Era óbvio que eu estava gostando do jeito como ele falava, da troca de olhares, mesmo tendo tão pouco tempo, era como se eu já sentisse falta de um sorriso, de uma palavra só para escutar a voz dele, tudo rápido demais, só que, quando se começa a gostar de alguém apenas por pequenos gestos, não consegue esquecer fácil.
Depois que ele saiu, fiquei sorrindo feito um idiota, cheguei até a abaixar um pouco o short só pra ter certeza que ele estava falando mesmo da sunga e depois disso, continuei rindo. Logo voltei minha atenção para os equipamentos que eu havia ganhado, o computador era lindo, todo branco e com detalhes dourados, de muito bom gosto. O celular também não ficava atrás, me pus a mexer nele e fazer toda a configuração necessária de início e acabei me distraindo ali.
Minutos depois o Luan aparece na porta do quarto me chamando para jantar, coloquei o telefone em cima do criado mudo e desci com ele. Breno estava sentado à mesa junto ao pessoal, incluindo os amigos do Luan, eu me sentei praticamente de frente para ele que me dava algumas olhadas discretas, mas sempre sério, os únicos momentos em que ele ria era quando a Julia ou o Pedro dizia algo e alguém respondia em um tom engraçado. Cheguei a me sentir um pouco incomodado com aquilo, ele não estava mais sorrindo como antes, agora ele me olhava sério e logo desviava o olhar, mas não deixava de me encarar discretamente as vezes.
Em quase toda a conversa o alvo era eu, perguntavam coisas sobre mim, do que eu gostava e eu sempre ia explicando, me mostrei chateado apenas quando perguntavam algo sobre o orfanato, não queria tocar naquele assunto, não que fosse ruim ou que eu havia sofrido horrores por lá, é que, não é um bom assunto para ser tocado, me trazia mais lembranças ruins do que boa.
Passei todos esses 16 anos no orfanato vendo crianças da mesma idade que eu sendo adotadas, sendo levadas para ter um pai e uma mãe e como a maioria das crianças e jovens de lá, eu me sentia triste por ter em minha mente que eu fui rejeitado, que me largaram sozinho. Tendo isso, preferi não comentar mais do que o necessário e percebendo isso eles não perguntaram mais nada.
Breno se tornou uma incógnita, comecei a estranhar o fato dele ter ficado daquele jeito e passou mil e uma coisas em minha mente, que eu poderia ter falado ou demonstrado algo que não o agradou e isso me deixava confuso por dentro.
Por voltas das 22 horas eles foram embora, Breno acabou levando o Tiago e a Carol para casa, eu subi para o meu quarto junto com o Luan que ficou me ensinando coisas sobre o celular e o computador, depois disso, fomos dormir pois ele teria que estudar cedo no dia seguinte.
Aquela semana passou sem muitos acontecimentos, eu fiquei toda a manhã dentro de casa assistindo os mesmos desenhos e quando enjoava eu ficava mexendo no computador. Naquela mesma semana a Julia me disse que faria um churrasco para me apresentar aos amigos deles, aos mais chegados da família, mas resolveu deixar para o próximo fim de semana já que eu ainda estava me adaptando aquela nova vida e com certeza seria estranho para mim ter que conhecer tanta gente de uma hora pra outra.
No domingo à noite, o Pedro veio me trazer algumas coisas, estavam em sacolas grandes, ele colocou em cima da minha cama e puxou uma cadeira sentando de frente pra mim, eu o olhei e em seguida comecei a desempacotar tudo, eram materiais escolares, mochila e fardamento da escola, tênis e algumas outras coisas. Era a primeira vez que eu conversava com ele a sós e percebi que ele é bem mais humorado que a Julia, sempre sorrindo e fazendo algumas piadas que me arrancavam risadas longas.
A notícia que mais me deixou ansioso foi de que eu teria que ir ao colégio no dia seguinte, então tratei de dormir cedo, quase que não consigo fazer isso, mas antes que eu percebesse o sono havia chegado. Acordei no dia seguinte, tomei o meu banho e me arrumei colocando uma calça preta e um tênis baixo.
Eu não era um adolescente bombado, muito menos sarado, eu tinha um corpo normal, sem muitos atributos físicos, então não tinha preocupação em usar aquela calça que ficava um pouco justa ao meu corpo, o que era bom. Quando eu desci, o Luan estava sentado à mesa tomando café junto ao Lúcio e o Pedro, Julia já havia ido trabalhar e Pedro só saía um pouco mais tarde.
- bom dia – falei me sentando
- bom dia, dormiu bem? – Pedro perguntou
- hum rum – falei balançando a cabeça
Ele me serviu o café, não tive muito tempo para comer pois de acordo com o Luan, levaria quase vinte minutos para chegar ao colégio, então eu logo subi e escovei os meus dentes, peguei minhas coisas e desci já com o coração quase saindo pela boca. No caminho fomos conversando sobre como era o colégio, ele falava com uma empolgação incrível, acho que era para que eu ficasse um pouco mais confortável.
O Pedro nos deixou na porta do colégio, era grande e parecia ter uns dois andares ou mais, haviam janelas de vidros dividindo as salas, muita gente conversando e rindo na entrada. Seguimos rumo ao interior do colégio, senti alguns olhares para cima de mim assim que entramos, passamos primeiro da diretoria que me informou a minha sala, estudaria em uma diferente a do Luan.
Ele entrou comigo na sala, coloquei minhas coisas em cima de uma mesa e me sentei, logo ele se foi e eu continuei lá, estirado na cadeira olhando para os lados, percebia as pessoas irem entrando, me olhando de canto de olho, as meninas sorrindo e alguns rapazes acenando com a cabeça, a sala foi enchendo aos poucos e quando percebi, a porta foi fechada por um homem que deveria ter entre 30 a 35 anos.
- bom pessoal, dando continuidade à atividade da semana passada, quero que abram o livro na página 58 – ele disse sentando-se
Eu fiquei abri minha mochila e peguei o livro, seria aula de geografia, abri o livro na página e fiquei encarando ela por longos segundos, minha atenção foi tirada por alguém que sentou-se na cadeira vazia ao meu lado. Um rapaz bonito, de porte atlético, usava um brinco na orelha esquerda, um único brinco, ele mascava um chiclete e posso afirmar que o seu perfume era delicioso, aquele cheiro de perfume masculino, aquele aroma amadeirado que se mistura ao sabonete depois do banho.
- ei, psiu – falou chamando minha atenção. Eu o olhei. – novo né? Qual o teu nome? – perguntou
- Eduardo – falei baixo
- me chamo Caio – falou estendendo a mão, levantei a minha e a apertei a dele, um aperto firme e suave. – quer ajudar? – perguntou olhando para o livro
A princípio eu pensei em dizer não, mas eu estava perdido e ele foi o único que veio falar comigo dentro daquela sala com tantos alunos, acabei afirmado com a cabeça e ele logo levantou-se, foi até o outro lado da sala e pegou suas coisas, o professor continuava com a cabeça baixa, estava gostando dele não ter me notado ainda. Ele me ajudou a copiar os exercícios da última aula, estava quase terminando quando o professor começou a fazer a chamada, logo o Caio levantou a mão tirando a atenção do professor.
- que foi Caio? – ele perguntou meio indiferente
- tem aluno novo na sala – ele disse ainda mascando o chiclete. Apontou pra mim.
- você está ai esse tempo todo e não se pronunciou? – perguntou o professor – qual o seu nome? – questionou
- Eduardo – falei meio alto
- Eduardo, veio de que colégio? É daqui da cidade? – perguntou
- sou, - falei
- não vai responder a outra pergunta? – perguntou
- não – disse afirmando
- por que não quer dizer de que colégio veio? Teve problemas por lá? É algum colégio secreto? – perguntou fazendo ironia
O pessoal começou a rir. Eu não queria dizer que estudava em um orfanato, por mais que não pareça, as pessoas tem preconceito com quem sai de um orfanato e quando não demonstram preconceito, demonstram pena e o que acaba se tornando pior, é o que menos desejamos, pena. Eu olhei para Caio que tentava disfarçar, mas também estava rindo do que o professora havia falado.
- era um colégio super secreto, estilo CIA – falei olhando pra ele
Nesse momento todo mundo começou a rir, inclusive ele, não demorou para a aula voltar ao normal, eu já estava mais tranquilo em relação ao pessoal, o Caio se mostrou bem legal apesar de ter um jeito meio rebelde daqueles que querem impor que é brabo, sempre fazendo pose, e o que mais me chamou atenção nele eram as covinhas que apareciam quando ele sorria, eram fofas e descontraia mais o rosto dele que parecia mais de um homem adulto do que de um adolescente.
As três primeiras aulas foram tranquilas, pude conhecer algumas pessoas, na hora do intervalo eu saí a procura do Luan e não o encontrei, estava no segundo andar do colégio, estava descendo as escadas quando eu ouvi uma voz grave ecoando dentro do corredor, desci rápido e pude ver o Luan sendo segurado pelo Caio que gritava com ele, me aproximei empurrando o Caio com força.
- ei, você não vai bater nele – falei alto
- qual é Edu, mal chegou e já quer defender os manés – ele disse me olhando
- não chama o meu irmão de mané, está pensando o que? – falei pondo uma das minhas mãos em seu peito para afasta-lo do Luan que parecia assustado.
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Olá pessoal. Queria começar agradecendo aos comentários e aos votos, estou contente que estejam gostando.
Brunno's : Que bom que está gostando. Eu também sou apaixonado por contos nesse estilo.
beulfort: Quando chegar aos finalmente garanto que você estará pegando fogo. hahah, Beijão.
M(a)rcelo: Obrigado pela atenção, realmente eu não estou revisando os textos antes de publicar pois o tempo é curto para fazer isso, mas tomarei cuidado daqui pra frente. Obrigado. Em relação a idade, será revelado muito mais do decorrer do conto. Beijão
Respondei a mais comentários nos próximos capitulos. Comentem e votem, é muito importante pra mim. Beijos e boa noite.
Nick.