Cap.3
Ao ouvir aquilo, imediatamente me engasguei com a comida. Foi um sofrimento pra passar.
- Ei, calma- falou, passando a mão nas minhas costas.
- Não toca em mim !- falei, me afastando. E me recuperando do susto
- Eu vou ter muito trabalho pra conseguir chegar perto de você.
- Como assim, você gosta de mim ? Gostar, de que jeito ?- perguntei, confuso
- Ora, gostar, de namorar. Me apaixonei.
- Mas...
- Mas o que ?
- Paixão por um garoto ?
- Sou gay, ou você não percebeu ?
- Amor a primeira vista ?- ele chegou mais perto.
- Não sei, talvez ?- falava, olhando pro luar- o céu está lindo hoje né ?
- É- falava, admirando-o junto com ele.
- Me apaixonei por você desde o primeiro dia que você está aqui. Você pode não ter percebido, mas eu sempre dei um jeito de estar perto de você, ou de aliviar a sua barra com os outros.
FLASHBACK
- Ei, Isac, com quem você vai fazer esse trabalho ?- Pablo falava, ao meu lado.
- Sozinho- falava, saindo da mesa
- Mas é de grupo.- nem dei ouvidos, apenas sai andando. Parei no lado de fora da sala.
- Esse garoto é maluco, porque ele odeia todo mundo desse jeito ?- Pablo dizia
- Eu acho que ele não odeia, mas sim não consegue chegar perto de ninguém, tem medo- essa era voz do Eduardo.
- Medo de que ? Ninguém vai machuca-lo, só brincar um pouco.
- Ele deve ter alguma fobia.
FIM DO FLASHBACK
- É verdade. Mas, tem certeza disso ?- perguntava, ainda sem acreditar.
- Sim, você acha que eu estaria brincando.
- Não, é que, você namora com Mariano, e ele é mais bonito, mais popular, mais sociável que eu, porque você iria se apaixonar por mim.
- Eu não sei. Não mando no meu coração. A única coisa que eu sei é que gosto de você Isac- falou, chegando ainda mais perto. Olhei para seu rosto, que estava ainda mais bonito a noite. Seus cabelos ruivos, sua boca, tudo seduzia-me. Ele foi se aproximando, mas eu não consegui beijar-lhe. Empurrei-o. Ele caiu no chão.
- Desculpa- falava, envergonhado
- Não peça desculpa depois de ter me empurrado de propósito. Mas tudo bem, eu entendo, sua fobia faz isso com você- falou, voltando pra o banco e continuando a comer- Isac ?
- Hã ?
- Eu sei o quanto você sofreu com aquelas piadinhas ano passado.
- Hum.
- E eu queria te ajudar, ou melhor, te proteger desses rótulos. Portanto, não se afaste de mim. Não sei o que houve com você pra ter essa fobia, mais eu não vou te fazer mal, entenda isso- fiquei pensando nisso.
MINUTOS DEPOIS
Estava na cama. Não conseguia dormir. Eduardo estava no banheiro. Logo saiu. Não parava de pensar no que ele tinha me dito no observatório, e tentava encontrar motivos para o ter feito. E motivos pra estar sentindo aquilo por mim. Não era porque eu não tinha amor próprio. Ou melhor, era. Eu não conseguia ver nada de interessante em mim que pudesse fazer com que o garoto mais bonito e mais popular da escola tivesse se declarado pra mim no primeiro dia do ano.
- Ainda não dormiu Isac ?- Eduardo perguntava, trancando a porta do nosso quarto.
- Não.
- Está preocupado ?- perguntou, deitando na cama.
- Também não.
- Então ?
- Não paro de pensar naquilo que você me disse.
- Ah. Por quê, ainda não acredita ?
- Realmente não. Sei lá, olha pra mim- falei, tirando o lençol que me cobria- o que você viu em mim ?
- Beleza.
- Ha. Tá de brincation with me cara ?- falei, rindo. Ele riu também.
- Pare de se odiar tanto, e aceite o fato de que você é bonito- falou, passando a mão no meu rosto e me causando arrepios por isso.
- Não sou não- falei, me ajeitando novamente.
- É sim. E aprenda a receber um elogio !- fiquei calado por alguns segundos.
- Obrigado, Edu- ele, que olhava pro teto, virou-se, e olhou pra mim.
- Estou feliz.
- É ?
- Sim. É a primeira vez que você me chama de Edu. Deveria me chamar assim sempre, soa tão bom sua voz citando o meu nome- falou, virando- se e se ajeitando pra dormir. Suspirei. Como um garoto conseguia ser tão apaixonante, tão atrevido, e tão agradável ao mesmo tempo. Queria saber !
NO DIA SEGUINTE
Como sempre fazemos, no dia seguinte, acordamos cedo. As aulas começam sempre cedo. Ajeitava minha gravata a frente do espelho, pronto pra botar meu terno branco, terno que os segundistas usavam.
- Viu como você é bonito ?- falou, olhando pra mim pelo espelho. Como sempre, fiquei todo besta e não consegui dizer nada. Peguei meus livros, ele os seus, e seguimos para sala. Lá estava Hanz, o novato, Mariano, o asqueroso, que me lançou um olhar fulminante ao me ver chegar com Edu, e Pablo, o garoto que me causava pesadelos e adorava fazer piadinhas. Sentei onde sempre sento, na parede e pra minha surpresa, ele sentou ao meu lado. Sorriu. Logo o professor chegou. As aulas da manhã passaram rápido, e como sempre, tivemos uma pausa para o almoço. Fui para o refeitório, pegar minha refeição, e uma maçã, como sobremesa. Olhei para as mesas, sempre cheias.
- Não vamos sentar ai !- Edu falou, me puxando pelo braço. Recuei- desculpa, vamos ?- falou, andando sem tocar em mim.
- Pra onde vamos ?
- Pra um lugar vazio.
- E existe, na hora do almoço ?
- Você não vai pra perto do riacho a essa hora né ? Geralmente, lá é vazio, e o barulho da água nos ajuda a relaxar- fomos andando. Muitos olhavam e se perguntavam o que eu estava fazendo com o garoto-espelho da escola, logo eu, o garoto que tem pessofobia.
- Ele está no mesmo quarto que o Edu esse ano !- um dizia
- Nem ele resistiu ao charme do Edu- outro falava. Mas nenhum entrava em consenso. Andamos mais um pouco e chegamos ao riacho. Realmente, não tinha ninguém, e a água andava tão suavemente, que seu barulho não incomodava. Pelo contrário, parecia música.
- Nossa, esse lugar é incrível- falei, ainda observando as árvores ao redor.
- Não é ? Gosto muito daqui- falou Edu, sentando-se no chão. Começamos a comer.
- Mariano hoje estava com uma cara péssima !- falei, comendo.
- Ele sempre vai estar. Mariano é extremamente invejoso, e possessivo, capaz de muita coisa, por isso, não fique longe de mim- me assustei com essa última frase- não se assuste, não deixarei nada e ruim acontecer com meu amor- fiquei um pouco envergonhado, não estava acostumado a ouvir essa palavra, amor. Logo terminamos- ei, estique as suas pernas.
- Porque ?
- Vou pedir elas emprestadas um pouco, quero me deitar nelas- me surpreendi quando ele as abaixou, e se deitou. E me surpreendi ainda mais quando não me deu vontade de empurra-lo, nem medo, nem repulsa. Eu... aceitei um toque, pela primeira vez em anos.
Continua
Gostaram ???