Apesar de estar inserido em uma turma um tanto problemática no colégio, isso não me impedia de ter amizade com outras pessoas na escola. Na verdade eu me tornei uma figurinha extremamente sociável e amistosa, assim, eu tinha conhecimento com todo mundo que valesse a pena. Logo, me tornei conhecido de todos.
Havia uma menina em especial, estudava no 2º Ano, se chamava Ana. Daquelas meninas afetuosas, meigas, sensíveis, afetadas, parecia uma boneca antiquada. Ela realmente se parecia com uma boneca: loira, alta, esguia e comprida, os olhos castanhos cor de mel. Era bonita mesmo, mas um tanto infantilizada. Usava acessórios extravagantes como boinas, casacos trench coat e botas. Isso usando uniforme escolar. Tinha 16 anos de idade, mas quem olhasse achava que ainda tinha 12.
Ana era afim de mim e tentava de todos os modos ser minha amiga. O comportamento "menininha" dela não era empecilho para a maioria dos garotos, que eram doidos com ela. Mas eu a via com um certo desdém, e eu tratava a sua paixonite por mim como desimportante.
A fama de Ana no Coluni não era apenas por ela eventualmente aparecer de chapéu nas aulas (como que representando a aristocracia inglesa no interior de Minas), mas sim por causa dos irmãos mais velhos dela. Apesar de nenhum deles ter estudado no Coluni, todo a molecada da cidade conhecia eles por causa das festas que eles davam na casa da família.
Eram quatro irmãos e Ana era a caçula. Antes dela vinha Fernando, que era o diferente da família. Ele tinha 19 anos, moreno, 1.70m, ombros largos, um pouco atarracado em comparação aos irmãos, coxas grossas, cabelos e olhos escuros, uma cara de suspeito. Tinha sido expulso de umas três escolas diferentes e trabalhava num emprego meio voluntário meio remunerado na APAE da cidade.
O irmão do meio se chamava Renan e era a versão masculina da irmã. Tinha 21 anos, media mais de 1,80m, esguio, magro, bem branco, cabelos loiros, curtos, rosto fechado, um cara meio tirado, esperto, cheio das manhas, de fala mansa. Trabalhava na administração de uma empresa da cidade. Tocava guitarra e violão, o que fazia dele meio que um sucesso local.
O mais velho era o Marcos. Tinha 23 anos, media 1,90m, também era magro e esguio, os cabelos bem pretos e lisos caindo sobre os olhos, que eram de um azul acinzentado. O rosto parecia desenhado, de linhas finas, era muito bonito. Trabalhava como eletricista. Tinha uma moto vermelha que era a paixão da vida dele. Tocava teclado e violão, o que também lhe dava uma certa notoriedade na cidade, embora não tanto quanto à do irmão Renan.
O pai deles tinha morrido enquanto eles ainda eram pequenos e a mãe tinha se casado de novo. Diziam que o pai tinha sido um dos maiores festeiros da cidade e a herança ficou para os filhos. Quase todos os fins de semana tinha resenha na casa deles e praticamente todos os dias tinha gente arrumando alguma coisa lá, mesmo que fosse só de bobeira.
A casa deles era enorme. Tinha dois pavimentos, cinco quartos, uma garagem enorme na frente da casa e uma piscina e churrasqueira nos fundos. No segundo andar ainda tinha uma outra varanda que cabia tranquilo umas 25 pessoas bem acomodadas. O lugar podia ser bem mais um espaço de festa do que uma casa. Esse era o estilo deles.
Comecei a frequentar as festas deles por causa da Ana e também a convite do Renan, o cara com quem eu morava e dividia o quarto. Ele era muito amigo do outro Renan e do Fernando (os irmãos), então sempre participava dos eventos da casa.
Na verdade o Renan e o Fernando, mais do que o Marcos ou a Ana, que eram os principais responsáveis pelas festas, churrascos e resenhas que aconteciam lá, que era realmente muito famosas. Gente competia pra ir lá e tinha uns que iam mesmo que fosse pra ficar só na porta. Tinha vez que até a rua lotava de carro e gente, que usavam o lugar meio que como um ponto de encontro. Numa época em que celular era item de luxo e estranho à vida comum, ter um lugar certo para encontrar os amigos era muito útil.
E assim eu fui ganhando familiaridade com uma família que iria se tornar uma diferença crucial na minha vida..