Quando eu finalmente acordei, Kadu não estava mais no quarto e a boa e velha sensação de vazio chegou. Aproveitei e tomei mais um banho demorado e assim que vesti uma bermuda estilo surfista, deu uma geral na minha mochila que os amigos haviam pego na minha casa e finalmente saí do bangalô pra poder encontrar com a turma.
Muitos ainda estavam na piscina e nada de Kadu entre eles. Diana me disse que todos já haviam comido e que eu procurasse na copa a Sra. Antônia e lhe pedisse o que eu quisesse para comer que com certeza ela me daria. Rumei pra lá pois a fome estava me deixando com dor de cabeça.
Mais ou menos quarenta minutos após comer uma refeição leve e saborosa, voltei pra área da piscina e após vasculhar todo o perímetro do local, me convenci de que Kadu, o vagabundo não estava ali.
_ Pensei que você não ia mais acordar, Franzé. Disse o Cheiroso saindo da piscina e vindo em minha direção com sua sunga vermelha.
_ Rapaz, eu tava muito cansado. Também meu irmão acordei cedo ontem, trabalhei até meio dia, vim pra cá e fiquei ligado praticamente 24 horas sem descanso.
_ Sinto muito em dizer que você perdeu o dia aqui na casa, vacilão. Altos lances.
_ Pois é cara, e eu ainda pedi pro Vagabundo me acordar. A proposito, cadê o Vagabundo?
_ Já se mandou meu irmão. Deixa eu te contar o que tu perdeu.
_ Claro que eu deixo, vamos só pegar uma coca, tô numa sede só.
E assim que saímos do local em que estávamos, Cheiroso emendou:
_ Um dos parentes da mãe da Diana, é o empresário que banca o próximo time de Futebol de Salão em que o Kadu vai jogar e a Diana disse que ele é o filho mais novo do dono das empresas em que tu trabalha. Esse cara, que aqui pra nós é meio esquisito ou melhor dizendo é uma bicha louca, assim que viu o Kadu tratou de conversar com ele a sós, e os dois foram juntos pra praia onde andaram até onde a avista alcança. Assim que eles voltaram, o Kadu falou que ia embora na carona dele e dois outros garotos que vieram com esse estranho. Tu sabe Franzé que não tenho preconceito com nada, mas acho que o Kadu vai faturar esse cara junto com os outros dois que foram embora com ele.
_ Que é isso, Cheiroso? Nada a ver cara. Vai ver que o cara só queria dar a carona mesmo e o Vagabundo do Kadu que adora uma mordomia, deve ter achado melhor ir num carrão importado do que numa van com a gente.
_ Lá vem tu colocar pano frio na quentura. Quer saber? Por mim tanto faz o buraco não é meu mesmo.
_ Se tiver alguma coisa a ver com isso, pode deixar que te digo se o Kadu e falar algo.
_ Beleza Franzé. Agora eu vou me trocar pois o nosso carrão importado vai já chegar pra levar a gente pra vida real.
Assim que cheiroso saiu, me deu uma coisa ruim e a dor de cabeça foi automática. Minhas mãos gelaram e o coração de vez em quando acelerou. Era assim que eu ficava quando algo me angustiava e nesse caso específico eu tinha motivos de sobre pra ficar assim, segundo meus pensamentos.
Todos já estavam prontos pra entrar na van quando resolvi verificar se no celular havia alguma chamada ou mensagem do Kadu, e como deu pra notar rapidinho, nada havia.
" Como pode ser uma coisa dessa? O que significava o que a gente tinha feito na madrugada e manhã desse mesmo dia? Até que ponto era verdade o que Kadu me dissera sobre me amar e me querer pra sempre? " Essas perguntas juntamente com mais 3 bilhões de outras, não saíram da minha cabeça até praticamente chegar em casa.
Assim que entrei em casa, minha mãe estava ao telefone e foi logo dizendo:
_ Pra você, é o seu amigo Kadu. E bem baixinho para que não pudesse ser ouvida, acrescentou:
_ Não demora ou manda logo ele ligar pro teu celular, tô esperando uma ligação da sua avó. E me entregou o aparelho fixo.
_ Fala vagabundo. Procurei dar a minha voz uma entonação indiferente.
_ Ae vacilão, tu pode fazer um favor pra mim, cara? Vai lá em casa e diz pros velhos que eu vou demorar um pouco mais porque eu fiquei de vir em outro carro lá da casa da Diana, beleza?
_ Como é que é Kadu? Tu tá me pedindo pra mentir pros teus pais, cara?
_ Porra vacilão, pensei que você poderia me ajudar. Depois te conto. Dá ou não pra quebrar essa?
_ Tudo bem, vou lá depois que tomar um banho. E desliguei o telefone.
" Puta que pariu, esse cara só pode tá brincando... Nenhuma palavra sobre o que aconteceu, sobre a gente, sobre como ele tá se sentindo... " , Foi tudo em que pude pensar.
Tomei banho, troquei de roupa, coloquei a camiseta em cima do ombro e saí de casa avisando que iria até a apraça. Meu pai já tava no lendo a Veja da semana, minha mãe falava ao telefone, minha irmã mais velha namorava em frente de casa, os gêmeos andavam de bicicleta na rua enquanto a mais nova tava no computador.
Depois que dei o recado aos pais do Kadu, me sentei num banco o mais longe que pude da casa do Kadu e de onde eu estava ele não poderia me ver assim que chegasse. E como não tinha nada mais a fazer, esperei.
Já passava das 21:30 h quando finalmente um corolla preto parou em frente a casa do Vagabundo e uns 15 minutos depois a porta do carona abriu e ele desceu olhando pro banco em que sempre ficávamos, só que dessa vez não tinha ninguém por lá. Ele falou algo pra pessoa que estava dirigindo o tal carrão e antes de entrar em casa a buzina do carro foi acionada e ele olhou com um lindo sorriso para o filho da puta que o tinha levado de mim.
Três dias haviam passado e as notícias que eu tinha de Kadu eram sempre dadas pelos amigos que sempre se reuniam no banco da praça. Na quinta-feira finalmente ele apareceu e após um boa noite cheio de entusiasmo pra todos nós que estávamos no dito banco, ele me chamou e disse:
_ Preciso levar um diálogo com você, beleza?
_ Sem problema. Diz aí. Foi tudo o que pude falar antes de voltar a sentar no banco.
_ Na entoca, vacilão. Vamos dar uma caminhada.
Tive que ir, caso contrário ele não falaria nada, pelo menos enquanto tivesse alguém por perto. Levantei e saímos sob a gozação da galera.
_ O melhor numa DR, é justamente os beijos no final. A galera toda falou quase num coro.
A praça ainda estava cheia apesar de já ser mais de 20:30 h. O tempo estava começando a fechar, com certeza haveria chuva na hora de dormir, o que eu achava bem legal. Contornamos a praça e sentamos novamente no banco em que eu havia ficado escondido de suas vistas no dia em que o carrão foi lhe deixar em casa.
_ Passei esses últimos dias resolvendo um monte de coisas antes de poder falar com você. Só peço que me escute, beleza?
_ Você tem certeza que quer me dizer o que tá acontecendo? Tudo mesmo?
_ Tô indo morar em Fortaleza. Claro que não vou morar sozinho. A empresa em que você trabalha monteou tipo uma república para o time de Futebol de Salão e Natação que eles patrocinam. O lugar é fantástico, conheci no domingo. Os velhos abençoaram e então tô me sentindo bem mais à vontade pra poder seguir. O contrato inicial é de um ano e se os resultados forem sempre satisfatórios, renovo automaticamente. Outra coisa muito legal é a obrigatoriedade em fazer uma faculdade. Então vai ser assim, estudar pela manhã, treinar à tarde e quando houver jogos, à noite. Vacilão te juro que tô numa felicidade só.
_ Porra cara que boas notícias. Parece que tu vai se dar bem, né? Olha só a tua sorte, até faculdade vai fazer. Morar sozinho com amigos, cara nem sei o que dizer.
_ Que tal um simples boa sorte Kadu? E me olhou numa expectativa quase explosiva.
_ Boa sorte Kadu. E fiquei olhando pra ele.
_ Tem outra coisa Franzé. Eu vou ficar muito sem tempo pra que a gen...
_ Pode para Vagabundo. Por favor cara não diz mais nada. Eu só quero que você saiba que eu tô muito surpreso até por conta da velocidade como tudo esta acontecendo na tua vida e que com certeza vai impactar na minha. Sabe o que é pior? Algo me diz que você mente ou então me diz só uma parte das coisas como você sempre fez desde quando a gente era pequeno. E sabe o que dói mais? É lembrar que até outro dia, eu tinha paz e estava super feliz por ter conseguido dar um rumo pra minha vida e de repente vem você e me faz acreditar num monte de coisa e depois vira as costas e saí como se tudo fosse um grande mal entendido.
_ Não cara, olha Vacil...
_ NÃO DIGO EU, PORRA. Gritei praticamente em cima dele. Você pensa que eu sou algum idiota? Talvez eu seja mesmo. Você só me usou. Olha Kadu, tomara que você consiga ter paz na sua vida cara. Não esquece do que vou te dizer agora, tudo termina aqui. Tudo termina aqui, ouviu bem?
Não voltei mais pra junto da turma que tava na maior gozação lá no nosso banco da praça e mesmo sem olhar pra trás uma vez sequer, senti os olhos de Kadu me queimarem as costas. Foi quando eu soube que a gente podia ficar sem chão.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Meus amigos hoje paro na postagem, amanhã prometo arranjar tempo pra nossa troca boa de energia. Uma ótima semana a todos e que cada um de nós vença e conquiste a parte que nos cabe nos caminhos da vida. Beijão bem estalado pra vocês. Nando Mota.
