- Aquele cara tá bem? – Júlia falou.
- Como que ele chega te gritando assim? Que foi isso? Tá todo mundo olhando Lucas! – Natan me soltou.
- Eu não sei... – eu nunca sabia de nada quando o assunto era o Bernardo mesmo então...
Bernardo vinha caminhando com fogo no olhar. Um jeans preto e uma camiseta regata branca mostrando um par de braços lindos com ombros fortes e com sinais pretos que eu não me cansava de admirar. Todo o meu encanto foi quebrado num segundo.
- Vamo logo! Eu quero dormir cedo hoje, eu te disse.
- Bernardo, eu nem apresentei vocês no dia da mudança. – tentei fingir que não estava notando a sua alteração de voz - Esses são Natan e a Júlia.
Bernardo não tirava o olho do Natan.
- Prazer. Boa sorte na entrevista amanhã. – Júlia ofereceu um sorriso.
- Hã? Como você sabe? – Ele finalmente olhou pra ela. Me fuzilou com o olhar em seguida.
- Tá no site da universidade. – eu falei.
- Ah... Ok. Obrigado. – Bernardo falou olhando confuso pro chão.
- Boa sorte cara. – Natan falou com a voz grave dele. Bernardo parece que acordou.
- Valeu. Vamo Lucas. – Ele deu uma leve puxada no meu pulso já se virando contra os meninos.
- Tchau gente... – eu saí sem graça.
Em casa Bernardo já era outra pessoa. Calmo e sem preocupação nenhuma.
- Preciso que você durma no meu quarto hoje Lucas. Pra gente ficar conversando. Me ajuda a relaxar. – ele disse jogando o capacete no sofá e bagunçando o cabelo. Foi em direção da geladeira.
- Você tava irritado com algo?
- Irritado? Não.
- Pareceu quando chegou na universidade. Que grito foi aquele?
Ele soltou um risinho.
- Grito? Hum... É que eu já estava no estacionamento há um tempo te esperando e você ao invés de sair e já ir me encontrar de imediato, fica é de abraços se despedindo do coleguinha. – ele falou o fim da frase com uma voz afetada pra me provocar. Continuou a beber água em seguida.
- E eu lá sabia que você estava lá?
- Eu mandei mensagem.
Eu saquei o celular e havia mesmo uma mensagem dele. Só que eu não havia visto.
- Não vamo brigar tá? Só vamo comer algo e ir dormir. Amanhã a gente tem que estar inteiro pra entrevista. Amanhã tudo tem que dar certo, tudo! - encheu a boca de água e entrou no quarto.
- O que é aquilo na mesa? – eu falei notando um embrulho.
Ele voltou correndo e cuspiu a água que estava tomando na pia. Correu pra mesa e levantou o abafador.
- Tcharaaaam!
Era um bolo de chocolate. Era pequeno, no tamanho certo pra gente.
- Você não vale nada... – eu disse rindo.
- Já tô fora da dieta há um tempo mesmo, pensei que não fosse fazer mal. – ele falou já cortando uma fatia fina e colocando toda na boca.
Jantamos o bolo todo aquela noite. Fomos dormir por volta das 21:00.
- Vai dar tudo certo amanhã não é? – ele disse após nos deitarmos.
- Claro que vai. A vaga já é sua. A entrevista é só formalidade.
- Mas ainda posso ser eliminado.
- Não vai ser. A vaga já é sua, já disse.
- E a sua vaga? Você não parece interessado.
- Você precisa mais que eu. Sua situação é mais complicada. Eu posso deixar pra procurar estágio no semestre que vem.
- Puxa Lucas, valeu cara. Essa força que você me dá me ajuda demais. Contigo minha autoestima é sempre nas alturas! Eu não poderia ter achado uma pessoa melhor pra morar junto. – ele sorriu.
Eu me sentia feliz em saber disso. Saber que ele se sentia assim quanto a mim. Saber que eu fazia bem a ele. Mas já faziam dois meses assim. Eu queria mais. Queria mandar esse medo ir se fuder e falar logo que eu gostava dele de uma vez só. Ficamos em silêncio até que o sono chegou.
No dia seguinte na empresa a gente ficou num corredor com os outros 2 selecionados esperando a sala da entrevista ser liberada. Só estavam lá dentro o dono da empresa, os dois caras da prova (Igor e Luiz) e mais um cara que eu não sabia o nome. Depois eu descobri que era o supervisor de uma área onde um estagiário ficaria. Logo o Igor abriu a porta com uma prancheta na mão.
- Bom dia pessoal! Por ordem alfabética, Bernardo Junior.
- Eu.
- Pode entrar.
Bernardo me deu um abraço. Ele entrou com o Igor e passou mais de 20 minutos lá. Que bom! Acho que estavam gostando do Bernardo. Depois foi a vez dos outros dois caras, eu fui o último. Recebi outro abraço do Bernardo e entrei.
Na entrevista perguntaram minhas áreas de afinidade, falaram sobre disponibilidade de horário, perguntaram sobre como eu me virava trabalhando sobre pressão, se eu era bom com prazos e porque eu tinha que ser selecionado... foi tranquilo. Não achei que tinha me saído bem porque pra mim que eu não passei nem 10 minutos lá dentro. O Igor tinha uma cara de paisagem terrível. Na verdade todos tinham. Não havia como decifrar nada. Eu falava e eles apenas acenavam com a cabeça enquanto o Igor digitava no computador alguma coisa.
- Mandaremos o resultado por email mesmo. Ainda hoje, eu acho. Fiquem atentos. – Igor falou se despedindo.
Estávamos saindo do prédio.
- Porra... A aflição voltou.
- Calma... Não é por muito tempo. – eu disse pondo o capacete.
Fomos almoçar num restaurante alí perto. Bernardo surtou e disse que eu deveria comer mais salada, que faz bem pra saúde e blá blá blá. Eu pus no prato só pra ele calar a boca. Depois ele me deixou na universidade. 18:00 eu ia saindo pra casa com a Júlia e vi Bernardo adentrando a universidade. Ele buzinou pra gente.
Quando cheguei em casa recebi uma mensagem dele.
“Já está em casa?”
“Sim. Por quê?”
“Nada... cuida do Brutus.”
Passei a noite em casa com o Brutus na sala, teclando com o pessoal no Whatsapp. Escutei a garagem sendo aberta e o Brutus latiu do meu lado. Logo ele apareceu na porta. Jogou a mochila no sofá e veio em minha direção com a boca curvada pra baixo como quem ia desabar em choro. Brutus ficou brincando em seus pés.
Eu levantei rápido. Estava já quase dormindo.
- O que foi?
Ele não disse nada. Só me abraçou forte e deixou o choro sair.
- A gente entrou. Cara, a gente entrou!
- O resultado! Eu esqueci completamente!
Ele chorava e sorria sem me largar.
- Seu retardado! Eu preciso ligar pra minha mãe. – Ele se separou de mim e saiu pro quarto com o Brutus.
Ligou pra mãe e contou tudo. Que ele iria começar a trabalhar e ela não precisava mais pagar o aluguel dele. Que iria ver quais despesas além do aluguel o salário dava pra cobrir e avisaria depois. Ela ficou feliz e o parabenizou. Eu também fui ligar pros meus pais e contar a novidade.
O estágio começava em Junho, na primeira semana ainda antes da copa.
No dia seguinte o Bernardo era pura alegria. Ria pra qualquer coisa. Até o sábado à noite chegar.
Estávamos na sala. Ele, sem camisa, deitado no sofá com o notebook no colo e fones de ouvido. Apesar do tesão eu já havia acostumado vê-lo sem camisa. Era uma tentação aquele peito com pelos ralos. Deveriam espetar ao passar a mão, não é? Continuando... Eu no outro sofá assistindo TV. Meu celular tocou. Eu levantei e fui pra cozinha atender.
- Quem era? – ele perguntou quando eu desliguei o celular. Eu achei estranho, ele nunca tinha agido assim. Pensei que pelos fones ele nem estivesse prestando atenção.
- Os meninos... querem sair pra comemorar minha aprovação. Você poderia vir junto. Ou a gente poderia comprar algo e vir todo mundo pra cá.
Ele fez uma careta com a boca.
- Pra cá não. Onde vocês querem ir? – ele perguntou com uma sobrancelha mais alta que a outra. Eu queria tanto saber fazer isso.
- Alguma lanchonete. Ninguém tem grana, é só pra não passar em branco.
- Tranquilo. Eu te deixo lá... Só me liga na hora de te buscar, e vê se não fica com eles até tarde porque como sou eu quem vai te buscar pode ser perigoso andar de moto de madrugada. Vai tomar banho. – ele disse sem tirar os olhos do computador.
- Queria que você viesse comigo. A gente tá quase no fim do mês e mês que vem só Deus sabe como vai ser nossa rotina com o estágio.
- Seus amigos não gostam de mim.
- Vão ter que aprender a conviver contigo. Você também é meu amigo. Vem?
Ele ficou calado um tempo. Rancou os fones e fechou o notebook.
- Se você quer... Porque não? Mas só porque você quer. Agora vai banhar... – ele falou sem interesse e entrou no quarto.
Nos arrumamos e saímos pra uma lanchonete perto da casa da Júlia. Chegando lá estavam todos na mesa, menos Larissa.
- Cadê a Larissa que não aparece mais? – eu disse me sentando entre a Júlia e o Natan e apontando uma cadeira pro Bernardo.
- Namorando! Não quer saber mais de ninguém. – Júlia falou.
Bernardo pegou a cadeira dele do lado do Rony e deu a volta na mesa até chegar do lado do Natan.
- Você poderia afastar... – suspirou e piscou algumas vezes - ... Poderia, por favor, afastar um pouco pra que eu fique do lado do Lucas? – ele falou parecendo um robô. Todo mundo notou.
- Claro velho... chega aí. Chega pra lá Rony.
Bernardo sentou e ficou ereto e quieto na cadeira.
Começaram a me parabenizar por ter conseguido a vaga.
- Bernardo também entrou gente.
- Parabéns! – Júlia falou. Ele apenas sorriu em resposta.
- Parabéns cara! – os meninos apertaram a mão dele.
Comemos e conversamos muito aquela noite. Bernardo só falava o necessário e ria às vezes das histórias que os meninos contavam. Natan e Rony eram amigos desde a infância, juntar os dois era palhaçada na certa. Estava indo tudo bem até que na hora da saída Natan falou besteira.
- Ôh calado, vem na próxima de novo! – no fim os meninos gostaram do Bernardo.
Bernardo fez sinal de legal com o polegar pra ele.
- É que você só se abre com o Lucas, só tem papo com ele. Tem que começar a fazer mais amizades rapaz... Ficar sozinho assim não é bom pra ninguém. – Natan completou.
Bernardo estava abotoando o capacete quando ouviu isso me olhou com um olhar que eu agradeci por ele não ser o Ciclope do X-men!
- Sobe Lucas, anda!
Chegamos em casa e ele disparou.
- Que história é essa de eu só me abrir com você? Você comenta com eles o que rola aqui dentro de casa? Você conta pra eles minhas coisas Lucas?
- Claro que não... Mas a gente mora junto. É inevitável eu não tocar no teu nome de vez em quando.
- Aí você aproveita e conta meus problemas pra eles! O que mais você falou de mim?
- Nada Bernardo. Para de grito cara!
- Para de grito coisa nenhuma! Se eu quisesse que alguém daquela porta pra fora soubesse o que rola comigo eu teria trazido pra morar aqui!
- Olha... No fim das contas o Natan tá certo. Você precisa se enturmar cara! Fazer mais amigos, sair dessa casa.
Ele estava de costas pra mim. Eu sentei no sofá. Ele se virou e veio em minha direção. Se agachou na minha frente. Respirou fundo e pôs as mãos nos meus joelhos.
- Lucas... Entende uma coisa pelo amor de Deus. – ele juntou as palmas das mãos e encostou no nariz. – Eu pensei que isso estivesse claro mas se não está, tudo bem, eu explico. Eu não quero mais ninguém além de você como amigo. Ninguém! Não preciso, estou muito bem do jeito que estou, só com você. Não sou como as outras pessoas, eu não posso ter muitos amigos, eu faço terapia há anos por isso! Esse distúrbio se desenvolveu depois da morte do meu pai e agora já era, não tem como voltar atrás. Por favor, não tenta me incluir em grupinho nem nada, porque não vai dar certo. Eu só quero você e pronto. Me entende por favor! – ele ficou me olhando estático. – Eu vou dormir. – disse após um tempo. Levantou e entrou batendo a porta do quarto.
Apesar de eu ter ido dormir tarde assistindo filmes na sala, não o vi mais aquela noite.
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Eaí galera, tudo bom? Gente, eu não esperava que o Kaio fosse escrever aquilo. Ele realmente se chateou com o comentário do cara. Mas enfim, passou... Aí está o capítulo como prometido.
vitinho: Puto com o Bernardo? Imagina... Por quê? kkk
marcelo8486: Obrigado irmão!
#Léo: Ah cara, mas tenta arrumar um tempinho pra ler e comentar!
iron3: Se importar com o que? Mande meu querido. Vai ser um prazer repsondê-lo.
Drica (Drikita): haha casal mais fofo *-* Olha, eu trabalho sim. Sou eu no conto aí mesmo. É o seguinte, essa empresa é a empresa do pai do Kaio, que eu trabalho de fato desde junho, mas antes eu só ajudava em algumas coisas pra ganhar experiência. Se você ler a minha história com o Kaio vai saber como eu fui parar lá dentro.
Irish: Terapia intensiva!!!
Marcos Roger: Obrigado por acompanhar. O Kaio e eu mandamos um abraço.
May Lee: Ainda bem que não afetou. Eu lembro que na época assim que eu vi o Lucas eu gostei dele. Bastava só ele fazer uma boa pontuação na prova pra ter meio caminho andado, e ele fez. Daí eu dei prioridade a chamá-lo porque eu gostei da entrevista dele.
yumi: Você mora no Japão? Eu vou procurar os desenhos sim!
Um abraço para esperança, Joshh, DAVID, RodrigoT., love31, Lehh ♥, Wyllia Paes e mille***. Vocês são demais.
Posto o capítulo novo assim que der.
