Capítulo 19: O meio do fim.
— Evandro?! Edgar?! Elliot?! — Gritei assim que eu entrei na recepção do prédio da reitoria. Escutei as fortes passadas de Marvo bem atrás de mim, mas meu coração estava tão agitado e meu estômago tão revolto, que eu não esperei até que ele chegasse até mim. — Cade vocês?! Sou eu, Evan!
Ali dentro não tinha nenhum fio de cabelo vermelho no chão, nem um fio sequer. Minha respiração estava agitada, não conseguia encher os meus pulmões. Esse era um problema meu, ficava tão nervoso e com a respiração rasa cada vez que eu ficava com medo. E até alguns meses atrás – quando eu ainda dormia com meus irmãos – eu sentia isso com bastante frequência, depois que eu conheci Marvo essa horrível sensação passou, mas agora, com o desaparecimento dos meus irmãos, tudo tinha voltado com uma força tremenda. Vi a escada em espiral que levava até o segundo andar, corri até lá, Marvo ainda estava nas escadas de cimento quando eu subia o quinto degrau. Todos os meus ferimentos ficaram imperceptíveis quando, mais uma vez, a adrenalina foi solta na minha corrente sanguínea. Ele gritou o meu nome, mas não respondi. Cheguei no segundo andar, arfando, já não conseguia respirar muito bem e ter subido aquela escada correndo não ajudou em nada. No corredor, com piso azulejado brilhante, eu olhei para as portas que me cercavam, pensando em qual delas meus irmãos estariam. De cada lado do corredor tinha três portas, seis no total. Comecei com a primeira porta do meu lado direito, fiz igual aos filmes, usei minha perna como ariete para derrubar a porta. O impacto com a madeira ecoou por todo o meu corpo, a maldita porta nem se moveu, como foi que Marvo fez isso com a porta do meu quarto? Mesmo eu sem querer, eu senti que minhas bochechas machucadas tinham ficado quentes.
Depois do meu desembaraço inicial, eu peguei o trinco da porta, girei para baixo e escancarei a porta. Mas não entrei logo de primeira, tirei minha arma do coldre, empunhei-a e, como nos filmes – arma estendida, pernas arqueadas e andar cauteloso – eu entrei naquela sala. Mas tudo que eu encontrei nela foi uma centena de armários de ferro, aqueles que serviam de ficheiros. Eu sabia por que eu tinha aberto um para ver o que tinha dentro. Na saída eu encontrei Marvo subindo o último degrau da escada em espiral. Quando ele me viu deu uma paradinha e veio andando calmamente em minha direção. Antes que ele chegasse perto de mim, eu apontei para as outras portas. Eu ficaria com as duas portas restantes do lado esquerdo e ele com as três do esquerdo. As outras duas portas nada continham, a não ser que mais ficheiros de metal servissem para alguma coisa. Mas já Marvo teve um pouco mais de sorte, a segunda sala que ele abriu se revelou como a sala do diretor. Aquela mesma sala que no primeiro dia que cheguei ali, entrei todo molhado e tremendo de frio. Naquele mesmo dia o ar dentro daquela sala estava agradavelmente quente, mas, agora, estava tão frio quanto do lado de fora. Marvo e eu fomos mais a fundo, armas em riste, andando lentamente e prestando atenção em tudo.
Minutos depois Chaves, Lago e Lion também estavam dentro da sala. Marvo estava tentando encontrar a senha do computador do diretor, mas ainda não tinha conseguido nada. Eu? Eu estava andando na sala, não de um lado para outro, isso não, seria loucura se eu estivesse fazendo isso. Estava andando de um lado para o outro, parava, as vezes, quando passava na frente de uma estante de livros. Eu sentia um grande aperto no peito, tão incomodo e dolorido que me deixava sem ar. O lugar ficou repentinamente claro depois que Chaves disse que tinha achado o interruptor, mas não o da energia elétrica. Mas sim o da lareira, isso, a lareira era acessa com um interruptor. A sala foi consumida por um brilho laranja e rapidamente começou a esquentar. Mas aquela estante estava mexendo comigo, dei mais duas voltas na sala e nessas duas voltas aconteceu a mesma coisa quando eu passei na frente da estante. Tudo só ficou mais intenso quando eu escutei um barulho vindo da estante. Meu coração deu um salto, ameaçando sair pela minha boca. O que era aquilo?
— Vocês escutaram? — Não perguntei para ninguém em especial, só queria que alguém me respondesse e confirmasse que eu não estava ficando maluco – Ouviram esse barulho?
— Que barulho? — Lion que perguntou, depois ele estava ao meu lado, fitando a mesma estante que estava me deixando nervoso – Não escutei nada. Por que você perguntou isso? Escutou alguma coisa?
— Não, não escutei nada – Respondi, mas não tirava meus olhos das fileiras de livros milimetricamente organizados.
— Então tá – Replicou, deu um tapa fraco em meu ombro e voltou para perto de Lago – Se escutar qualquer outra coisa, avisa.
Marvo ainda estava tentando acessar os dados do computador do reitor, Lago e Chaves estava ao seu lado, opinando a respeito da senha. Lion estava em algum lugar perto da lareira, mas eu ainda continuava no mesmo lugar. Quando me convenci que eu tinha imaginado aquele som e estava indo em direção do meu supersoldado, o barulho se fez presente mais uma vez. E dessa vez, como eu estava de frente para os outros quatro, eu tive certeza que eles tinham escutado também. Marvo se levantou, sua arma já estava na mão, apontada para aquela peça de madeira. Lago também veio, Chaves mais atrás e eu fui para junto de Lion, que como eu tinha achado, estava ao lado da lareira. Eu disse para que ficássemos preparados, não sabíamos o que tinha ali. Mas eu mal terminei de falar quando minhas suspeitas a respeito da estante se comprovaram verdadeiras. Pedaços de madeira, folhas e alguns objetos que enfeitavam a estante, explodirem quando as balas começaram a sair das armas. Vários homens, vestidos com as cores inimigas, surgiram pelo buraco, que uma vez foi uma belíssima estante portadora de vários livros maravilhosos. Os tiros ficaram mais intensos, não sei quantos saíram daquele buraco, mas era mais que cinco, isso eu tinha certeza. Eu empurrei Lion para debaixo da messa de madeira pura polida e vi como ele estava tremendo. Tremendo pra caramba!
— Hei! — Coloquei minhas mãos em cada lado do seu rosto, seu olhar estava perdido, amedrontado – Lion? Olhe para mim, meu amigo. Lion?
Mas ele não respondeu nada, suas mãos seguraram as minhas firmemente, prendendo-as em seu rosto. No começo eu deixei, ele estava com muito medo, mas depois o aperto começou a me incomodar, ficando cada vez mais apertado, até chegar a beira do insuportável. Eu puxei minhas mãos com urgência, quando minha pele se viu livre do seu aperto de ferro, o sangue alfinetou os meus dedos e as minhas palmas quando voltou a circular novamente. Os tiros foram diminuindo gradativamente. Eu e Lion estávamos encolhidos colados no chão, eu protegia o seu pequeno corpo trêmulo com o meu corpo pequeno, não era muito para oferecer, mas era o que eu tinha. Algumas balas acertaram a mesa, mas eu acho que a madeira era tão grossa que nenhuma nos atingiu. Fiquei me perguntando como foi que Lion conseguiu ficar em perfeito estado em um conflito tão grande como esse, mas depois de minha pergunta mental ser feita eu já sabia a resposta. Ele estava com Marvo, Chaves e principalmente, Lago, que eu tenho certeza que não deixaria nada de mal acontecer com o seu leão. Escutava alguns xingamentos, passadas pesadas e apressadas e muitos, muitos, gritos. Um grito em especial eu identifiquei. Chaves! Mesmo gritando sua voz era melódica e hipnótica. Lion ainda estava sob mim, mas eu tinha percebido que de alguns minutos até agora ele tinha ficado mais calmo, suas batidas cardíacas tinham diminuído para o ritmo normal. Olhei para baixo e constatei, com bastante espanto, que ele estava dormindo.
Escutei Marvo gritar, em algum lugar perto da mesa onde eu estava abrigado. Lago também, eles estavam falando alguma coisa entre si mesmos, mas as outras pessoas também gritavam, e gritavam muito, me impedindo de tirar as palavras daqueles gritos. Adrenalina já corria nas minhas veias, fazendo com que as pontas de meus dedos formigassem. Eu busquei a minha arma e não a encontrei, devia ter deixado-a cair, em algum lugar, enquanto ia para debaixo da mesa. Eu não era tão alto, mas bati a minha cabeça no tampo da mesa, alguma coisa sobre a mesa chacoalhou e depois caiu no chão, estilhaçando-se em mil pequenos pedaços coloridos quando tocou no solo. Segurei a minha respiração, eu sabia que era bobagem, um bibelô quebrar no meio de uma confusão infernal não era nada, mas, mesmo assim, eu fiquei apreensivo. Não queria que ninguém nos encontrassem, ainda mais eu estando desarmado. Com Lion ressonando baixinho e a confusão barulhenta que acontecia ao meu redor, eu não pensei muito rápido. Tinha uma faca no meu coturno, com a minha arma perdida. Foi depois de vários minutos pensando foi que eu cai na real, a arma de Lion ainda estava com ele.
Ainda estava meio ajoelhado meio agachado, peguei a arma dele e vi se estava carregada. Estava, deixei-a empunhada e... cade os barulhos? Olhei para cima bem a tempo de ver a mão que foi a minha perdição. Como eu não tinha reparado que todos os barulhos que me rodeavam tinham cessado? Ainda lutei contra a mão, sei que parece estranho, quero dizer, não era apenas uma mão. A mão tinha um braço e, consequentemente, pertencia a uma pessoa. Uma pessoa monstruosamente alta, cheia de músculos tão poderosos e grandes que eram quase do tamanho da minha cabeça. Ele segurou o meu braço com tanta força que depois de um tempo eu já não o sentia mais. Ainda tentei me soltar do seu aperto de ferro, mas o tapa que eu recebi dele, além de quase rachar todos os meus dentes e fazer eu quase decepar a minha língua, a minha coragem também foi embora. Tive que usar cada grama do meu autocontrole para não cair no choro compulsivo de uma criança assustada. Fiquei quieto e ele me recolocou no chão, afrouxou ainda mais o aperto em meu braço e não saiu do meu lado. Olhei a sala ao meu redor, e tive que reprimir um gemido doloroso quando vi Marvo jogado, como um saco de farinha velho, no chão. Seu rosto estava inchado, vermelho e ensanguentado. Seus braços estavam amarados, com algum tipo de algema plástica, na sua costa.
Lago estava do lado dele, com um olho maior do que o outro e, como sua boca estava aberta, sem metade de um dente da frente, amarado como um porto para o abate. Chaves estava um pouco mais decente, sentada, com a costa apoiada na parede e as mãos atadas na frente de seu corpo. Mas estava inconsciente.
— Eles estão vivos? — Consegui coaxar essa pergunta. Pedia, mentalmente, para que eles estivessem bem, até mesmo a Chaves, Deus! Até ela, eu só queria que eles estivessem vivos. O meu carcereiro, mão-de-algema, que estava ao meu lado, não falou nada – Por favor, moço, por favor. Responda-me, não vou tentar fugir, acredite! Não vou, eu juro. Mas, por favor, me conte. Eles estão vivos?
— Infelizmente, sim – Respondeu. E eu respirei um pouco melhor. O peso que parecia me esmagar ficou mais leve. Mas ainda estava preocupado, isso era fato. O homem, meu algoz, era um homem alto – mais alto que Marvo. Seus cabelos ensolarados estavam emaranhados, sujos de fuligem e sangue. Seus olhos, azuis, brilhavam mais do que as minhas lâminas, depois que eu as achei. Ele tinha todo um charme “Pitboy”, mas, com o meu corpo cheio de medo, o estimo dele estava me fazendo sentir uma aversão imensa com ele. Quando ele voltou a falar, me tirando a concentração, eu percebi que até sua voz me deixava trêmulo, e não num sentindo bom. — O chefe quer esses para ele, bem que eu poderia matar aquele – Apontou para Lion, que eu não sabia dizer se estava dormindo ou inconsciente. Também estava amarado. Uma fina linha escarlate que riscava sua testa comprovou que ele estava desacordado. Eu congelei – Mas, não posso. Ninguém aqui está permitido matar nem um de vocês. Uma pena... — Ele traçou a linha dos meus lábios com o dedo indicador, um gesto que me deixava com pernas bambas e respiração sofrega, quando Marvo era quem fazia. Mas aquele cara fez meu estômago revirar horrivelmente. - … eu poderia te foder e, só depois, te matar.
— E depois acompanhar ele na morte – Uma voz estranhamente familiar soou em algum lugar atrás de mim, tive medo de virar. Deus! Que não seja ele, outra pessoa, que seja outra pessoa. Mas, infelizmente, minha oração silenciosa não foi atendida. Quando o meu carcereiro de cabelos platinados me soltou eu quase gritei para que ele me agarrasse com mais força, que parasse a circulação do meu braço, mas, por todos os deuses, não me deixasse aos cuidados dele. Júnior voltou a falar – Oliveira o chefe quer falar com você, vaza!
O cara loiro, Oliveira, ainda olhou para mim. Com os olhos eu praticamente supliquei para que ele não me deixasse ali com ele, mas, não adiantou. Ele foi embora, e eu fiquei parado ali, em uma sala toda em um profundo caos. Moveis destruídos, crivados de balas e corpos no chão, assim como sangue. Senti sua presença, atrás de mim, antes mesmo que ele me abraçasse por trás. Pressionou os lábios, duros e frios como pedras de gelo, em minha nuca, depois seguiu uma trilha até o meu ouvido. Fazendo o meu lóbulo prisoneiro de seus dentes, seu hálito estava tão gelado quanto seus lábios. Seus toques em minha cintura era tão duros e mecânicos que eu não me surpreenderia se eu me virasse e desse de cara com uma estátua de gelo que ganhou vida. Mas não, eu sabia que era o mesmo homem por quem eu gostei por, aproximadamente, uma semana e meia. O porque de seus toques e carícias parecerem tão ruins para mim era que agora eu tinha alguém que me completava de muitas maneiras. Os beijos de Marvo eram explosivos, quase como se eu fosse o combustível e ele fosse o fogo, e quando nos beijávamos, explodíamos. Seus toques eram tão precisos e excitantes que eu ficava duro em apenas imaginar seus dedos correndo, livre, pelo meu peito branco pálido, rodeando as aureolas vermelhas que eram meus mamilos, rijos, prendendo-os entre o indicador e o dedo do meio. Fazendo com que eu quase gozasse de tanto prazer. Mas, agora, nem com as lembranças gravadas a ferro fervente em minha mente eu não conseguia ficar melhor. Júnior, que uma vez me deixava ao ponto de bala a mera visão do seu rosto, agora não me trazia prazer algum. Apenas uma forte sensação de medo, insegurança e frio. Principalmente o último.
— Ainda continua frígido, Evan – Sua voz era uma agonia, com sua boca tão próxima ao meu ouvido ela ia com mais facilidade até o meu sistema auditivo. Era como açúcar derretido, era bom, mas, depois de certa quantidade, ficava insuportável. — Mas nada que eu não possa resolver. Quando meu pau deslizar para dentro de você, essa sua frigidez, vai esvai-se como fumaça.
— Tenta, se for homem – Tive coragem de responder – Se quiser ficar sem o pau, tenta me foder.
— Cão que ladra, não morde – Eu estava consciente que naquela sala tinha mais gente, mas Júnior ainda tinha o poder de me manter em uma bolha só nossa. Antes era bom e prazeroso está com ele em nossa bolha, mas agora era assustador – Eu vou tentar sim, mas antes, você tem que ter uma conversinha com alguém.
Nesse meio tempo que ele estava falando comigo eu nem me toquei que ele estava me obrigando a andar. Sua mão na minha cintura exercia uma leve pressão e me obrigava a ir para frente. Ele cravou seus dedos na carne das minhas ancas quando chegamos na frente do que, uma vez foi uma estonteante prateleira de livros. Com mais calma eu vi que tinha uma escada ali, uma que ia para cima. Então tinha mais um compartimento ali? Ele me empurrou, e eu, cambaleante e assustado, coloquei o pé no primeiro degrau. Depois outro, outro, outro, outro, mais outro, e mais quatro depois do último. Vinte quatro degraus depois eu cheguei em um cômodo parcialmente iluminado, com as vigas de madeira a não mais do que alguns centímetros da minha cabeça. Eu como era pequeno andava sem problema por ali, mas se Marvo fosse até aquele sótão, certamente ele teria que andar curvado. Explodi num choro doloroso quando vi meus irmãos, aramados, só de cueca e com a cabeça raspada. Foi por isso que eu ficava tão agoniado quando passava na frente daquela estante, nunca acreditei nesse negocio de sentimentos de gêmeos. Que quando irmãos, gêmeos, é claro, eram muito ligados. Um tendia a sentir as emoções do outro. Não acreditava por um motivo, meus irmãos e eu não eramos muito próximos. Na verdade, nosso convívio era de verdadeiro antagonismo. Quando eles me viram, também começaram a chorar, corri na direção deles e a primeira coisa que eu fiz foi tirar as mordaças de suas bocas.
— Ah, Deus! Vocês estão bem? — Passei a mão no rosto de Evandro, não achando nenhum sinal de agressão eu fui ver Elliot. Esse já tinha um corte no supercílio e um no lábio. Edgar estava com um olho inchado e um nariz que mais parecia com uva cheia de sumo. Mas, mesmo assim, todos os três confirmaram a minha pergunta – Quem fez isso com vocês?
— Culpado – A voz dual, tão maligna e bondosa que o fazia parecer um homem auto-tunado. Olhei para trás e lá estava ele. Com o seu terno de corte fino perfeito, cabelos grisalhos milimetricamente alinhados e com uma mão levantada. Um sorriso ínfimo brincava em seus lábios – O que você vai fazer comigo, Evan Bloom?
Eu não respondi nada, nem saberia o que responder. Então em vez de responder com uma resposta, eu repliquei com uma pergunta.
— Por quê?
Eu sei que minha pergunta foi muito vaga. Mais eu acho que ele entendeu o que eu quis perguntar com essa simples pergunta. Por que fez isso comigo? Com Marvo? Chaves? Lago e Lion, meus irmãos? Os alunos? Os vivos e os mortos. Por quê? Por quê? Por quê?!
— Interessante pergunta – Seu sorriso era venenoso. Enquanto ele falava eu o olhava, mas minhas mãos, atrás de mim, trabalhavam freneticamente tentando soltar as amaras que prendiam meus irmãos – Mas pena que eu não poderei responder. Se eu fizesse ficaríamos aqui por um tempo, como digo? Por um tempo, relativamente, grande.
— Pode começar – Escutei uma movimentação escada abaixo, seguido de várias vozes exaltadas e passadas rápidas, o falatório cessou, uma porta bateu e depois a cacofonia de vozes recomeçou. Eu só queria ganhar tempo, pouco me importava com a explicação dele, que se foda! Eu só queria soltar os meus irmãos. — Não tenho pressa.
— Mas eu tenho – Seus olhos, a todo momento, iam na direção da escada. O falatório alto ainda acontecia lá embaixo. Em um certo momento eu escutei “E os guardas de lá?!” o que pra mim não me trouxe nenhum significado, mas eu vi como o diretor ficou. — Sabe, Júnior... Opa, não é o nome dele de verdade, você sabe? Não sabe? — Mecanicamente eu anui com a cabeça – Bom, pois bem, Júnior quer muito você e quem decide se você morre ou não é ele. Eu prometi que ninguém tocaria um dedo em você.
- Nossa que comovente – Falei – Quer alguma coisa em troca? Pena que eu esqueci minha carteira em casa, eu poderia te dar cinquenta reais, já que minha vida não me pertenci mais.
— Seu dinheiro é tão insignificante quanto sua vida e você – Rebateu, em uma sugestão de bom humor. Mas com sua voz dual quem poderia dizer o que aquele homem realmente sentia?
— Nossa – Fingi espanto. Que na verdade não foi totalmente mentira, eu tinha conseguido soltar Elliot, agora era com eles. Me levantei – Assim você me magoa, se minha vida não significasse nada para você, acho que você não se preocuparia tanto comigo.
— Apenas por causa de Júnior.
— E Júnior por algum acaso é seu macho? — Joguei verde e...
… Colhi maduro! Sua expressão facial foi impagável, seus olhos que não mostravam nada ficaram maiores e pontos de incredulidade pintava sua pupila. Eu comecei a rir.
— Ai Deus! Então Júnior está empurrando suas tripas para perto do coração? — Minha risada ecoava pelo pequeno cômodo poeirento e fedido.
Ele ia responder, mas seu rosto ficou vermelho e depois azul. Não no sentido figurado, mas literalmente falando. Ele olhou para uma pequena persiana enferrujada na parede a nossa esquerda e as luzes brilhantes iluminaram o sótão. A polícia! Ele me olhou e seus punhos viraram bolas apertadas, seu queixo crispou-se de raiva. Depois das luzes o som estridente das sirenes chegaram até nossos ouvidos. Eu estava em pé, olhando-o atentamente, uma vez Júnior me disse que aquele homem era dez vezes mais perigoso que ele. Podia não parecer, mas naquele momento eu acreditei nas palavras dele. Alguém, lá embaixo, gritou “Vão, vão, vão!” e depois de várias pisadas fortes e apressadas não escutei mais nada. Foi nesse mísero segundo de distração que eu quase morri. O diretor veio na minha direção como um touro enfurecido, só faltou o par de chifres e a argola enfeitando o seu nariz. Cai por cima dos meus irmãos e ele caiu sobre nos. Suas mãos cobriram o meu pescoço e, por alguns segundos, eu fiquei sem respirar. Mas meus irmãos me ajudaram contra ele. Eu tinha tirado as amaras de Elliot e ele tirou as dos outros dois. Não sei realmente o que aconteceu, a confusão que nós cinco estávamos fazendo era caótica. Meus irmãos eram montanhas de músculos, mas o diretor era um homem mais vivido, cheio de experiência com luta. No começo ele conseguiu dominar nós quatro. Mas depois de um tempo meus irmãos conseguiram domá-lo. Eu estava cansado, suando e arfando como um cavalo com a pata quebrada. Já estava extremamente machucado e luta corporal, definitivamente, não era para mim.
Não sei exatamente como foi que ele morreu, sinceramente eu não sei. Ele estava bem preso no aperto dos meus irmãos, mas quanto eu estava procurando alguma coisa para amará-lo, mas ele me atingiu. Gritei quando o vidro rasgou o tecido a prova de bala e mordeu a minha pele e músculos. Acho que eu chorei, não me lembro, mas provavelmente sim. Depois disso minha mente ficou vermelha e brilhante, mas não era de raiva, mas sim de dor. Do mair tipo de dor, sem diluição. Recobrei a minha consciência normal quando o sangue quente, pegajoso e denso espirou em meu rosto. Eu, de algum modo, tinha cortado a garganta dele. Em algum momento, com a minha mente dormente devido a dor, eu tinha tirado a minha última faca de onde ela estava, no meu coturno. Olhei para os meus irmãos e eles estavam com a boca aberta, espantados.
— Desçam e desamarem as pessoas lá em baixo – Ordenei, e, milagrosamente, eles cumpriram. Nem ousava olhar na direção do morto. Eu não tinha feito aquilo, nem me lembrava de ter feito aquilo. Mas o cheiro de sangue na minha cara e minhas mãos sujas e vermelhas confirmavam o contrário. Tinha sido eu.
Demorei ainda um tempo ali em cima, tentado me recobrar mentalmente e ajudar os meus irmãos. Mas quando eu cheguei lá em baixo a única pessoa que eu vi foi Júnior. Limpando sua arma brilhante, em algum lugar lá fora as sirenes soavam, os tiros ecoavam, as vozes zangadas rasgavam o ar constantemente. Fiquei feliz em saber que Lion, Lago, Chaves, meus irmãos e Marvo tinham se salvado. Bom, não tão feliz, eu nunca mais veria Marvo, mas quando você ama alguém com todo o corpo, faz qualquer coisa por essa pessoa. Respirei fundo e estufei o peito. Estava pronto.
— Estava esperando você – Ele falou, depois de polir sua arma e apontar para mim.
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Gente desculpa pela demora, desculpa mesmo, mas vocês sabem o motivo da demora. Eu só queria agradecer aos comentários, aos votos, a todos vocês (os anônimos também). Então gente, eu também queria dizer que "Por Favor... Me Ame!" está quase no fim, serio. Mais duas partes e as aventuras de Evan&Cia acabam. Também queria dizer que "Me Ensine a Amar" vai continuar, não parei com ele, só dei um tempo para que eu terminasse a minha primeira estoria. Então beijos e até o próximo.