Olá, leitores e escritores do CdC!
Dieguinho31, desconfiado do Gustavo? Mas ele é tão legal t-t! Haha, verá o que acontece nesse capítulo.
Irish, que bom que consegui fazer você se sentir assim por um personagem. Essa é uma boa conquista para um escritor.
Ruanito, Chele, cintiacenteno, FabioStatz, obrigado pelos votos e comentários!
E os problemas começam... Boa leitura!
Contato: contistacronico@hotmail.com
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QUEM É O AGENTE ETIOLÓGICO?
Passaram-se duas semanas desde a festa na casa de Rafael. Desde um dia antes da minha primeira aula de entomologia, que foi numa segunda, Gustavo não havia me ligado. Eu não o havia encontrado também. Achei aquilo estranho, mas correr atrás dele seria demonstrar desespero. Além disso, quem estava interessado em ter algo mais era ele. Talvez tivesse desistido e estava me evitando. Tudo bem, nesse caso.
Uma surpresa interessante foi que eu, coincidentemente, peguei aulas de núcleo livre que coincidiam, em sua maioria, com as de Eduardo Brenner, o cara interessante que vi pela primeira vez na aula de entomologia. O que era peculiar era que as aulas de núcleo livre que eu pegava eram bastante diversificadas, não tendo elos de semelhança entre si. Se Eduardo também estava frequentando aquelas aulas, significava que ele, provavelmente, também tinha sede por conhecimento geral. Aquilo me intrigava ainda mais.
As aulas do curso de medicina estavam interessantes até o momento. No entanto, eu já havia tido aulas avançadas de fisiologia aos meus quatorze anos, então essa matéria era inútil para mim. Eu tinha facilidade enorme com bioquímica por ter conhecimento muito bom sobre toda a química (influência dos negócios de família). Anatomia era uma novidade para mim, mas era, basicamente, decoreba. Fácil demais. Mesmo assim, era interessante compreender melhor o corpo humano. Aquilo certamente se mostraria útil no futuro. Havia ainda matérias como biofísica, saúde pública e histologia.
Nesse dia, eu estava tendo uma aula maçante de saúde pública. Metade dos alunos mexiam nos seus celulares, um quarto dormia, outro quarto, no qual eu, Hector e Aline estávamos inseridos, tentava absorver algo daquela aula pesada. Aline copiava freneticamente, eu e Hector apenas assistíamos à aula. Hector tinha uma cara entediada apoiada por um braço com o cotovelo na mesa. Ele recostava-se no assento de forma preguiçosa, mas eu sabia que estava absorvendo todo o conteúdo e o armazenando.
A aula finalmente acabou e a maior parte dos alunos levantou-se desesperadamente. Eu encarava o comportamento deles como uma tremenda ofensa para nosso docente de saúde pública, mas minha opinião pouco importava. Em um instante, havia apenas umas cinco pessoas na sala. Fechei os slides no meu tablet o guardei na minha bolsa carteiro. Hector não trazia materiais, embora ele tivesse um notebook e um tablet, como eu. Aline guardou seu caderno em sua mochila e fomos para fora.
Estávamos no corredor da faculdade de medicina, caminhando para a parte externa. Passávamos por diversas salas de aula, de onde saíam várias turmas veteranas. Passei por uma sala na qual sabia que Gustavo tinha aula no mesmo horário da minha de saúde pública. Sabia disso porque, na quinta de duas semanas atrás, dia posterior à festa na casa de Rafael, eu havia visto ele saindo daquela sala com sua grande amiga, Alessandra.
Eu ia passar direto, mas vi Alessandra sair sozinha, o que era bem estranho. Ela parecia mal. Comecei a pensar que Gustavo poderia ter brigado com ela. Não ia perguntar, no entanto. Em dado momento, ela me viu, seu rosto mostrou algo que parecia incerteza. De repente, ela acenou para mim e disse vindo em minha direção:
_Victor, espera um pouco!
Parei, Aline e Hector também. Alessandra alcançou-me.
_Posso falar com você em particular, Victor? – disse ela olhando para Aline e Hector.
_Claro. Já volto, pessoal. – eu disse e fomos para um canto mais vazio – Algum problema?
_Eu... não sei se deveria dizer isso para você... é sobre o Gustavo. – ela disse um pouco nervosa.
_Hum... se você não pode dizer, é melhor não dizer. – eu disse de forma objetiva.
_Eu sei! Eu sei... mas... – seus olhos ficaram marejados, sua voz tornou-se embargada – Ele estava gostando de você... E embora ele não admita, acho que você pode fazer ele se sentir melhor.
Eu não estava entendendo nada. Eu a olhava com uma certa preocupação.
_Aconteceu alguma coisa com o Gustavo, Alessandra? – eu perguntei.
Ela começou a chorar e balançar a cabeça como se não conseguisse aceitar alguma coisa.
_Aconteceu... – seu choro foi se tornando mais urgente – Ele foi... Ah, meu Deus...
Levei minhas mãos aos seus ombros, para dar segurança a ela. Olhei em seus olhos. Eu podia não demonstrar, mas meu estômago se revirava, numa sensação típica de quando uma notícia muito ruim está para ser entregue.
_Acalme-se, Alessandra.
Ela abaixou a cabeça, reprimiu seu choro e esperei um instante até ela se estabilizar.
_Espancaram ele. – ela disse, simplesmente.
Senti uma leve vertigem. Não entendia o porquê daquela sensação. Gustavo não significava tanta coisa para mim. Era só um cara com que transei. Mas eu não podia negar: era chocante. Pensei no que dizer em seguida, mas não foi tão óbvio.
_E... como ele está? – perguntei sem saber bem como lidar com aquilo.
_Mal... quebraram duas costelas dele... – ela dizia entre soluços – Deixaram uns hematomas feios... Teve hemorragia interna, então ele teve que ir para cirurgia.
Cada coisa que ela dizia ia me deixando boquiaberto. Eram muitas perguntas que faltavam.
_Quem fez isso? Quando aconteceu? – perguntei, tentando ordenar as coisas.
_Ele não me disse quem fez. Eu só pude visitar ele no fim da semana passada, mas aconteceu no domingo, quase duas semanas atrás.
Fazia sentido, domingo foi o dia que ele não me ligou, o que tinha sido estranho, já que ele havia me ligado todos os dias após a festa.
_Então por isso eu ele não podia me ligar... – eu pensei, mais afirmando para mim mesmo do que para Alessandra.
_Na verdade, Victor, ele não queria que você soubesse. Eu só estou te contando porque ele tá muito mal. Tenta ir visitar ele no Hospital São Lourenço. – disse ela parecendo incerta.
_Eu irei, obrigado por contar, Alessandra. – eu disse.
Ela me abraçou repentinamente. Inicialmente, não retribuí, mas passado um instante, abracei-a. Alessandra devia estar se sentindo muito mal por seu amigo. Se eu já sentia um peso por aquela notícia, nem podia imaginar o que ela sentira.
Voltei para Hector e Aline com uma expressão pesada. Vi o rosto de Hector apresentar curiosidade e preocupação. Aline fez um olhar questionador.
_Aconteceu alguma coisa, Victor? – perguntou Hector.
Para ele perguntar assim, ele devia estar preocupado mesmo. Mas também, eu raramente demonstrava preocupação ou pesar.
_Aconteceu... Hector, podemos ir ao Hospital São Lourenço? – perguntei.
Ele assentiu prontamente. Virei para Aline.
_Aline, eu te explico tudo amanhã, eu preciso realmente fazer uma coisa.
Ela assentiu de forma compreensiva. Hector e eu a deixamos para trás e fomos em direção ao carro.
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_Vocês não podem entrar lá agora! Não é horário de visitas!
A enfermeira gritava atrás de mim e de Hector enquanto ignorávamos ela completamente. Caminhávamos rapidamente por um corredor no qual alguns médicos conversavam, um ou dois internados caminhavam lentamente, arrastando algum apoio consigo. O lugar tinha o típico cheiro de hospital. O São Lourenço era o melhor hospital da cidade, com os melhores médicos e a melhor tecnologia.
_Vou ter que chamar o segurança! – ela disse.
Virei-me e cheguei bem perto da enfermeira. Tirei minha carteira do bolso.
_Eu vou ter que pedir para que você tolere minha invasão. – olhei para seu crachá, onde estava escrito Lourdes Alves – Senhora Alves.
Fui tirando notas de cem reais uma por uma e colocando-as no bolso do jaleco da enfermeira, que parecia não saber bem o que fazer.
_Sabe... Senhora Alves, eu preciso realmente ver o cara que está naquela sala – eu já colocava a terceira nota de cem em seu bolso, olhando em seus olhos com uma expressão séria – Espero realmente que a senhora não me atrapalhe.
Coloquei mais duas notas e me virei para continuar atravessando o corredor. Lourdes ficou para trás, parada.
_Eu fico na entrada e me certifico de não deixar ninguém entrar, caso ela chame os seguranças. – disse Hector.
_Obrigado. – eu continuava sério.
Achei o quarto 323. O quarto de internação de Gustavo.
Abri a porta enquanto Hector encostava preguiçosamente na parede do corredor, ao lado da porta, cruzando seus braços. Tive a certeza de que ninguém entraria naquele quarto enquanto ele estivesse ali. Dei um leve aceno para ele, ele olhou para mim e retribuiu. Entrei no quarto e fechei a porta.
Gustavo estava deitado em sua cama, com a parte de cima do seu corpo um pouco inclinada para a frente. O quarto tinha uma pintura em salmão, dando um ar bem aconchegante. Uma TV de 42 polegadas desligada estava na parede oposta ao paciente, para que ele tivesse uma boa visão. Havia uma aparelhagem ao lado da cama de Gustavo que fazia um leve zumbido, mas nada que incomodasse demais. Uma mesa próxima a cama continha um vaso de flores e alguns envelopes de cartas.
Gustavo abriu seus olhos quando eu entrei. Ele usava uma camisa branca de paciente, suas pernas estavam cobertas por um lençol branco. Havia uma bandagem branca cobrindo um de seus olhos, seus cabelos estavam desajeitados, havia um corte costurado próximo ao queixo e outro no lábio, um hematoma na testa, outro na região temporal. Seus braços estavam com vários hematomas. Seus olho à vista estava cansado, ele estava mais pálido. Sua barba havia sumido, provavelmente para que pudessem cuidar dos ferimentos faciais.
_Foi a Alessandra, não foi? – ele disse com uma voz rouca e com um sorriso resignado e cansado.
_Foi. – eu disse.
_Não precisa me olhar desse jeito, Victor. – ele disse.
Só então percebi que eu tinha uma expressão dolorosa. Vê-lo daquela forma era doloroso. Tentei desfazer minha feição. Cheguei ao lado de sua cama, puxei uma cadeira para mim e me sentei.
_Como você conseguiu entrar? – perguntou ele.
_Subornando a enfermeira. – eu disse como se não fosse nada.
Gustavo fez menção de rir, mas sua expressão foi de dor excruciante. O que deveria ser uma risada saiu como um grunhido. Minha mão foi instantaneamente ao seu braço.
_Quer que eu chame alguém? – perguntei.
_Não... – ele se recuperou durante um instante – Eu tô bem.
Eu ia tirar minha mão de seu braço, mas ele a segurou com sua mão. Aquilo era um pouco desconfortável, mas tudo bem.
_Por que você não me ligou para avisar? – perguntei.
Gustavo deu um sorriso envergonhado e olhou para o teto.
_Sei lá... acho que fiquei com vergonha de parecer fraco na sua frente. – ele disse.
Corei um pouco. Mas que droga, eu normalmente era pragmático e objetivo, mas aquela situação tinha mexido com minha mente, claramente.
_Isso é ridículo. – eu disse.
_Talvez seja. – ele disse.
Um silêncio se instalou por um tempo. Quebrei ele com a pergunta que eu queria fazer:
_Quem fez isso com você?
A expressão de Gustavo ficou séria. Ele respondeu secamente:
_Não importa.
_Importa. Quem foi? – eu perguntei insistentemente.
_Esquece isso, Victor.
Embora ele houvesse dito isso, ele claramente não havia esquecido nada. O aperto na minha mão era crescente. Ele sentia raiva, eu podia ver.
_Tudo bem, se não quiser dizer. Mas por que fizeram isso, então? – perguntei.
_Não sei. Eu não tenho problemas com ninguém. Mas não importa, também. – ele respondeu.
_Importa sim, Gustavo. Se você pretende viver em paz aqui, devemos saber o que aconteceu, quem fez e por que fez! – eu disse, e eu começava a ficar irritado com o comportamento dele.
Gustavo olhou nos meus olhos. Agora ele parecia triste.
_Não vou ficar aqui, Victor. Eu vou embora da cidade. – ele disse.
Encarei-o por um instante. Eu não sabia mais o que fazer ali. Nem sabia exatamente porque estava ali. O que Gustavo era para mim? O que eu poderia fazer?
_Eu... não sei porque eu vim. – eu disse já me levantando.
Gustavo segurou-me pelo braço. Seu olho descoberto encontrou os meus e vi que ele sofria muito mais do que eu imaginava.
_Eu gostava do seu corte de cabelo antigo. – ele disse com um sorriso que não conseguia disfarçar sua tristeza nem um pouco – Mas você ficou muito lindinho com esse, também.
Sim, eu havia cortado meu cabelo naquele meio tempo. Agora, ele estava bem mais curto, com uma pequena franja irregular com fios lisos caindo sobre minha testa. As costeletas estavam na altura correta e bem aparadas, e eu havia tirado o cabelo que caía até a altura da metade da minha nuca. Hector disse que eu ficava parecendo mais novo com aquele corte, embora eu achasse meu novo corte desfiado bastante moderno.
_Eu lembro. Eu preciso ir, Gustavo. – eu disse secamente.
Ele segurou-me mais fortemente. Ele queria dizer alguma coisa, pelo que pude perceber em seu rosto. Sei que não era justo ficar irritado com o comportamento dele. Eu certamente ficaria estranho se fosse espancado.
A boca de Gustavo começou a se mexer. Imaginei que dela sairia algo como uma revelação sobre quem havia feito aquilo. O resultado, porém, foi diferente:
_Pode me dar um beijo antes de ir embora?
Senti um calor pelo meu corpo. “Que droga, Gustavo...”, pensei. Percebi que eu sentia uma raiva muito peculiar pela pessoa ou pelas pessoas que haviam feito aquilo com ele. Uma ideia surgiu na minha cabeça.
_Só se você me disser quem foi o responsável por tudo isso. – eu disse apresentando um rosto de negociante nato.
Gustavo ficou inicialmente perplexo, mas então sorriu divertidamente.
_Você é um garoto difícil, Victor Voldi. Tudo bem, mas eu só reconheci uma pessoa: André Platto, ele tá no segundo ano de medicina da ESOM.
O nome não me trazia ninguém à memória. Mas tudo bem, eu usaria uma avançada ferramenta de pesquisa mais tarde: o Facebook.
_Quero a minha parte do contrato. – disse Gustavo com um sorriso travesso.
Sorri, satisfeito, e inclinei-me sobre ele. Nossos lábios se tocaram levemente. Nossos narizes roçaram um no outro. Minha mão foi ao seu peitoral e então ele grunhiu de dor.
_Desculpe. – eu disse afastando minha mão e meu rosto, com uma expressão preocupada.
_Só se você der outro beijo. – ele retrucou com um misto de riso e dor.
Assim o fiz, dessa vez sem tocar seu corpo, com uma de minhas mãos entrelaçada com uma dele. Foi um beijo lento, quente, aconchegante. Um beijo que em si dizia tudo o que ele pensava que pudéssemos ter sido, caso as coisas tivessem ocorrido de forma diferente. Um beijo que dizia, também, adeus.
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Saí do quarto e Hector estava no local onde ele havia ficado quando entrei.
_Tudo bem? – ele perguntou.
_Sim. – eu disse.
Passamos pela enfermeira Lourdes, que olhou para mim e desviou o olhar rapidamente. Eu podia ver a ponta de uma das minhas notas de cem reais para fora de seu bolso. Dei um leve aceno para ela.
Já dentro do carro, peguei meu IPhone e entrei no aplicativo do Face. Fui para a página de busca, primeiro buscando apenas “André”. Surgiram vários, mas um apenas me interessava: André Platto, 126 amigos em comum. Ou seja, ele era conhecido entre os calouros e os veteranos que haviam me adicionado.
Entrei na sua página, percebi que reconhecia levemente aquele rosto. Fui em sua foto de perfil. Sim, eu já o havia visto. Era um dos amigos que estavam com Leonardo Miller no primeiro dia de aula, quando Hector e Leonardo tiveram um leve conflito.
Mais uma vez, Leonardo Miller se mostrava parte (quando não era inteiramente) da etiologia do problema.
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Eram sete da manhã do dia seguinte, era uma bela manhã de sexta, e eu andava em passos largos e rápidos pelos corredores da faculdade de medicina. Eu borbulhava por dentro, mas meu rosto mostrava uma neutralidade cortante. Hector me acompanhava com passos que combinavam tranquilidade e rapidez.
_Acalme-se. – ele disse indiferente.
_Não. E se você interferir, a gente vai acabar brigando. – respondi.
Hector olhou-me com seriedade. Nós dois sabíamos que eu perderia numa luta contra ele, mas eu era a única pessoa que daria uma vitória difícil para Hector. Apesar da minha capacidade física inferior, eu detinha uma habilidade excepcional para lutas, coisa que eu havia aprimorado com anos de prática de artes marciais diversas.
_Não o mate, pelo menos. – ele disse por fim.
_Tentarei não fazer isso.
_Nem o deixe inconsciente. – ele acrescentou.
_Não vou prometer algo que eu possa não cumprir. – retruquei.
Vi o meu alvo. André Platto, com sua altura e força consideráveis, andava em seu grupinho homofóbico típico, no qual estava o enrustido Leonardo Miller. Apressei o passo, Hector foi logo atrás de mim.
_André Platto! – chamei em voz alta.
Vários alunos estavam no corredor e olharam para mim de maneira estranha. Meus punhos estavam cerrados. André cessou sua conversa e olhou para mim com um sorriso idiota de quem foi interrompido numa conversa agradável. Quando ele olhou, já era tarde, eu havia segurado a gola da sua camisa e o jogado contra a parede. Ele tentou reagir, vi sua mão forte indo para o meu pulso. Fui mais rápido e segurei seus dois pulsos, apertando pontos específicos com meu polegar. André deu um grito de dor, seus braços estavam imobilizados, suas pernas não poderiam fazer nada devido à nossa proximidade.
_QUE PORRA É ESSA!? – gritou um André transbordando de raiva.
Vi dois de seus amigos vindo na minha direção. Hector entrou na frente dos dois. Ambos se sentiram um pouco intimidados, mas um deles avançou no meu segurança. “Escolha errada, meu amigo”, pensei com pena do coitado. Hector fez um movimento tão rápido que era até difícil de ver. Ele segurou a mão do seu oponente que vinha em sua direção e, redirecionando sua posição corporal juntamente com um movimento da sua perna contra a parte de trás da panturrilha do amigo de André, fez com que ele caísse de costas. Antes que a parte de trás da cabeça do cara batesse no chão, Hector colocou seu pé bem no local de colisão, amortecendo a batida com seu sapato. Como ele havia dito, ninguém poderia acabar inconsciente ali.
Soltei André e recuei rapidamente, ficando lado a lado com Hector. A vista era engraçada. Estávamos diante de um grupo de cinco. Um estava tonto com a queda, sendo ajudado por outro. André ainda estava na parede, com os braços se recuperando da dormência.
_Eu quero saber qual ou quais de vocês bateram no Gustavo, umas duas semanas atrás, num domingo. – eu disse olhando para os cinco de maneira ameaçadora, o que funcionava melhor quando Hector estava ao meu lado.
Havia uma multidão em volta. Alguns filmavam a coisa toda. Outros comentavam e davam risinhos. Eu analisei o rosto dos cinco, em busca de sinais de culpa.
_Hum... aquele ali... e aquele... – disse Hector apontando para dois que certamente eram culpados, um deles sendo André Platto.
_Sim, e tem aquele também. – apontei para um da direita.
_É verdade. – disse Hector assentindo calmamente.
Então eu havia confirmado quem eram os responsáveis pela surra de Gustavo. André Platto e dois amigos. Leonardo e outro não faziam parte. Quando eu demandei saber quem eram os culpados, ambos mostraram sinais de completa perplexidade, enquanto os três culpados mostraram em seus rostos todos os sinais necessários para confirmação.
_Vocês três... – apontei para os culpados – Por que bateram no Gustavo?
Os três ficaram em silêncio. Leonardo levantou a voz contra mim:
_Que merda tá acontecendo, Victor!? – ele perguntou.
_Cala a boca, Leonardo. – olhei para os três culpados novamente – Deixa eu ver... seria porque vocês são homofóbicos?
Mais sinais faciais que confirmavam apareceram em seus rostos.
_É fácil demais tirar informação dos três. – disse Hector com um sorrisinho debochado.
Era verdade. Mas tenho que admitir que eu já tinha 90% de certeza que aquela era a razão.
_Você vai ver, Voldi... – disse André Platto, tentando ser ameaçador.
_Não, Platto, quem vai ver é você, caso resolva mexer com as pessoas erradas. – eu disse chegando perto dele – Eu só não acabo com você aqui porque isso causaria problemas, e também porque você já foi humilhado o bastante.
De fato, André era uma cabeça mais alto que eu. Seu braço parecia ser o meu multiplicado por dois. Apesar disso, eu poderia vencer numa briga facilmente.
Ele pareceu prestes a avançar contra mim, mas Hector se pôs ao meu lado, com a cabeça levemente inclinada para o lado, observando André com despreza, como se este fosse algo a ser esmagado.
_Vou avisar uma vez, André: se você ousar bater em mais alguém da forma como fez com o Gustavo e eu descobrir, você vai ter que arranjar um jeito de fazer cirurgia sem os braços. – eu disse olhando-o nos olhos.
_Ei, ei, o que é que tá acontecendo aqui!? – a voz era da coordenadora do curso de medicina da ESOM, que conseguiu passar pela muralha de alunos.
Virei-me e comecei a andar para fora do círculo formado pelos alunos.
_Não é nada, Sra. Laura. – eu disse dando um sorrisinho inocente – Só estávamos conversando, não é, André?
Virei meu rosto em direção a ele, com o mesmo sorrisinho falso. Seu olhar dizia tudo: “Você me paga, Victor Voldi”.
<Continua>