Eu acordei e Bernardo estava na escrivaninha tomando café e vendo algo no notebook. Me espreguicei e senti um cheiro estranho.
- Bom dia. – ele disse sem se virar.
- Bom dia... que cheiro é esse?
- Brutus. – o cachorro estava do lado da cama - Não ficou no sol pra se secar. Veio pra dentro de casa e dormiu molhado no tapete da sala. Tem que tomar outro banho pra perder essa inhaca. – ele por fim se virou e alongou os braços pra cima.
- Você só pode estar brincando... – eu cai de novo nos travesseiros.
- Eu não fiz nada pra comer. Só café. Forte.
Veio pra cama e deitou do meu lado. Ficou me olhando fixo. Cheirinho bom de café.
- O que foi?
- Nada... – ele falou e levantou rápido. – Vamo fazer algo pra comer. – Saiu do quarto.
Cheguei na cozinha e ele tentava descongelar carne.
- Que horas são? – eu perguntei confuso.
- Onze.
- Eu dormi tanto assim?
- Parecia que estava morto. Eu já tava com o SAMU na discagem rápida.
Fui fazer minha higiene e quando voltei pra cozinha Bernardo já tinha descongelado a carne e tentava preparar algo.
- Cuida disso aqui. Deixa que eu faço o arroz. – ele disse saindo da pia.
Impressão minha ou ele tava chateado com algo? Começamos a cuidar no almoço calados. Que estranho. Aaaaah! Esse era o famoso “dia seguinte”. Será que ele tinha se arrependido de algo? Fudeu cara...
- Dá licença... – eu disse querendo chegar perto do fogão. Ele saiu do caminho. O que era que estava havendo? Ele ficou picando temperos...
- Tem alho aí? – ele perguntou sem parar de olhar pra o tempero picado.
- Aqui... – eu passei o potinho com o alho pra ele. Ele pegou da minha mão e me olhou. Voltou a atenção pra o arroz. – Tem algo errado?
- Não... – ele fez um bico com a boca.
- Bernardo o que você tem? Se for sobre ontem eu realmente acho que...
- NÃO! – ele fungou zangado. - Não tem nada a ver com ontem idiota... É que eu esperava mais de você.
- Como é?
Ele jogou o arroz na panela de qualquer jeito e lavou as mãos calado. Se virou pra mim enquanto enxugava as mãos.
- Você disse que resistiu a tentação de ficar comigo por muito tempo. Disse que se masturbava pensando em mim. Morria de desejo e blá blá blá... E no nosso primeiro dia juntos você acorda me cumprimentado com um bom dia aguado e não vem me dar um beijo sequer. – ele falou fazendo o número um com o dedo. - Eu esperei e nada... Bela forma de começar um namoro. – ele jogou o pano na pia e saiu pra sala.
Era isso então? Eu queria rir. Rir tanto mas tanto... mas achei que seria uma injúria com ele. Preferi ficar o observando. Namoro? A gente tava namorando? Como assim?
- Bernardo... – eu prendi o riso. Fui em direção a ele que continuava com a cara fechada. – desde quando você é dengoso assim? Tão sensível... – O abracei e dei um beijo no queixo dele.
- Também sou filho de Deus. – ele disse sem me olhar, emburrado com o controle da TV na mão.
- A gente tá namorando? – eu fui dando beijinhos no pescoço dele.
- Estou lhe comunicando que sim.
- Então como é que a gente pode começar de novo?
Ele me olhou e por fim sorriu. Me deu um beijo e passou os dois braços atrás de mim. Me puxou pro sofá e se deitou comigo encima dele.
- Você tá muito ferrado comigo... – ele disse rindo.
- Por quê?
- Porque a cada cinco minutos eu quero te levar pra cama. Se eu fosse fazer isso com você...
- Eu não estaria mais vivo.
- Não. Não estaria. Com a vontade que eu tô, não estaria vivo. – ele passou as pernas em volta da minha cintura e me apertou contra ele. Senti a ereção na minha barriga.
- Você precisa se controlar.
- Difícil contigo aqui. – me beijou mais forte.
Eu queria muito aquilo. Por isto ser um conto eu poderia dizer que fomos pra cama e narrar mais uma transa maravilhosa mas não menos dolorida nossa. Mas justamente por eu estar dolorido da noite anterior e saber o que me aguardava eu não estava disposto a aguentar aquilo de novo.
- A gente tem o almoço pra preparar. – eu falei fugindo.
- É verdade... – ele falou mexendo no cabelo.
Voltamos pra cozinha e fomos preparando tudo. Almoçamos juntos com ele me obrigando a comer salada.
- Ajuda na digestão, diversifica tua alimentação e tudo mais.
- Mas eu não gosto!
- Lucas é só pepino e tomate. Eu que fiz. Não é possível que você não goste nem disso? - Ele pegou uma porção e jogou encima do meu prato. - Come e para de reclamar.
Coloquei um pouco na boca e fiz cara feia pra provocar.
- Se eu te der um murro nessa cara de quem chupou limão tenho certeza que aí sim tu vai comer.
A gente riu junto.
Não estava a melhor coisa do mundo, mas eu comi sim. Hoje eu posso admitir: como bem mais saudável depois que comecei a morar com o Bernardo porque ele se liga nessas coisas de academia, condicionamento físico e tudo mais. Ele só tenta até hoje me fazer malhar, mas isso é outra história...
- Vamo lavar tudo rápido que eu saio já. – eu disse começando a umedecer a esponja.
- Sai já pra onde? – ele perguntou rápido.
- Pra universidade. Hoje é segunda.
Ele suspirou.
- Eu esqueci que hoje é segunda Lucas... Que droga! Você tem mesmo que ir? – ele se aproximou por trás e me deu um cheiro no pescoço. Eu me ericei.
- Mas é claro... E você também mais tarde.
- Eu vou te deixar... Pode ir tomar banho que eu termino aqui. – ele pegou a esponja da minha mão e me deu um beijo logo acima da orelha.
Beijei sua boca ao me virar pra sair. Ele ficou com as mãos ensaboadas suspensas no ar pra não me sujar enquanto eu apertei sua cintura sentindo o músculo da curvatura do obliquo descer até o coes da bermuda.
Aos poucos ele foi dando poucos passos e quando dei por mim já estava colado na pia com o tronco dele me pressionando. Ele lavou as mãos atrás de mim e as levou molhadas até meu pescoço enquanto me beijava.
- Lucas... você disse que precisa ir pra universidade, certo?
- Certo...
- Então não brinca com fogo. Porque se eu te trancar naquele quarto...
- Ok... Eu já tô indo. – eu disse suspirando. Começar a beijar o Bernardo era um caminho quase sem volta.
- Melhor pra você. – ele me deu um beijo na testa e se afastou me dando passagem.
Eu passei pro banheiro enquanto ele retomou a lavagem da louça sorrindo.
Tomei meu banho e fui me vestir enquanto o Bernardo ia tomar o dele. Quando terminei, ele já havia terminado tudo. Ele é bem rápido no banho. Saímos pra universidade.
- Se depois da sua aula você quiser me esperar... já sabe. – ele disse quando chegamos.
- Não... Eu vou com a Júlia mesmo pra chegar cedo em casa.
- Ta ok. Até mais tarde, boa aula e... Me desculpa. Só antecipei as coisas. Eu aproveitei o momento e juntei o útil ao necessário.
- Do que você tá falando?
- Você vai entender. – ele pegou minha mão e acariciou de leve.
Ele saiu e eu imediatamente comecei a imaginar como contar pra o pessoal sobre o Bernardo e eu. Eu não me sentia bem em não contar, além do mais ele já sabiam de tudo mesmo desde o começo, que mal haveria?
Dei de cara com Rony bem na saída do estacionamento.
- Carona nova é?
- Ele me deixa de vez em quando...
- Deixa eu te contar, você perdeu. Foi tão bom Lucas... a gente riu tanto e eu tô cheio até agora.
- Oi?
- O almoço hoje mais cedo. Estava na hora de variar então a gente foi almoçar num restaurante no shopping. A gente, Natan e eu, decidimos de última hora daí não deu tempo de avisar ninguém. Passamos na casa da Júlia e da Larissa e elas vieram daí passamos na sua casa mas o seu namorado disse que você estava dormindo, muito cansado e não ia sair com ninguém então... – ele fez uma cara de “desculpe!” enrugando as sardas.
- Como é que é?
- É, pois é... e Ah! Você deveria ter um pouco mais de consideração. Como você começa a namorar e não conta pra ninguém. O pessoal ficou comentando na mesa... Mas, finalmente hein! Agora você conseguiu o que queria: Pegar a estátua de gesso fugida do museu. – ele riu.
- Não acredito nisso... – Não acreditava mesmo. Bernardo contou pros meninos e não me disse nada. Por isso as desculpas... Não fiquei tão chateadomas ele poderia ter me avisado. O pessoal todo deveria estar chateado comigo.
- Ei! Acorda!
- Desculpa... eu não sabia que ele ia falar. Eu ia falar mas...
- Ah ia?
- Ia mas é que a gente...
- Bonito! – fomos interrompidos pela voz da Júlia. Ela estava com Natan do seu lado.
- Eu posso explicar!
- Explicar o caralho! Eu te dei força Lucas, te apoiei enquanto o Natan te criticava e você não teve a consideração de contar nada pra ninguém? Nem pra mim? Nós somos amigos!
- Somos Júlia, mas eu ia falar hoje é que a gente começou a namorar ontem... A noite pra ser mais exato.
Ela me olhou irritada. Piscou rápido.
- Isso explica a bermuda... Seu idiota... – por fim me abraçou. – Eu espero que esteja tudo bem.
- Está sim. Rolou ontem... Foi demais... – eu ri envergonhado. – Espera... Que bermuda?
- Pode nos poupar dos detalhes minuciosos... A bermuda disse tudo. – Natan falou um pouco distante.
- Pode nada! Eu também quero saber! – Rony sorriu.
- Que isso Rony? – Natan falou olhando pros lados desconfiado.
A gente riu.
- Que bermuda minha gente?
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HORAS ANTES.
SEGUNDA, 9H DA MANHÃ.
“Oi, Lígia tudo bom? É o Natan... o que é o almoço hoje no RU?”
Uma pausa. Uma careta.
“Tudo bem... Obrigado.”
- Cara o almoço é peixe... – eu falei pro Rony.
- Aff... Odeio peixe. – ele falou jogado no sofá da sala. Dividimos apartamento.
- Somos dois então. A gente podia almoçar em um lugar diferente né? Variar um pouco as coisas, pelo menos.
- Vamo passar na casa das meninas e do Lucas e vamo pro shopping. Mas tem que ser agora porque se a gente chegar lá tarde nos atrasamos pra aula.
- O amigo do Lucas não vai querer vir não?
- Vai, mas... Foi você que disse que ele deveria se entrosar mais então...
Saímos com o carro e fomos pra casa da Júlia. Ela topou. Larissa estava com o namorado e preferimos não chamar porque quando ela está com ele ela está SÓ com ele. Seguimos pra casa do Lucas, já imaginando que aquele encosto dele iria querer vir. Mas o Lucas era meu amigo, eu não ia dizer na cara dele que não queria que o cara viesse. Além do mais ele tava a fim do cara... Uma chatice. Lucas tinha cara de ser que nem a Larissa. Quando começasse a namorar não ia mais dar atenção pra ninguém.
- Alguém bate lá... – eu estacionei em frente a casa. Rony desceu.
Chamou, chamou e nada. Júlia desceu do carro e foi até lá. Vi que ela bateu na porta e nada.
- Mais que saco... – eu desci do carro e dei um grito que quem ia passando na rua olhou. – LUCAS! – eita pessoa que tem talento pra ser gritado.
A porta se abriu. De dentro da casa veio aquele vampiro gay do Crepúsculo com cara de múmia. Ele estava sem camisa e... Ok, eu não era tão bonito e definido assim mesmo sendo forte. Além disso ele tinha pernas fortes e meu Deus... ele era mesmo bonito, agora tá explicado o porque da hipnose do Lucas. Eu não sou gay, só que heteros também reparam. Só não falam pelo machismo, mas reparam. Rony respirou e encheu o peito pra não parecer “menos homem”, também consequência do machismo.
- E aí? – ele disse sem vontade e cruzou os braços com as pernas um pouco abertas.
- Ah... bom dia, o Lucas... O Lucas, ele tá em casa? – Jália perguntou abobalhada. Também consequência do machismo.
- Sim. Mas ainda está dormindo. Ele está cansado, a gente foi dormir tarde porque tínhamos algumas tarefas pra fazer, meu cachorro precisava de um banho... A gente tá namorando agora.
Houve um silêncio. Não acreditava naquilo. Ele dobrou o cara mesmo... Rony desinchou o peito boquiaberto.
- Ah! A gente não sabia... Nossa! – Júlia me olhou procurando as palavras. Bernardo desfez a pose e fez outra ainda mais esnobe: Encostou o ombro no portal da porta, cruzou a perna direita sobre a esquerda quase num “4” e terminou descansando a cabeça também no portal. – A gente vai indo então... Até!
Ele apenas acenou com a cabeça dando um sorriso de orelha a orelha. Ele confundia qualquer um. Era irônico ao extremo. Ele não precisava falar. O comportamento em si era uma afronta a qualquer um, era irônico! Eu odeio pessoas irônicas! Como o Lucas foi gostar dele? Um corpo malhado agora vale tanto assim?
Fomos saindo pro carro e ele permaneceu lá. Parado esperando a gente sair. Quando fechamos as portas a Júlia continuou olhando pra ele.
- Até você? Ele é tão bonito assim?
- É sim. Mas não é isso. - ela disse sem parar de olhar pra ele pela janela. Ele por fim se virou e entrou em casa. – Vocês homens são retardados demais, nem repararam. Aquela Bermuda é do Lucas. Eu tenho certeza! Foram dormir tarde e ele amanhece com a roupa do Lucas, então eles... Ah meu Deus! – ela disse rindo.
Rony caiu na risada do meu lado.
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Eles riam quando eu perguntava da bermuda.
- Fala gente, que bermuda? Eu não tô entendendo.
- Nada não Lucas... deixa pra lá.
No intervalo eu contei pra eles o que tinha acontecido mas guardei alguns detalhes. Eu não era bom em falar dessas coisas. O susto foi momentâneo, depois que os meninos viram o quanto eu estava feliz eles desencanaram do Bernardo. No fim daquele dia eles já falavam sobre chamar todo mundo pra sair no fim de semana e faziam questão que eu levasse o Bernardo.
Na saída, no carro com a Júlia, passamos pelo Bernardo na avenida. Eu o conhecia mesmo ele usando um capacete que a viseira é fumê. Fui deixado em casa sob mil recomendações da Júlia sobre como lidar nesses primeiros dias.
Assim o mês de maio se terminou. Estava tudo bem.
Junho chegou. Junto a ele a apreensão e a terrível ansiedade. Dia 5, terça-feira, o estágio começava.
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Eaí pessoal? Tudo bom com vocês? Mais uma vez o texto vem sem revisão porque acabei de terminar de escrever. Espero que esteja bom, porque não escrevi durante todo o fim de semana, desculpem.
marcelo8486: Acho que entendi seu comentário. Realmente eu tenho esse problema. Terrível. Principalmente pra ir ao banheiro no meio da noite nessas circunstâncias.
Dhcs: Eu lembro dos seus comentários. Por quê você sumiu cara? Não gostou da segunda temporada do "A primeira vista"? Obrigado por acompanhar essa aqui!
#Léo: TODO dia! Hoje meu pai está aqui na minha casa e o coitado já tomou uns 5 banhos. Setembro é o mês que você tem medo do fogo nascer sozinho em qualquer lugar, porque falta pouco pra isso.
Ander: Será um prazer receber seus comentários. Acompanhe.
love31: Ah bom... pois eu não sei mais de nada.
Higor Melo: Que bom que você é tão maduro com 17 anos. Mande um abraço pra sua namorada também, obriagdo por estarem acompanhando.
Monster: Você fala do transtorno bipolar? Sim, eu realmente não me lembro de já ter visto algum conto com essa temática.
Drica (Drikita): Siiim!
Drica Telles(ametista): Com toda certeza!
mille***: Olha aí a primeira que ele aprontou!
vitinho: Sou atencioso porque eu gosto quando os outros contistas me respondem. É o momento em que você reconhece o comentário do leitor e responde mantendo contato. Eu, antes de contista, sou leitor. Adoro isso.
Ghiar: Pois aacompanhe que eu vou tentar ser bem regular nas postagens. Obrigado.
Fernando_Mocelim: Todo mundo adora o bernardo, até eu rs.
Meu obrigado a DAVID, thevinny, geomateus, esperança, Irish, Wyllia Paes e Joshh.
Agora eu vou pra faculdade e espero ler os comentários mais tarde! Abraço a todos! Vocês são demais!
kazevedocdc@gmail.com