Medicina para inumanos (6): O Vírus Eduardo

Um conto erótico de Victor Voldi
Categoria: Homossexual
Contém 2017 palavras
Data: 11/07/2014 01:56:47
Assuntos: Gay, Homossexual, medicina

Olá, leitores e escritores do CdC!

Obrigado pelos comentários e pelos votos Irish, Chele, cintiacenteno Ru/Ruanito, FabioStatz e dieguinho31!

Gente, o Victor não é barraqueiro, hahaha! Ok, talvez um pouco.

Boa leitura!

Contato: contistacronico@hotmail.com

O VÍRUS EDUARDO

APROXIMADAMENTE UM MÊS DEPOIS

_São matérias demais! – dizia um histérica Aline que não conseguia parar de pensar em provas nem mesmo quando nos sentávamos para, calmamente, comer alguma coisa na lanchonete da faculdade de medicina.

_Não se preocupe, Aline, você é boa o bastante para fechar tudo se quiser. – eu disse massageando minhas têmporas calmamente enquanto fazia uma cara relaxada, vendo se minha dor de cabeça se amenizava pelo menos um pouco.

Os últimos dias haviam sido especialmente maçantes, de fato. Estávamos numa sexta-feira e, na segunda-feira após o final de semana, começaria a temida semana de provas. Bom... temida para a maioria, porque eu estava bastante confiante. Facilidade para aprender é realmente tudo! O que me estressava era que eu tinha que me preocupar com a ameaça constante de André Platto.

_Você não tá entendendo, Victor! Se eu não tiver médias acima de nove, minha bolsa é retirada! – ela dizia enquanto lia seu caderno de anotações de aulas.

Meu cappuccino chegou, provei, estava sem açúcar.

_Na verdade, eu estou entendendo sim. Isso não tá escrito no item seis ponto sete pontodo edital de bolsas da ESOM? – fui abrindo vários sachês de açúcar e despejando na xícara de cappuccino – O que eu estou dizendo é que você vai conseguir.

_Victor, acho que... você tá colocando muito açúcar. – disse Aline olhando para o meu sétimo sachê de açúcar.

_Ele tem problemas com açúcar. – disse Hector com cara de tédio.

_Eu diria que é um gosto especial por coisas doces. – eu disse com um sorrisinho inocente, abrindo o oitavo sachê.

_Eu diria problemas. – disse Hector.

---

Aline despediu-se e foi para seu pensionato. Provavelmente morreria de estudar. Ofereci ajuda, caso ela precisasse, mas eu sabia que ela não precisaria. Aline apenas subestimava-se demais. Minha dor de cabeça ainda persistia.

Eu e Hector nos dirigimos para uma aula de língua russa, que ocorreria às 18 horas no prédio da faculdade de letras. Essa foi a única disciplina que o Hector escolheu, e eu achava que combinava com ele. Quando eu pensava em Rússia, me vinha à cabeça homens fortes e sérios demais. Tipo o Hector.

Aline achava um absurdo o fato de nós cursarmos disciplinas totalmente desvinculadas da medicina. Eu achava bem legal, e saber russo acrescentaria mais uma língua na minha lista que já continha sete fluências.

Chegamos na sala em que normalmente tínhamos aula. Normalmente, havia cadeiras demais para alunos de menos, o que permitia que grupos se sentassem bem separadamente. Dessa vez, porém, havia um círculo com o número de cadeiras igual ao número de alunos. A professora explicou que, naquela aula, iríamos ter a primeira prática de conversação. Os dois alunos que iriam praticar se sentariam no centro da circunferência e os outros alunos julgariam.

Sentei-me, olhei as horas no meu relógio de pulso metálico, eram 17:57. A professora resolveu esperar até que todos chegassem. Claro, sempre por último, chegou ele: Eduardo Brenner. Ele também fazia russo, assim como outras disciplinas que eu fazia como núcleo livre. Havia apenas dois lugares livres na roda. Ele escolheu justamente o que estava ao meu lado. Aquele garoto fazia com que eu me sentisse estranho, e eu nunca estivera tão próximo dele, já que Eduardo normalmente sentava-se longe dos outros. Nesse dia, ele não tinha escolha.

Seu cabelo castanho claro curto e liso estava bagunçado, do tipo que parecia ter recebido uma forte rajada de vento, fazendo um pequeno e bagunçado topete. De fato, estava fazendo um dia frio e com muita ventania. Provavelmente por isso, ele estava usando uma camiseta de manga longa preta com uma estampa de uma pirâmide com um olho na ponta (bem Illuminatti) em branco com dois botões partindo da gola. Um estava abotoado, outro solto, permitindo ver um pouco mais da pele alva do seu tórax. A camiseta não se ajustava demais nos braços, mas não ficava frouxa demais também, ficava apenas certo nele. Usava uma calça jeans azul escuro e tênis casual cinza. Dei uma olhadela para seu rosto, sua barba havia crescido um pouco, mas sem perder aquele aspecto de leveza e maciez. Me fez lembrar um pouco de Gustavo e Oliver, embora estes possuíssem mais... densidade, creio que essa seja a palavra.

Ao se sentar, Eduardo colocou uns papeis e um caderno que ele segurava na mão em cima da mesa. Como o ar condicionado estava desligado, tirei meu moletom cinza e fiquei apenas com minha camiseta branca sem estampas. Virei-me um pouco para pendurá-lo no assento da carteira, e então vi de relance o que estava escrito em um dos papeis de Eduardo. Eram anotações de biologia molecular, mais especificamente, sobre processo de transcrição. Sabia disso porque vi alguns desenhos feitos rapidamente, mas que eu pude identificar facilmente como sendo esquemas de RNA mensageiro, com algumas anotações ao lado. Havia três pontos de interrogação na frente do título da matéria: “Processo de ???”. Supus que Eduardo quis sinalizar que não sabia o nome do processo.

_Hum... desculpe a intromissão, mas se você quiser saber o nome disso – eu apontei para os desenhos e anotações em seu papel – é chamado de processamento diferencial do RNA mensageiro.

Eduardo olhou para mim um pouco surpreso. Admito que fiquei um pouco envergonhado depois daquela investida inusitada, ainda mais depois de encarar aqueles olhos que mais pareciam ter sido pintados com mel. Aquilo era muito “não eu”. Talvez eu estivesse intrigado demais com aquele tal Eduardo e estivesse buscando uma brecha para conhecê-lo, mesmo que isso passasse por cima de toda minha objetividade. Para parecer menos estranho, eu disse:

_Digo... você desenhou aqui um RNA mensageiro e com essas duas setas, você sinalizou dois caminhos diferentes para editoração, certo?

Eduardo olhou para o papel e fez que sim com a cabeça:

_Certo. – afirmou ele.

_Ah, então é processamento diferencial mesmo. – eu finalizei.

Ele continuou analisando seu papel e eu virei-me para frente, tentando reprimir o sentimento de “como eu sou ridículo”. Percebi que Hector olhava para mim com um sorrisinho. Eu só esperava que Eduardo não houvesse me achado intrometido demais, ou ridículo demais.

_E você saberia me dizer quais são as vantagens desse processamento? – ele perguntou.

Olhei para Eduardo e ele me observava com curiosidade. Admito que fiquei aliviado. Aquilo significava que ele não me achava um completo idiota.

_Ah... sim... bom... essa característica dá uma melhor modulação para a expressão gênica de certas proteínas. Um mesmo segmento do gene pode ser transcrito de uma forma no pâncreas e de outra forma no cérebro, dando origem a proteínas diferentes, porém semelhantes, sem precisar de dois segmentos distintos do gene, entende?

Eduardo foi assentindo enquanto anotava alguma coisa no papel. Ao terminar, ele levantou seu rosto para mim e deu um sorriso agradecido:

_Obrigado, eu ia perguntar para o professor de biologia molecular, mas eu estava atrasado para esta aula.

Retribuí o sorriso.

_Não foi nada, mas você pode checar no Lehninger se quiser mais detalhes.

_Eu estou usando o livro da Pamela Champe.

Fiz uma cara de aversão.

_Acho muito superficial. – eu disse.

Ele riu.

_O Lehninger que é muito complicado.

Sua voz grave era atraente. Não grave demais, mas sim compatível com ele. Ele estendeu a mão para mim:

_Eduardo, prazer. Faço filosofia e história aqui na ESOM.

Cumprimentei-o, achando muito legal ele não dar o foco para o sobrenome, como a maior parte dos alunos naquela universidade.

_Victor. Eu faço medicina. Esse é o Hector, faz medicina também. – apresentei.

_Ah, sim, eu vejo vocês juntos em várias disciplinas diferentes que eu também faço. Cheguei a pensar que estavam me perseguindo. – disse Eduardo com um sorriso divertido.

Eu ri um pouco e disse:

_Digo o mesmo.

De repente minha dor de cabeça pareceu aumentar. Fiz uma leve cara de dor quando senti uma pontada. Virei-me para Hector e perguntei:

_Você tem um comprimido pra dor de cabeça aí, Hector?

Hector fez que não com a cabeça, mas disse com sua cara indiferente:

_Posso ir comprar agora, se você quiser.

_Não, deixa pra lá. – eu disse, resignado.

Eduardo abriu um bolso em sua mochila de costas, pegou uma cartela de comprimidos e me entregou. Peguei-a e vi a logomarca da Voldi. Eduardo sorriu, desafiador, e disse:

_Você confia no seu próprio medicamento, Sr. Voldi?

Provavelmente, ele havia ouvido meu sobrenome quando os professores faziam as chamadas nas nossas matérias coincidentes, já que eu não havia me apresentado como um Voldi. Sorri para ele de forma confiante e mostrei a ele sua cartela.

_A cura é a linguagem da Voldi. – eu disse com um sorriso, repetindo o slogan da Voldi.

---

Saímos da sala de aula após o término das práticas de conversação. Caminhávamos pelo corredor do centro de aulas.

_Só fizemos um pouco mais de um mês de aulas e vocês estão falando russo num nível incrível. – disse Eduardo para mim e para Hector.

_Você também foi muito bem, Eduardo. – eu disse, retribuindo o elogio.

Hector apenas assentiu quando eu falei. Eduardo revirou os olhos, como se estivesse decepcionado com algo:

_Queria ter essa mesma facilidade com a disciplina de Química Geral. Por falar nisso, essa é uma das únicas de núcleo livre que não fazemos em comum, não é?

Assenti em concordância.

_Química é uma das coisas que eu mais conheço nessa vida. Tive aulas avançadas de química geral, química orgânica e química quântica quando eu tinha quatorze anos.

_Uau, estou lidando com um gênio? – ele disse com um olhar impressionado.

_Acho que não... eu gosto de aprender coisas interessantes e coisas relacionadas aos negócios da família. – eu respondi – No caso da química, é pelas duas razões.

_Entendo. – ele disse.

Ao longe, vi André Platto e um de seus amigos homofóbicos vindo na direção oposta. Fechei a cara no mesmo momento. A situação instável entre mim e Hector e o grupo de André deixava meu dia a dia mais tenso. Era um fato que, a qualquer momento, André poderia tentar cometer uma atrocidade. Entretanto, com Hector ao meu lado, ele pensaria sempre duas vezes.

Passamos lado a lado. Eu encarava André intensamente. Hector olhava para frente em total indiferença, embora eu soubesse que ele agiria prontamente em qualquer caso. Eduardo parecia achar aquilo estranho. Em um instante, passamos uns pelos outros, então Eduardo finalmente falou:

_Então ele é o André Platto, o cara com quem você brigou.

_É... você viu o vídeo? – perguntei.

Alguém postou a filmagem do meu confronto e de Hector contra André e seus amigos. O vídeo se tornou bastante popular pela ESOM. Para a fúria de André, os comentários eram algo do tipo: “Olha como aquele garotinho acabou com o fortão!”.

_Vi sim. Aliás, parabéns. Quem imaginaria que um garotinho desse tamanho soubesse fazer uma coisa daquelas. – ele disse dando um risinho.

_Você deve ter só uns dez centímetros a mais que eu. – eu estava inconformado com aquilo.

_É brincadeira, Victor. – ele disse com um sorriso calmante.

Hector tinha um sorrisinho na cara também.

_Tá rindo do quê? – eu disse dando um soquinho de leve no braço do meu segurança e logo virando-me para Eduardo – Ah, se quiser ajuda com química, eu posso ajudar.

Eduardo pareceu cogitar sobre aquilo.

_Bom... dizem que a prova desse professor de química geral é bem puxada... acho que vou aceitar sua ajuda.

_Você se esforça bastante para uma matéria de núcleo livre. – eu disse olhando-o de soslaio.

_Bom... sabe como é, né? Paixão pelo conhecimento.

Eduardo disse isso com um olhar que eu conhecia bem. Era o olhar que eu fazia quando o assunto era aprender algo que eu gostava. Mas tinha outra coisa que eu percebi em toda nossa conversa. Algo que me deixava estranhamente triste. Estava em seu olhar, em seus gestos, em sua postura: distância. Sim, distância. Eduardo era um homem que se fazia efêmero e livre, e isso significava que eu jamais o teria.

E aí entrava a segunda má notícia: eu o queria.

<Continua>

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Comentários

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cada capitulo me surprendo mais esta fabuloso....ja compartilhei no face na madrugada de hj mas so agora tive tempo de deixar minha nota bjo amado

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Otimo cm sempre,Hector pareca ter gostado da onda q o Eduardo tira cm o Victor kkk ja to ansiosa pelo proximo cap. Bjs

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Otimo cm sempre,Hector pareca ter gostado da onda q o Eduardo tira cm o Victor kkk ja to ansiosa pelo proximo cap. Bjs

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Cada vez melhor, mais instigante! Bom, que ele conquiste esse Eduardo, mas que não seja fácil! Vamos ver como Hector se comportará diante desse provável namoro. E se Hector se envolvesse tambem com alguem (homem, por favor), nada muito sério, talvez só presumido...Haha, desculpa tanto palpite, tenho essa mania chata. Sua historia, seus personagens. Sei que procederá perfeitamente com eles, melhor que qualquer pitaco.

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