Talvez minha história não seja algo novo pra ninguém , um cara hétero cheio de conceitos e preconceitos que do nada tem sua vida bagunçada por um amor inesperado.
Me lembro da minha infância , de ser desde pequeno líder , sempre estar em evidência , por ser bonito de sempre ter a garota que eu quisesse , tanto que minha primeira vez foi aos 11 com uma garota de 15.
Até o segundo ano minha vida era normal, as vezes só me desgastava ter um monte de puxa saco ao redor , mas confesso que de outro lado isso alimentava o meu ego. Namorava a garota mais bonita da escola e pegava as amigas dela nas horas vagas.
Estávamos para retornar a escola , último ano , uma época de transição , afinal éramos os maiorais do colégio e isso tudo significava que éramos os mais fortes e receber um "oi" era um privilégio para as pessoas. O engraçado é que quando amadurecemos , percebemos o quanto isto é idiota , as pessoas colam em outras que são mais bonitas , mais descoladas para se sentirem melhor como se não possuíssem capacidade de se destacar por seus valores , mas também de outro lado vemos que isso é uma questão de falta de personalidade , eu sentia isto nos meus amigos , na minha namorada , nas amigas dela enfim , eu não me tocava porque parecia que aquele prestígio me cegava de tal maneira que só pude perceber quando alguém me mostrou o contrário.
Uma semana antes de iniciarem as aulas eu acordei no domingo de manhã com um barulho muito forte , era um caminhão de mudança que estava descarregando e tinha deixado cair alguma coisa que não vi direito o que era.
Fiquei puto em pleno domingo cedo aquele barulho , fui ver pela janela e foi aí que minha vida começou a bagunçar , quando olhei pela janela e vi o caminhão parado e o cara da mudança desesperado com medo de ter danificado alguma coisa e foi quando do carro que vinha atrás saiu um garoto de uns 16 anos , traços finos , cabelo comprido um pouco abaixo do ombro , fiquei meio paralisado olhando pra ele , ele parecia tentar acalmar o cara. Quando me liguei que tava admirando aquilo me dei um tapa na cara e me perguntei "Qual foi Alessandro, tá virando viado?"
Meu telefone tocou , era o Pedro , meu amigo me chamando pra ir a praia , tomei um banho e quando fui sair de casa , minha mãe pediu pra descer com o cachorro , eu tive que descer , quando cheguei no play o Naruto meu cachorro se soltou e saiu correndo , eu tentei pega-lo e nem me liguei que ele tinha corrido em direção a um labrador que eu nunca tinha visto.
Quando olhei pro lado vi o mesmo garoto rindo dos cachorros e brincando com eles , ele sorriu e novamente eu fiquei igual a um idiota olhando paralisado , ele se aproximou de mim e me cumprimentou e disse: foi amor a primeira vista né? eu respondi meio na grosseria: Qual foi? e ele disse : os cachorros , a Kim e o seu cachorro se gostaram.
Eu fiquei muito sem graça e respondi um pois é muito sem jeito , ele se apresentou , seu nome era Lucas.
Eu não tava muito em condição de responder e muito perturbado com ele na minha frente , achei ele bonito , parecia uma garota , mas tinha jeito de homem , não era afrescalhado , mas novamente me causou aquele sentimento.
Eu peguei o Naruto pela coleira e subi com ele , estava muito mal com aquilo , tudo o que eu queria era sumir dali , dar um mergulho pra tirar aquela sensação de mim.
Encontrei com o Pedro na praia , mas nem consegui trocar uma ideia direito , dei um mergulho , e comprei uma cerveja , chegaram mais dois amigos o Duca e o Maurício e me chamaram pra jogar futebol , mas nem rolou , eu só conseguia ficar alí , lembrando do cara e aquilo me perturbando.
Senti uma dor nas costas estranha e no mesmo momento me lembrei de uma surra que tomei do meu pai quando tinha quatorze anos , meus pais são divorciados hoje, mas passo uns finais de semana na casa do meu pai e com a secretária dele de 25 anos que se tornou sua nova mulher.
Meu pai sempre foi do tipo machista e me ensinou a ser assim. Na surra que ele me deu me disse duas coisas que me marcaram muito , ele tinha me batido porquê eu tinha pego o carro dele e saído com meus amigos e batemos. Depois de me bater ele disse que eu me lembrasse daquela surra quando eu pensasse em fazer qualquer coisa de errado , usar droga ou se pensasse em virar viado , disse que a surra seria duas vezes pior.
Meu pai sempre me educou assim, sempre ouvia ele comentando com os amigos que todo viado era doente e que não tomou uma surra no tempo certo.
O único caso de gays mais próximos era um casal que morou no nosso condomínio que meu pai por ser advogado conseguiu prejudicar eles junto ao dono do apartamento pelo fato de umas vezes que eles deram umas festas que passaram um pouco do horário de música alta e ele chamou a síndica que também é uma senhora preconceituosa e os dois conseguiram envenenar o dono do apartamento que não quis renovar o contrato.
Então tudo aquilo me perturbou de tal maneira que passei a odiar o Lucas pelo fato de ele ter me despertado um sentimento daqueles.
Passei a semana sem encontrar com ele , somente o via algumas vezes saindo com uma bolsa que parecia ser de academia , mas não era a academia do condomínio , eu malhava lá e não o via.
Na semana em que as aulas começaram logo no primeiro dia eu o encontrei , ele havia sido transferido pra mesma escola , quando ele me viu acenou e eu fingi que não o vi , mas ele percebeu que foi fingimento e ficou sem graça.
Depois disso das outras vezes eu passava por ele e ele parece que tinha se tocado que eu não queria papo e também não me olhava , mas o que me irritou é que ele não parecia incomodado com aquilo , a minha fama e dos meus amigos colocava praticamente toda a escola ao nosso redor e todo mundo mendigava pra ficar perto de nós.
Mas ele logo se enturmou com uns babacas CDF e parecia estar bem , aquilo não sei porque me irritava.