Eu era um jovem solitário. Um jovem que como tantos outros teve seus momentos de descobertas, desejos e prazeres, além de conhecer as responsabilidades da vida muito cedo. A vida a qual fui moldado me tornou um selecionador nato. Muita coisa veio e foi embora. Muitos chegaram a se revelar totalmente para mim e muitos foram mandados embora ou simplesmente desistiram de tentar caminhar a meu lado. Hoje me arrependo disso, alguns seriam amigos magníficos.
Perdi meus pais muito cedo e a minha total criação ficou por conta dos avós maternos. Mamãe sempre me dizia que ser avô ou avó era ser permissivo e mão aberta, que tudo podia ser conseguido e que os melhores momentos eram passados na companhia deles. Hoje sei que mamãe estava muito enganada com relação a isso.
Meus pais se conheceram num julgamento e em lados opostos de uma mesma causa. Causa essa que se tornaria até comum nos dias atuais, marido mata a mulher e alega defesa da honra, mamãe era uma brilhante Promotora de Justiça, pelo menos era isso que sempre ouvi sobre sua pessoa quando eu também me tornei um, por alguns anos no meu inicio de carreira sempre ouvi a celebre frase, ele é o filho da Dra. Gláucia Lopes Aguiar Falcão e meu pai Abner de Mattos Falcão era um dos mais conceituados advogados criminalistas não só do Estado.
Meu pai costumava dizer que seus sogros eram um verdadeiro exemplo de moral, ética e tradicionalismo. Daí vocês já podem concluir que eu praticamente não tive mais infância quando aos 9 anos de idade me vi literalmente sozinho no mundo. Nada de primos, nada de tios, os outros avós já haviam morrido quando meu pai ainda era uma criança assim como eu.
Eles puderam moldar o meu caráter, interferir muito na minha vida, determinar onde estudar, que curso fazer, enfim uma série de coisas, menos na minha opção. O fascínio do corpo masculino entrou pela primeira vez nas minhas vontades quando vi um amigo da escola ginasial somente de cueca logo que nos trocamos para a aula de educação física. Eu soube que ali naquele momento as meninas poderiam ou não serem ou não minhas melhores ou meras amigas.
Muito eu fantasiei nas minhas noites solitárias em cima da cama no escuro do meu quarto no segundo andar da casa de meu avô Pedro Veloso Aguiar e de minha avó Conceição de Maria Lopes Aguiar Falcão, ambos funcionários da hoje Secretária de Justiça do Estado.
Nem mesmo com a morte dos dois logo que concluí meu curso de Direito na Universidade Federal do Ceará no segundo semestre de 2006 aos 23 anos de idade, eu dei vasão as minhas vontades e desejos. Eu era extremamente fechado. Tímido mesmo. Só que alguns anos depois já trabalhando no Tribunal de Justiça como Procurador eu jamais poderia imaginar que minha vida iria mudar, muito.
As férias haviam sido decretadas uma semana antes do meu aniversário de 32 anos de idade. Eu tomara uma decisão de melhorar a aparência radicalmente. Não que tivesse obcecado pelo culto ao corpo, nada disso, é porque eu tinha necessidade de melhorar a auto estima e começaria pelo visual nesse dito mês de féria.
D. Tânia já estava na cozinha fazendo o café na manhã de segunda-feira quando eu pontualmente entrei na mesma as 08:00 H da manhã e ponto.
_ Bom dia D. Tânia. Como começou o seu dia? E sorri. Sempre a tratava de maneira formal, o que para ela era o máximo, chegou até a dizer que se sentia importante e já estava comigo há pouco mais de 4 anos.
_ Bom dia ao senhor também, Dr. Mário Gustavo de Aguiar Falcão. Começou bem cedinho, sabe? A vinda pra cá foi até calma, mesmo eu tendo vindo em pé quase todo o trajeto daquele bendito ônibus.
_ E o que temos hoje para o café da manhã? O cheiro esta ótimo.
_ Tudo que o senhor gosta. Mamãe picado com creme de leite. Leite quente. Café preto. Queijo branco em fatias. Aquele pão francês de nome engraçado que o senhor diz. Suco de laranja sem açúcar como o senhor sempre pede . Iogurte natural. Tapioca e o meu famoso bolo de milho. E acho bom o senhor sentar logo aí porque eu já estou terminando de fazer seu omelete de queijo.
_ Isso sim é que é café de gente rica né não D. Tânia?
_ E o senhor é o quê? Olha o lindo apartamento em que o senhor mora. O seu carro de trabalhar e outro só pra passeio. E as outras coisas que o senhor tem, isso sem falar do seu emprego né? Mais quer saber de uma coisa, se o senhor tem é porque merece tudo isso, benza Deus.
Ela falava com propriedade, eu era um jovem rico e solitário. trocaria tudo isso pela volta dos meus pais e outro tipo de vida, menos séria e responsável.
_ Pois agora sente-se e por favor coma comigo, mulher. Ela relutou mas acabou sedendo.
Saí de casa por volta das 09:00 h da manhã e me dirigi a uma acadêmia localizada a poucas quadras da minha casa, na Avenida Antônio Sales, bairro Aldeota.
Assim que cheguei na recepção, uma ficha me foi entregue e eu mesmo respondi ao questionário que em seguida entreguei ao jovem recepcionista que havia me atendido.
_ Posso chamá-lo pelo primeiro nome? Perguntou-me ele.
_ Sem problemas, pode me chamar de Gustavo. Qual o seu nome?
_ Zé Flávio. E pude ver que o jovem tinha um lindo sorriso.
Ele voltou a me entregar a ficha e pediu que eu seguisse pelo corredor e na segunda porta procurasse seu irmão Bruno, uma vez que a academia era uma empresa familiar, como vim descobrir algum tempo depois. Fiz como ele havia me orientado e bati na porta duas vezes, vovó dizia que 3 seria falta de educação.
_ Entra, esta aberta. Foi tudo o que ouvi antes de entrar e me surpreender.
_ O senhor seria o Bruno?
_ Não, eu sou Bruno, tudo bem com você? E um lindo riso igual ou mais franco que o do garoto da recepção entrou em meu campo de visão.
_ Desculpe é a mania de tratar todos por senhor ou senhora...Esta tudo bem sim Bruno. O Zé Flávio me pediu para te entregar a minha ficha e tirar algumas medias.
_ Beleza. E depois que olhou o papel que eu havia preenchido acrescentou, Gustavo.
Ele então levantou da cadeira em que estava sentado atrás de uma simples escrivaninha e antes de se posicionar a meu lado tirou uma fita métrica de dentro de uma das gavetas da mesma.
_ Você por favor tira a camiseta.
E ficou esperando pacientemente enquanto eu fazia o que ele tinha me pedido. Deixei a camiseta cair no chão e ao me baixar para pegá-la sua mão foi mais rápida que a minha e senti o primeiro contato de um cara totalmente estranho em minha pele.
_ Desculpe. Falei ainda de cócoras, olhando em seu rosto.
_ Sem problema, isso as vezes acontece. As medias foram finalmente tiradas e assim que vesti novamente a camiseta fui para a sala de ginástica.
_ Gustavo eu vou iniciar com você num programa leve de musculação em conjunto com uma parte aeróbica. Como você comprou o pacote todo, à tarde haverá hidroginástica e treino de força, beleza? E o sorriso voltava aos lábios desse jovem Educador físico que seria uma espécie de personal trainer.
_ Sem problemas então, quero aproveitar o máximo uma vez que entrei ontem de férias.
_ E você trabalha em que mesmo Gustavo?
_ Sou Promotor Público, o que me torna um funcionário Público.
Foi quando Bruno me disse que era um dos sócios da academia, melhor essa em que havia me matriculado era a terceira filial que eles tinham aberto há pouco mais de sete meses. Os cinco irmãos tomavam conta da empresa que os pais haviam iniciado há quase 20 naos atrás.
_ Olha Gustavo para quem nunca fez exercícios de forma regular devo dizer que você está muito bem, cara.
Olhei meu reflexo na grande parede espelhada que estava à minha frente e apenas sorri. O reflexo me mostrava um cara de quase 32 anos de idade, 1.78 de altura, acabara de saber minha altura, 72 kg que iriam aumentar com o programa diário de exercícios e alimentação que havia me proposto a fazer, uma pele clara e rosada, cabelos claros, quase loiros, com certeza herança da minha mãe e uma musculatura que melhoraria gradativamente com a minha presença diária e constante na academia do meu mais novo amigo Bruno Diogo de Siqueira Nunes, Educador físico, com mais ou menos 1.85 de altura, corpo totalmente definido e musculoso, o cara era o que se podia chamar de grande, cabelo totalmente raspado, pele sem nenhum pelo, sorriso aberto e franco e lindo, pensei tudo isso e memorizei.
E o primeiro treino finalmente começou.
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A vontade de voltar aqui foi muito maior que a saudade que quis me maltratar. Que possamos seguir novamente uma nova estrada nessa casa de contos. Aos velhos amigos o meu profundo e sincero agradecimento pelas coisas do passado, ao novos amigos o meu desejo de que essa mesma estrada seja só de alegrias.
Nando Mota
P.S. COELHINHO33, se vc lembra do primeiro capítulo verá que o personagem Jonas não deu certeza de que iria no tal aniversário do pai porque seria na casa da irmã e ele não gostava do atual cunhado por ser militar. Então não teria como fazer um retorno apenas por causa desse fato. A vidas dos dois mostrou que a família já havia desistido deles, no caso pai e mãe, então não teria mais como situar o pai de JOnas na sua vida, vida essa que ele mesmo tentou destriur. Abraço meu querido.