E então eu finalmente havia saído de casa, havia me mudado para uma cidade nova, estava morando com pessoas que eu não conhecia direito, para estudar em uma escola diferente e ter uma vida incomum, como até então nunca havia tido
E, por fim, as aulas começaram. As aulas do 1° Ano eram no período da tarde, o que era bom, já que eu nunca gostei de acordar cedo. Mas as aulas, como já era de se imaginar, eram muito rigorosas e puxadas. Enquanto eu tinha uma certa facilidade com Ciências Humanas e Linguísticas, cortava um dobrado com Ciências Naturais e, principalmente, com Matemática, que eu nunca gostei muito.
Também tinha uma participação sofrível nas aulas de Educação Física. Embora eu tivesse optado por vôlei, eu preferia mais ficar conversando do que efetivamente jogando.
Assim que entrei no Coluni, fui tratado pelos meus colegas de uma forma completamente diversa da minha antiga escola. Antes eu me sentia completamente perdido e deslocado, não conseguia me conectar com ninguém de forma verdadeira e, logo, por não me compreenderem, os outros adolescentes me recriminavam e me puniam por eu ser diferente deles.
Agora era diferente. Os meus colegas eram tão ou mais inteligentes do que eu e não me viam com estranheza ou como uma ameaça, mas como um par entre eles. E o mais importante, eu havia crescido e de certa forma amadurecido, sabendo lidar e relacionar melhor e de uma maneira sadia com as outras pessoas.
Assim, eu rapidamente me tornei uma figurinha fácil na escola, relativamente pequena, atingindo uma popularidade e aceitabilidade nunca antes experimentadas. Me tornei descolado com o meu estilo alternativo/underground/grunge, vestido uniformemente de preto, cinza e vermelho, sabendo de cor músicas quer fossem do Led Zeppelin ou do Depeche Mode. Sempre cheio de frases espirituosas, humor sardônico e boas conversas, facilmente fiz novas amizades.
Mas essa pretensa popularidade me custou um preço. Eu logo me tornei amigo de um pessoal do último ano, sendo que alguns dentre eles até já eram maiores de idade. Assim como eu, eles gostavam de rock, só que eu ainda não conhecia a parte do sexo e das drogas, o que eles fizeram questão de me apresentar.
Eu nunca realmente me meti com drogas, mais por um escrúpulo moral, uma barreira e limite invisíveis que eu estabeleci para mim mesmo. Embora, até de forma um pouco sem sentido, eu tenha me envolvido com cigarro e álcool muito cedo.
O cigarro era mais como uma forma de aceitação pessoal, nunca gostei realmente daquela fumaça entrando e saindo de mim. Mas do álcool, por esse eu tinha uma predileção pessoal. Com 15 anos eu já ia em festas e tomava vodka pura, sentava em pequenos botecos e bares para tomar cerveja e tomava vinho ao relento com uma turma de amigos.
O fato de eu sempre ter sido forte para a bebida contribuiu e muito para isso. Se eu fosse fraco para bebida eu não teria ido muito longe. Mas minhas ressacas não passam de meras dores de cabeça e nunca fiquei sem conseguir levantar da cama. Nunca me esqueci de nada que eu tenha feito, nunca perdi o controle total do que eu estava fazendo, as vezes que eu vomitei acho que não dão nem uma dezena, nunca me tornei dependente. Se comparado a tudo isso, a quantidade monumental de álcool que eu já ingeri torna-se praticamente inacreditável.
Eu me tornei o membro mais novo de uma turma veterana do colégio e estava vislumbrado com o estilo de vido que eles levavam. Por outro lado, eles me consideravam o xodozinho do grupo. Eu aparentava ser bem mais novo do que eu já era e era meio cômico eles rodarem para cima e para baixo comigo.
Eu não namorava com nenhuma das garotas do grupo, mas a maioria delas tinham um certo afeto para comigo. Algumas delas, mais afoitas, não se furtavam em compartilhar carícias íntimas em momentos de privacidade. Embora nunca tenha efetivamente transado com uma delas, pelo menos com umas duas rolou de nos tocarmos e beijarmos nossos sexos.
Então a qualquer ponto de vista, eu estava meio que perdido, vislumbrado com uma vida adolescente cujos valores e sentidos são meio que confusos e inversos. Mas apesar de toda a curtição e desregramento, eu conseguia me manter no controle e levar bem a minha vida.
Ia bem nos estudos, tinha notas acima da média (menos em Matemática/Química/Física que eu passava raspando) e tinha um envolvimento regular com os projetos desenvolvidos. Está certo que um professor me descreveu no conselho pedagógico como depressivo, ressaltando uma tradução que eu tinha feito no verso de uma prova de Biologia de uma música da Björk (acho que nas de Matemática eu colocava canções do Green Day, que na época era a renovação do punk rock).
Fui várias vezes à entrevistas com as orientadoras pedagógicas que afetuosamente instavam comigo que eu não andasse mais com aquela turma de desordeiros, que eu não fosse influenciado pelo "mundo do rock" e que eu focasse mais em atividades construtivas. Com o tempo eu mesmo passei a ir à sala delas para conversar como uma forma alternativa de matar aula!
Ah! Quando se tem 15 anos e se pensa que aquilo que é vida.. mas a vida ainda me reservava mais coisas por vir.