Chegamos ao Aeroporto Internacional de Lisboa, também conhecido por Aeroporto da Portela, situado na freguesia de Santa Maria dos Olivais numa manhã fria e chuvosa exatamente as 06:45 h. Kim e Lidú, não vieram. Os dois por estarem já na Universidade ficaram no Brasil. Só Deus sabe que tentei, rezei, cheguei a implorar pra também ficar, mas nada disso foi aceito por meu pai, o negócio era me tirar daqui de qualquer jeito.
Naquele que seria o meu último dia de aula no Colégio Lourenço Filho, fui deixado por meu irmão no mesmo horário das 07:00 h da manhã, ele sempre ficava até a sirene avisar de nossa entrada e depois partia. Entrei e não fui pra sala. Mais ou menos cinco minutos depois estava na rua Barão do Rio Branco e logo em seguida, pegava um ônibus até o Colégio onde Migas estava matriculado.
Eu sabia que a surra por não voltar pra casa com meu irmão, seria a maior da vida, mas não me importei com nada. Segui com meu propósito, troquei a blusa da farda por uma que havia levado, tirei a calça e por baixo da estava de bermuda e entrei nas dependências do Colégio onde o cara que me fizera conhecer o amor, estudava.
_ Preciso Falar com o aluno do primeiro científico Miguel Resende Dias.
_ Queira esperar por favor. E sentei numa cadeiras que estavam num corredor de aceso as salas de aulas.
Quinze minutos depois, pude ver o rosto de Migas. Podem ter certeza que ele estava pior que eu. O riso havia deixado seu rosto, é como se a vida tivesse tirado férias e uma máquina quase igual a ele tivesse sido colocada em seu lugar.
_ Preciso falar com você. Dá um jeito de sair, por favor.
_ Me dá cinco minutos e espera na calçada do posto de gasolina na rua detrás. E um leve sorriso pôde ser visto por mim em seu rosto.
Nunca ele me disse o que fez, só sei que deu certo e nós saímos andando meio sem rumo pelas ruas da cidade e logo em seguida já estávamos dentro de um ônibus com destino ao Shopping Iguatemi. Compramos lanche e sentamos para conversar.
_ Estou indo embora MIgas. Nem preciso dizer a você o que me aconteceu porque seria voltar a sofrer novamente. Cara, cada pancada que meu pai dava em mim, me fazia entender que eu não podia desistir da minha vida. Parece até loucura, quanto mais aquele filho da puta batia em mim, mais eu sabia que o amor que descobri em você se tornava mais forte. Até que ele cansou. O porco suava mais que tampa de chaleira e eu todo arrebentado só agradeci a ele tudo o que ele tinha feito até agora.
_ Desculpa Jon se te fiz passar por tudo isso. Eu também tive minhas pancadas, não fisicamente e sim aqui na cabeça e no coração e pode estar certo que doeu e ainda dói do mesmo jeito que em você. Quer dizer então que teu pai foi transferido, é isso? Qual a cidade dessa vez?
_ Não só uma nova cidade Migas, mas um novo País também. O sacana vai ser promovido a Coronel e iremos embora por um período de 2 anos para Lisboa, Portugal.
A mãos de Migas buscou a de Jonas que repousava sobre a mesa em frente a ele.
_ Não cara, dois anos, por quê?
_ Porque ele me quer longe de você, porque ele acha que eu vou deixar de sentir o que sinto por você e que me faz bem, porque ele pensa que com a distância essa coisa de adolescente vai passar e eu vou ser o filhinho que ele espera que eu seja. Só que ele esqueceu de uma coisa, eu nunca mais serei o mesmo.
Jonas baixou a cabeça e chorou sem vergonha nenhuma sentado à mesa daquela lanchonete do shopping. E entre lágrimas amargas e quentes se ouvia de vez em quando essas palavras:
_ Nunca vou te esquecer Migas. Eu sei que sou ainda um ridículo garoto de 15 anos, só que já sei o que é amor e cada vez mais sinto o quanto pode ser dolorido carregá-lo aqui no peito.
Miguel nunca foi muito de chorar, só que dessa vez não aguentou e sentiu uma raiva do mundo e das pessoas do seu mundo que o surpreendeu. Num gesto automático ele espalmou a mão e colocou em cima do peito esquerdo, olhou para Jonas e este soube que ele contava mentalmente até cinco. Jonas então repetiu o gesto e os dois ficaram por longos minutos olhando-se mutuamente.
Passada a emoção do momento, Miguel perguntou:
_ Eu não posso ficar sem saber de você. Tem que haver um jeito para que nunca percamos o contato. Cara, eles não podem vencer a gente, afinal de contas nós é que temos que fazer nossas escolhas, pelo menos eu acho isso. Tive uma ideia que acho que vai dar certo. E a ideia deu muito certo, como se viu no decorrer dos anos.
O meio dia já aproximava e os dois foram ao banheiro para um último beijo, já que não se aproximariam por muitos e muitos anos, só que eles não sabiam.
Dois dias após desembarcar numa terra estranha, meu pai se dirigiu juntamente com os demais funcionários que fariam parte do Corpo Diplomático à Embaixada do Brasil, situada na Quinta de Milflores quase em frente ao jardim zoológico da cidade. Reconheço que é um prédio lindo e histórico, só que nunca demonstrei dar algum valor a ele.
E começou o pior período do final da minha adolescência. Houve uma profunda transformação em mim. Estava mais sério. Exercitei o controle sobre minhas emoções e nunca deixei que meu riso fosse mais visto nesse mundo. Não me revoltei com nada, e sim com todos aquele que me tiraram o amor e o prazer da companhia daquele que eu amei escondido por tantos anos. O plano no inicio deu certo, escrevia regularmente para Miguel aos cuidados de uma grande amiga sua. Só que as respostas não poderiam ser mandadas para meu endereço residencial, uma vez que toda a correspondência era enviada ao gabinete do meu pai, o Coronel.
Pedro José Oliveira Pinto, um amigo que logo depois se tornou mais que isso, me deixava usar seu endereço e assim as coisas ficaram mais fáceis. Na última carta que recebi de Miguel ele disse que um dia iria querer me ver novamente e que o amor que ele sentia por mim, seria guardado o mais fundo que ele conseguisse dentro de seu peito e no momento certo ele tiraria de lá e me entregaria novamente.
Na resposta lhe disse que entendia o seu gesto e que eu também aguardaria a oportunidade de poder amá-lo sem medo e com mais liberdade. Meus irmãos vinhas sempre passar temporadas com a gente e estreitei mais ainda a amizade com os dois. Por Deus como eu os amava. E sem medo ou vergonha me revelei para Kim que demonstrou ser muito mais que um irmão, foi o amigo que nunca encontrei até hoje na vida.
Pedro passou a ser o meu companheiro e pude viver mesmo escondido uma relação mais madura para os meus 16, 17 anos de vida. Ele também sofria muito em sua casa e de repente vi que não importava o lugar, o sofrimento era o mesmo, era como se a gente tivesse que pagar um preço alto demais por amar diferente do aceito e permitido por todos.
Quase dois anos e meio haviam passado e tive que virar essa página da minha história.
Terminei o colegial numa escola americana em Lisboa e logo em seguida entrei na Faculdade de Direito na Universidade de Coimbra. Minha mãe foi diagnosticada com câncer e a volta ao Brasil se fez necessária.
Voltamos ao Brasil no verão de 1994, mesmo ano em que oficialmente me tornei maior de idade. No ano seguinte uma série de acontecimentos começaria a mudar definitivamente a família Melo.
1995 morte de minha mãe.
1996 meu pai se afasta do exército passando para a reserva, nesse mesmo ano meu irmão se forma em engenharia.
1997 conheço na Universidade Federal do Ceará um terceiro amor em minha vida, na pessoa de um acadêmico de Química. O ruivo, como era chamado Pedro Angelo, era um garoto formidável e tivemos muitos momentos memoráveis na nossa caminhada que só terminou porque ele foi embora para fazer pesquisas lá pras bandas da Inglaterra.
1998 a vida seguiu uma normalidade quase doentia e meu pai conheceu uma coroa filha da puta pra colocar no lugar da minha mãe. Nunca aceitei tal situação.
1999 depois de dar um tempo nos estudos, para horror do meu pai, voltei e finalmente me tornei advogado, passando no exame da Ordem em quinto lugar, parece que eu era bom mesmono final do ano completei meus 24 anos de idade e comecei a fazer todo e qualquer tipo de concurso que aparecia na vida. Passei em alguns e nunca os assumi.
2001 meu irmão mais velho Joaquim melo casa com uma moça linda, Claudia Barreto.
2002 minha linda irmãzinha casa com o primeiro de muitos maridos que teimaria em ter ao longo da vida. Nunca teve sorte, pelo menos era assim que ela dizia. O atual marido era também médico, assim como ela. Nesse mesmo ano veio a confirmação de que eu havia passado em décimo primeiro lugar no concurso público da Polícia Federal e dessa vez, assumi o cargo.
E ao fazer isso aos 26 anos de idade, saí de casa e fui enfrentar o mundo, mesmo sabendo que ele me odiava, mesmo eu nunca tendo feito nada para contribuir com esse ódio, a não ser por ser uma homossexual que queria e quer apenas viver em paz.
E foi aí que uma vaga notícia sobre Migas voltou a fazer meu coração bater acelerado.
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RIQUINHO, a volta já foi iniciada. Abraço garoto.
CRISBR1, hoje o passado foi embora, a vida teve que seguir. Abraço queri amigo.
COELHINHO33, entendo você na sua posição solitária. As vezes dividir faz parte, pois o peso fica mais fácil em ser levado. Abraço meu querido.
GHIAR minha querida, isso é uma linda e carinhosa declaração de amor. A emoção que senti ao ler tuas palavras tocou fundo nesse velho coração. Beijão querida. Obrigado.
ALTEZA só que sbe o que é uma separação, sabe também o quanto dói. PRIINCESIINHA que isso nunca lhe aconteça. Beijo.
KYRYAQ minha querida, esse é o tipo de situação que nunca será bem resolvida por mais que as liberdades e facilidades façam parte do nosso dia a dia atual. O caminho atuas das pedras já esta asfaltado. Beijo minhas queridas.
NUNOCAPIXABA acho que a vergonha é o pior dos inventos humanos. O que os outros vão achar sempre será mais importante do que o que posso fazer por você. Somos fortes por quebrar regras e seremos muito mais por seguir de cabeça erguida. Abraço querido. Mensagem pra você também.
CHELE é essa a nossa luta diária, temos que vencer diariamente. Beijo minha querida.
ZÉ CARLOS eu sinto a mesma coisa e já procuro matá-la rapidinho. Tem mensagem no e-mail, viu? Amo você cara. SEMPRE...SEMPRE...
NEGUINHA, não acredito que você ainda não saiba quem eu sou dos dois. Essa será sua tarefa de gincana... rarar. Um beijo amor pernambucano.
NINHA M, com o final da adolescência eu deixei de falar de mim tão intensamente, agora a vida seguiu e alguma coisa de mim com certeza deve ter ficado. Obrigado pelas palavras minha querida e um Beijão a você.
DRICA (DRIKITA) concordo com você, o tempo sempre passa rápido só que ele deixa marcas profundas na gente. Cabe a cada um saber tirar proveito e se orgulhar delas. Beijo minha linda.
DW-SEX, meu querido como que sua opinião não é relevante? Pra mim é de uma relevância e importância sem precedentes. Aqui a gente está exposto, a gente tá nessa troca boa de conhecimento e experiências. Agora quero te tranquilizar ao dizer que não há neuras, ou qualquer coisa negativa entre nós. Aprendi desde cedo a respeitar a opinião dos outros justamente pelo fato de fazer valer a minha. Um grande abraço meu querido amigo.
IMOR, foi tudo que fiz meu querido, travei e ainda travo as minhas batalhas e as vezes venço de maneira limpa. Obrigado pelas observações. Abraço querido amigo.
MAMA ROSE, se hoje eu olhar pra trás e ver um pouco do que consegui superar como pessoa, só posso te dizer que valeu a pena e que faria igualzinho. U beijo carinhoso minha lindona.
ESPERANÇA, o choro, a tristeza e tudo o mais, faz parte, viu? Claro que nós queremos a vida feliz e sem tantos problemas, só que deveria ser muito sem graça. Um beijo meu Talismã lindo.
Aos demais o meu abraço e um carinhoso beijo.