ligasses para essas loucuras de dietas, nem parece.
― Tá me chamando de gordo? ― olhei para ele pelo canto do olho.
― Não sei. ― Falou ele rindo. Seu braço foi suficientemente grande para ir até o banco de trás, da minha direção. Ele apareceu com Ovo da Ferrero Rocher.
― Não gosto muito de chocolate preto. Porém, me dá logo esses dois aqui. ― falei brincando, claro, massageando bem de leve as bolas dele.
―Ei, ei caralho. Calma. Eita, eita, eita. ― falou ele rindo. ― Tô dirigindo!
― Perai, vou mijar. ― falou ele desabotoando a bermuda. E saindo do carro.
― Vai. ― disse rindo e mexendo no telefone.
Jean havia me enviado várias mensagens me perguntando onde tava Jaqueline. Eu disse que não sabia. Mesmo sabendo que ela não deveria estar em farra nenhuma e, sim, agora, ela estava se enchendo de sorvete na casa de Katarine.
Veloso saiu do meio da área e entrou no carro ainda de feche aberto.
― Já estamos perto? Passamos por um monte de propriedades! ― falei.
― Bem que a gente podia dá uma pulada lá no banco de trás pra passar o tempo. ― piscou ele.
― Não, a gente não pode. ― falei com uma voz enjoada e ranhosa.
― Aff, era pelo menos para a gente ter dado umas quatro seguidas ontem. ― falou ele.
― Pois é, perdeu a chance. ― falei.
A propósito, fui eu quem fez essa gentileza para ele.
― Abre ai o ovo para a gente. ― falou. ― Pelo menos isso, né? ― falou ele manobrando o carro para sair do acostamento.
― Nem vem querer fazer chantagem que sexo comigo é só quando EU quero, se EU quero ou se ME é favorável.
Por mais que EU quisesse, por mais que ME fosse favorável, por mais que EU estivesse gritando por sexo. Não o faria, minha mente dizia que seria errado.
― Tá bom, Sr. Controlado. ― falou ele.
― Continua me contando sobre ti. ― mandei.
― Só se tu me chupares. ― falou ele me olhando pelo canto do olho, claro que com um sorriso safado (a marca dele).
― Hum ― falei passando a língua pelos lábios e me abaixei. Fechei a braguilha dele. ― Para não pegar resfriado. ― falei rindo.
― Só terá a gente, né? ― eu falei acanhado. ― Porque eu não conheço ninguém. Se tiver vou ficar trancado até amanhã. E já é de noite e nem percebi!
― Cara, eu te disse eu e tu, a sós! ― falou. ― Agora me dá um pedacinho de chocolate. ― Olhei para ele. ― A gente já tá perto!
― Também tás que nem uma tartaruga, para não dizer ao contrário. ― Falei quebrando o chocolate para colocar na boca dele.
Entre as pernas dele me apoiei com minha mão esquerda. Ele prendeu-a e eu coloquei o chocolate com a direita e limpei a boca dele com um beijo; derrubei o ovo, meio embrulhado no chão. Ele dobrou o carro e paramos.
― Chegamos. Tu te preparas. ― falou ele colocando no colo dele. Abriu a porta e me carregou até o capô me sentando lá. ― Eu já volto. ― disse ele beijando meu tronco.
Ele voltou com uma toalha estilo piquenique, xadrez, vermelha e branca e uma garrafa verde na mão. Acenou para eu segui-lo e fui. Quando cheguei à área de trás da fazenda. Ele, pelado, me empurrou. Eu fiquei na beira da piscina e ele caiu dentro. Eu ia sair, pois a água estava um gelo e eu não sabia nadar. Minha única roupa estava molhada!
― Ãhan. ― disse Veloso me puxando.
― Não sei nadar seu louco! ― falei batendo no peito dele.
― Como é que estavas saindo? ― falou ele me apalpando.
― Eu tava na beira, bobo! ― A lua quarto crescente, brilhava na piscina como no dia que eu me deitei no peito de Augusto dentro do carro dele. Isso me excitou mais, eu estava no meu limite, na verdade espocando.
― Quer um pouco de vinho? ― disse ele enchendo uma taça, sentado na beira da piscina.
― Não. ― falei beijando o peito dele. Massageei o mais as coxas dele e dei alguns beijinhos , acompanhado com uns gemidos dele. Ele levantou meu rosto e me beijo de leve, me fazendo querer mais.
― Ei, ei, o que foi meu branquinho? ― falou ele pulando na piscina carinhosamente. ― Por que chora?
― Não consigo. Vai parecer idiota. Mas eu só tinha feito isso com uma pessoa. Com a pessoa que eu amo até hoje. Desculpa, eu não devia ter vindo. ― Uau, a expressão dele foi de total decepção. E aquilo que restava de pé caiu, na hora.
― Não, não. Não fica assim. Eu tô aqui. ― Ele me abraçou. ― Por que não está com ele? ― Abracei-me mais com ele.
― Uma idiota o matou. ― falei aos prantos.
― Puts. Vamos para o quarto para você se deitar. ― falou ele me carregando. Agora, mesmo pelado, sem malicia nenhuma. Eu acho que ele nunca ia forçar a barra comigo, por mais tarado que fosse.
Eu me lembrei dos momentos olhando Ricardo, dele me olhando. Sim, Veloso me lembrava muito a ele. Nossa única vez, do meu desejo supremo de me entregar a ele quando suspirei me entregando nos braços do homem que eu amava.
Ai, por que Augusto tinha que fazer essa merda de dor voltar para mim? Na verdade, eu não precisava de Augusto para me lembrar dele, Ricardo, que havia me marcado tanto era uma lembrança independente. Acho que sempre me lembraria dele, não havia desculpas.
Talvez ele seja o único homem que eu me entreguei na vida. Lembrar-me que agora eu só podia ir ao cemitério colocar flores em seu tumulo e ficar a noite inteira admirando aquele mármore branco polido com a sua data de nascimento e o seu nome.
Lembrar-me que não poderia ter mais suas caricias, seus toques, ver seu riso. Que ele não me faria mais rir por detrás de meus livros. Tudo isso doía. Fazer meu coração incendiar como só ele fizera, mas acho que só uma pessoa poderia fazer isso e Veloso não era essa.
Pode parecer um pouco medíocre ou mesmo bisonho equiparar esses dois fatos. Mas, é como se eu comera um peixe e uma espinha se enterrasse em minha garganta. Só que em meu coração não havia presença de nada, isso que incomodava. Eu sei: vai passar!Eu sei que a história anda meio monótona com as lembranças e os sentimentos de Henrique, mas ele vai superar isso acreditem! Ele vai ficar feliz, logo! :D Beijo!! E tentei diminuir o tamanho do texto ;) Qualquer coisa me falem :D