Baricentro do Triângulo da Foda

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 13034 palavras
Data: 25/08/2014 16:19:19

Baricentro do Triângulo da Foda

O mundo não é tão grande quando parece. Cheguei a esta conclusão por dois motivos, o primeiro, é por que minha família está espalhada por diversos pontos do mapa mundi; o segundo, por que as pessoas, apesar das diferenças físicas, linguísticas e econômicas, são do ponto de vista moral, boas ou ruins em todos os lugares.

Minha mãe, uma antropóloga norueguesa, foi concluir seus estudos nos Estados Unidos, onde conheceu meu pai, se casou, teve seus três filhos, dos quais sou o segundo, cada um num país diferente. Meu pai, como diretor executivo de uma multinacional, obriga a família a se mudar, a cada cinco ou seis anos, para outro país conforme a demanda de seu cargo, o que me fez viver até os nove anos nos Estados Unidos, antes de nos mudarmos para a Turquia, onde vivi até os dezessete anos e, enquanto a família se mudava para o Brasil, eu retornei aos Estados Unidos para cursar a faculdade de medicina. Durante todo esse tempo as viagens internacionais fizeram parte da minha vida. Ora eram as férias, ora eram as visitas aos parentes e, ora eram os acontecimentos familiares que nos levavam a estas viagens. Minha avó materna é uma pessoa extremamente agregadora. Ela consegue reunir todos os filhos, genros, noras e netos durante o Natal mesmo que todos tenham que se deslocar por milhares de quilômetros. Sempre gostei disso e, apesar das distâncias, a família sempre foi muito unida.

Meu melhor amigo Brayden é um obstinado. Eleito o melhor nadador da equipe universitária, durante os anos de faculdade, o que o tornava popular entre as mulheres; quando encasquetava com alguma coisa ou alguém, nada o demovia de suas intenções. Poucos meses depois do início do curso, eu virei um de seus alvos. Tudo começou durante as aulas de anatomia, uma disciplina que eu tirava de letra, e que ele penava para recordar dos nomes, inserções e trajetos das estruturas anatômicas. Prevendo as dificuldades que isto lhe acarretaria, não desistiu enquanto não conseguiu ficar no mesmo apartamento do alojamento que eu. Foi assim que nos tornamos amigos.

Não demorei a perceber que dividir o mesmo espaço com ele trazia vantagens e desvantagens. As desvantagens eu descobri rapidamente. Nosso apartamento virou uma espécie de ponto de peregrinação feminina. Quando não vinham espontaneamente, era ele quem as trazia a tiracolo, em plena luz do dia ou na calada da madrugada. Enquanto a fama de garanhão dele ganhava novas admiradoras, eu me via cada vez mais enjaulado no próprio quarto. As vantagens foram se descortinando aos poucos. Nas épocas de provas ficávamos mais próximos estudando, fazendo um jantarzinho juntos, vendo TV ou simplesmente esparramados sobre o sofá conversando sobre nossas vidas. Essa proximidade me fez ver o quão instigantes eram seus grandes olhos esverdeados, aquela barba cerrada, da qual ele se queixava toda vez que se escanhoava e, o quão sensual era aquele peito enorme, cuja musculatura chegava a intimidar. Do fascínio inicial passei a sentir tesão toda vez que o via em trajes sumários, mas não ousava mais do que simplesmente admirar aquele macho fogoso e tentador. Eu tinha a impressão de que ele nem me notava. Não que eu fizesse algo nesse sentido, mas com o tempo fui me convencendo de que ele curtia tão somente mulheres, e passei a me resignar com a situação. Muito embora minha admiração e meu carinho por ele, cada dia mais intensos, começassem a me martirizar. Acho que quando se está sozinho num país estrangeiro, a gente se apega às pessoas com mais facilidade, e esse sentimento nem sempre é recíproco. As coisas só começaram a mudar depois das férias de verão. Eu regressara ao Brasil e, embora não estivéssemos no verão por aqui, os dias ensolarados e a temporada que passei em nossa casa de praia em Ilha Bela, resultaram num bronzeado que, aliado aos olhos azuis, o cabelo loiro e as feições inconfundíveis de um escandinavo típico, não passaram despercebidos quando da volta às aulas.

- Senti sua falta nestes meses todos! – disse Brayden, quando voltávamos do aeroporto, onde ele foi me esperar.

- Foram apenas dez semanas, não seja exagerado! – retruquei, embora eu também experimentasse o mesmo sentimento em relação a ele.

- E você acha pouco? – reclamou.

- Fazia um ano que não via meus pais, essas poucas semanas não foram suficientes para acabar com a minha sensação de abandono. – observei.

- Agora é você quem está exagerando. Você não está abandonado, vive cercado de amigos e ainda por cima, tem a mim. – revidou

- Você? Que piada! Você está ocupado com suas garotas. – deixei escapar num impulso do qual já começava a me arrepender.

- Você está com ciúme? Hummm.....Não sabia que sente ciúme de mim? – caçoou.

- Que ideia! Não é nada disso. Eu só quis dizer que você tem com quem se distrair. – remediei, não conseguindo ser convincente o bastante.

- Sei, sei. – completou, com um sorriso malicioso e um olhar de soslaio.

Depois de chegarmos em casa, eu ter desfeito minhas malas e tomado uma ducha para remover aquele cansaço das horas de voo, ele entrou no meu quarto com um pacote nas mãos e me flagrou vestindo a cueca. Encabulado, tentei vesti-la o mais rápido possível, e por incrível que pareça me atrapalhei todo, quando um dos pés ficou engatado na cueca e eu quase perdi o equilíbrio.

- O sol do Brasil te fez muito bem! Essa marquinha de sunga deixou sua bunda carnuda e arrebitada ainda mais gostosa! – exclamou, se aproximando e olhando fixamente para minhas nádegas nuas.

- Você não bate antes de entrar? E eu não tenho bunda arrebitada! – protestei envergonhado.

- Fala isso para os caras que, durante as aulas de esportes, não comentam outra coisa. – entregou, sem mencionar nomes.

- Como assim? Que papo é esse? Quem disse isso? – perguntei, espantado com a revelação.

- Vai me dizer que você nunca percebeu que tem um bocado de caras de olho nessa sua bundona tesuda? – inquiriu, como se eu estivesse habituado a ouvir comentários sobre a minha bunda, que eu sabia ser um tanto quanto avantajada.

- Claro que não! Não sabia que estavam debochando de mim. – afirmei categórico.

- Eu não disse que estavam debochando. Eu disse que estão a fim da sua bunda. – esclareceu.

- Você está querendo me irritar, já percebi. – conclui amuado.

- Nada disso. Eu vim aqui para te entregar isso. – acrescentou, me estendendo o pacote que trazia nas mãos.

- O que é isso? – perguntei curioso.

- Abra! Espero que goste. – ordenou, enquanto acompanhava atento os meus movimentos ao desembrulhar o pacote.

- Que lindo! Por que isso, não é meu aniversário e faltam quatro meses para o Natal? – questionei curioso, ao ver um relógio de grife que eu sabia não ser barato.

- Eu disse que senti sua falta. Quis que você tivesse algo para se lembrar de mim. – respondeu embaraçado.

- É lindo, eu adorei. Obrigado do fundo do coração. – agradeci entusiasmado.

- Que bom que gostou! – disse timidamente.

- Também tenho um presente para você, só não sei se você vai gostar! – disse, procurando entre as minhas bagagens a caixinha ricamente envolta em papel aveludado azul, e depositando-a em suas mãos.

- Não acredito, é maravilhoso, igual ao que vimos naquela noite depois do jogo dos Pittsburg Steelers! – exclamou radiante, antes de ambos começarmos a rir da situação.

Num shopping de São Paulo eu encontrara o mesmo relógio que ele havia admirado na vitrine de uma joalheria, enquanto caminhávamos para o alojamento da universidade, após seu time de futebol vencer mais uma partida do torneio.

- Também senti sua falta! – confessei, finalmente.

Quando terminou de afivelar o relógio ao pulso, aproximou-se de mim e me deu um beijo sorrateiro no pescoço, que fez uma onda eletrizante percorrer minha coluna. Em seguida, me inclinou de costas sobre a cama, e sobre as roupas que eu estava tirando das malas, encostou sua boca na minha com tanta força que meus lábios chegaram a doer comprimidos contra os dentes. E então, me beijou libidinosamente, movendo suas arcadas dentárias como se estivesse me mordendo, enfiando sua língua ávida na minha boca como que me coitando, e trepando com seu corpanzil sobre mim. Todos os meus sentidos se aguçaram, aqueles detalhes do corpo dele que eu tanto admirava em segredo, agora estavam acendendo minha pele, e o cheiro virginal que ela exalava, foi como o de uma fêmea no cio, o que o deixou cheio de tesão. Ele lambeu e mordeu meu pescoço, mordiscou meus mamilos e enfiou a mão dentro da minha cueca, arrebatando minhas nádegas com suas mãos poderosas. Comecei a gemer com o desejo se apossando das minhas faculdades. Os dedos dele tateavam meu cuzinho que se contraía involuntariamente, expondo minha sensibilidade inexperiente. Isso o deixou ainda mais impulsivo e excitado. Ele torceu minha cintura deixando minha bunda virada para cima, para que pudesse se apoderar dela com mais facilidade. Arriou a cueca e se deixou atiçar pela maciez carnuda e devassada daquelas nádegas lisinhas, cuja pele em dois tons distintos indicava a alvura do meu pudor resguardado. Entranhar-se naquele rego intocado foi como apoderar-se de um tesouro, e ele o fez com meticuloso cuidado e a perfeição de um mestre. Passou o polegar sobre as preguinhas rosadas com a determinação de um garanhão, me fazendo arfar incontido. Beijou e mordeu minhas nádegas, deixando marcas arroxeadas das dentadas mais incontroladas, depois enfiou a língua molhada na minha rosquinha anal até que eu gemesse prazerosamente. Ele me lambia o cuzinho descaradamente, enquanto meu tesão fazia com que eu empinasse a bunda como uma cadela no cio. A pica dele não cabia mais nas calças, por isso ele se desvencilhou de tudo que a cerceava. Quando ele se aproximou do meu rosto com aquela jeba grossa, coberta de veias sinuosas, a cabeçorra arroxeada exposta, e vertendo um fio pegajoso de pré-gozo cheirando a macho, eu a abocanhei gulosamente, e passei a lambê-la e chupá-la, do saco até a cabeçorra babona, sorvendo aquele fluído com avidez tarada. Ele olhava para minha sofreguidão submissa e deixava que seus urros guturais denunciassem seu deleite. O sacão peludo dele se esfregava no meu rosto enquanto eu chupava demoradamente o cacete pulsátil, impregnando minhas narinas com um cheiro viril. Ele abriu minhas pernas e as colocou sobre seus ombros largos, deixando meu cuzinho vulnerável e acessível à sua gana de me possuir. Apontou a pica rija e distendida no minúsculo orifício que se camuflava no centro das minhas preguinhas rosadas, forçando-a na tentativa obstinada de desvendar os prazeres que o aguardavam naquela gruta intocada. Eu sentia minha carne se distendendo até o limite do suportável, mas isso estava longe de permitir a passagem daquela verga brutal. A cada tentativa mais determinada dele eu ia do arfar desejoso aos gemidos desesperados, deixando-o louco de tesão. Seu autocontrole chegara ao limite, e ele meteu a rola no meu cu num movimento brusco, fazendo minhas carnes agasalharem apertadamente aquela jeba afoita. Algo se rompia nas minhas entranhas, como se uma navalha me dilacerasse por dentro, só me restando liberar aquele grito que se alojara na minha garganta. Ele soube que estava tirando a minha virgindade e isso o deixou ainda mais confiante e envaidecido. Enquanto isso eu gemia descontrolado com aquele cacete se movimentando dentro do eu tinha de mais íntimo e resguardado. Eu estava entregue à sua tara e ao seu domínio, como se todo o ser dele estivesse dentro de mim, e o único sentimento que me movia era o de acalentá-lo com meu carinho. Meu corpo flutuava como se a gravidade deixasse de existir, enquanto ele bombava meu cuzinho num frenesi alucinado, até que seus jatos de porra explodiram num gozo prazeroso e abundante, umedecendo minhas entranhas esfoladas. Fui penetrado mais duas vezes, primeiro de quatro, com as coxas arregaçadas num dos cantos da cama, e depois, com ele deitado sobre meu corpo estirado languidamente de bruços. Depois daquele dia meu amor por ele cresceu desmedidamente, até se tornar uma quase idolatria que, por vezes, precisava se fazer de cega, pois seus encontros e relacionamentos furtivos com as garotas da universidade continuavam, embora mais discretos e muitas vezes fora do nosso apartamento. Transávamos com mais frequência, e talvez para ele, eu passei a ser aquele porto onde suas necessidades, fraquezas e sonhos eram mais bem compreendidos.

Terminada a faculdade, com o altruísmo típico da juventude que se acha capaz de mudar o mundo, e induzido pelo Brayden, nos engajamos numa organização médica humanitária internacional que promove assistência em países pobres, assolados por epidemias ou em estado de beligerância. Isso nos levou a atuar por um ano em Ruanda, na África Oriental, especialmente com crianças em extrema pobreza. Depois fomos transferidos para o Afeganistão, onde a nossa organização passou a atuar sob a proteção militar das tropas da OTAN lideradas pelos americanos, devido à guerra contra os extremistas islâmicos.

Chegamos a Kabul, vindos de Londres num avião militar, numa tarde abafada de verão, com temperatura acima dos 30°C. Além do Brayden e eu, o grupo médico era composto de mais 18 pessoas, basicamente enfermeiros e auxiliares. Ficamos alojados numa base militar naquela noite, para partirmos na manhã seguinte em direção ao sul, para Marjah a cerca de 700 quilômetros, onde ficava uma base militar provisória e o posto ambulatorial da nossa organização. Pouco depois do jantar, o comandante da base nos apresentou o oficial responsável pelo nosso transporte e segurança até Marjah, e também pelo comando da base onde estava instalado nosso posto avançado. Além disso, recebemos os equipamentos e medicamentos que permitiriam o atendimento no ambulatório.

- Corbin, muito prazer! – apresentou-se o militar musculoso, de quase dois metros de altura, cerca de 35 anos e notória origem irlandesa, embora a tarja sobre o bolso de sua candola camuflada exibisse COL McKINSLEY em letras negras; ao estender sua mão em direção à minha, depois de bater continência. O rosto sério dele ganhou um sorriso econômico, mas sincero.

- Olá, sou o Sven! – cumprimentei, sentindo minha mão desaparecer dentro da dele, enquanto ele a apertava com excessiva força.

O cumprimento ao Brayden ficou restrito à continência e foi acompanhado de um – ‘coronel McKinsley’ – com sua voz grave e autoritária. Aos demais dirigiu um olhar conjunto e um – ‘Olá’ – como se estivesse cumprimentando sua tropa. Pediu que nos acomodássemos no pequeno auditório e começou a expor as dificuldades que enfrentaríamos durante a viagem e quais os perigos envolvidos nesse trajeto com muitos pontos controlados pelos rebeldes talibãs.

- Devido às péssimas condições das estradas, talvez façamos uns 400 quilômetros amanhã, pernoitaremos num acampamento das tropas aliadas afegãs e faremos o restante do percurso no dia seguinte. Após o por do sol a viagem se tornaria muito arriscada, pois estaríamos sujeitos a emboscadas das milícias escondidas nas montanhas. Os senhores deverão ficar sempre próximos aos veículos, e seguir rigorosamente as instruções dos militares que os acompanham. Qualquer imprevisto deverá ser informado a esses militares e nenhuma atitude deve ser tomada isoladamente, o que pode colocar todo o destacamento em perigo. – explicava, acentuando o tom de voz ao pronunciar as palavras ‘deverão’ e ‘nenhuma atitude’.

- Sim senhor, general! Claro, general – murmurou o Brayden no meu ouvido em tom de escárnio.

- Alguma dúvida, doutor? – questionou o coronel, lançando um olhar reprovador em direção ao meu amigo.

- Nenhuma, senhor! – continuou o Brayden, mais sarcástico e revoltado com aquele olhar de censura. Seu desprezo por militares parecia ter se aguçado depois que conheceu o Corbin.

A manhã ainda estava fria quando deixamos a base num comboio de aproximadamente 13 veículos, entre M-ATVs, MRAPs e caminhões equipados com canhões e metralhadoras. O coronel Corbin, Brayden e eu ocupávamos o terceiro veículo do comboio, um MRAP, como cheguei a descobrir, logo nos primeiros quilômetros da jornada, pelas explicações solícitas e, um tanto tagarelas do Corbin, para uma manhã após uma noite mal dormida. Mas, procurei me esforçar para ouvir sua conversa, ao contrário do Brayden que se aconchegou num canto do blindado e cochilou tentando recuperar o sono. A viagem continuou por um terreno árido e desolado, por vezes aquilo não podia ser chamado de estrada, passamos por pequenas aldeias, grupos nômades carregando suas tralhas sobre camelos e montanhas pedregosas, cujos cumes permaneciam cobertos de neve mesmo no verão. O calor aumentava à medida que nos aproximávamos do meio dia, despi meu casaco e até a camiseta me pareceu sufocante demais para aquele clima. Pouco depois, paramos num vilarejo para o almoço, que constou de uma comida estranha e de procedência duvidosa, servida por um grupo de homens barbudos e mal encarados. A presença de tropas estrangeiras era visivelmente mal vista por aquela gente simplória, apenas tolerada por que talvez servisse para que reconquistassem sua liberdade do jugo extremista. Me limitei a comer algumas frutas secas que uns garotos vieram oferecer em pequenos cestos de vime, água mineral e biscoitos que havia comprado no supermercado da base em Kabul. À tarde o percurso foi ainda mais penoso, o ar extremamente seco se tornara irrespirável, e uma leve pulsação nas minhas têmporas prenunciava uma dor de cabeça iminente.

- Está tudo bem com você? – perguntou solícito o coronel Corbin, diante dos meus longos períodos de silêncio.

- Sim, está! Obrigado. Não estou acostumado a esse calor todo. – retruquei educadamente, enquanto molhava um lenço e o enrolava na nuca.

- O calor nesse país é insuportável, e o inverno nessa altitude é pior do que na América. – esclareceu, como quem se vira obrigado a passar por ambos.

- Faz tempo que você está no Afeganistão? – perguntei curioso.

- Quase dois anos. – respondeu resignado e um tanto triste.

- É muito tempo. Sua família deve estar sentindo sua falta, sua esposa principalmente. – observei

- Ela pediu o divórcio depois de três anos de casamento e quando eu estava para completar um ano fora de casa. – disse, com a voz melancólica, muito diversa daquele tom firme que pautava sua conversa.

- Lamento muito! Algumas pessoas não conseguem viver um relacionamento quando a distância impõem restrições. – justifiquei, na tentativa de amenizar a decisão da esposa.

- Talvez! Se o amor não for forte o suficiente, ou pouco verdadeiro. Só assim para terminar um relacionamento por correspondência! – declarou, como se ainda não estivesse conformado com aquele abandono.

- É realmente um pouco cruel fazer isso desta maneira. – concordei solidário.

Infindáveis horas depois, um sol alaranjado, perdendo forças, começou a iluminar as encostas das montanhas com nuances que iam do amarelo intenso ao marrom acobreado. Continuávamos a sacolejar pela estrada estreita que serpenteava no fundo de um desfiladeiro, levantando um rastro de poeira atrás do comboio, que podia ser visto de longe. Finalmente saímos do desfiladeiro e uma planície se descortinou a nossa frente. O sol descia rapidamente no horizonte como uma bola de fogo, um vento fraco movimentava as longas hastes das plantações de papoula, que se estendiam até onde a vista alcançava, num contorcionismo que lembrava uma reverência. A estrada começou a se alargar, e restos do que um dia fora asfalto, começaram a tornar o rodar dos veículos mais regular e silencioso. Ao longe, sobre uma pequena colina cercada por uma muralha de pedras, uma construção imponente começava a exibir seus contornos. Estávamos nos dirigindo diretamente a ela. O primeiro veículo parou diante de um pesado portão improvisado de ferro, repleto de militares com uniformes surrados e fuzis Kalashnikov a tiracolo. O comboio se dirigiu até uma das laterais do amplo terreno que circundava a construção, enquanto nosso veículo parou diante de uma rampa, que conduzia à entrada principal do que outrora, parecia ter sido uma suntuosa residência.

Minhas pernas estavam formigando quando desci do veículo com a ajuda de um soldado, que se apressou em pegar a minha bagagem. Um jardim abandonado, com fontes quebradas e um pouco de água suja se espalhavam por um gramado há muito sem cuidados. Quatro tamareiras carregadas de frutos se erguiam até além dos telhados, e pareciam sentinelas a dar boas vindas aos visitantes.

- Que bons ventos o trazem, caro amigo coronel McKinsley? – cumprimentou, num péssimo inglês carregado de sotaque, um sujeito truculento, quase tão grande quanto o coronel, ao nos receber sob a marquise que protegia a enorme porta entalhada de cedro, com um charuto na mão direita.

- Boa tarde, General Kadil! Vamos abusar mais uma vez da sua hospitalidade. – devolveu o coronel com polidez.

- É uma honra recebê-los. A nobre missão destes médicos será uma benção para os povoados em Marjah. – proferiu, enquanto colocava suas mãos, simultaneamente, sobre meus ombros e os de Brayden, dando tapas que sacudiram meu corpo mais do que as estradas por onde viemos. Havia algo naquela voz de que eu não gostei. Ela me soou falsa, de uma cortesia forçada.

- Ficamos felizes em poder fazer algo por essas pessoas. – retruquei tímido.

- Certamente, estamos contentes com colaborar! – acrescentou Brayden, com seu jeito sarcástico de falar com militares, ou qualquer sujeito que trajasse uma farda.

O general Kadil fazia parte do novo exército afegão, que estava sendo treinado pelas tropas da OTAN para combater os rebeldes extremistas. A patente lhe fora concedida pelo governo local, mais por conveniências políticas do que por competência. Era um sujeito pouco instruído, mas sem dúvida, uma liderança poderosa na casta que dominava aquele povo miserável por décadas. Seu aspecto era deplorável. A vasta cabeleira e uma barba desleixada e muito negra que escondia quase totalmente seus lábios, o uniforme roto e coberto de insígnias, visivelmente, menor que seu corpo musculoso e maciço, dava-lhe um aspecto mais velho do que seus trinta e poucos anos. Apenas os olhos negros e aguçados denunciavam sua jovialidade irrequieta. Gesticulando muito, ele nos conduziu para os amplos salões, ricamente decorados, daquela que foi, evidentemente, a residência de um rico proprietário de terras, que certamente foi expulso dali durante o governo talibã. Esta havia sido a sina de muitas famílias ricas naquele país. Seus bens espoliados, seus empregados mortos ou arregimentados, e suas vidas poupadas conquanto fugissem dali.

Enquanto lá fora os suboficiais e soldados montavam acampamento, serviçais dentro da casa levaram nossas bagagens para o andar superior e se movimentavam atarefados pelos cantos da casa. O general nos acomodou em sofás com braços de madeira entalhada que se espalhavam sobre uma rica coleção de tapetes, outrora viçosos, mas que agora exibiam o desgaste pelo uso e conservação relapsa; num salão que dava vista para um pequeno jardim interno, onde uma fonte borbulhante, ainda funcionava. O lugar era fresco e arejado, e eu me distraí com uma série de quadros compondo um ambiente rural muito semelhante às paisagens por onde havíamos passado, assim que saímos do desfiladeiro.

- Sven! Você está nos ouvindo, Sven? – desconcentrou-me a voz do Brayden.

- Como? Ah, me desculpem! Estava admirando os quadros daquela parede. O que foi que o senhor perguntou? - questionei, depois de me dar conta de que o general Kadil me fizera uma pergunta.

- Por favor, não me chame de senhor, sou no máximo, meia dúzia de anos, mais velho do que você. Eu gostaria de saber o que levou um jovem tão bonito a se perder tão longe de casa, numa terra em conflito? – tornou a perguntar, enquanto seus olhos vasculhavam cada centímetro do meu corpo.

- Acho que ainda estou vivendo o idealismo da profissão, mas de qualquer forma, sempre gostei de poder ajudar os outros. – respondi, intimidado por seu interesse com minha pessoa.

Algum tempo depois, após a conversa ter virado um diálogo sobre a situação militar da região, apenas entre o general e o coronel McKinsley, fomos conduzidos por um empregado até nossos quartos. Encarei isso com alívio, pois não sabia mais como disfarçar meu incomodo com os olhares que o general me lançava. Cada um havia sido designado a um aposento ao longo de um corredor no andar superior da casa. Logo no início desse corredor o empregado apontou as portas do Brayden e do coronel, uma frente à outra, e além da metade do corredor, uma porta à direita, escondida por uma coluna, foi aberta para que eu entrasse, pelo senhor magro que nos acompanhava, explicando em seu idioma incompreensível algo que eu não entendi. Antes de entrar, dei meia volta e fui ao encontro do Brayden.

- Quero ficar com você. Podemos nos alojar na mesma cama, ou eu durmo no chão. – implorei, com uma sensação de angustia a me oprimir o tórax.

- Vai me dizer que você está com medo de ficar sozinho? Só há uma cama simples no quarto, e eu gostaria de ter uma noite tranquila depois dessa viagem exaustiva. – revidou, minimizando meu temor.

- Não gostei desse homem, algo nele não me inspira confiança. – retruquei choroso.

- Não há o que temer, veja como os quartos são próximos, estou a alguns passos do seu. Além do mais, o islamismo condena a prática homossexual, aqui você está a salvo. – acrescentou convicto.

- Por favor, Brayden! Eu durmo no chão, já disse. – insisti temeroso.

- Não seja criança! Vão pensar que estamos juntos e isso sim, pode nos complicar. – afirmou determinado.

- Você pode ficar no meu quarto. Também só há uma cama simples, mas eu me viro com aquela poltrona. – disse o coronel, após ouvir meu pedido praticamente sussurrado nos ouvidos do Brayden.

- A prática do Bacha Bazi é comum entre homens poderosos, como membros do governo, militares e grandes proprietários, como não há estigma ou vergonha em possuir um bacha, que é como designam aqui um servo sexual. Pelo contrário, é um símbolo de status, ela não é punida. Meninos particularmente bonitos e de feições delicadas podem valer uma pequena fortuna, e são guardados como verdadeiros tesouros. Eu não tenho dúvidas de que o general se interessou por seu corpo escultural e suas feições escandinavas, tão exóticas por estas bandas. – acrescentou Corbin, demonstrando sua desconfiança com as intenções do general.

- Não é necessário! Ele vai se comportar como um adulto e vai dormir no quarto que lhe ofereceram. Essa sua observação me parece bastante inoportuna! – respondeu Brayden rispidamente, sem disfarçar sua contrariedade com o fato do coronel ter ouvido nossa conversa, e principalmente, ter ficado ciente de que havia algo entre nós.

- Obrigado! Vou para o meu quarto tomar um banho antes do jantar. – respondi conformado.

Quando tornei a descer para o jantar, livre da poeira e do suor, trajando as roupas mais leves que encontrei na minha bagagem, os demais já estavam conversando em pé, numa rodinha, na mesma sala diante do jardim. O general estava irreconhecível. No período de pouco mais de duas horas, ele havia aparado os cabelos e feito a barba. Agora havia apenas um cavanhaque bem delineado cobrindo seu queixo anguloso. A pele naturalmente mais bronzeada fazia ressaltar seus dentes brancos, formando um sorriso largo e amistoso. Ele havia trocado o uniforme por outro um pouco mais engalanado, e propositalmente, deixara os últimos dois botões da camisa desabotoados, exibindo os pelos grossos e negros que forravam seu peito como se fossem a lã de um tapete. Quando me viu descendo o último degrau da escada, pegou uma taça da bandeja que estava sobre um aparador, e caminhou com ela em minha direção.

- Conseguiu se refazer da viagem? Estávamos apenas te esperando para brindar a visita de vocês! – exclamou exultante.

- Sim, o banho me revigorou. Espero não tê-los feito esperar muito tempo. Costumo desperdiçar mais tempo que o necessário quando entro numa ducha. – esclareci desconcertado.

- Não demorou nada. Também acabamos de descer. – mentiu educadamente.

O jantar foi servido numa sala contígua, com mais pompa do que seria conveniente ou realístico, para a situação que eu presenciara desde que coloquei meus pés naquele país. Entre os itens estavam algumas iguarias que certamente representavam um luxo destinado a poucos, e isso me incomodou. Interpretei essa ostentação como uma provocação e uma exibição infundada. Tanto o coronel, como Brayden partilhavam da mesma opinião, como demonstrava o constrangimento de todos à mesa. Todos se serviram moderadamente, à exceção do general, que degustava com prazer cada um dos pratos, enquanto entornava largos goles de vinho. O clima era tenso e sufocante, e eu não via a hora de poder me deitar.

Alegando a necessidade de partirmos ao alvorecer, o coronel McKinsley conseguiu por termo àquele cerimonial pretencioso. Foi com alívio que dei um ‘Boa Noite’ coletivo e fui me recolher. Passava um pouco da meia noite quando fechei a porta do quarto e percebi que a fechadura estava sem a chave, com a qual eu havia trancado o quarto enquanto tomava banho. Procurei-a em vão, saindo em seguida para o quarto do Brayden.

- O que foi agora? – perguntou, só de cueca, enquanto ajeitava as roupas sobre o espaldar de uma cadeira.

- Meu quarto está sem chave. Acho que alguém a tirou da fechadura. – disse afobado.

- Você é danado mesmo, o que é que você vai inventar para ficar aqui comigo? – revidou malicioso.

- É verdade, não estou inventando nada. Tinha uma chave quando tomei banho e agora ela não está mais lá. – continuei explicando.

- Vem cá, vem. Me de um beijo e vá dormir. – disse, ao me puxar junto ao corpo e me passar a mão na bunda, enquanto me dava um beijo sensual e molhado.

Saí do quarto dele mais inseguro do que quando entrei. Nem aquele beijo ardente desanuviou meus temores. Tirei a roupa e me enfiei sob a coberta, pois a temperatura havia baixado bastante depois de o sol se por, e fazia frio no quarto. Embora estivesse muito cansado, não consegui pegar no sono. Cochilei um pouco e comecei a sonhar. Um sonho confuso, onde eu precisava me defender, mas mesmo lutando muito, não conseguia afastar o perigo. Acordei e fui até o banheiro que ficava no próprio quarto, separado apenas por um biombo vasado, e lavei o rosto. Quando voltei, vi o general Kadil completamente nu sentado sobre a cama, com as pernas peludas abertas, massageando o cacete, com a sanha aguçada pela visão do meu corpo lisinho, coberto apenas nos genitais pela cueca cavada.

- Nunca vi um cara tão tesudo quanto você. Aquele seu amigo não devia deixá-lo solto por aí! - exclamou tarado.

- Não sei do que você está falando. – retruquei, caminhando até a porta que agora estava trancada.

Ele se levantou e veio em minha direção. Sem as roupas ele parecia maior, os músculos saltavam nos braços, no peito largo e nas grossas coxas. Aproximou-se e acariciou meu braço, movendo a cabeça num não de desaprovação quando fiz menção de me afastar de suas mãos. Com as costas de uma delas, ele acariciou meu rosto, contornou os meus lábios com a ponta dos dedos e segurou meu queixo com força. Senti seus lábios quentes tocarem os meus como se estivessem me devorando. Um gosto de tabaco invadiu minha boca quando a língua dele me penetrou com movimentos lentos e estudados. Seus braços me envolveram e ele me puxou contra seu peito peludo. Eu podia sentir o calor que o corpo dele emitia, e levei as mãos espalmadas de encontro ao peito dele, na tentativa débil de afastá-lo de mim. Consegui apenas que ele me apertasse com mais força. Aos poucos a mão dele deslizou pelas minhas costas e afastou suavemente a cueca, deixando a pele arrepiada das minhas nádegas, à mercê de seu tesão. Ele explorava minha bunda carnuda com a destreza de um macho tentado. Sem interromper o longo beijo que se iniciara na sua aproximação, ele cobriu cada uma das minhas nádegas com suas mãos e me levantou, fazendo com que minhas coxas se enlaçassem em sua cintura. Caminhou em direção à cama e me depositou com cuidado próximo à cabeceira. Depois se ajoelhou ao meu lado, com as pernas muito abertas, exibindo sua pica volumosa e parcialmente empinada.

- Por favor, me deixe dormir! – implorei acuado.

- Eu vou deixar você dormir, e até velar o seu sono, depois de você se entregar para mim. – murmurou sensual.

- Eu gosto do Brayden, não quero fazer nada que o magoe. – justifiquei

- E por que ele não está aqui, cuidando de você, e te dando o que você merece? – questionou calmamente.

- Estamos todos muito cansados. – argumentei, sem convencê-lo.

- Um tesão como você precisa de atenção e dedicação integral, e sempre. Vou te mostrar como sei fazer isso. É só você deixar. – devolveu determinado.

Ele pegou a pica com uma mão e a esfregou no meu rosto, enquanto agarrava meus cabelos com a outra. Ordenou que eu a chupasse e, acompanhou, atento, meus movimentos tímidos para alojar aquele mastro na minha boca. Eu mal tocara minha língua na cabeçorra exageradamente volumosa quando o líquido aquoso e de odor penetrante começou a umedecer meus lábios. O cheiro selvagem que vinha dos densos pentelhos dele me fez sucumbir à sua investida. A glande vertendo pré-gozo em abundância latejava na minha boca, e eu chupava e sorvia aquele néctar, sem nenhum pudor. Isso o fazia respirar ruidosamente, tentando dominar a gana que se apoderava dele. O sacão dele balançava rente ao meu rosto, e eu acariciei as duas bolonas ingurgitadas que pendiam pesadamente entre suas pernas. A jeba se avolumava e tornava as veias salientes que a cobriam mais intumescidas e aparentes. Ele me fez abrir as pernas e acariciou minhas coxas lisas e grossas, deliciando-se com a sutil penugem aloirada que revestia minha pele. Depois começou a me lamber, inicialmente tocando apenas a ponta da língua, e depois roçando o dorso áspero e molhado em direção ao meu reguinho. Comecei a gemer quando o cavanhaque espetou minha pele, e deixei que ele adentrasse sua cabeça entre as minhas coxas. Foi fácil para ele dedar minhas preguinhas expostas. Percebi que ele se encantara com elas tão vulneráveis e tão acessíveis. Um dedo começou a testar a espasticidade do meu cuzinho, e o brilho que iluminou o olhar daquele macho sagaz me deu a certeza de que eu seria fodido. Eu temia pela maneira bruta como ele me apalpava.

- Não me machuque. – pedi inseguro.

- Não vou te machucar. – respondeu, me beijando mais carinhosamente.

Ele me puxou até a beira da cama e forçou a pica completamente dura no centro das minhas preguinhas. Meu cu se abriu e encapou aquele cacete descomunal. Eu gemi com a boca selada pelos lábios dele, e deixei que me invadisse tomado de uma vontade taurina. Ele socou a verga nas minhas entranhas até eu gritar. Cobria minha boca com um beijo voraz, aliviando a intensidade das estocadas, e depois voltava a socar com a tara redobrada. Olhando fixamente dentro dos meus olhos, ele despejou sua virilidade cremosa e esbranquiçada no meu cuzinho arregaçado. Espasmos de luxúria percorreram minha coluna, e eu, instintivamente, levei minha mão ao rosto suado dele e o acariciei demoradamente, antes de tocar minha boca na dele. Ele ainda permaneceu debruçado sobre mim, com a pica atolada no meu cuzinho, por mais algum tempo. Depois, reclinou-se na cabeceira da cama, sem que a jeba amolecesse, e me puxou contra o peito, pousando minha cabeça sobre aqueles pelos suados.

- Você é muito carinhoso. Gosto disso. Você sabe reconhecer as necessidades de um homem. – disse, enquanto seus dedos percorriam meus cabelos.

Aos poucos tracionou meu corpo, de maneira que eu ficasse sentado em seu colo. Minhas costas roçavam os pelos do peito dele, quando ele abriu minhas pernas e meteu a pica enrijecida novamente no meu cuzinho. Ele erguia seu corpo fazendo a rola se atolar, em movimentos rítmicos, nos meus esfíncteres anais, que cheios de tesão, se contraíam desesperadamente em torno de seu membro concupiscente. Mais uma explosão de porra viscosa inundou meu cuzinho, deixando escorrer um pouco pelo reguinho. Meu cu ardia quando fui até o banheiro, limpar aquela porra mesclada a algumas gotas de sangue. Parecia que um trem atravessara minhas coxas escavando um túnel nas minhas entranhas, e ao caminhar de volta para a cama, eu travava as pernas na tentativa de fechar aquela brecha. Ele me esperava com os braços abertos e se aconchegou atrás de mim quando me deitei de lado, apoiando a cabeça exausta sobre o travesseiro. Senti-o me encoxando algumas vezes antes de cair no sono.

Fui o último a acordar na manhã seguinte. Eu estava só na cama quando o Brayden entrou dizendo para eu me apressar, pois tudo estava pronto para partirmos.

- Que cara é essa? – perguntou ao notar que eu me movimentava com dificuldade.

- Eu te amo! – balbuciei, com os olhos marejados, quando me pendurei em seu pescoço.

- Eu também te amo. O que foi? Que declaração sentimentalóide é essa? Temos que partir, vá se vestir. – falou agitado, diante da minha morosidade, e insensível diante do meu corpo vilipendiado.

- Está bem, vou tomar uma ducha rapidamente, me vestir e já desço. – respondi, todo dolorido.

O comboio estava pronto e perfilado ao longo do caminho que levava até o portão. Os motores dos veículos exalavam um forte cheiro de diesel, e isso embrulhou meu estômago. Eu segurava algumas frutas secas e uns pãezinhos que um empregado me entregara, com um sorriso contido, quando passei pela sala onde havíamos jantado na noite anterior. O general Kadil estava conversando com o coronel McKinsley na entrada da casa quando apareci na porta. Ambos se calaram e o general veio ao meu encontro. Ele trajava um uniforme puído na gola e nas mangas, a camisa estava aberta exibindo seus pelos. Um tremor percorreu minha espinha e meu cuzinho se contraiu dolorosamente.

- Espero que tenha descansado o suficiente. – disse com um sorriso grato e satisfeito.

- Sim. Grato por sua hospitalidade! – retruquei passivo.

- Talvez nos encontremos outra vez enquanto estiver no Afeganistão. – continuou, apertando minha mão desocupada entre as suas.

- Talvez. – devolvi, sem encará-lo.

Me acomodei no blindado, atrás do coronel, e segui em silêncio até nossa primeira parada, umas quatro horas depois, junto a uma bica que vertia uma água gelada que vinha das montanhas ao redor. Parecia que eu havia levado uma surra, todos os meus músculos doíam, meu cuzinho parecia ter brasas entaladas entre as preguinhas, e eu checava, inseguro, se minhas calças estavam manchadas com a umidade que ainda estava aderida à mucosa anal, e que me fazia sentir o cheiro másculo do general impregnado no meu corpo.

- Está tudo bem? – perguntou o coronel, que desde minha despedida do general Kadil, não tirava os olhos de mim. Dentro do veículo, ele me fitava através do espelho retrovisor, como quem suspeita de um ato malfazejo.

- Estou bem, não se preocupe. Acho que não consegui descansar como deveria. – respondi, sem convencê-lo.

- Lembre-se de que estou aqui, caso precise de alguma coisa. – observou solícito.

Eu quase comecei a chorar. Tive que desviar o olhar e engolir o nó que se formara na minha garganta. Como eu precisei de alguém naquele quarto na noite passada. Como me fizeram falta os braços acolhedores do Brayden, quando tentei aplacar a dor que se irradiava nas minhas entranhas. Mas eu estava só, incrivelmente só. Senti a ausência dos meus pais e da minha casa como nunca antes. E, comecei a perceber que os sentimentos do Brayden por mim, eram muito menores do que o amor que eu sentia por ele.

- Isso tudo vai passar. Eu queria muito ter podido te ajudar. – sussurrou Corbin no meu ouvido, depois de um longo silêncio.

Quando meu olhar marejado encontrou o dele, eu tive a certeza de que ele sabia de tudo.

Não sei se movido pela minha ansiedade em chegar logo ao nosso destino, ou se exaurido pela noite atribulada, aliada à viagem extenuante, as horas custaram a passar, e aqueles quilômetros finais pareciam não ter fim. Quando o coronel Corbin apontou para um conjunto de galpões espalhados ordenadamente pela encosta de uma montanha, anunciando o nosso destino, os ponteiros do meu relógio marcavam 17:05. O sol ia descendo de modo que os galpões próximos à base do cume já não recebiam mais os raios alaranjados que iluminavam as construções mais acima. Do ponto onde estávamos não dava para ver toda a base, mas ela me pareceu grande num primeiro momento. De repente, a estrada começou a ficar mais íngreme, em poucos quilômetros vencemos um desnível de 900 metros e, à medida que subíamos senti meus ouvidos tamparem. Após contornar a última curva, um imenso platô se descortinava a sudeste da base, permitindo uma visão espetacular de um vale ao longo do qual podia-se ver quatro aldeias. Eram os habitantes daquelas aldeias que trataríamos pelos próximos meses, mais uma leva não calculada de nômades que viriam até ali a procura de ajuda médica.

Além dos galpões, seis pequenas casas formavam uma pequena vila dentro da base e se destinavam aos oficiais do primeiro escalão. Na localizada entre o galpão do ambulatório e a do comandante, fiquei instalado com o Brayden. Não havia luxo, mas era infinitamente melhor do que as instalações precárias nas quais ficamos em Ruanda. Um diminuto alpendre protegia a porta de entrada das intempéries e dava acesso a um cômodo retangular que servia tanto de sala como de cozinha, num dos cantos subia uma escada estreita, de madeira, até o mezanino onde dois quartos estavam separados por um banheiro composto apenas com o essencial. Algumas janelas amplas disfarçavam as medidas reduzidas da construção, além de permitirem uma boa ventilação e iluminação. Quase não havia móveis, mas os poucos que se espalhavam pelo cômodo davam uma sensação de aconchego e conforto.

- Vou ficar com o quarto deste lado. – disse ao alcançar o último degrau do mezanino.

- Vamos ficar no mesmo quarto. É só transferir aquela cama para cá e teremos uma cama dupla. Podemos organizar o outro quarto com nossas roupas e criar uma espécie de escritório. – sugeriu o Brayden.

- OK! Se você prefere assim. – concordei submisso, antes de começarmos a transferir a cama de um quarto para outro.

- Não ficou ótimo? Talvez um pouco mais para debaixo da janela? – perguntou, empurrando ambas as camas, rente ao parapeito da ampla janela que ocupava quase totalmente uma das paredes do quarto.

- Acho que está bem. – assenti novamente.

- Você está muito calado, quase não disse nada durante toda a viagem. É esse calor que você tanto detesta? – perguntou, ao me abraçar por trás pela cintura e começar a passar a mão na minha bunda. O tesão instigando-o a me foder.

- Ai! .... Não, me solte! – reclamei, quando a mão dele entrou no meu rego e fez o tecido da calça roçar meu cuzinho intumescido.

- O que foi? – protestou indignado.

- Você é um insensível, ou finge que não vê o óbvio. – retruquei, me afastando dele.

- Eu por acaso fiz alguma coisa errada? – questionou aparvalhado.

- Fez tudo errado! – respondi irado.

- Não sei do que você está falando. – devolveu surpreso.

- Aquilo que você disse que nunca aconteceria, por que a prática homossexual não é aceita no islamismo, aconteceu. Seu anfitrião tarado me arregaçou todo, estou todo machucado e você não se importa nem um pouco comigo. – desabafei com um nó querendo travar a minha garganta.

- Como assim? Quando? Por que você não me disse nada? – inquiriu, se aproximando de mim na tentativa de me abraçar.

- Eu disse, pedi, implorei para você ficar comigo ontem à noite. Mas você disse que eu estava inventando coisas. – respondi amuado.

- Por que você não me chamou, ou veio até meu quarto? – continuou questionando

- Ele trancou a porta, eu não tinha como sair. E você queria que eu começasse a gritar ou fazer escândalo? Que proporções não tomaria a situação? – revidei

- Sinto muito. Se eu soubesse que ele era tão cafajeste, teria ficado com você. – falou carinhosamente, tentando novamente me abraçar enquanto eu o rechaçava.

- Eu também sinto muito. Eu não queria que nenhum outro homem, além de você, me tocasse. – murmurei entre os soluços que não consegui evitar.

Por toda uma semana não deixei que ele me penetrasse, embora sua insistência fosse constante. Isolados naquele fim de mundo, ele estava sem as opções costumeiras, e suas necessidades insatisfeitas afloraram sob a forma de um mau humor e falta de paciência com as mínimas contrariedades.

Nosso trabalho exigia muito. Eram raros os dias nos quais não ficávamos trabalhando por catorze ou quinze horas, sete dias por semana. Havia muito que fazer, pois as necessidades mais básicas não eram supridas. As guerras devastaram o país que já não tinha nada. Nós precisávamos da ajuda do coronel Corbin e sua tropa para chegar às aldeias e trabalhar com segurança. Muitas vezes ele próprio comandava um grupamento e acompanhava de perto nossa atuação.

- Você tem um carinho muito especial pelas crianças. Elas te idolatram. Já percebeu que o seu é o único nome que eles aprenderam a pronunciar e do qual se lembram? – disse, numa tarde fria de começo de inverno, quando rajadas de ventos se afunilavam entre as montanhas e tornavam quase impossível sair das construções.

- Gosto muito delas. Fico triste ao constatar que homens adultos, cheios de poder, são incapazes de olhar com respeito e carinho para as gerações futuras, deixando-as ao desamparo. Por isso tento fazer o pouco que posso para amenizar seu sofrimento. – desabafei inconformado.

- Poucos pensam assim. Te admiro também por isso! – comentou, me vendo auscultar o tórax de um garotinho subnutrido, de olhar esbugalhado, assustado com a consulta.

Marjah está a poucos quilômetros da fronteira com o Paquistão, e de lá, começaram a vir reforços para os extremistas Mujahideen que resistem às forças afegãs, entrincheirados nas montanhas e muitas vezes protegidos, nas aldeias, pela própria população. Nossa presença era, portanto, vista com muita desconfiança, e tornava nossa atuação muito perigosa. Depois de alguns meses, parte dos aldeões já havia se acostumado conosco, e vinham procurar auxílio médico, quando não eram impedidos, por meio de ameaças, pelos Mujahideen. Ouvíamos quase todas as noites os tiros de morteiros e bombas de curto alcance explodindo nas cercanias das aldeias. Os extremistas também reforçaram suas defesas colocando minas por todos os lados, na tentativa de bloquear o avanço das tropas do governo central, mas o que elas mais atingiam eram as crianças, que vagavam livres pelo terreno como sempre fizeram.

Certa manhã, quando mal haviam despontado as primeiras luzes do alvorecer, uma família de agricultores chegou à base militar no lombo de jumentos, trazendo um garotinho de cinco anos que pisara numa das minas. Uma das pernas fora gravemente atingida e ferimentos extensos comprometiam sua vida. Os recursos de que dispúnhamos não eram os ideais, mas disse ao Brayden que operaria o garoto. Ele concordou e fizemos um procedimento, na tentativa de salvar a perna do garoto, que durou toda a manhã. Foi uma cirurgia exaustiva e, por vezes, eu pensei que perderíamos o menininho na mesa cirúrgica. Quando terminamos, e o garoto continuava vivo, atribuí o sucesso ao time de enfermeiros que se desdobrou para nos dar as melhores condições que a situação permitia. Mas ainda haveria um pós-operatório, e os dois ou três primeiros dias seriam críticos. Passei a primeira noite com mais dois enfermeiros, acompanhando a evolução do quadro clínico. Fazia frio e as horas não passavam. O ambiente no ambulatório me sufocava e decidi tomar um ar lá fora, mesmo sabendo que congelaria. Uns dez minutos depois de caminhar a esmo pelo pátio central da base, o coronel Corbin juntou-se a mim.

- Parabéns! Soube que salvou o garoto. – disse, esfregando as mãos e assoprando os dedos, fazendo com que uma nuvem de ar quente se dispersasse no ar gelado.

- Ainda não tenho certeza se ele escapa dessa. Ele é pequeno e fraco, e os ferimentos foram muito extensos. – comuniquei apreensivo.

- Você é muito especial! Corajoso e decidido, não se intimidou diante da situação. Com certeza tudo vai correr bem, relaxe um pouco. Você deveria estar dormindo. – continuou, enquanto caminhávamos.

- Éramos a única opção dele, e ainda somos. Preciso acompanhar o estado dele, pois o risco ainda é alto. – mencionei, com o cansaço me deixando letárgico.

- O que faz um cara como você, que tem tudo, se aventurar nesses países, pondo em risco a própria vida? – inquiriu, ao nos determos num banco próximo a parede de um galpão.

- Foi ideia do Brayden, ele queria algo que o instigasse, me convidou e eu aceitei. Também achei que fosse um meio de me tornar mais experiente. Depois da residência, não saímos sabendo tudo, e praticando nessas condições se aprende muito. – esclareci, me sentando ao seu lado.

- Você faz o mesmo, não é? Deixou uma família para lutar por uma causa que não é sua. – continuei, comparando nossas situações.

- É diferente! Não pretendia continuar no exército, mas com o casamento, essa se tornou a opção mais rápida para sustentar uma família, que eu imaginava constituir. Como engenheiro isso demoraria mais. – disse com a expressão se entristecendo.

- Você é novo, tem muito para realizar. Tenho certeza que será um bom marido e pai. – acrescentei encorajador.

- Esse período no Afeganistão está me fazendo rever essas possibilidades. Guerras, miséria, será que vale à pena ter uma família? – questionou-se intimamente, ao mesmo tempo em que exteriorizava seus pensamentos para mim.

- Tudo vale à pena nessa vida. É uma questão de persistir. – respondi sonolento.

As semanas passaram e o garoto melhorava a cada dia. Decidi acompanhar a família até a aldeia e ver em que condições ele ficaria, depois da alta, pois ainda precisava de cuidados. A casa sem telhado, de três cômodos, separados apenas por cortinas, era igual a tantas outras na aldeia, mas oferecia precariamente as condições para que o garoto se recuperasse junto aos familiares. Enquanto eu explicava à mãe, com a ajuda de um tradutor, como cuidar do filho, um homem de rosto encovado, pele queimada pelo sol e olhos negros muito expressivos, entrou na casa. Sua entrada me distraiu a ponto de esquecer o que estava falando, eu tive a impressão de tê-lo visto, aqueles olhos arregalados...sim, ele gesticulava muito. Era o mesmo homem que me conduziu até meu quarto na casa do general Kadil. Meu coração disparou e por um instante achei que estava tendo uma alucinação. Ele também me reconheceu e tentou disfarçar, mas a mulher o agarrou pelo braço e desandou a explicar o que havia acontecido com o filho na sua ausência. Conversaram num dialeto, o que impediu meu tradutor de me explicar o que estava acontecendo. Por fim, ele segurou minhas mãos e se ajoelhou entoando uma espécie de ladainha. Pedi que ele se levantasse enquanto tentava fazê-lo ficar em pé.

- Ele está dizendo que você é um deus que Alá mandou para salvar seu filho. E pede mil perdões por não ter podido fazer nada por você. Que ele tentou te avisar, mas não sabe falar sua língua. – disse o tradutor, enquanto traduzia as frases que ele despejava afobadamente.

- Do que ele está falando? Que aviso é esse? – perguntou o coronel Corbin, que estava me acompanhando, e assistira a cena, estupefato.

- Este homem era um dos empregados do general Kadil que nos encaminhou até os quartos. – esclareci ao coronel.

- Diga a ele que está tudo bem. Eu sei que ele não teve culpa. – disse, pedindo com o olhar que o tradutor dissesse isso ao homem.

Quando retornamos a base, vi que o pátio estava cheio de veículos militares do exército afegão, centenas de soldados tratavam de montar acampamento numa área a sudoeste dos galpões. Faziam parte da ofensiva que tentava contra atacar os Mujahideen. Caminhei apressadamente em direção ao ambulatório na intenção de sair dali o mais rápido que podia.

- Boa tarde, doutor Sven! Que bom reencontrá-lo. Eu já estava bastante saudoso! – disse a voz árida em inglês, com aquele sotaque que reconheci imediatamente, e que fez meu cuzinho se contorcer em agonia.

- Boa tarde, general Kadil! Lamento não poder lhe dar atenção, mas estamos com o ambulatório cheio de pacientes. – respondi, sem me deter para cumprimentá-lo. Eu podia sentir seus olhos me devorando pelas costas.

Quando entrei alvoroçadamente no ambulatório, um dos enfermeiros me perguntou se estava tudo bem, e se o garoto havia chegado bem em sua casa. Respondi afirmativamente com um meneio de cabeça, e olhei pela janela para ver se havia sido seguido. Minha respiração só começou a se normalizar quando não vi a figura do Kadil no pátio. Voltei ao trabalho tentando esquecer o episódio. Mas pouco depois, uma gritaria lá fora, fez com que todos no recinto se encaminhassem para as janelas procurando descobrir o que estava acontecendo. Fui até a porta e vi que o coronel Corbin e o general Kadil estavam aos socos, e berrando muito um com o outro, travando uma briga de titãs. O coronel desferia golpes brutais no rosto do general com uma fúria descontrolada, como se o ódio o estivesse cegando. Alguns suboficiais, e eu mesmo, fomos apartar o entrevero, o que só dois tenentes corpulentos conseguiram depois de um bom tempo. O rosto do general estava inchado e sangrava bastante. O coronel Corbin arfava, todo suado, com o uniforme decomposto, e um ferimento na testa que banhava o olho esquerdo e boa parte do rosto daquele lado de sangue.

- Isto vai lhe ensinar que nós ocidentais temos outra cultura, e ela deve ser respeitada, se não por educação, pela imposição. – berrou colérico, para o homem que não conseguia se levantar por conta dos golpes que recebera.

- O que está acontecendo aqui? – perguntou o Brayden, que veio correndo atraído pelos gritos.

- Ainda não entendi o que fez os dois brigarem. – respondi, ao me encaminhar para o coronel, procurando avaliar seu ferimento.

- Vamos ao ambulatório coronel, temos que fazer uma sutura nesta testa. – completei, depois de analisar a ferida.

Por mais que eu tentasse descobrir o motivo da briga, cercando-o de perguntas, não consegui saber o que se passou. Ele estava agitado como uma fera que acumula todas as suas energias para o combate, seus músculos estavam retesados, sua visão obnubilada pela imagem do inimigo, o corpo sendo inundado de adrenalina deixando-o pronto para a luta. Ele mal ouvia o que eu dizia. Somente depois de algum tempo, quando se convenceu de que o embate havia terminado, e eu já estava quase terminando a sutura, é que sua respiração voltou à cadência normal.

- Por que vocês brigaram? – perguntei, enquanto aplicava o curativo sobre os pontos.

- Não dá para explicar isso agora. Como comandante da base, preciso tomar umas providências. – respondeu secamente, ao caminhar em direção à saída, sem me dar tempo de orientá-lo quanto aos cuidados que deveria ter com a ferida e os medicamentos que precisava tomar.

Após o jantar no refeitório da base, ao qual nem o coronel, nem o general Kadil estiveram presentes, e já em casa, o Brayden me perguntou se eu descobrira o motivo do desentendimento. Diante da minha negativa, ele disse que ouvira um comentário entre os suboficiais de que o comando geral da OTAN havia recusado um pedido do coronel para que o general Kadil não se instalasse nesta base, e também, desconsiderado uma sugestão dele, quanto a algumas táticas a serem empregadas contra os extremistas. Que as agressões verbais começaram na sala de comando com essa pauta, enquanto os dois estavam sozinhos.

- Duvido muito que este tenha sido o motivo. O coronel Corbin sempre me pareceu um homem muito sensato, e nem um pouco vaidoso e prepotente. O fato de não ter seus desejos atendidos não me parece razão suficiente para ele se engalfinhar desta maneira, em frente aos subordinados, com um general das tropas aliadas. – ponderei, considerando o pouco que conhecia do coronel.

- Mas ele parece não ser muito amigo do general, como este deu a entender, quando passamos a noite na casa dele. O desprezo que o coronel Corbin sente pelo general ficou mais do que evidente. – considerou o Brayden.

- Não sei, não o vejo tão mesquinho a ponto de se igualar ao general em suas atitudes. – disse, visivelmente perturbado pela menção da nossa hospedagem naquela casa.

- Você ainda não esqueceu aquele episódio, não é? – perguntou, diante da minha perturbação.

- Nunca vou esquecer! Ter um homem dentro do seu corpo, e ficar com seu gozo impregnado nas suas entranhas, só se você sente algo por esse homem; aí sim, você sente que recebeu um presente e quer guardá-lo em seu íntimo com todo carinho. Caso contrário, você se sente um lixo, se sente sujo, mesmo que esse homem tenha tido um desempenho magnifico. – verbalizei, desabafando, pela primeira vez com ele, sobre como me sentia. Em seguida acrescentei que estava indo ver como o coronel estava e levar os medicamentos que precisava tomar.

- Você precisa superar isso. E vai, é uma questão de tempo. – disse, antes de me dar um beijo quase paternal na testa.

Como a casa do comandante fosse nossa vizinha, não me preocupei em me agasalhar para sair na noite gelada que fazia lá fora. A casa estava quase que totalmente às escuras, quando meus dedos enregelados bateram na porta. Nenhuma resposta e nenhum movimento vieram lá de dentro. A passos largos, fui até o primeiro posto de sentinela que ficava logo na entrada da vila de casas, e o soldado encapotado que abriu a porta do posto, com cara de sono, me garantiu que o comandante entrara em casa a pouco mais de uma hora.

- Coronel! Coronel Corbin! – chamei, ao mesmo tempo em que batia na porta.

Como novamente não obtive resposta, resolvi girar a maçaneta da fechadura, abrindo a porta e deixando a luz do poste, do outro lado da rua, iluminar a sala mergulhada na penumbra. Eu nunca havia estado ali. A casa era semelhante a que eu e o Brayden ocupávamos. Um amplo cômodo no térreo, fazendo de sala e cozinha, e dois quartos separados por um banheiro no mezanino. Tornei a chamar, em vão, pelo coronel. Uma luz fraca saía de um dos quartos, e eu subi a escada chamando por ele, até distingui-lo estirado sobre a cama com uma toalha enrolada na cintura e os cabelos despenteados e ainda úmidos. Seu corpo, banhado pela luz tênue, exibia as suas reais e enormes dimensões, que os músculos proeminentes tornavam ainda mais desejável. Os pelos adensados no peito se afilavam ao longo dos músculos abdominais, e desciam até abaixo da cintura para se juntar aos pubianos. Os braços muito musculosos terminavam em mãos enormes e pesadas, fazendo com que cada toque seu viesse embutido de uma intensidade bruta e poderosa. Como todo irlandês típico, seu tipo físico remetia aos primitivos celtas, homens corpulentos, de feições um tanto rudes, dotados de extrema força e caráter firme.

- Está tudo bem com você? Por que não me respondeu? Fiquei preocupado, você não voltou ao ambulatório para pegar os medicamentos e também não foi jantar. – indaguei, ao contemplá-lo abatido sob a luz âmbar do abajur ao lado da cama.

- Eu não devia ter me descontrolado. Havia outras formas de puni-lo! – mencionou vagamente, como se estive conversando com os próprios pensamentos.

- Do que você está falando? Por que quer puni-lo? Vocês não chegaram a um acordo sobre alguma questão militar? – perguntei curioso.

- Aquele animal não podia ter feito o que fez com você. Tenho ganas de matá-lo com minhas próprias mãos, ver sua vida nojenta se esvaindo entre os meus dedos. – disse, olhando nos meus olhos com uma ternura comovente, e a ira a corroer-lhe.

- Não diga isso! Arruinaria sua vida por algo injustificado. – censurei emocionado.

- Tudo se justifica por você! – declarou, adiantando-se em minha direção e tomando meu rosto entre suas mãos.

- Corbin! – murmurei, ao sentir sua boca se colando à minha.

Sua carência se revelou durante o beijo úmido, libidinoso e sensual, com o qual ele saboreou, sem pressa, meus lábios pegos de surpresa. Seu beijo era denso e provocador. Aos poucos fui cedendo ao amasso dele. Pelas mãos espalmadas sobre seu peito peludo, prontas para repeli-lo, comecei a ser invadido pelo calor de seu ímpeto, e comecei a acariciar aqueles pelos grossos com a ponta dos dedos. Sua língua penetrou minha boca com lascívia e desejo, senti o gosto másculo de sua saliva fluindo para mim. Fui trocando a entrega passiva pela retribuição carinhosa do beijo que se prolongava. Suas mãos procuravam, ensandecidas, por minha pele sob as roupas, denunciando a urgência da sua compulsão reprimida. Quando conseguiu abrir uma brecha, afastando lateralmente a camisa, expondo minha aréola, seu desejo se tornou óbvio. Ele começou a tocá-la como se fosse um delicado objeto de vidro, que ao menor descuido poderia se quebrar. A maneira como ele a admirava me sensibilizou, e eu me aproximei ainda mais dele para que ele a pudesse alcançar com a boca. O primeiro toque úmido e carnal de seus lábios, fez com que o mamilo se enrijecesse num desabrochar insinuante. Senti sua língua áspera roçando, em círculos, meu mamilo intumescido, e o tesão se apoderando de mim. Afaguei seus cabelos enquanto segurava sua cabeça bem junto ao meu peito. Ele chupou meu mamilo com força, fazendo com que o tecido adiposo ao redor adquirisse o formato de uma teta. Ele começou a despir minha calça e cueca, tocando suavemente minha pele com seus dedos grossos e hábeis. Quando procurou meu olhar, eu dei um sorriso carinhoso de concordância, deixando-o arriar as vestes e passar as mãos na minha bunda lisa e roliça. Ele a apalpou com vontade, apertando as nádegas mornas entre os dedos como se as quisesse amassar. Senti o desejo se concentrando na bunda, como se preparando para a sublimação carnal. Por um instante ele quis disfarçar a ereção que desfaçatadamente empinava a toalha que o envolvia, mas eu fiz deslizar minha mão para dentro da fenda e toquei suavemente seu membro indócil. Seus instintos de predador se aguçaram, ele abriu a toalha expondo o maior cacete que eu já tinha visto. Uma pica reta, cabeçuda, desmesuradamente calibrosa, que brotava entre suas coxas peludas, acima de um saco no qual se distinguiam, nitidamente, dois bagos do tamanho de uma noz, formando um poderoso e desejado instrumento lúdico e reprodutor. Diante do meu olhar perplexo ele me instigou a colocar aquela tora suculenta na boca, e eu comecei a chupá-lo prazerosamente, deleitando meus sentidos com o sabor e o cheiro viril dele. Meus lábios sedentos lambiam-no por toda extensão do cacete e do sacão peludo, o que deixou minha boca cheia de pentelhos. A rola babava abundantemente, pela fenda uretral da cabeçona roxa, um pré-gozo ligeiramente salgado, que eu devorava com volúpia sedenta, enquanto eu ouvia seus gemidos assanhados. Mordisquei delicadamente sua rola, intercalando chupadas com lambidas, mas ele a afastava da minha boca a cada momento em que sentia o gozo iminente, temendo minha reação ante um esporro na boca. Meu olhar suplicante em sua direção revelou meu desejo e ele não se furtou ao prazer de encher minha boca com sua porra morna. Sorvi gulosamente cada gota daquele néctar que jorrava na abundância de seu tesão satisfeito. Enquanto isso, meu tesão migrara se centrando no meu cuzinho, fazendo meus esfíncteres anais se contraírem e relaxarem num ritmo ansioso, que seus dedos curiosos detectaram com grata satisfação. Abri as coxas expondo minhas preguinhas à sua exploração. Ele as dedou antes de lambê-las com a língua hábil de quem sabe levar seus instintos ao êxtase. Eu gemia alucinadamente, demonstrando estar pronto para alojá-lo, e me entreguei com resignada docilidade à sua sanha primitiva. Ele guiou a rola brutalmente dura para dentro das minhas preguinhas, fazendo meu cuzinho se distender num desespero sem alento. Ele sentiu meus esfíncteres apertarem seu cacete agasalhando-o com minha mucosa úmida e morna. Meu grito contido e complacente confirmou seu êxito, e o fez delirar de prazer. Por quase meia hora ele continuou a estocar e a bombar meu cuzinho com desenfreada insanidade, satisfazendo sua gana máscula e carnal, até explodir, entre urros, um gozo pleno que despejou no meu introito anal esfolado, jatos mornos de porra densa e leitosa. Eu soube naquele instante que algo se transformara em mim, que minha vida adquiria outro sentido, e que aquele homem suado, com a respiração ofegante, deitado pesadamente sobre meu corpo exausto seria o dono das minhas carícias. Acho que foi isso que ele procurou no fundo dos meus olhos, quando me encarou de tão próximo, que eu sentia o ar morno de sua respiração na pele do meu rosto, e o frio metálico das duas dog tags, que pendiam de seu pescoço, apoiadas sobre meu peito. Fiz minha mão deslizar até a nuca dele, bem junto à implantação dos cabelos e acariciei-o com a ponta dos dedos, enquanto beijava seu rosto, pescoço e boca com suave cumplicidade.

- Me perdoe por não ter podido me entregar virgem para você. – sussurrei em seu ouvido, enquanto o beijava.

- O que você viveu foi para te preparar para mim. Eu nunca havia imaginado que alguém pudesse me dar tanto prazer, e me fazer tão feliz como estou agora. – devolveu, com a respiração mais cadenciada.

A luminosidade tardia de uma manhã de inverno ia ganhando o céu quando acordei com o braço do Corbin me prendendo pela cintura, e os pelos de seu peito roçando minhas costas a cada inspirada de sua respiração profunda e tranquila. Não quis acordá-lo, mas assim que esbocei o primeiro movimento ele despertou e me impediu de sair da cama.

- Fique aqui comigo. – disse sonolento.

- Não quero que me vejam saindo daqui a essa hora. – ponderei.

Quando saí da cama uma mancha de sangue, no lugar onde eu estava, denunciou nossa libertinagem carnal. Ele riu do meu constrangimento tímido e se levantou para me abraçar.

- Que bom que você deixou um pouco do seu cabaçinho para mim. – segredou malicioso ao me apertar contra seu corpo, ciente de que sua rola provocaria a mesma devassidão naquele cuzinho apertado, não importando quantas vezes o fodesse.

Sob a ducha continuamos a promover um ritual carregado de sensualidade. Eu o ensaboei e o provoquei deslizando a ponta dos meus dedos pelo seu corpo, descobrindo seus pontos vulneráveis ao meu carinho. Lavei sua pica e massageei seu sacão. Fiz sua barba cerrada e o beijei. Depois, foi ele quem me ensaboou, e meteu a mão no meu cuzinho, que eu travei para não perder a porra que ele gozara em mim. Deixei que ele me secasse, fazendo comentários sacanas sobre as partes do meu corpo que o seduziam e, antes de abotoar a camisa, que ele pegasse, mais uma vez, meu mamilo na boca, deixando uma marca indelével de seus dentes na minha pele. Um ritual que se tornou a marca registrada dos nossos encontros amorosos.

Quando entrei apressado em casa, o Brayden já estava acordado. A cara sonolenta, os cabelos eriçados e uma das mãos enfiada na cueca coçando o saco eram sinal de que ele ainda não havia tomado banho. Fiquei pensando como essas pequenas coisas são capazes de definir um relacionamento, e que eu não podia me omitir ou esconder o que acabara de acontecer.

- Passei a noite com o coronel Corbin! – disse, sem rodeios.

- Ele não estava bem? Senti sua falta na cama. – falou com voz de sono.

- Eu passei a noite com ele. – repeti, pronunciando lentamente cada palavra.

- Eu já imaginava isso. Faz tempo, aliás, desde o primeiro dia que ele te viu, que ele se interessou por você, eu sabia que ele ia te pegar. Era uma questão de tempo. – disse, um pouco irritado.

- Eu não sabia disso. E, isso não te incomodou? – perguntei surpreso.

- Você é adulto, sabe da sua vida. – respondeu, com ar de indiferença.

- Eu sou apaixonado por você desde que você articulou para vir morar comigo nos tempos da faculdade. – declarei

- Eu sei disso. Também gosto muito de você. – devolveu sincero.

- Acho que hoje eu gosto de você, como você gosta de mim. Mas, até um tempo atrás, eu amei você com tanta paixão que não via determinadas coisas com a clareza que vejo hoje. – confessei

- E tudo mudou depois que o Corbin comeu seu cuzinho, te deixando todo molhado. – comentou irônico.

- Não. Nem sei quando as coisas mudaram. No entanto, foi quando ele estava dentro de mim que eu senti o que é ser querido por alguém, e não apenas desejado. – retruquei sereno.

- Eu gosto de você, não consigo deixar de sentir desejo por você, e acho que isso vai ser sempre assim. – confessou, com um sorriso conciliador.

- Mas, não me ama! Não é? – conclui, ao dar-lhe um beijo carinhoso nos lábios.

- Você merece ser feliz! – proferiu, enquanto eu subia até o mezanino para mudar de roupa.

- E você também, meu amigo! – disse, rindo.

Naquele mesmo dia transferi minhas coisas para o quarto desocupado. Não fazia sentido continuarmos a dividir a mesma cama quando já não compartilhávamos o mesmo sentimento. Mesmo assim o Corbin via com reservas e disfarçada compreensão o fato de continuarmos sob o mesmo teto. Aparentemente, meus argumentos sobre uma eventual mudança para sua casa convenceram-no de que isso repercutiria muito mal frente a seus comandados, e praticamente, confirmaria possíveis suspeitas de haver em nossa relação muito mais do que a simples atuação de um médico civil apoiado pelo regimento que ele comandava. Mesmo assim, suas recaídas eram frequentes.

- Me incomoda saber que o Brayden conhece mais coisas sobre você do que eu. Ele faz questão de deixar isso bem claro, toda vez que nos encontramos. Como se toda sua intimidade fosse um livro aberto para ele, e da qual ele desfrutara sem mesuras. – reclamou enciumado.

- Mas isso é um fato, não tenho como mudar isso. Ele tirou minha virgindade, foi meu primeiro amor, ou melhor, eu achei que fosse. Vivi com ele desde a faculdade. – declarei realístico.

- É esse monte de segredos e fatos ocorridos entre vocês que me parece muito sólido. – retrucou manhoso.

- Não há como negar que muita coisa aconteceu entre nós. Afinal, foram anos de convívio. No entanto, bastou uma noite com você para que eu descobrisse uma porção de coisas, entre elas, o que é o amor. – acrescentei, afagando seu rosto, depois de me certificar de não estarmos sendo observados.

A primavera chegara ao fim, sem que aquele lugar árido sequer se apercebesse disso. No auge do verão recebemos uma comunicação do escritório central da organização humanitária que nos enviara ao Afeganistão, estipulando a data de nossa retirada daquela região. A ofensiva da OTAN e do exército afegão seria intensificada, e nossa segurança não podia mais ser garantida, obrigando-nos a partir. Toda aquela situação havia mudado meus planos de vida, por isso, em nosso comunicado de retorno, eu requeri meu afastamento definitivo. Sentia falta da minha família, estava cansado daquela guerra inútil, percebi que não era mais capaz de ajudar aquela gente sofrida, sem perder meu tesão pela vida, e principalmente, percebi que aquilo não era uma vida. Pelo menos não aquela com que eu sonhara. Depois, meus pais resolveram se estabelecer definitivamente no Brasil. Falta pouco para meu pai se aposentar e ele queria por fim àquela vida nômade. Faria ele mesmo as viagens que ainda fossem necessárias, mas a família se firmaria em nossa atual residência.

O Brayden disse que se sentia órfão sem a minha presença a seu lado. Mencionou isso com o coração apertado, e seus olhos, sempre perspicazes e argutos, brilharam contra a luz quando se umedeceram nas lágrimas. Minha decisão o pegara de surpresa. Acho que ele nunca havia aventado a possibilidade de exercer a medicina sem minha companhia. Sem aquele que o acudia desde os tempos da disciplina de anatomia.

O Corbin viu nesse regresso o fim dos nossos encontros furtivos, de suas esperanças quanto a um futuro onde houvesse um ‘nós’, e não apenas aquele ‘eu’ abandonado que o mantivera ali. Mesmo eu tendo deixado escapar alguns meses antes, um – Eu te amo – durante um desses encontros, enquanto ele ejaculava sua gala máscula nas profundezas da minha ampola retal esfolada e dolorida. Ele ficava horas com a cabeça apoiada no meu colo, deixando que deslizasse meus dedos pelo seu rosto ou entre seus cabelos, depois de inundar meu cuzinho com sua porra pegajosa, que minhas entranhas retinham zelosas. Ficava um silêncio no ar, como se as palavras pudessem apressar nossa separação.

O dia da partida foi semelhante ao da nossa chegada há quase um ano atrás, sufocante e quente. De alguma maneira, mais eufórico, talvez por que toda a equipe estivesse retornando para suas famílias, para aqueles que amavam, para aquele lugar que chamavam de lar. A exceção éramos o Brayden e eu, para quem o retorno significava o fim de um ciclo, de uma vida comum, de uma perda. E, nesse quesito eu perdia duas vezes. Perdia aquele a quem dediquei meu amor juvenil, e perdia aquele que tão pouco tempo tive para amar. Três dias antes da nossa partida, o Corbin precisou se deslocar até quase a fronteira com o Paquistão, numa missão sigilosa que ele não compartilhou comigo. Partira no meio da madrugada com um afoito e simples ‘até breve’, e antes que eu o pudesse beijar.

Eu estava sentado na varanda sombreada da nossa casa em Ilha Bela, numa tarde de fevereiro. Meus pensamentos vagavam longe entre recordações perdidas. Em poucos meses estava vivendo um segundo verão. A imensidão do mar a minha frente, e a brisa quente que soprava eram tão diferentes do meu verão anterior, em meio à aridez desolada. Pouco antes do almoço eu acompanhava pela Internet as notícias que vinham daquela terra distante. Marjah voltara a ser uma região controlada pelo governo central afegão. As tropas aliadas e o exército afegão tinham expulsado os extremistas, que se refugiaram nas montanhas e no Paquistão. Não fora uma batalha gloriosa, as tropas aliadas com 15 mil homens não conseguiram mais do que afastar, os pouco mais de 4000 extremistas, por algumas centenas de quilômetros. Mas a bandeira Afegã foi hasteada em Marjah pelo exército nacional. Pensei no Corbin, uma melancolia entristeceu o restante daquele dia.

- Por que você não fica esta semana por aqui? Estou preocupada com essa tristeza constante no seu olhar. – disse minha mãe, quando veio me chamar para o jantar.

- Já combinei de encontrar o arquiteto na terça-feira em São Paulo. Preciso ficar no pé dele se não aquele consultório não fica pronto nunca. – esclareci, ao notar que havia anoitecido.

- Seu pai e eu estamos preocupados com você. Desde que voltou para casa não é mais o mesmo menino entusiasmado que amamos. Sabemos que você viu muita miséria e sofrimento por onde passou, mas você fez sua parte, sua vida agora é aqui, conosco. – revelou angustiada.

- Não sou mais um menino faz tempo mãe! E não se preocupe, eu só estou ansioso com as obras do consultório, nada além disso. – tranquilizei-a, com um beijo na testa.

Saímos de Ilha Bela em direção a São Paulo na segunda-feira de manhã. Meu pai não tinha nenhum compromisso naquele dia e minha irmã mais nova estava cabulando as aulas da faculdade sem nenhum remorso. Almoçamos num restaurante novo, inaugurado poucas semanas atrás, que ficava no caminho de casa.

- Sven! Desde que vocês saíram, antes do final de semana, tem um homem ligando todos os dias perguntando por você. Disse que é funcionário de um hotel e que tem uma pessoa querendo falar com você. Disse que é amigo seu. Ele não sabe falar brasileiro por isso é que ele está ligando. – disse a Aparecida, naquele seu jeito confuso de transmitir os recados.

- Não é brasileiro, Aparecida! É português que se fala no Brasil. Ele não deixou o nome? – brinquei com seu jeito simplório, e meu sotaque ainda bastante carregado.

- Ah é! É que eu me esqueço. Mas português fala diferente da gente. Não sei por que esse pessoal arruma tanta complicação. O homem do hotel disse que não sabe o nome do seu amigo. – respondeu rindo, ao entrar na minha brincadeira, e sair correndo em direção ao interfone depois de o ouvirmos tocar.

- Acho que é o seu amigo! Tem um taxi no portão e o motorista disse que veio trazer uma pessoa que quer falar com você. – disse, ao voltar esbaforida.

Ao abrir a porta, um Corbin à paisana, com um corte de cabelo mais longo do que eu conhecia, o mesmo andar pesado, de pernas bem separadas, o mesmo corpão musculoso, que ficava deitado sobre o meu, esperando a pica amolecer, depois de se satisfazer no meu cuzinho, e aquele sorriso reservado estampado no rosto, abria seus braços para me acolher com a euforia de uma saudade pungente. Eu me atirei em seus braços e o cobri de beijos saudosos, que seu corpo quente transformou num coração acelerado e cheio de carinho. Eu nem dei atenção ao motorista pasmo com aquela demonstração suspeita, e nem à curiosidade intrometida da Aparecida.

- Que surpresa boa! Pensei que você estivesse no Afeganistão. Você não estava lá, na guerra? – despejei, puxando-o pela mão até um canto da sala onde podíamos conversar mais reservadamente. Não sem antes beijar aqueles lábios que povoavam todas as minhas noites de sono.

- Voltei aos Estados Unidos depois daquela missão. Pedi minha baixa e deixei o exército, a pouco mais de dois meses. Desde então estou à sua procura. Entrei em contato com o Brayden que me disse que você havia mesmo retornado para sua família e que estava no Brasil. – explicou, sem soltar minhas mãos das suas.

- O Brayden? Eu comentei com você que faria isso, e até te deixei meu endereço, telefone e tudo mais daqui. Por que não me avisou que vinha? – retruquei, sem desviar o olhar apaixonado de suas expressões, na tentativa de adivinhar se ele ainda sentia por mim, aquilo que foi se agigantando em meu peito depois da nossa despedida precipitada.

- Sim, o Brayden. Eu precisava ter uma conversa definitiva com ele, precisava de uma certeza para tomar minha decisão. – respondeu convicto.

- O Brayden e eu seremos sempre bons amigos, não dá para apagar o passado. E que decisão é essa? – perguntei apreensivo, deixando transparecer minha insegurança em relação ao tipo de resposta que ele daria.

- A de ser seu macho! – segredou em meu ouvido.

- Amo você! – murmurei. A comoção tomando conta do meu ser, e a certeza de que viveria em função dele.

Hoje, ele e eu estamos comemorando nosso primeiro ano de vida em comum. Nem acredito que já se passaram novamente doze meses, desde o dia em que ele apareceu na casa dos meus pais. Foram, sem dúvida, os doze meses mais intensos e felizes da minha vida. Viemos passar uma semana em Paris, é o presente dele para mim. Vou entregar o meu esta noite, durante o jantar num simpático bistrô que descobrimos ontem pela manhã, durante nossas andanças. Junto com o presente, vai este texto, como um jeito de deixar registrado como foram os anos pouco antes de conhecê-lo e, especialmente, com que importância ele entrou na minha vida, e como a deixou mais interessante.

This is a work of fiction. Names, characters, places and incidents either are products of the author’s imagination or are used fictitiously. Any resemblance to actual events or locales or persons, living or dead, is entirely coincidental.

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Comentários

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Belíssimo conto! Um dia tmb vou ter o meu amor...

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Terra chamando Poe...kkk

viajei legal agora...

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perfeito! O uso que você dá as palavras é comovente, envolvente, sensual... sua história faz gozar, rir, chorar. Você é um excelente escritor, parabéns! Ansioso para o próximo conto

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Perfeito! Cada detalhe. Você é o melhor contista da CDC.

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